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Capítulo 16

AURORA

Estou limpando o balcão do Briar, restaurante em que trabalho, quando uma figura ultrapassa a entrada do estabelecimento.

Melissa entra pelo salão e se senta em uma mesa vazia. Apenas a observo, enquanto ela mexe no celular.

Encaro o salão amplo à procura de outros funcionários disponíveis, mas estão todos ocupados. Solto um suspiro cansado. Deixo o pano de mesa que estou usando para a limpeza do lugar e vou em direção à ruiva, que ainda está entretida em seu smartphone.

Com cada passo mais hesitante que outro, deslizo a mão pelo cabelo, ajeitando o rabo de cavalo.

Melissa levanta o rosto ao notar minha presença. Ela me olha por alguns segundos, mas não diz nada.

— O que você deseja pedir? — Pergunto.

Ela me olha de cima a baixo e folheia o cardápio atentamente. Logo depois, o fecha e me encara novamente.

— Ah... Eu quero uma salada, um suco de melancia e um Brownie de sobremesa — Quando termina de pedir sua refeição, Melissa, faz um gesto de dispensa com as mãos.

— Claro. — Pego o cardápio com um sorriso forçado e me afasto da mesa.

Ótimo. Meu dia não pode ficar melhor.

Volto a limpar o balcão ainda encarando-a, até que uma figura masculina surge e se senta na mesma mesa que Melissa. Olho a tempo de ver um menino alto, loiro e com um andar presunçoso.

Eu conheço ele de algum lugar...

É o Richard. Ele é da minha sala e joga no time da escola. Lembro-me dele da aula de Biologia. Mas o que ele está fazendo com ela? Como eles se conhecem? Tento não pensar muito nisso e torço minha mão no pano, mesmo que inconscientemente. Vou em direção a eles, levando o pedido de Melissa e um cardápio para Richard.

— Aqui está. — Coloco a refeição que Melissa pediu à sua frente — E você, o que deseja? — Volto minha atenção para Richard, que me lança um sorriso de lado. Não é um sorriso totalmente puro.

— Uma coca e um hambúrguer.

Assinto. Melissa cochicha algo que faz Richard rir, mas eu saio de lá tão rápido que nem dá tempo de escutar. Passo a mão pela minha testa suada e suspiro, dessa vez lentamente.

— Dia difícil? — Gael, primo de Laura e funcionário do Briar, pergunta. Ele se põe ao meu lado.

Encaro-o e cruzo os braços em frente ao outro.

— Alguns são melhores que outros.

Gael concorda e continua o que está fazendo. Pego meu celular no bolso da calça ao sentir ele vibrar. Com o pulso latejando de dor por servir muitas mesas no restaurante, abro a conversa e vejo algumas mensagens de Laura. Ela perguntou se estarei livre à noite para fazermos uma "noite das meninas" em minha casa.

Guardo de volta meu celular no bolso, ainda pensativa sobre a proposta de Laura, e decido não contar a ela sobre o aparecimento de Melissa com Richard no Briar.

— Você parece cansada. — Gael se pronuncia novamente.

— Ai! Que susto! — Encaro-o levando as mãos ao meu coração, à medida que tento controlar a respiração. Dou um meio sorriso para ele. — Não sabia que você ainda estava aqui.

— Você deveria ir para casa. — Ele continua.

— Eu ainda tenho uma hora antes de ir. — Murmuro com a diversão sumindo dos olhos.

Gael me encara com olhos suaves, parece querer dizer algo a mais.

— Pode deixar que eu te cubro. O chefe nem vai perceber.

— Você faria isso por mim?

— Claro. — Ele lança um belo sorriso. — Não tem muitas pessoas no restaurante nesse horário, a não ser aquele casal que você não para de encarar — Ele aponta onde Melissa e Richard estão.

— Está tão óbvio assim? — Pergunto, meio nervosa por ter sido pega em flagrante.

— Pode ir. Não se preocupe, eu cuido de tudo aqui.

— Tudo bem então. — Com um suspiro, tiro o avental do corpo — Obrigada. Amanhã, eu te cubro.

Gael apenas balança a cabeça antes de um grupo de jovens o chamar para fazer um pedido. Além de apenas colegas de trabalho, considero-o um amigo.

Volto do trabalho e me deparo com meu irmão todo desleixado no sofá assistindo televisão. Percebo que ele não notou minha presença, então vou de fininho até onde está e dou um "pequeno" susto nele.

Caio se levanta em um baque e leva a mão ao coração.

— Aurora! Você me assustou! — Ele exclama com os olhos arregalados.

— Que folga é essa, hein, maninho? — Respondo à guisa de um cumprimento.

Caio me encara emburrado. Ele pega seu sapato e taca em minha direção, mas sou mais rápida e abaixo antes que o sapato me acerte em cheio. Encaro-o incrédula devido à agressividade enquanto cruzo os braços em frente ao corpo.

— Se esse sapato tivesse me acertado, você não estaria vivo agora. — Minha voz é suave, apesar do discurso.

— Você quase me matou do coração! — Ele se defende, e com uma careta se senta novamente no sofá.

— O que está assistindo? — Empurro seus pés para poder me sentar.

— Um programa aleatório de culinária.

— Isso faz eu ficar com mais fome. Vou ver se tem algo para comer.

Caio concorda com a cabeça e continua prestando atenção ao programa de TV. Depois de alguns minutos, volto para a sala com as mãos cheias de comida. Me sento ao lado dele lhe ofereço cheetos. Meu irmão nega com a cabeça e se dirige à cozinha para pegar uma garrafa de água.

— Então...A Laura vai vir aqui hoje. — Digo com um sorriso.

Caio levanta as sobrancelhas, certamente surpreso. Ele continua bebendo água.

— Você gosta dela? — Pergunto direta, não desistindo do assunto.

Meu irmão engasga com a água e derruba o restante em mim.

— Ah! — Esbravejo ao me levantar toda encharcada — Caio, olha o que você fez!

— Desculpe... — Ele murmura, um pouco distraído, ao passar a mão pelo cabelo — É melhor você ir tomar banho, maninha.

Ele lança um "Até mais" e sai rápido, antes que eu possa dizer qualquer coisa. Presumo então que ele está fugindo da conversa, pois não me respondeu. Apenas reviro os olhos e vou em direção ao meu quarto, e com um suspiro extasiado tiro a roupa molhada.

Não irei deixar isso barato.


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