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Capítulo 4 - Misture tudo com uma dose de esperança

Virei minha caneca outra vez. O café já estava frio e era quase uma aberração para a minha garganta. Mas bebi tudo que ainda sobrava ali, ao mesmo tempo que fazia a pior das caretas. Café era o melhor amigo do escritor, era o que sempre dizia para todos meus amigos que achavam que eu ingeria cafeína demais. Mesmo sem estar com sono, não estava conseguindo me concentrar o suficiente para conseguir escrever. Café naquele momento não era um vício, era uma necessidade.

Voltei meus dedos para o teclado, mirando a tela do computador. A barra piscava no topo da página, esperando que eu começasse a escrever. Capítulo Trinta, isso que já tinha digitado várias vezes. Algumas com o número, outras por extenso. Depois apagava e voltava ao número. Depois dava vários Enter e brigava comigo mesma por fingir que aquilo importava.

E então apagava tudo e pensava de novo em como escrever "Capítulo Trinta". Não que isso importasse, eu tinha quem fazia a diagramação para mim e quase nenhum controle sobre isso.

O lado bom era que nunca tinha me incomodado em dar nomes aos capítulos. Aquilo sim seria a perdição. Não só ter que escrever sabia-se-lá quantas palavras, mas ainda ter que ficar pensando em um título para cada capítulo. Se fosse esse o caso, seria bem mais fácil desistir.

Mas não era. Eu estava no lucro. Entendeu bem, Audrey? Perguntei na minha cabeça. Você está no lucro. Tudo que você precisa fazer é escrever o capítulo!

Passei os dedos pelas teclas, me deixando senti-las. Meu computador ainda era novo, mas já tinha algumas letras desaparecidas e algumas marcas de batalha em volta dele. Mesmo assim, não tinha nada mais delicioso no mundo do que escrever com ele. As teclas batiam rapidamente, quase sem esforço nenhum. E meus dedos já sabiam seu caminho tão bem, que eu nem pensava para digitar.

Isso quando eu tinha algo para falar.

Cheguei minha cabeça mais perto da tela, tentando focá-la o máximo possível. Era isso que ia fazer, parar de pensar. Parar. De. Pensar. Meus dedos escreveriam sozinhos. Marianne não era só uma personagem, eu era ela e estava ali para contar minha história. Sem editoras, sem prazos, sem pensar em livros vendidos em prateleiras de livrarias do mundo. Era só eu, ela e a história.

E uma história boa. Uma história perfeita. Um final digno de todas as viagens que eu tinha feito pelos dois primeiros livros, digno de todas os fãs que escreviam em seus Twitters e postavam fotos em seus Instagrams que estavam esperando ansiosamente o último volume. Precisava ser digno de todas as críticas boas que eu tinha recebido, cada tradução que tinha sido feita para espalhar minha história por mais alguns países. Digna de tudo que eu tinha conquistado. Não queria ser mais uma escritora que tinha criado um universo e um enredo com potencial infinito e acabado ficando com preguiça de desenvolvê-los direito no final. Não queria que duvidassem por um segundo que eu amava aquela história e que me importava com ela. Isso precisava ser visto em todas as linhas. Todas as palavras. E era o que mais me impedia de escrever.

Meu celular tocou naquele instante, e fui de alívio por ter uma distração a confusão ao ver que era Esteban. Não tinha qualquer intenção em atender, mas precisei de alguns segundos olhando para seu nome na tela, questionando o que poderia fazer com que ele me ligasse e que pensasse que eu iria mesmo atender. Quando o celular parou de tocar, me forcei a esquecer que aquilo tinha acontecido e focar no que era mesmo relevante.

Voltei a me inclinar no encosto da cadeira e tirei minhas mãos de cima do teclado. E se eu escrevesse mesmo qualquer coisa? Me perguntei, enquanto me girava de um lado para o outro sem parar. Era tudo muito válido, querer fazer o melhor possível. Mas será que continuaria assim se não escrevesse nada? De que adiantava toda a vontade do mundo de fazer um final perfeito se ele nunca conseguiria chegar ao papel? Tinha certeza de que minhas leitoras prefeririam ler alguma coisa do que nunca descobrir o que acontecia com aquela história.

Me girei forte e fiz minha cadeira dar uma volta completa.

Eu que não preferia isso. Teria que levar aquele livro para sempre nas minhas costas. Qualquer outra saga que publicasse depois dele, usariam aquele como referência. Já podia imaginar as leitoras pegando meu próximo livro e o girando na mão.

"Por que eu começaria a ler isso daqui?" Elas se perguntariam. "Mesmo que toda a história seja boa, ela só vai estragar tudo no final!" E o largariam em qualquer lugar, até longe da estante onde a livraria o tivesse colocado, e iriam parar na próxima escritora, uma com contrato para filmes e noventa livros perfeitos em uma única saga.

Me virei de volta para a mesa e apoiei no meu cotovelo. Suspirei. Tinha um pensamento, um único que nunca queria falar em voz alta. Na verdade, era uma sensação que eu mal me permitia sentir. Não tinha nem formado as palavras na minha cabeça, porque, no momento em que admitisse, estaria deixando de merecer tudo aquilo que já tinha conquistado. E não seria ali e nem naquele momento que eu me daria por vencida.

Voltei meus dedos para as teclas, sem apertá-las, só as sentindo outra vez, como se fingisse escrever. Só tinha feito um desenho desde que Kendra tinha dado a ideia, mas tinha resolvido passar o dia inteiro ali. Não queria me encontrar com aquele mesmo cara sem querer na rua de novo. Já estava difícil o suficiente conseguir me concentrar no que tinha para fazer sem ter falado com ele.

Sorri comigo mesma, apesar de tentar me reprimir. Era fácil demais me distrair e voltar a pensar nele, mas aquele momento era de Marianne. Era nela que eu devia pensar.

Mirei a tela.

Eu podia fazer com que ela se apaixonasse por outro cara. Algum novo, que aparecesse do nada.

Não, eu não podia fazer isso com Lech. Ele era o cara perfeito para ela, apesar de tudo que já tinha acontecido entre os dois. Eles mereciam um final feliz juntos. Mas como fazê-lo voltar agora?

Meu celular começou a tocar de novo, me fazendo suspirar. Tentei ignorá-lo, mas foi impossível. Tudo que consegui foi ficar incomodada a ponto de desviar o olhar da tela do computador para ele e quase resolver atender.

Era Esteban outra vez. Não era de se admirar que tivesse ligado de novo, o estranho era ele querer tanto falar comigo. Mais ou menos na mesma intensidade que eu não queria falar com ele.

Em vez de deixar tocar até ele desistir, recusei a chamada. Quem sabe agora ele entendesse de uma vez por todas que a última coisa que eu queria...

O celular começou a tocar outra vez. Mas meu deus! O mundo estava acabando? Depois de seis meses sem trocarmos uma única palavra, o que tinha acontecido para ele precisar falar tanto assim comigo?!

Peguei o celular e finalmente aceitei a chamada, o colocando no ouvido.

"Alô?!" Falei, já soando completamente irritada e sem a mínima paciência.

"Drey?" Não sabia o que era pior, se era o apelido que só ele usava para mim ou sua voz rouca.

Respirei fundo. "Oi, Esteban," respondi, apesar de só querer pedir para ele parar de me atrapalhar.

"Desculpa a insistência," ele disse, me fazendo bufar uma risada, "mas eu precisava falar com você."

"An-hãm."

"É que eu vi que você está aqui," ele continuou.

"Aqui?"

"Em Paris. Vi sua foto no Instagram," ele parecia quase distraído, como se fizesse de propósito para não se mostrar interessado demais ou para chegar devagar ao ponto.

Eu mesma só revirei os olhos. Tinha conseguido só o tempo de tirar uma única foto das costas da Notre Dame, enquanto ia para a estação de trem que me levou a Amboise. Até tinha me perguntado se era boa ideia a compartilhar, mas a foto era bonita demais para deixar perdida no meu celular. E, no final das contas, eu não imaginava que ele fosse mesmo ver.

"Sei que é difícil para você..." assim que ele falou isso, parei de girar minha cadeira.

Eu tinha entendido direito? Ele sabia pelo que eu estava passando? E tinha mesmo me ligado para me consolar? Para mostrar algum tipo de compaixão? Será que tínhamos chegado ao ponto de enterrarmos o passado e sermos amigos?

"...mas eu não queria que você tivesse descoberto assim."

Espera aí. Do que ele estava falando?

"Descoberto assim?" Perguntei, confusa.

"Imagino que seja por isso que você tenha vindo," seu tom tinha ido de cauteloso a condescendente, e eu já me levantava da minha cadeira. "E que não é fácil para você. Mas queria te pedir para nos dar espaço e não vir hoje. É um dia importante para nós e sei que você vai pensar melhor e..."

Era incrível sua habilidade de me fazer sentir como a pessoa que menos importava no mundo. Algumas palavras suas, e eu era encoberta por uma onda familiar de humilhação que já tinha me afogado mais vezes do que conseguia me lembrar. Era a sensação comum de estar ao seu lado, eu a conhecia bem. Era ser pequena e insignificante e sem voz. Era ter que me dizer lisonjeada de ter a atenção dele, sem que ele realmente prestasse atenção a mim. Durante tempo demais, eu tinha ficado quieta, tinha deixado que apontasse meus defeitos sem lembrar que eu poderia ter qualidades. Durante tempo demais, eu o tinha deixado roubar minha inspiração e minha vontade de escrever. No mínimo, ele tinha contribuído diretamente para eu estar tão bloqueada agora.

Mas, diferente de todas as outras vezes em que ele falava por cima de mim e cobrava que eu abaixasse a cabeça e concordasse, senti a onda se dissipar e deixar em seu lugar somente indignação. As palavras que nunca lhe tinha dito subiram à minha garganta, em uma mistura de alívio e raiva que eu não tinha a menor intenção de controlar.

Pela primeira vez, não me seguraria e diria exatamente o que estava na ponta da minha língua.

"Esteban," o cortei, soando mais irritada do que ele já tinha me visto. "Eu não tenho a menor ideia do que você está falando!" Até abri o braço, como se ele estivesse ali, na minha frente, naquele quarto de hotel.

Ele respirou fundo, como se lhe faltasse paciência para lidar comigo, o que só me fez querer brigar ainda mais com ele. "Drey, sei que você veio aqui para tentar me impedir de me casar com Angie, ou pelo menos estragar nossa festa de noivado..."

"Como é que é?" Eu praticamente gritei, mas ele me ignorou.

"...e eu estava esperando que você já tivesse amadurecido e que pensasse melhor. Sei que devia ter te contado eu mesmo, mas Kendra disse que você estava com a cabeça cheia ultimamente. Sei que não foi fácil para você nós termos terminado, mas chegar ao ponto de você vir para cá só para tentar estragar tudo já é demais, não?"

"Esteban!" Dessa vez eu gritei de verdade. E podia imaginá-lo do outro lado da linha, revirando os olhos para mais uma das minhas atitudes infantis que ele odiava.

"Honestamente, Drey. Eu esperava mais de você, pelo menos ago..."

"Eu não estou aqui por você!" Berrei logo em seguida, cansada dele me ignorando como se falasse sozinho. "Eu não estou nem aí para quem você vai casar, quando ou onde! Case-se com Angie, case com a Torre Eiffel se quiser, eu não vim aqui para isso! E nem estou em Paris."

"Dre-ey," ele prolongou meu nome o suficiente para deixar claro que não estava acreditando em mim. "Nós dois somos adultos aqui e podemos admitir nossos sentimentos. Não tem vergonha em dizer que você ainda não me superou. O que nós tivemos foi intenso."

"Sim, bem intenso. Principalmente a parte em que..." eu mesma me cortei, fechando os olhos e respirando fundo. Ele não valia a pena. Toda aquela conversa não valia a pena. Se eu pelo menos tivesse recusado a ligação outra vez! "Você está certo," falei, percebendo que era o jeito de conseguir sua atenção. "Nós dois somos adultos e não existe vergonha em admitir nossos sentimentos. Então eu gostaria que você ouvisse bem, porque vou falar o que estou sentindo."

"Claro, Drey. Estou ouvindo."

Revirei os olhos. Aquilo era insuportável e eu já estava chegando ao meu limite!

"Eu sinto," pausei, respirando fundo, "que eu não estou nem aí se você se casar com a Angie, com a Carla Bruni ou realmente levar minha sugestão a sério e tentar se casar com a Torre Eiffel. Sinto que já perdi tempo demais tendo que ouvir sua voz e espero que você seja incrivelmente feliz, a ponto de nunca mais vir atrapalhar minha vida de novo. Eu estou melhor sem você, Esteban. Eu sou melhor sem você. E estou em Amboise."

"Amboise?"

"Sim. Am-boi-se," repeti, como se ele fosse um bebê que ainda aprendia a falar. "Tomando conta da minha carreira internacional de escritora. Em outra cidade. Não estou nem em Paris, quanto mais preocupada com o que você faz com sua vida vazia. Então seria ótimo se você parasse de ser narcisista ou pelo menos direcionasse todo seu egocentrismo na direção da pobre coitada da sua noiva e me deixasse em paz. E meu nome é Audrey, não Drey!" Desliguei antes que ele pudesse falar outra coisa e joguei meu celular na cama.

Típico. Dolorosamente típico da sua parte achar que tudo na minha vida ainda girava em torno dele, mesmo depois de meses sem nem nos falarmos. Típico achar que eu cruzaria o oceano para ir atrás de um cara que tinha me traído e me tratado como se não valesse nada.

E pensar que tinha sido logo sua prepotência que me tinha atraído a ele, que já tinha gostado de como ele tomava as rédeas das coisas e fazia tudo como queria. Nunca nem tinha tido opinião perto dele, deixava que tomasse todas as decisões, e ele nunca considerou a possibilidade de talvez eu ter o que dizer. Todos os presentes, os encontros milionários, todo o glamour de namorar o dono de uma empresa grande tinham sido o suficiente para me cegar e engolir todas as vezes em que sentia que não se importava de verdade comigo. Ele só se importava consigo mesmo. Depois de tanto tempo, ainda só se importava com seu próprio ego, só via seu reflexo. Eu ali, presa na minha vida e nos meus próprios problemas, e Esteban ainda achava que o mundo se resumia a ele.

Era incrível como conseguia estragar até coisas que não tinham nada a ver com ele! Como alguém podia ser assim? E como eu podia ter me sentido atraída para ele alguma vez na minha vida?

Qualquer inclinação que eu tinha a pelo menos tentar escrever evaporou e minha frustração era tanta, que tive que sair do hotel. Desci as escadas batendo os pés, deixei para trás o celular, meu caderno, tudo. A única coisa que carregava era a chave do quarto, que quase tinha ficado em cima da cama também.

O pior era que aquele tinha sido meu maior erro, também era parte de mim. Tudo que tinha de errado nele tinha de errado em mim. Eu tinha sido cega ao lado dele, tinha me apaixonado por alguém assim.

Instintivamente, fui andando na direção da rua principal.

Não dava para negar, eu tinha me atraído pelo jeito dele, tinha me sentido importante quando ele resolveu passar o ano novo ao meu lado. Às vezes, quando repensava tudo que tinha acontecido, a sensação era de que ele tinha ido da água para o vinho, de um cara encantador a um controlador, mas não era verdade. Ele sempre tinha sido controlador. Comprar um vestido e insistir que eu o usasse no nosso primeiro encontro não era encantador, não importava quão caro e maravilhoso era o vestido, era tirar meu direito de escolher. Me colocar em um helicóptero e me voar para outra cidade no nosso segundo encontro sem me perguntar antes tinha me parecido mágico na hora, mas era claramente outra prova de que ele achava que decidia tudo para mim e minha opinião não importava. Jamais chegou a lhe ocorrer que eu pudesse ter medo, que tivesse compromissos no dia seguinte, que teria o problema de encontrar alguém para cuidar da minha gata. Não tinha nada de contraditório entre essas decisões, que tiveram um efeito tão incrível em mim, e aquelas que me faziam sentir como um objeto indesejado por todos e que pertencia somente a ele. Nem deveria ter me espantado quando começou a controlar os dias em que eu tomava anticoncepcional. Para ele, era só o próximo passo no nosso relacionamento. Para mim, foi a primeira vez em que percebi que, a seu ver, eu não podia nem ter responsabilidade sobre meu próprio corpo.

E mesmo assim só cheguei a ter qualquer coragem de terminar nosso namoro quando tive alguma prova de que estava me traindo. Não saberia dizer onde estaria neste momento se nunca tivesse descoberto nada.

Senti uma lágrima começar a escorrer meu rosto bem na hora em que tinha chegado à rua principal e dava de cara com mais pessoas do que já tinha visto naquela cidade. Só para aumentar minha humilhação.

Dei as costas para elas, me virando na direção da chocolateria na esquina. Me forcei a fechar os olhos respirar fundo, porque nada daquilo importava. Era uma parte terrível do meu passado, que tinha se tornado parte de mim, mas não estava acontecendo naquele segundo. Eu tinha me livrado dele, tinha percebido o quão tóxico tudo entre nós era, tinha aprendido, estava livre. Estava livre e não me deixaria perder mais um único segundo com ele.

Quando abri os olhos outros vez, estava sendo observada pelo cara do café. Não pude nem culpar meu azar monumental, já que aquela cidade tinha praticamente doze moradores e uma rua que realmente importava. Ele não estava logo à minha frente, mas perto o suficiente para ter visto mais do que uma garota de olhos fechados na rua. Abaixei o rosto, tentando ser discreta ao enxugar minha lágrima, mas não tinha muito como. E, a não ser que eu quisesse sair correndo como uma criança envergonhada, tinha que aceitar que ele estava vindo na minha direção e já estava perto demais para eu não trocar pelo menos um olá.

Para ser bem honesta, fiquei parada e esperei que chegasse até mim por mais do que decoro. Naquela hora, eu realmente precisava de uma distração, ainda mais uma que fizesse tão bem para a minha autoestima.

"Excusez," ele se aproximou devagar, como se eu fosse um animal selvagem que se assustaria se ele fizesse movimentos bruscos. Quando me arrisquei a olhar em seu rosto, percebi que estava preocupado e sabia o que diria, mesmo que não falasse bem francês. "Je n'avais pas..."

"Deixe-me pará-lo bem aí," falei na minha própria língua, provavelmente impulsionada pela mesma frustração que tinha me feito responder a Esteban como nunca antes. "Não sei se você consegue me entender, mas eu definitivamente não entendo você."

Para a minha surpresa, ele abriu um sorriso, ainda que mantivesse suas sobrancelhas enrugadas para a situação em que tinha me encontrado.

"Eu consigo te entender," disse. "Americana?"

"Se eu falar que sim, irá me odiar?" Perguntei. Ele franziu as sobrancelhas, sem entender. "Dizem que franceses odeiam americanos."

Sorriu outra vez, dessa vez parecendo menos apreensivo. "Por sorte, eu não sou francês."

Aquela conversa podia acabar ali para mim. Não era das melhores pessoas conversando com estranhos, ficava ainda pior quando me pegavam chorando no meio da rua. Mas ele era ainda mais bonito de perto, bem bonito mesmo, com o maxilar quadrado, olhos azuis e seu cabelo descontrolado. Qualquer que fosse sua intenção, não me importaria de passar alguns minutos olhando para ele e me esquecendo de tudo que tinha me atormentado. Então, fui eu quem continuou a conversa:

"Você é de onde?" Perguntei.

"Hamburg."

"Alemanha?" Mordi meu lábio, esperando não ter errado. Mas ele concordou com a cabeça. "O que um alemão faz no meio do nada na França?"

"Cozinho," ele disse, divertido. "Mas vim mesmo aqui para saber de você. Está tudo bem?"

Vê-lo de perto também me permitia perceber que seus olhos eram bondosos e que ele parecia realmente sincero ao me perguntar, mesmo sem me conhecer.

"É só estresse," falei, sentindo que era bem mais verdade do que eu esperava.

Ele assentiu, ou pensando que eu provavelmente estava mentindo porque não queria explicar ou acreditando. "Já te vi pela cidade," fugindo de mim como uma louca foi o que ele não disse. "Você não parece só mais uma turista."

Bufei uma risada. "Não vim aqui exatamente para ser turista. Apesar de que devo ir embora logo também."

"Vai ficar mais quanto tempo?

"Se eu não enlouquecer," respirei fundo, "e se tudo começar a dar certo, mais umas duas semanas."

Seu sorriso pareceu crescer, se é que era possível, agora completamente despreocupado. Ele não desviava o olhar de mim por nem um segundo, apesar de eu já ter praticamente analisado toda rua à sua volta, enquanto tentava não ficar encabulada demais com a sua atenção.

"Saia comigo."

"Como é?" Voltei meus olhos para ele.

"Gostaria que saísse comigo."

"Como um encontro?"

"Exatamente como um encontro," ele deu um mínimo passo para mais perto de mim, me obrigando a levantar bem o rosto para olhar para seu rosto.

Tinha a leve impressão de que ele já tivesse certeza que eu aceitaria. Era impossível olhá-lo sem dar essa impressão, ele realmente era bonito demais. E sorria como se não tivesse um único milímetro de insegurança em seu corpo todo, o que era muito atraente.

Mas eu ainda precisava ser realista, e toda a história com Esteban estava fresca demais em minha mente para não me perguntar se estaria cometendo um erro.

"Eu nem sei seu nome," falei, ameaçando fazê-lo perder seu sorriso.

Mas ele resistiu, o entortando de lado. "Johann Braun," disse, me oferecendo sua mão.

"Audrey Scott," eu a aceitei e apertei, apesar de ainda apreensiva.

"Eu gostaria muito que você saísse comigo, Audrey Scott. E que me desse a chance de te conhecer. Se você quiser."

Eu balancei a cabeça. "Você parece muito legal, Johann. Na verdade, parece perfeito," assim que falei isso, ele levantou uma sobrancelha, só ficando ainda mais bonito. "Mas estaria perdendo seu tempo. Sou uma péssima companhia normalmente, ainda mais agora."

"O que está acontecendo agora?"

Esfreguei minha testa. Aquilo era estranho. Era muito estranho ele simplesmente ter me abordado daquele jeito, ter me visto pela cidade antes, estar ali, falando aquilo para mim!

Mas acabei dando de ombros.

"Só estou aqui para conseguir escrever o final do meu livro. É, eu sou escritora. E estou com um terrível caso de bloqueio criativo. Não sou bem-humorada normalmente, mas agora estou praticamente à beira de cometer um assassinato e beber o sangue, se isso for me ajudar a escrever." Ele arregalou os olhos, entre assustado e divertido. "Meu livro é sobre uma caçadora de vampiros!" Corri para explicar. Mesmo que não tivesse esperado aquela abordagem de nenhum cara, ainda mais um tão bonito quanto ele, não queria que saísse correndo, achando que eu era mesmo uma psicopata. "E eu estava exagerando, não precisa ir na polícia."

"Não irei," me garantiu, parecendo aliviado. "Mas devo admitir que você só me deu mais vontade de te conhecer melhor."

"Eu disse, não sou boa..."

"Eu entendi," ele deu outro passo na minha direção, mas eu não dei a menor indicação de querer me afastar "Mas se o seu problema é um bloqueio, posso te oferecer um acordo."

"Que tipo de acordo?"

"Te garanto que consigo desfazê-lo a tempo de você terminar seu livro," ele respondeu, me fazendo bufar, incrédula. "Antes que você vá embora, em duas semanas, seu bloqueio terá desaparecido e seu livro estará pronto."

Fiquei esperando que continuasse, mas ele só me mirou.

Revirei os olhos, apesar de que sorria. "Em troca de quê?"

"Oras!" Ele abriu os braços no ar, seu rosto se entregando a uma expressão tão confortável e divertida, que era contagiante. "Um encontro comigo. Ou melhor, vários. Até que vá embora, me dê a chance de poder te mostrar o que traz um alemão para esse fim de mundo na França. Mas pode parar quando quiser. Se em algum momento não estiver confortável, ou simplesmente não quiser mais sair comigo, é sua escolha. Seu bloqueio, em compensação, continuará com você."

Balancei a cabeça outra vez. "Como posso saber que você não é um psicopata?"

Ele riu. "Quem devia estar preocupado com isso sou eu. Mas não, não sou um psicopata. E te garanto que não vai se arrepender."

"Você é bem convencido para alguém que nem sabe quem eu sou."

Ele deu com um ombro só. "Talvez," falou. "Mas quero mesmo te conhecer. E sei que posso te ajudar."

Desviei o olhar, pensando naquilo. Por um lado, realmente queria também conhecê-lo. Ele sabia que eu ia embora em duas semanas. Alguns dias de uma distração como aquela seria incrível e eu estava mais do que precisando daquilo.

Mas e se me distraísse demais? E se acabasse me esquecendo do meu prazo e não escrevesse nada?

"Você garante que vai acabar com meu bloqueio?" Perguntei.

"Irei exterminá-lo," ele prometeu, com ar já triunfantes. Eu torci o nariz, tentando não rir demais, com nosso olhar se encontrando. "Isso é um sim?"

Dei de ombros. "É um sim," falei, lhe oferecendo minha mão para apertar. "Mas eu vou cobrar sua promessa. Se em uma semana eu não tiver escrito nada, vou ter que procurar outra saída."

"Eu não esperaria nada menos," ele disse, a aceitando e apertando firme, mas cuidadosamente.

Depois de trocarmos nossos números e eu falar em qual hotel estava ficando, o deixei para trás. Ele não era francês, mas já podia ver Kendra dando pulos de alegria quando eu dissesse que estava com um encontro marcado. Ela ficaria muito feliz de saber que eu tinha aceitado não uma, mas duas de suas sugestões.

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