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CAPÍTULO VINTE E CINCO:
꧁ Babaca ꧂
Nada deu certo nas últimas horas. Depois daquela conversa com Adhara, o treino que eu deveria mandar bem pra caralho foi um desastre. Eu estava distraído, não queria mais jogar, mas como também não podia perder minha posição de batedor, fui empurrando com a barriga.
Minha mente fica uma bagunça, rodando, rodando e rodando sem parar.
Eu acho que deveria entender o que ela quis dizer. Tenho certeza que devia ter dito algo quando ela me perguntou qual era o propósito dessa nossa brincadeira, mas... sei lá. Eu gosto dela? Ela gosta de mim? Como poderíamos, se nós brigamos tanto? Pessoas que se gostam não agem assim.
Não faz sentido. Não queria fazê-la se sentir mal, mas repare que já quis fazer isso muitas vezes. Desta é diferente. Não me trouxe prazer algum, pelo contrário.
Com o estresse de não conseguir tirá-la da cabeça, junto com todas as censuras que ganhei de Ginevra ao longo do meu treino meia boca, minha cabeça já estava fervendo quando consegui voltar para o dormitório. Os outros, que não tinham precisado acordar muito mais cedo, estavam lá, conversando e ajeitando seus uniformes.
— Oi, Don!— Aspen acenou para mim, mas eu o ignorei e me tranquei no banheiro. Tirei o uniforme e me enfiei debaixo do chuveiro esperando que a água levasse embora toda essa confusão do meu corpo. Esperava que ela me livrasse da agonia, mas não. Claro que não.
Quando fechava os olhos, podia a sentir contra mim.
Tive semanas para decorar o gosto do seu beijo e me acostumar com o som de sua respiração ofegante. Todas as noites são frias em Hogwarts, mas depois de nosso segundo "encontro", eu comecei a criar expectativas de que ela sempre estaria ali para me aquecer depois de qualquer trabalho irritante que Snape nos colocasse para fazer.
Como previ, ele não falou com Minerva para interromper a nossa detenção desnecessária, mas isso não me incomoda mais. Agora eu queria ir para lá, só para poder encontrar com ela, para ficar a sós com ela depois no corredor. Nós não falamos muito, e quase noventa por cento da atitude partiu de mim. Eu a via me observando do outro lado da sala, via como ficava sem jeito e ainda mais desorganizada do que é. Podia sentir o quanto ela me queria.
— Fale o que quiser, Potter, eu não vou te beijar.— ela me disse na terceira vez, quando eu comecei a provocá-la para que brigássemos outra vez e nos atacássemos como na noite anterior. Só porque não estava com coragem de pedir direito. Era estranho sequer pensar nisso.
— Eu não quero que você me beije tampouco.— falei, dando de ombros, porque não era legal querer ela. Logo ela. Mas eu a queria, então tinha que ser ela.
Essa garota irritante que me faz esquecer como que se flerta. Eu sabia que minhas artimanhas naturais não funcionariam com ela e não queria fazê-la rir. Queria irritá-la, queria que ela batesse na minha cara outra vez e me beijasse. Porque sua raiva me excita.
— Que bom, porque eu não quero também!
— Ótimo então!
— É! Ótimo!
No momento seguinte, lá estava ela, pendurada no meu pescoço e abraçando minha língua com a sua. Foi a sua porcentagem de atitude. Aqueles maravilhosos dez por cento. Segurei-a como se me pertencesse, mas tive que deixá-la ir depois de um tempo. Ela sempre fugia.
Não insistia em mantê-la porque sabia que iríamos repetir na noite seguinte. E isso me deixou ansioso.
Agora ela acabou comigo porque eu a quis durante o dia? Tá bem, eu sei que não foi o que ela quis dizer, mas porra.... e eu não tivesse ficado ansioso para vê-la tão cedo? Conseguiríamos ter essa conversa de noite? Quando estamos só nós dois acordados e nada mais importa? Quando meu controle sobre ela fica tão incontrolável...?
Ela está assustada e eu deveria entender, porque essa mudança entre nós também me assusta. Eu quero tê-la e não quero desejá-la. Dá pra entender?
Estou acostumado a odiar Adhara e não quero que isso mude. É mais fácil. E, mais fácil ainda, é querer sentir seu gosto. Viciante, simplesmente viciante.
Por que você continuaria me beijando todas as noites? Porque eu quero, Adhara. Eu quero pra caralho. Só não sei o que fazer com isso.
Saio do banho ainda estressado. Minhas mãos tremem e desejo quebrar alguma coisa, mas apenas aperto a toalha em minha cintura com força.
Meus colegas de quarto continuam conversando entre si, e eu visto a cueca sem me importar com seu papinho até chegar naquele assunto.
— Ela tem agido estranho.— a fala de Ian chama minha atenção, mas não me viro para olhar. Jogo a toalha na cama e pego uma camisa branca no meu baú— Me ignorra e muda o semblante sempre que nos encontrramos no corredor. Hoje, ela estava chorrando, mas não me disse o porquê, simplesmente correu para o banheiro. Levanto a cabeça.
Ela chorou?
Franzo a testa, apreensivo. Adhara chorou? Foi por minha causa? Ela odeia chorar, nunca faria isso na frente de alguém... a menos que não tivesse conseguido se segurar. Foi por minha causa?
É como se um trasgo estivesse apertando minhas costelas com a intenção de me quebrar no meio. Será que eu fui longe quando a beijei com carinho? Mais lentamente? Não sussurrei no seu ouvido promessas de amor. Ou será que foi essa falta de comprometimento que a deixou tão apreensiva?
Mas que porra, Adhara.
— Ela deve estar naqueles dias, cara. Sabe como as garotas ficam complicadas nesses tempos.— Louis responde, tentando amenizar a situação para o russo. Reviro os olhos. Não precisei perguntar sobre quem estão falando. Sei que é sobre Adhara.
Tudo tem sido sobre ela, ultimamente.
Visto a camisa e vou abotoando calmamente.
— Ela está magoada, não sei o que fiz, mas também não posso parar até entendê-la. Sei que nos gostamos, então podemos dar um...
A risada que me escapa é amarga e grosseira. Não consigo prever que ela vai sair até sair. Os garotos ficam quietos.
— Brandon? O que foi?— Joseph me pergunta.
Nada bom vai acontecer agora, eu sinto. Estou com muita raiva. Muita, muita raiva. De Adhara, de Ian e até mesmo de Aspen e Gina, porque se não fosse por suas insinuações talvez nada disso estaria acontecendo.
Talvez ela não tivesse me afastado e eu não me sentisse nessa obrigação de me manter longe para não magoar ela ainda mais. Porque eu não quero que ela chore por minha causa. É como se o trasgo tivesse pisoteado meu estômago e me enchido de culpa. Tantas vezes a dei motivos para chorar...
Mas estou com mais raiva de Ian, porque ele acha mesmo que é por ele que Adhara tem sentimentos. Não é por causa dele que ela chora, nunca foi nem será. E não, isso não me deixa orgulhoso.
— Só acho isso... difícil de entender, francamente.
— O que é difícil de entender?— Ian pergunta inocentemente.
— Não, não dá corda pra ele, ele está num daqueles dias.— Aspen tenta intervir, mas eu o ignoro e me volto para os meus colegas de quarto, meus olhos se fixando no rosto de Ian.
Pobre e inocente Ian.
Ele tem que se pôr no lugar dele, porra.
— É sério que você não vê? Que não entendeu o que está acontecendo?
— Brandon.— Aspen se levanta da cama de Joseph e entra na minha frente. Finjo que ele não está no meu caminho.— Seja lá o que estiver passando na sua mente agora, não deixe sair.
— O que quer dizer com isso?— Ian franze a testa, perdido e confuso.
— Nada, cara. Ignora ele.— Louis segura o ombro de Ian e o afasta de mim. Por me tratarem como uma bomba, eu começo a agir como uma.
— Não, ele precisa entender de uma vez! Pelo amor de Deus, não é de se dar pena?
— Brandon, cala a porra da boca!— Aspen vai me empurrando em direção da saída do quarto, mesmo eu estando descalço e sem calças.
— Tira sua mão de mim!— afasto meu melhor amigo bruscamente.
— Sei que está com ciúmes, mas não precisa fazer isso.— ele sussurra para que só eu possa ouvir.
— Ciúmes?
Aqui eu poderia repensar na minha atitude. Eu deveria hesitar, Aspen estava me dando a oportunidade de não ferir os sentimentos de alguém inocente. Ian não tem nada a ver com o que está acontecendo entre Adhara e eu. Se houvesse algo entre nós três, ele que deveria estar com raiva de mim. E não seria nada injusto. Ele disse que gosta dela primeiro. Ele que está tentando conquistá-la com presentes toscos e sua adorável companhia.
Mas fui eu que cheguei primeiro.
— Isso não tem a ver com ciúmes, só acho que alguém tem que contar! Alguém precisa mesmo falar pra ele que Adhara não sente nada por ele. Ela nunca sentiu vontade nem de segurar sua mão em público, quem dirá de beijá-lo!
— Você tá louco, porra?— Aspen me empurra com força e nós nos fulminamos com o olhar. Aspen nunca foi agressivo comigo dessa forma.
O silêncio é absurdamente alto pelos segundos seguintes.
— Ela... ela te falou isso?— Ian pergunta impotente, muito triste. Então eu me sinto mal, porque ele não merece minha raiva. Mas ela age antes de mim.
— Não há necessidade.— respondo rispidamente. Ian baixa o olhar.
— Adhara nunca falaria essas coisas, Ian.— Louis o consola, mas o Romanoff o afasta, indo se trancar no banheiro. Os garotos me olham com raiva.
— Eu não acredito nisso.— Aspen sacode a cabeça para mim, olhando para mim como se não me reconhecesse— Achei que nunca me decepcionaria com você, mas, caralho, Potter...
Eu me importo. Eu quero pedir desculpas agora mesmo.
— Que se foda.— respondo e o empurro da minha frente para ir terminar de me vestir.
Quando saio, Aspen não vem atrás para me dar um puxão de orelha como sempre faz. Sei que passei dos limites.
[...]
Nota da autora:
E ai, vadia! Só queria dizer aqui que não se deve nunca romantizar problemas com raiva, viu?! Um surto pode ser como esse que escrevi ou ainda mais baixo, não tem nada de "legal" nisso, minhas crianças, um beijo <3
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