Capítulo 5 - Acrescente uma vista de tirar o fôlego
Nunca pensei que comemoraria falta de internet boa, mas era exatamente isso que estava fazendo no dia seguinte, pouco antes do meu encontro com Johann. Tinha acabado de receber um e-mail de Judith me pedindo tudo que eu já tinha, "mesmo que não fosse algo finalizado, só para ela saber em que pé tudo estava." Ontem, eu reclamava que o plano internacional do meu celular mal me deixava procurar o Johann no Facebook, hoje pude usar a desculpa de não conseguir anexar um arquivo tão grande e enviar sem perder todo o resto de internet que tinha que durar até o final das duas semanas.
Mesmo com uma razão válida, me forcei a fechar meu e-mail e ligar para Kendra. Pensar em Judith e remoer sua reação teria que ficar para outro dia.
Kendra atendeu rápido.
"Não tenho nada para vestir," não esperei para falar, já aproveitando para colocar no viva-voz.
"Oi, Audrey, tudo bem com você? Está tudo bem comigo, obrigada por perguntar," sua voz soou só um pouco mais aguda do que o normal, o que denunciava sua brincadeira.
"Oi, Kendra. Tudo bem?" Perguntei sem muita inclinação.
Ela soltou uma risada rápida. "Agora é tarde. Mas e aí? Com o que posso ajudar?"
"Eu não tenho nada para vestir," repeti.
"Não tem mesmo ou só está fazendo graça?"
Revirei os olhos, me levantando da cadeira e indo abrir o armário minúsculo e vazio, exceto pela minha mochila jogada dentro dele.
"Não tenho mesmo. É o que acontece quando você entra em um avião sem planejar direito e vai parar em uma cidade que mal tem loja de roupa!"
"Há," ela ficou quieta por alguns segundos, provavelmente pensando em um jeito de solucionar meu problema. "E você ainda passou por Paris, podia muito bem ter comprado algo lá."
"Muito obrigada, Kendra. Eu não estava ainda me sentindo derrotada, agora consegui. Obrigada pela ajuda."
Kendra riu do outro lado. "Me diz com que eu estou trabalhando."
Respirei fundo antes de começar a tirar as coisas da mochila, uma por vez. "Tem a calça jeans que eu estava usando quando vim, três camisetas, apesar de duas delas estarem já sujas e eu estar vestindo a terceira, uma calça de moletom, um casaco trench, um blazer e uma camisa."
"Você está na França ou em alguma reunião? O que te deu na cabeça de levar um blazer?"
"Me deu na cabeça pensar que é bem provável que eu tenha que chegar em Nova York e ir direto para a editora, se não conseguir terminar o livro antes."
Ela suspirou de um jeito que me fez pensar que podia estar revirando os olhos. Se minha internet fosse melhor, estaríamos conversando por vídeo agora, mas precisava ficar só imaginando suas reações.
"Já sei!" Falou do nada depois de tanto tempo em silêncio, que eu tinha começado a achar que a chamada tinha caído. "Usa o blazer."
"Hã? Você acabou de dizer que é roupa de trabalho!"
"Não, você não entendeu," ela claramente estava sorrindo. "Usa só o blazer. Calça jeans e blazer, sem nada por baixo."
Conversar por vídeo teria feito com que visse a careta que fiz quando entendi sua ideia.
"Você quer que eu vá sem nada por baixo do blazer?"
"Bom, sutiã, claro, se é que você lembrou de levar algum."
"Eu lembrei," me defendi, enquanto meus dedos levantavam o blazer automaticamente. "Não vai ficar muito esquisito? E se abrir o botão do nada?"
"É um risco a correr," ela disse, mas senti que sua voz estava ficando levemente distante. "Você tem alguma outra escolha?"
Mordia o canto do lábio, ainda olhando para o blazer. "Não," falei, mais para mim mesma do que para ela. "A não ser que eu queira arrancar as cortinas e fazer um vestido em menos de uma hora."
"Você tem só uma hora para se arrumar?!" Ela nem parecia ter percebido minha brincadeira.
"É mais do que o suficiente."
"Se você diz. Escuta, Audrey..."
"Eu sei, você precisa desligar," a cortei.
Só pelo tempo que demorou para confirmar, já soube que tinha acertado. "Juro que ligo mais tarde para descobrir como foi!"
"Não tem problema, você já me ajudou muito! Boa sorte com tudo aí." Eu realmente precisava me lembrar do que tinha acontecido com a irmã do marido dela, estava difícil ser vaga.
Deixei que ela desligasse a chamada, enquanto eu continuava olhando para o blazer. Antes de me vestir ou decidir se seguiria sua sugestão, me estiquei para alcançar na mesa uma caneta e um bloquinho de post-it.
Comprar roupas novas, nem que eu tenha que ir para Paris para isso.
Demorei mais de uma hora para aceitar a roupa e passar o pouco de maquiagem que tinha levado. Por sorte, tinha trazido um par de sapatos de salto simples, só para a possível reunião de última hora. Tinha que admitir que o blazer, os sapatos e a calça jeans, mesmo que larga e rasgada, ficaram bem juntos, mas ainda estavam anos luz do que eu teria escolhido se tivesse meu guarda-roupa aqui. Ontem, antes de dormir, tinha chegado a me imaginar andando na ponte para encontrá-lo, usando um vestido estampado e leve, que voasse com o vento do rio. Foi quando me lembrei da minha falta de opção.
Até chegar perto o suficiente de onde tínhamos marcado para avistá-lo, vinha andando com uma mão no botão do blazer, me assegurando de que ele não abriria. Usava um sutiã um pouco largo, quase um top rendado preto, mas ainda me sentiria bem desconfortável se ele abrisse. No meio do caminho, até parei e reconsiderei a possibilidade de vestir uma camiseta. Mas então eu o vi, logo no meio da ponte, com mãos nos bolsos e ombro apoiado em um poste de luz já aceso, mesmo que o sol não tivesse tido a chance de se pôr ainda.
Procurar Johann no Facebook tinha servido para me lembrar de que ele era real, de que era tão bonito quanto tinha parecido. Mas agora me sentia uma tola. Primeiro, porque seu perfil tinha uma única foto e só um post de um ano atrás. Mas, principalmente, porque o que tinha de mais bonito dele não caberia em nenhuma foto. Diminuí meu passo, me deixando curtir a ansiedade que parecia ter se multiplicado dentro de mim. Ele era mais alto do que me lembrava e, de onde eu estava, deu para ver quando fechou os olhos e inspirou fundo, parecendo tentar sentir o cheiro da grama nas margens do rio. Estava tão confortável em sua própria pele, como se já tivesse desvendado cada canto de sua personalidade e a aceitado completamente, que era contagiante.
O que eu chamava de confiança em Esteban sempre me fez sentir inadequada, mas essa falta de insegurança aparente de Johann me deixava segura também. Por um segundo, aquele em que parei logo fora de seu campo de visão, me deixei criar uma cena em minha cabeça.
Não, eu não o conhecia, quem sabe estivesse prestes a ter todas as minhas expectativas despedaçadas, mas a cena em que criei era entre eu e um cara que nunca usaria nada de ruim contra mim. Era eu, sentada na mesa de um restaurante ou lugar assim e fazendo mil coisas erradas, derrubando taças, sujando minha roupa, deixando que o blazer abrisse. E ele me respondendo sempre com um sorriso, nunca julgando ou me vendo como menor por isso. Era esse o Johann que eu imaginava.
Ele sorria até sozinho. Talvez fossem as águas do rio, ou o clima quente que contrastava com a brisa leve que tinha me feito agradecer pelo blazer de manga comprida, mas ele parecia estar mergulhado em pensamento, só observando o que estava à sua volta. Tanto, que adiei o momento em que o interromperia. Não queria que o som dos meus sapatos se aproximando o atrapalhasse, ao mesmo tempo em que queria chegar mais perto dele e me certificar de que não estava enlouquecendo, que estava mesmo indo a um encontro com ele.
Quando finalmente cheguei mais perto e ele me notou, já estava pronto para abrir um sorriso especialmente para mim, mas seus lábios se perderam perder pelo caminho. Coloquei minhas mãos nos bolsos como ele, para evitar cruzar os braços à minha frente, enquanto ele me olhava de cima a baixo.
"Eu não tinha o que vestir," declarei como uma desculpa, contradizendo minha teoria de que eu mesma ficava mais confiante perto dele.
"Para mim, parece que você tinha exatamente o que vestir," ele respondeu, e tive que franzir o nariz para evitar sorrir demais. Podia sentir minhas bochechas enrubescendo como se eu ainda fosse uma adolescente.
"Você está linda," o ouvi dizer quando cheguei mais perto e parei na sua frente. Tive que encontrar seus olhos nessa hora, não tinha nada que quisesse ver mais do que a expressão em seu rosto ao me dizer exatamente o que eu queria ouvir naquele momento.
Não sabia se o jeito em que engoliu em seco e respirou fundo era um bom sinal, mas, para evitar ter que continuar olhando em seus olhos, resolvi observá-lo de cima a baixo também.
Não funcionou para me deixar menos embaraçada, já que o sorriso que dei quando voltamos a nos olhar me fez sentir ainda mais nervosa.
"Você também," falei, e ele imitou meu sorriso constrangido.
Se é que era possível, aquilo foi ainda mais adorável.
Minha completa falta de jeito foi o que me fez perguntar em seguida: "Aonde vamos?"
"A um dos únicos bares da cidade," ele disse, se virando um pouco na direção contrária ao castelo e abrindo um braço, me oferecendo para me apoiar ali.
Era quase um ato caricato. Nunca ninguém tinha me oferecido o braço assim, mas o aceitei, passando o meu em volta do dele e começando a andar.
"Não tem muitos bares por aqui?" Perguntei.
Ele riu rápido. "Tem três. Um deles é esse da esquina," ele apontou para onde estávamos chegando. "Nunca fui nele. Depois tem o Ô Pub, o que chega mais perto de uma balada aqui." Nós passamos da esquina e saímos da ponte, virando à direita e seguindo o caminho ao lado do rio. "Mas o que nós vamos é meu favorito."
"Por quê?" Perguntei. Ele olhou por cima do ombro na minha direção. "Por que é seu favorito?"
Ele parou na frente do tal bar, soltando meu braço e me indicando uma mesa. Eu ainda o olhava, esperando sua resposta. Me sentei e ele fez o mesmo à minha frente.
Ia perguntar outra vez, quando ele se inclinou no encosto da cadeira e se virou para sua esquerda. "Por isso," disse, cruzando uma perna e até apoiando seu braço na mesa, em sua melhor posição de admiração da vista.
Segui seus olhos.
Nós estávamos diretamente na frente do castelo. Como todas as outras luzes da cidade, as dele estavam acesas, mesmo que o sol mal tivesse começado a se pôr. O céu ainda estava claro, ameaçando começar a ficar laranja, mas ainda contrastando com as águas inquietas do rio Loire. Estava mesmo bem bonito, como tudo em Amboise. Mas me virei logo de volta para Johann, que olhava a vista incansavelmente com a expressão mais sonhadora que eu já tinha visto.
Ele sorria também, mas de leve, como se inspirasse, de um jeito calmo e pleno. E eu senti que podia ficar olhando para ele para sempre, contando as dobras que seus sorrisos já criavam em volta da sua boca e nos cantos dos seus olhos, os tons de azul que se misturavam neles e rivalizavam os do rio à nossa frente e os movimentos livres e perfeitos de seu cabelo castanho.
O tempo foi passando, nós dois em silêncio, como se nos ajeitássemos em nosso lugar e deixássemos tudo que era desconfortável ali desaparecer ou se adaptar. A cada segundo, me sentia mais à vontade, como se ele fosse alguém que eu conhecesse há muitos anos. Nem senti a necessidade de falar alguma coisa, gostava mais de continuar olhando para ele, o conhecendo por cada centímetro seu que eu observava ou cada vez que respirava e parecia querer absorver tudo à sua volta.
Quando se virou outra vez para me olhar, seu sorriso cresceu e eu o imitei, voltando à realidade. Eu não o conhecia, me forcei a lembrar. Mal me lembrava do seu sobrenome.
Me endireitei na cadeira e um garçom chegou, obrigando Johann a fazer o mesmo. Eles se falaram em francês, mas ele parou para me olhar no meio.
"Eu vou pedir alguns drinks. Quer dar uma olhada no cardápio?" Johann perguntou, mas eu balancei a cabeça.
"Se tiver alguma coisa com vinho branco e fruta, eu aceito."
Ele sorriu, depois se virou para o garçom e falou mais alguma coisa em francês, completando com uma apontada para o cardápio.
Nos poucos segundos em que estava pedindo as bebidas, me perguntei se tinha feito besteira deixando que ele escolhesse. Foi um instante de dúvida, que conseguiu acelerar meu coração, um instante de medo de cair na mesma rotina que tinha com Esteban. Mas empurrei aquele tipo de pensamento para o lado. Esteban já tinha estragado muita coisa na minha vida, não deixaria que estragasse isso também.
Quando Johann e eu ficamos sozinhos outra vez, ele se inclinou um pouco na minha direção.
"Então, Audrey Scott," ele começou, e eu o imitei, apoitando na mesa com os cotovelos e pensando outra vez que não me lembrava do seu sobrenome. "O que te trouxe à Amboise? Sei que veio escrever seu livro, mas por que aqui?"
Bufei uma risada, olhando rapidamente até o castelo e depois voltando a mirá-lo. "Na verdade, eu só entrei no aeroporto e pedi para a atendente escolher um lugar para onde eu iria."
Ele arqueou as sobrancelhas, divertido. "Sério?"
Concordei com a cabeça, sentindo a pontada de orgulho que aquela loucura me trazia. "Sério."
"Mas não tem avião para Amboise."
"Mal tem ônibus para Amboise," reclamei, apontando para a cidade do outro lado do rio, mas de um jeito brincalhão. Ele riu. "A atendente me mandou para Paris, na verdade. Só que eu resolvi vir para cá, depois da indicação do cara que voou do meu lado," ou algo desse tipo, completei na minha cabeça.
"Então você veio no escuro? Sem saber nada da cidade?" Ele se inclinou de volta na cadeira, e eu achei que fosse só um jeito de jogar charme, mas logo o garçom apareceu com dois drinks enormes.
Enormes.
"Tipo isso," falei, enquanto meus olhos grudavam no copo gigante e cheio de um drink degradê laranja que era colocado à minha frente. "O que tem nisso?"
"Champanhe e pêssego," Johann, disse, pegando o seu. "Achei que precisávamos começar comemorando."
Quis atacar o drink, e foi mais ou menos o que fiz, assim que o garçom se distanciou e Johann e eu fizemos um brinde. E era delicioso! Por definição, pêssego não era das minhas frutas preferidas, mas combinava perfeitamente com o champanhe! Era como se suas bolhinhas fizessem todo o doce do pêssego ficar mais macio, mais leve, mais saboroso.
Quando voltei a apoiar o copo na mesa, já tinha ido quase metade. Mas o de Johann estava praticamente no mesmo nível também e nós só trocamos sorrisos pela nossa sede.
"E você?" Perguntei, limpando discretamente em volta da minha boca e sentindo com os dedos o botão do blazer. "Por que escolheu Amboise?"
"Foi Amboise que me escolheu." Franzi as sobrancelhas, não entendendo, mas ele logo explicou. "Eu queria trabalhar na França e um emprego apareceu por aqui. Também não sabia nada da cidade quando vim."
"Você cozinha, né?" Perguntei, e ele concordou com a cabeça. "Em algum restaurante?"
"Via Roma. Fica logo atrás do castelo."
"Espera," pedi, levantando as duas mãos no ar. "Um alemão fazendo comida italiana na França?"
Ele riu, como se fosse a coisa mais engraçada do mundo, e jogou a cabeça para trás, o que me deu vontade de segurá-la e trazê-la para perto de mim.
"Algo assim," disse, depois de se recompor um pouco e voltar a me olhar, ainda que um sorriso enorme tomasse conta do seu rosto. "Fazer o quê, né?"
Bloqueei todos os pensamentos maliciosos que me atacavam e voltei a mirar meu copo. Eu mesma sorria, contagiada pela risada dele, alta e natural.
"No próximo encontro, eu te levo para comer a melhor comida italiana, francesa e alemã ao mesmo tempo," ele prometeu, se inclinando de volta na mesa na minha direção. "Te garanto que não vai se arrepender."
"Próximo? Vai ter próximo?"
Seu sorriso pareceu desaparecer quase por completo, mas não por falta de alegria, mais por ele mesmo querer falar sério. Me mirou na mesma intensidade.
"Você ainda está com seu bloqueio?" Perguntou, e eu concordei minimamente com a cabeça, quase sem deixar que me entendesse. "Então ainda vamos ter outro encontro. Aliás, vários outros encontros," disse, voltando a sorrir. "Mas, me explica, o que tanto te assombra? Por que não consegue mais escrever?"
Respirei fundo, deixando meu olhar seguir na direção do castelo outra vez. O sol já estava terminando de se pôr e, mesmo com o céu ainda levemente azul, as luzes agora já faziam uma grande diferença. E eu nem tinha percebido quando começou a escurecer.
Voltei a olhar para Johann, quase sem me lembrar do que ele tinha perguntado. "Muita coisa estava acontecendo na minha vida. Muitos problemas, e eu acabei parando de escrever. Sempre falava para mim mesma que poderia voltar a qualquer segundo, que ainda tinha tempo, que podia focar em outras coisas. E de repente eu simplesmente não sabia mais o caminho de volta."
"O que estava acontecendo na sua vida?"
Nós nos miramos em silêncio por alguns segundos, até eu engolir em seco e mirar meu copo outra vez.
"Eu tinha acabado de terminar um namoro," expliquei. "Noivado, quase," Johann não falou nada, mas nem levantei o rosto para olhar outra vez na sua direção. "E minha história estava feliz demais na época. Tá, não era esse o problema, nem tinha nada de muito feliz ali, mas eu não conseguia me concentrar. Não escrevi uma linha desde então. E faz tempo."
"Quanto tempo?" Sua voz grossa perguntou, bem mais séria do que antes.
Respirei fundo antes de responder. "Quase seis meses."
Quando não falou mais nada, levantei o rosto para olhá-lo, mas ele parecia inabalado.
"Isso é bastante tempo, se você tem alguma dúvida," expliquei.
"Não sei, escrever não é fácil. Imagino que deva demorar mesmo para conseguir finalizar um livro," por mais insignificante que fosse seu comentário, já era algum conforto. "Mas me diz, o que exatamente você precisa fazer nesse final?"
"Bom, minha personagem principal é caçadora de vampiros. E ela acaba se apaixonando por um, o que cria todo uma briga entre reinos. Sim, tem reinos. Ela não é princesa, nem nada. Mas era quase como adotada pelo rei dos humanos, o que a fez sempre ter em mente que seu sonho era conseguir ganhar de todos os vampiros e exterminá-los..."
"Até ela se apaixonar," não era uma pergunta, era mais uma constatação de Johann, quase vitoriosa.
"Até ela se apaixonar," repeti, deixando nossos olhos se encontrarem e nossos sorrisos se imitarem, como se estivéssemos guardando um segredo em comum. "Mas, então," continuei, torcendo o nariz para mim mesma, "agora está na hora da batalha final. De ela decidir se quer continuar sendo humana ou não. Ou se o que aconteceu com ela já valeu pelo amor que teve. Se ela vai deixá-lo morrer e escolher o seu pai adotivo ou o contrário."
"Uau," ele soltou. "Grandes decisões."
"É. Mas o maior problema ainda é toda a batalha, tudo que vai acontecer, todo o desenvolvimento de pensamento dela, do que vai levá-la a fazer o que, como e por quê. Não sei nem por onde começar," suspirei. "E às vezes até penso que..." Eu mesma me cortei, antes que falasse alto o que não tinha ainda nem admitido para mim mesma. "Deixa."
"Não, pode falar," ele tomou outro gole do drink e se apoiou de novo na mesa, como se quisesse escutar o melhor possível cada palavra que eu diria. "Eu quero saber."
"É algo terrível," falei, apesar de já sentir dentro de mim a inclinação de contar para ele o que tanto me atormentava. Ele era, para todos efeitos, um estranho. Não me conhecia e nem morava perto de mim. Podia estar bem na minha frente, com seus olhos nos meus e sua mão a alguns centímetros da minha, mas ele ainda era teoricamente um estranho.
E é tão mais fácil admitir seus medos e defeitos para um estranho.
"O que quer que seja, tenho certeza de que é compreensível," ele disse, tentando me encorajar a falar.
Mordi meu lábio, me ganhando tempo. Era só falar. Só formar a frase, escolher as palavras e falar. E pronto. Não precisava pensar. As consequências viriam ou não, e eu descobriria logo, se eu simplesmente falasse.
Dei de ombros, olhando para cima. "É só que às vezes eu queria que toda essa história não fosse minha." Pronto. Estava lá, no ar, pairando, minha confissão. A coisa mais ingrata que já tinha saído da minha boca. "Queria que fosse a história de outra pessoa, que outro escritor tivesse a responsabilidade de terminá-la. Queria me livrar desse fardo."
Fardo! Repeti na minha cabeça. Eu era terrível, era uma pessoa horrível! Depois de tudo que tinha conseguido, do meu sucesso, do meu contrato, de tudo que tinha ganhado só por ser a autora da minha saga, ainda tinha a coragem de desejar, pelo pouco que fosse, que tivesse acontecido com outra pessoa!
"Eu entendo," Johann disse, me fazendo voltar a mirá-lo. "Deve mesmo ser um fardo pesado, essa obrigação que você tem de terminar no mesmo nível que os outros."
Praticamente arregalei os olhos, me aproximando o máximo possível dele, com a mesa entre nós. "Sim!" Exclamei, sentindo que, pela primeira vez, alguém me entendia. "No começo, era a coisa mais divertida do mundo. Era até meu passatempo!"
"E agora virou um dever seu," ele completou por mim, enquanto eu concordava com a cabeça freneticamente. "Não é de se admirar que você tenha perdido a vontade de continuar."
Tomei um gole enorme do meu drink, como um jeito de respirar. "Não é nem que me falta a vontade. É que já desaprendi mesmo! E esse negócio de ser obrigada a continuar não ajuda."
"Sabe o que ajuda?" Ele perguntou, abrindo os braços a apontando para o castelo. "Você não disse que são dois reinos?"
Eu ri sozinha, mas balancei a cabeça. "Não é assim. Acontece no futuro. Nenhum deles mora em um castelo desses. Aliás, construções velhas assim já foram extintas faz tempo."
"Mesmo assim," insistiu. "Olha para lá," ele se virou para o castelo, puxando a cadeira a ponto de conseguir apoiar os pés na mureta. "Eu gosto ainda mais do castelo quando está de noite. Parece que é de mentira, uma alucinação ou coisa desse tipo. Mas não é. É de verdade. E várias pessoas já passaram por ali. Vai, olha para lá."
Revirei os olhos, mas de um jeito divertido, e o obedeci, virando minha cadeira também.
"Esquece o futuro e pensa no passado. Imagina que você vivia aqui durante a Idade Média. Bem aqui, desse lado do rio. E logo ali, naquela construção imponente e de bandeiras incansáveis, morava o maior regente do seu país."
"Algum rei da França já morou aqui?" Perguntei, olhando por cima do ombro para ele, que fez um gesto no ar.
"De qualquer jeito," disse, sorrindo para ignorar o furo na sua ideia, "imagina que morava, que vestiu sua coroa e está indo agora até a varanda, olhar para os súditos e sua terra. Tudo que você tem é uma vela que mal te dá a noção da distância entre vocês. Mas, ainda assim, você o vê e sabe, no fundo, que tem uma sorte enorme de estar ali. Ele é seu rei. O escolhido por Deus para reger seu país."
"Nunca acreditei nessas coisas," eu o interrompi.
"Sabe, estou começando a entender o porquê do seu bloqueio!" Falou, fingindo estar irritado. "Concentre-se."
"Em fingir que sou da Idade Média?"
Ele riu. "Tá, vamos mudar um pouco. Não precisa imaginar que vive na Idade Média. Não precisa imaginar nada. Você é você. E está aqui agora, com um cara bonito, divertido e inteligente," me virei para ele e revirei os olhos. Johann já esperava essa minha reação, rindo logo depois. "Sim, extremamente inteligente. Pode admitir. E você não tem preocupação nenhuma. Não precisa se lembrar do seu livro e de nada que tenha deixado para trás. Na verdade, não precisa nem se lembrar de nada que tem aqui. Esvazie sua mente e só olhe para o castelo. Não existe mais nada em volta. Só ele, você e o rio entre os dois."
Olhei para a frente, como ele mandava, tentando absorver tudo que dizia, mas minha mente continuava a mil e acabei me virando outra vez para olhá-lo.
"E agora só inspire," ele disse, se obedecendo e expirando logo em seguida, enquanto outro sorriso tomava conta de seu rosto.
Mas eu já não conseguia olhar de volta para o castelo. Não. Eu olhava para ele, que abraçava seus joelhos como um garotinho e não tirava os olhos do que eu devia também estar mirando.
"Fale a verdade," ele disse, tão hipnotizado pelo que estava à sua frente, que não percebia que eu já não obedecia há muito tempo, "você já viu alguma coisa mais bonita no mundo todo?"
Aquela era uma pergunta estranha quando eu estava olhando para ele. Abri a boca para responder, mas não saiu nada. Então só continuei o observando, deixando que a brisa passasse de leve por nós. Podia ouvir o som das conversas à nossa volta e do rio que não parava de correr, mas era como se todo o barulho ficasse cada vez mais abafado. Eu estava estranhamente ciente de cada vez que ele respirava, do movimento que isso causava ao seu peito, de como ele parecia quase flutuar em seu próprio lugar. Ele estava ali, sentado do meu lado, mas eu podia jurar que também estava longe, que também estava no castelo, sentindo tudo aquilo que eu não conseguia nem imaginar.
Johann tinha razão. A noite o fazia parecer de mentira, como uma alucinação que eu estava tendo. Não o castelo, ele mesmo. Ainda mais que, quanto mais focava em seu rosto, mais as luzes à nossa volta ficavam embaçadas e eu ia perdendo a noção de realidade. Estava pronta para acordar, já nem sentia o resto do meu corpo, quando ele se virou para mim e sorriu.
Eu lhe devolvi o sorriso, acordando todos os meus outros sentidos. Era um jeito de voltar os pés no chão, de me lembrar que aquilo estava mesmo acontecendo. E era ainda melhor saber que eu não precisava sonhar para poder vê-lo na minha frente.
O resto da noite foi completamente diferente do começo. Eu já não conseguia conversar com ele como se fosse qualquer pessoa, qualquer cara bonito com quem eu tivesse trombado. Cada palavra que dizia sobre si mesmo me fazia pensar se encaixava comigo. E mesmo quando me falou que gostava de uma música terrível que eu odiava, ainda fiz questão de classificar aquilo bom. Não iria criar ideias absurdas na minha cabeça, tinha a impressão de que o que quer que acontecesse entre nós acabaria ali. Mas era impossível não colecionar para gostar dele.
E não conseguia só ouvir sua voz ou ficar tentando fazê-lo sorrir e me olhar como ele olhava para a vista. Também precisava ficar notando como seu rosto era quadrado e o mínimo de covinha que aparecia em seu queixo quando ele ria. E a mania que seu cabelo tinha de cair uma única mecha na cara e ele o afastar para trás como se não fosse nada. E o jeito que ele levantava a sobrancelha para tudo de esquisito que eu falava de mim, mas logo depois declarava que ele gostava daquilo.
Quando me levantei da mesa, o céu agora já completamente escuro, ele colocou uma mão na minha cintura, e eu senti como se fosse o único convite de que precisava para me enterrar em seu peito. E o teria aceitado, mas Johann só estava me indicando o caminho, e ficou para trás quando dei alguns passos para longe da mesa. Olhei por cima do ombro, onde ele deixava o dinheiro e agradecia em francês ao garçom, que sorria abertamente.
Sozinha a alguns metros da mesa, me sentia como se fosse o primeiro encontro da minha vida. Tudo parecia estar à beira de ficar desconfortável, e eu tinha passado o tempo todo torcendo para não criar expectativa demais e acabar desapontada. Mas ali, depois de horas conversando, no único momento em que ele estava ocupado com outra pessoa, me sentia incrivelmente leve.
E bonita, o que me fazia me odiar. Precisava me sentir como uma adolescente assim? Como se fosse a primeira vez que um cara olhava para mim?
Mas era assim que me sentia. Importante. Notada. E bonita. Mesmo sozinha, mesmo sem ouvir o que eles falavam. Eu estava saindo de um encontro com um cara que parecia bem interessado em mim e tinha muita gente ali de testemunha. Era impossível não me sentir eufórica com aquilo.
Mesmo que eu reprimisse qualquer vontade que tinha de rir alto e sair rodopiando pelas ruas de pedras. Pelo contrário, mal sorri quando o senti colocar sua mão outra vez nas minhas costas, me indicando que estava do meu lado e podíamos sair de lá. O jeito que ele vinha prestando atenção em mim tinha sido o suficiente para me fazer ir de uma adolescente insegura a saber exatamente como queria que aquela noite acabasse.
"E então," ele começou a falar, enquanto andávamos pela ponte, "acha que valeu a pena?"
"O quê?" Já sabia do que falava, mas queria ouvi-lo elaborando sobre si mesmo.
Ele sorriu ao meu lado, me forçando a levantar o rosto para ver. "Valeu a pena perder uma noite de escrita para sair comigo?"
Balancei a cabeça, apesar de não conseguir parar de pensar na mão dele posicionada na minha cintura. "Não vai tentando se safar, você ainda tem sua parte do acordo para cumprir."
Johann riu, olhando para o lado e voltando rapidamente a me mirar. "Não se preocupe, não me esqueci," disse.
Nós chegamos à estrada que seguia a direção do rio e levava ao meu hotel. Ele já sabia onde ficava e nem precisamos trocar nenhuma palavra sobre aquilo de novo, mesmo que eu ainda ficasse torcendo para que me levasse até a porta e não me deixasse no meio do caminho. E tinha outra coisa que eu queria saber.
"Quanto tempo você vai ficar por aqui?" Perguntei, puxando as mangas do blazer que eu tinha enrolado de volta para baixo, tentando fugir da brisa gelada.
"Bom, eu cheguei faz alguns meses já," ele disse. "Planejava ficar pelo menos um ano. Mas talvez tenha subestimado meu amor por essa cidade."
"Vai entender."
"Sorte sua que todo mundo já está dormindo, senão você seria expulsa imediatamente," ele disse, quando estávamos chegando à esquina do meu hotel.
Depois de trocarmos um olhar rápido, nós dois viramos de volta para a frente, o avistando. Era quase como uma linha de chegada, mesmo que parecêssemos não querer terminar aquela corrida.
Ou pelo menos eu me sentia assim.
"Você mora por aqui?" Perguntei, voltando meus olhos mais para o chão do que qualquer outro lugar.
"Moro praticamente no final de Amboise," respondeu, com um sorriso largo que trouxe de volta sua covinha no queixo.
"Então, cinco minutos daqui?"
Seu sorriso se transformou em risada, e ele me abraçou um pouco mais forte pela cintura, quase como se usasse sua risada para disfarçar a proximidade que tinha entre nós. Eu mesma só me deixei sorrir para o chão, lutando contra aquele nervosismo que ameaçava tomar conta de mim.
E, antes que pudesse descobrir outro jeito de enrolar, percebi que estávamos na frente do hotel. Da esquina até chegarmos na porta, os cinco passos de distância, não falamos mais nada. Fiquei batalhando na minha cabeça as mil palavras que podiam sair da minha boca, mas sentia que todas estragariam a noite. E queria que fosse o final perfeito de um encontro perfeito.
Quando finalmente chegamos a porta, senti sua mão deslizando pelas minhas costas e me deixando. Subi o único degrau da entrada e me virei para ele.
Johann sorria, satisfeito. "Então," disse.
"Então," repeti, engolindo a seco.
Podia sentir minha respiração pulsando junto com meu coração na base da minha garganta. Não queria que a noite acabasse ali e nem sabia direito o que falar para conseguir mais alguns minutos, algumas horas com ele. Mas já tinha a impressão de que estava abusando da minha sorte só por ter tido aquele encontro, não queria arriscar algo mais e terminar a noite rejeitada. Só precisava conseguir mandar algum sinal, alguma coisa que demonstrasse que queria que ele me beijasse. Me odiava por não ter a coragem de beijá-lo primeiro.
Arrumei meu cabelo e dei de ombros de leve, mas ele só continuou me olhando.
É, estava sendo ambiciosa demais. Já tinha saído com ele, a noite tinha sido ótima. Era melhor terminar enquanto estava ganhando.
"A gente se fala?" Perguntei, olhando para baixo, onde minhas mãos se encontraram no botão do blazer.
Esperava que só respondesse que sim, como qualquer cara faria, mesmo se não tivesse a menor intenção de me ver outra vez. Mas ele ficou em silêncio e, como eu mesma estava mirando o chão como se falasse sozinha, não pude ver se tinha concordado com a cabeça ou algo desse tipo.
O que vi foi quando Johann se abaixou até nossos rostos estarem da mesma altura e fez seus lábios encontrarem os meus. Se antes eu estava quase entorpecida pelo nervosismo e meu medo de tudo dar errado logo no final, agora ele tinha feito questão de acordar todos meus sentidos de uma vez, liberando uma eletricidade pelo meu corpo que chegou até as pontas dos meus dedos.
Não deixei que se afastasse quando subiu o degrau onde eu estava e voltou a ficar mais alto que eu, mesmo que tivesse que me esticar para não deixar que um centímetro interrompesse nosso beijo. Ele enrolou os braços em volta da minha cintura, me puxando para ele com o abraço mais forte que já tinha recebido. Praticamente me levantava, enquanto eu abraçava seu pescoço e o puxava para mim, como se fosse possível que nós ficássemos ainda mais perto. Sentia em meu peito que, a cada segundo daquele beijo, menos ar eu tinha e de menos ar eu precisava.
Quando ele finalmente se afastou um pouco de mim, eu o segurei pela nuca, mantendo seu rosto a alguns centímetros do meu e me deixando sentir sua respiração levemente ofegante na minha pele.
Me inclinei um pouco para ele, forçando ficar ainda mais na ponta do pé, só para poder sentir sua bochecha com a minha, enquanto buscava de volta o caminho para sua boca. Ele não relutou, pelo contrário, me abraçou ainda mais forte, voltando a me beijar.
Da próxima vez em que nos afastamos, eu que tinha decidido que queria olhar para ele. E tinha outra coisa que queria.
"Johann," chamei, fazendo-o abrir os olhos e me mirar de volta. "Não quer me acompanhar até meu quarto?"
Ele sorriu, voltando a fechar os olhos por mais alguns segundos. Depois os abriu e me beijou, dessa vez rápido e ainda mais intenso. Eu já voltava a enrolar meus braços no seu pescoço com ainda mais vontade, aceitando aquilo como um sim. Mas ele acabou se afastando logo, se inclinando para trás e me impedindo de conseguir alcançá-lo.
"Não tem pressa," ele disse, seu sorriso largo ainda no lugar.
Era um não. Ele não queria ir comigo até meu quarto.
Respirei fundo, voltando a mirar o chão e deixar minhas mãos escorregarem do seu pescoço.
Minha ideia era até dar um passo atrás, mas ele as percebeu e as segurou com as suas, me mantendo apoiada em seu peito.
"Audrey?" Chamou, e até olhei de volta nos seus olhos, apesar de relutante. "Quer ir em uma degustação de vinho comigo amanhã?"
Foi minha vez de sorrir. Estava começando a achar que tinha imaginado tudo aquilo, que ele já não queria mais me ver na sua frente. Mas, com uma só pergunta, tinha voltado a me fazer sentir como a garota mais bonita do mundo.
"Quero," falei, apesar de todas as outras coisas que apareciam na minha cabeça.
Porque eu queria, de verdade. Mesmo sabendo que ia embora dali em alguns dias, mesmo tendo a sensação de que não importava o que acontecesse entre nós, acabaria bem onde tinha começado. Era mesmo um sonho, por mais real que fosse. Estava ciente demais daquilo para negar que acabaria, mas suficientemente intoxicada pelo jeito dele para aceitar tudo de bom que teria enquanto isso. E eu queria, sim, continuar sonhando enquanto pudesse.
Ele se inclinou de volta para mim, mas dessa vez beijou minha bochecha. "Boa noite, Audrey," disse, quando se afastou.
"Boa noite, Johann," respondi, sentindo suas mãos me deixarem e o frio da noite tomar conta de cada centímetro meu onde ele tinha estado tocando logo antes.
Johann deu alguns passos para longe de costas, mantendo seus olhos nos meus. Mas depois se virou e continuou seu caminho pela rua deserta. Eu o observei no começo, praticamente abraçando o batente da porta do hotel. E, mesmo depois, quando resolvi ir de vez para o meu quarto, ainda andava como se pisasse em nuvens. Não me deixava sorrir direito, reprimia sempre a vontade, transformando cada tentativa de sorriso em torção do nariz, mas o frio na minha barriga era inegável.
Estava para colocar a chave na porta, quando senti meu celular vibrar dentro da bolsa. Podia jurar que era Esteban, ou Kendra, ansiosa demais para saber do encontro para me esperar ligar para ela.
Mas não. Era uma mensagem de Johann.
Parei onde estava e nem tentei mais me impedir de rir quando a abri e li.
"Tem algum problema em andar de moto?"
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