Era estranho, muito estranho mesmo em ter aulas em casa, meus pais haviam dado um jeito para isso acontecer durante minha recuperação, uma para eu me acostumar a ouvir as pessoas, de acordo com pai Guilherme eu não sabia fazer isso, e o outro motivo eram os machucados que ainda haviam em meu rosto, já que tio Marcos dizia que minha volta a escola ainda era um pouco cedo.

—  Quando seu tio vai liberar nós dois?

—  Não sei Cris... Espero que seja logo.

—  Eu queria voltar a escola, ainda mais agora que não preciso ficar me escondendo de ninguém.

—  Mesmo aqui não sendo uma sala de aula como vocês estão acostumados, ainda sim estamos no meio de uma aula.

—  Sim senhor... Mas mesmo assim...

—  Não se preocupem, vocês vão voltar dentro de poucos dias, a direção não aceita que as provas sejam feitas aqui.

—  Provas? Como assim? Eu não me saia bem nelas quando eu enxergava imagina agora?

—  Por isso você tem todo material em áudio, para poder ouvir, além disso seus exames serão aplicados de modo diferente, já que é impossível você ler em brailer neste primeiro momento.

— Prova, em algumas dias...

A doce voz da Cris quase não saia, talvez o nervosismo em voltar para escola, agora não mais como o Garoto Cris que todos conheciam e sim como a alunA Cris, meu sogro havia entrado com pedido para passarem a tratar ela no feminino além de toda parte legal para mudança de gênero.

— Em fim por hoje vamos dar encerrada as aulas, por favor estudem, e você Juan trate de ouvir os conteúdos das aulas.

Concordamos com o professor que finalizou somente avisando no que ambos deveríamos focar nos estudos, principalmente eu que não tinha mínima vontade de ficar ouvindo àquele monte de áudios quase sem fim.

Não demorou muito é minha princesa teve que ir embora, hoje era dia dela passar no psicólogo, que a estava ajudando a enfrentar seus medos após o que havia acontecido conosco e também por conta da transição de gênero.

"Quem nasce cego o que eles vem? Nunca me perguntou isso antes, já que para mim antes da perda da visão o mundo para uma pessoa cega era escuridão, uma vasta e imensa escuridão sem fim, mas não, não era assim. Agora neste exato momento o que você está fazendo? Óbvio que lendo, mas faça um teste simples, feche o olho esquerdo e me diga o que você acabou de ver?

Exatamente nada, os cegos não vem nada, as vezes no meu caos o que vejo e uma infinidade de cores e formas geométricas que ficam em constante mudança, a dias que realmente eu vejo o nada infinito, nem luzes nem cores vejo um vazio, mas na primeira vez que vi as cores e as formas geométricas na minha frente fiquei tão feliz achando que estava recuperando a visão de forma gradativa, mas horas depois tudo voltou ao nada.

Hoje seu que eu tive "A ligação entre meus olhos e meu cérebro cortada", o mundo não ficou preto. Todas as metáforas, analogias e floreios literários sobre cegueira e escuridão devem deixar de ser usados, porque eu estou dizendo que é longe de ser escuro. É exatamente o oposto, ou e está mar colorido em constante mudança ou nada. Mesmo fechando meus olhos com força a escuridão não vem, a cor preta está nunca mais vou ver.

Tenho saudades daqueles momentos pacíficos de quase escuridão: caminhar durante a noite olhando para as luzes da rua, as sombras em uma sala com uma lareira acesa, ou viajar para casa tarde no carro do meu pai vendo olhos de gato brilhando no meio da estrada, sinto falta do brilho das estrelas no céu, sinto falta do maior de todas as estrelas que surgiu em minha vida, as vezes me pego imaginando o rosto da Cris, dos meus pais é minha família, mas aos poucos isso vem se tornando mais difícil.

Para mim, escuro passou a significar calma, e como esses fogos de artifício "embutidos" na minha cabeça que quando vão embora dão lugar ao vazio, quando eu estou sozinho em algum lugar silencioso sinto medo, pois minha mente as vezes me prega peças e acho que todos se foram,  se não fosse por Oreon, Bono e agora a Mabel me seguindo dentro de casa o tempo todo eu já teria entrado em parafusos, pois são eles que me puxam para a Realidade me dando carinho".

— Está amiga de vocês está certa? Você me prometeu passar o endereço deles...

— Já te disse para falar baixo, se o Juan ouvir a gente?

— Ele deve está no quarto agora... Mas vamos agora a biblioteca lá e melhor para conversar.

Não acreditava no que acaba de ouvir, o que eles estavam pensando em fazer, segurei na colera na guia da Mabel e desci com calma até a biblioteca, eu sabia que eles iriam acabar fazendo alguma merda, só que eu não iria deixar isso acontecer.

— Oreon, Bono... Vamos a bajar!

Ouvi o passo deles ao meu lado, que vinha com toda a calma do mundo, pai Guilherme que antes achava que eles aprontavam por que eu mandava, agora tem está certeza já que eles não saem mais do meu lado, eu mesmo não sei se e porque estão preocupados comigo ou se é puro ciúmes do Mabel, principalmente o Oreon que não deixa ele subir na minha cama de modo algum.

Conforme me aproximei da biblioteca tive certeza que as vozes que ouvi antes eram do Pai Gabriel, Tio Fernando é o Girafão.

—  Rodolfo e qual seu plano? Invadir a casa deles e tirar seja quem for de lá?

—  Eu já te disse Gabriel, me deixa ir com o o comprido aí que resolvemos tudo.

—  Fernando não acredito que a Amanda te contou tudo antes de me contar... _Pai Biel parecia bem irritado pelo seu tom de voz.

—  Você sabe que com o Betinho e eu não tem segredos...

—  Aquele boca aberta ele não sabe guardar segredos de você mesmo.

—  Nunca conseguiu, e não seria hoje...

—  Me conta de novo o que ela descobriu, pois você parece ter escondido alguma coisa... _Boa girafão.

— Vamos lá, Amanda ela descobriu que o tal do Andrei que trabalho no restaurante a meses atrás, que foi a mando dos pais dele que tentaram boicotar o restaurante, que eles pagaram os mesmos filhos da puta pegar a Cris e dar um susto no seu pai...

—  Mas o que meu pai tinha a ver com a história do restaurante?

— Não grita Rodolfo! _Pai Biel não adianta você dizer para alguém não gritar se você mesmo anda falando gritando.

Mas como eu queria poder ver por Cinco segundos a cara de tonto do girafão por levar uma bronca isso deve ter sido bem engraçado.

—  Uma coisa que o Roberto me disse que não bate nesta história toda e que o tal do Andrei quer poder falar com você Gabriel.

— É porque ele quer falar com você?

— Amanda me disse que ele sabia do que iria acontecer no restaurante, que ele que deu informação de onde estava cada uma das câmeras e tudo lá dentro...

— Filho da puta! _Não posso falar um palavrão em espanhol que me dá bronca, mas ele deixa o girafão fica gritando em português.

— Contudo, ele estava para sair do país a meses atrás, ele havia desistido de ajudar a família com os negócios que não andavam bem aqui no Brasil é iria voltar a morar com seu avô na Europa...

— Isso eu entendi muito bem da primeira vez... O que nos queremos saber Fernando e o motivo dele ter desistido.

Um silêncio se fez dentro da sala pro alguns segundos queria entrar é pergunta logo quem foi o "Hijo de puta" que mandou aqueles homens atrás da minha Cris.

— Betinho me contou que os pais do Andrei que mandou aqueles filho da puta irem atrás da Cris, que eles havia feito o que fizeram pois os pais dele não gostaram nenhum pouco de ver o filho sofrer por conta do seu Pai Rodolfo ter "roubado" o amor do único filho deles.

Então os pais do tal Andrei pagaram para espancaram minha princesa, porque o filho idiota deles não gostou de ser rejeitado pelo RAJ.

— É tem mais uma coisa, que talvez não venha ao caso. _Tio Nando disse isso e se calou do nada.

— Fala logo Fernando, dei de enrolação... _Pelo tom de voz meu pai estava fervendo de raiva.

— Gabriel, a família do Andrei tem negócios coma BNN, e ele quer falar com você pois ele vai testemunhar contra os pais, que este foi o motivo dele ter desistido sair do Brasil.

—  Duvido deste desgraçado, quando ele estiver diante de mim, ele vai se arrepender... _A voz deles era de um tom de ódio que me dava medo.

—  Ele e um lixo igual os pais dele, como alguém pode saber de algo assim e não fazer nada, só esperando o pior acontecer... Eu não fiz nada com aqueles três desgraçados, mas se eu descobri quem fez vou agradecer e muito, mas com ele e os pais eu vou fazer pagarem...

Não acreditava no que ouvia, e por puro instinto empurrei a porta com toda minha força abrindo ela e quase caindo dentro daquele cômodo.

— VOCÊS NÃO VÃO FAZER NADA!

Gritei o mais alto que consegui, o que deve ter assustado os três, já que ninguém disse nada. Ouvi o barulho de passos vindo em minha direção.

— Não chega perto de mim.

Falei já abrindo minha bengala e balançando ela de um lado ao outro.

— Juan... Filho...

— OREON... BONO... En posición... ambos se preparan...

Ouvi o barulho de latido e o rosnar de ambos, eu não iria deixar eles fazerem nada, não iria mais um vez ver alguém que eu amava se dando mal, eles não poderiam perde tudo por conta de pessoas como àquelas, eu iria dar meu jeito e impedir.

— Juan, controla a estos perros antes de que muerdan a nadie. _Tio Fernando mandava eu controlar os meus cães.

Será que eles não entenderam que era isso que eu iria fazer se não mudassem de ideia, era preferível saber que haviam sido atacados por eles do que receber a notícia por terem sido presos por conta de quem havia mandando dar o tal "susto" na Cris.

Minha cabeça estava uma confusão, se eu não fizer nada eles vão ser presos, se eu fizer algo, Oreon ou Bono poderia acabar arrancando um pedaço deles.

Paz finalmente, este era assim que eu me sentia nós últimos dias, em paz comigo, com meu marido que e pior que uma criança de 15 anos, com meu filho e genro que as vezes, ou quase sempre me deixava de cabelos brancos, contudo hoje iria fazer 10 longos dias de tranquilidade.

— Yuri?

Falei passando os dedos em volta de uma tatuagem que ele em nas costas, um lobo dentro que era montado pela lebre V uma acima da outra, quanto mais velho este homem diante de mim ficava, mais delicioso eu o achava.

—  Quando você me chamou para o quarto achei que iria me dar algo.

Falei isso descendo minha mão tão lentamente em direção do elástico de sua cueca o que fez ele se mexer um pouco. Isso talvez fosse um sinal para continuar o que havia começado, e aos poucos meus dedos foram invadindo o que aquele tecido "escondia", dei leves mordidas em sua orelha o que fez ele gemer de leve.

— Sem fazer barulho ou Juan ouve a gente.

Ele apertou seu rosto contra o travesseiro, conforme meus dedos brincavam com seu buraquinho.

— Ouviu?

— Você gemer sim...

—  Não Alec... Tira a mão daí, parecia um grito!

Eu olhei sério para ele que me encarava, ele não estava brincando com aquilo, já que no instante seguinte dava para ouvir o Juan batendo boca com alguém e os cachorros latindo.

—  O que deve ser agora?

Falei ao Yuri jogando sua bermuda, ele mais do que depressa colocou aquela peça de roupas e saímos do quarto, a única coisa que me vinha a mente;

"Desta vez eu infarto e caiu duro"

Yuri e Eu descemos as escadas correndo, assim que chegamos na sala principal a senhora  que ajudava na limpeza da casa e outros afazeres avisou que o Juan estava gritando com alguém é ela havia voltado após ouvir seus gritos, Yuri a agradeceu e disse que não precisa se preocupar que iríamos resolver o que quer que fosse.

Assim que chegamos no corredor que estava precisei segurar meu marido pelo braço, pois vi que Mabel estava ao seu lado e assim que notou nossa presença ele mostrou seus dentes e passou a latir para nós dois.

—  QUIEN ESTA AHÍ?

Ele gritava balançando a sua bengala era como se deseja-se afastar qualquer pessoa de próximo a ele, Yuri e Eu trocamos um olhar breve, e ele foi o primeiro a responder a pergunta.

— Juan... Somos nós... Seus Avôs, Alec e Yuri.

—  Ustedes también lo sabían?

—  Sabíamos do que?  Qual o problema?

—  Juan... Meu filho vamos conversar!

Ouvimos a voz de Gabriel vindo de dentro da biblioteca, o que ele havia aprontado agora para ter deixado o filho neste estado, o desespero no rosto dele, as lágrimas, suas mãos tremendo e para piorar os cachorros não iriam deixar ninguém se aproximar dele.

— IDIOTA, QUEM MAIS ESTA AI? _Yuri gritou ao meu lado e Eu tive dar um tapa nele.

— EU! _Fernando, e provável que a segunda voz era do Rodolfo.

Do nada Juan disparou falando, era uma mistura de português e espanhol, ele dizia que ia três queriam ir atrás das pessoas que fizeram aquilo com ele, que eles iriam pagar por tudo e que fariam as mesmas coisas, quanto mais ele falava mais nítido era de perceber a angústia em sua voz, o medo veio ao dizer que eles iriam ser presos ou até morrer por conta de tudo isso.

"No quiero que mueran como mis otros padres, no quiero perder a nadie más, el abuelo no los deja hacer eso."

Não sei ao certo em qual momento Guilherme havia chegado, ele passou direto por nós dois sem dizer uma só palavra, Mabel que ainda rosnava para nós havia recuado quando Gui chegou próximo a ela e se acalmou só com seu toque.

— Fica calmo... Não vou deixar esses idiotas fazerem nada com ninguém... Não vou deixar eles fazerem nenhuma besteira.

Guilherme falou isso em alto e bom tom quando abraçou o garoto, Juan chorava bastante pedindo ao pai para no mentir para ele, pois ele não iria deixar nenhum deles sair dali.

—  Por mim podemos deixar eles aí até amanhã.

— Guilherme você não vai fazer...

—  Fazer o que Fernando? Pois enquanto os três idiotas estavam brincando de detetives e achando que passavam a perna na Amanda e Roberto, eu já resolvi tudo com a ajuda deles dois, mais o Fabrício e Renan... _Ele falou isso olhando na direção da biblioteca sem soltar o filho.

— Você fez o que? _Gabriel perguntou a ele que não respondeu nada.

— Juan vamos, vou te ajudar a lavar o rosto e seus Avôs vão fazer um chá para você.

— Eu não quero remédios, eu não quero...

— JUAN quando eu menti para você? E somente chá, nada de comprimidos, nada de remédios... Somente um chá para nós e quem sabe um bolo!

Guilherme olhou piscando para mim, entendi que ele só queria um chá calmante para o filho e para ele, Yuri perguntou se iríamos deixar os três ali presos, e minha resposta foi a mesma do Guilherme, "Sim, até pensarem na merda que estavam querendo fazer".

Yuri e eu fomos direto a cozinha fazer o que havia sido pedido pelo Guilherme, um chá bem forte de camomila para acalmar o Juan.

— Olha isso!

Yuri me mostrou a tela do celular onde aparecia "Bielzinho do Tio", tentei não rir como ele havia salvado o número dele mais foi impossível.

— Está no viva voz peste! _ele falou me encarando sério por rir de sua cara.

— Tio a gente vai ficar aqui presos? O Bono e Oreon não me obedecem.

— Bem feito, se queixa com o cabeça de fósforo que está com você, ele e veterinário não eu...

— EU SOU VETERINÁRIO É NÃO DOMADOR DE FERAS! _Fernando gritou que deu pra ouvir da cozinha.

— Tô nem aí... Não querem bancar os Super Heróis, que eles mordam os três. _falei pegando o celular é desligando.

Não deu nem 5 segundos e na tela do meu aparelho apareceu "Nando sobrinho"

— O que você quer? _falei irritado com ele.

— Tiuuuuu me desculpa! _Manhoso filho da mãe, quase me fez sentir pena.

— Tô nem aí, quando Juan sentir que vocês saem do castigo ele tira vocês.

—  Castigo? Eu não sou mais criança...

—  Fernando vocês se comportaram feito crianças e vão ser tratados assim... Outra pensei em ligar para o seus pais e de Rodolfo para resolver isso. _Guilherme falou assim que entraram na cozinha

—  Nada de liga pro meu pai... A Tampinha vai querer me bater...

—  Agora que vou ligar mesmo girafão. _Juan gritou avisando do seus planos.

Desliguei o celular e olhei para meu neto que ainda tinha os olhos levemente inchados, mesmo com a sequeira sua iria se manteve na cor Mel que sempre teve, Marcos é seu amigo Prof. Dr. Rubens Belfort isso era um bom sinal, que talvez com algum tratamento experimental ele poderia vir a recuperar a visão. Contudo nem ele nem Gabriel sabiam ainda festa possibilidade, já que ambos eram ansiosos de mais.

— Vamos mesmo ligar para os pais deles?

Juan me perguntou isso com maior sorriso do mundo, ele queria ver o cunhado encrencado, aos poucos ele explicou o que tinha ouvido, é quanto mais ele falava sobre a conversa dos três idiotas, mais concordava em fazer eles passarem por uma saia justa.

Genteeeee e aí será que o Juan vai fazer isso só pra mostrar quem manda (mais ainda), ou vai deixar isso de lado?