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CAPÍTULO VINTE E DOIS:
꧁ Confusão e culpa ꧂
Adhara Black-Lupin
Gina se assusta quando me vê, o que com certeza ajuda muito minha autoestima.
— Santo Merlin, Dharia, você não dormiu essa noite? Está parecendo uma vampira.— é como ela me cumprimenta quando vem se sentar na mesa da Corvinal para ficar perto de Luna. Eu solto um bocejo longo, ao mesmo tempo que me sinto cansada, estou muito acordada.
Minha mente está uma bagunça, assim como meu coração. Eu estou com tanto conflito dentro de mim que estou passando mal e nem sei como descrever isso para minha melhor amiga
E eu conto tudo pra Gina. Tudo. Mas, meu Deus, ela não pode saber que eu e Brandon nos... nos...
Eu e o Potter. O Potter e eu.
— Não, não dormi.— admito, cutucando a batata na minha sopa com a colher.
— Está tudo bem, Adhara?— Luna quer saber.
Não. Eu tô passando mal. Não consigo parar de pensar no que aconteceu ontem à noite. E com quem. E como eu queria.... o que eu queria, exatamente?
"Garotos assim demoram a ficar ofegantes, sabia?" Gina me disse há algum tempo, se referindo ao meu problema em questão. Queria que essa conversa não tivesse me perturbado a noite toda. Maldita seja a Weasley por colocar essas ideias na minha cabeça. Mais ainda por estar certa.
Santa Rowena, como ela pode estar certa? Ela nunca está certa!
— Eu estou bem, sim, Luna, obrigada.— respondo com um suspiro. Elas não parecem muito convencidas.
— Desde quando você passa uma noite sem dormir?— Gina cerra os olhos castanhos na minha direção— Só fica nervosa assim quando temos prova.— seus olhos crescem, assustados— Temos prova?
— Não. Eu só não fiquei com sono, mas agora ele chegou e pelo visto hoje será um dia bastante longo.— forço um sorriso.
— Adê, o que tá pegando?— Gina estica a mão para a alcançar a minha do outro lado da larga mesa. Ela quase nunca me chama assim, só quando acha que eu estou triste, mas definitivamente, de todos os sentimentos embaralhados dentro de mim agora, tristeza não é um deles. Seguro a mão de Gina e fico encarando as poucas sardas nas costas da mesma, sem responder. Ela vai entender que eu não quero falar de nada agora, mas usar o meu silêncio não é algo que pode se repetir. Ela vai ter que saber uma hora ou outra.— Tudo bem.— ela aperta minha mão depois a solta, recuando. Parece estar lendo meus pensamentos— Quando quiser falar comigo, saiba que sou toda ouvidos.
— Eu sei, amiga. Muito obrigada.— digo e a minha gratidão é de coração.
Tomo um pouco da sopa quente, ainda que não seja algo bom para a minha garganta seca e fico na minha pelos dez minutos seguintes, incapaz de parar de pensar que, na noite anterior, eram os lábios dele que estavam roçando os meus e não essa colher de prata. Não consigo parar de pensar no arrepio que percorreu meu corpo, no êxtase por ter sido agarrada daquele jeito pela primeira vez na vida. Brandon Potter foi o meu primeiro beijo. O maldito Potter.
E a pior parte disso é que... eu.... eu adorei. Eu amei.
Por que que ele foi fazer isso?
— Eu entendi.— ele disse em um sussurro para mim ontem. Meus olhos estavam fechados, sua testa estava colada a minha assim como o resto do nossos corpos. Eu me sentia tonta, estar encaixada nos seus braços era estranho. Surreal.
Eu sentia sua respiração ofegante e quente batendo contra meu rosto. Queria que ele voltasse a me beijar. Meu corpo estava me traindo de um jeito que eu nem entendia completamente, desejando-lhe mais perto.
— Entendi o que mudou.— ele disse. Foi quando o afastei, desnorteada, e fugi. Eu fugi porque não sabia se conseguiria ir embora depois que ele voltasse a me beijar e tudo estava indo rápido demais. Eu estava perdida demais dentro de mim mesma ainda que parte de mim sentisse que estava onde deveria estar.
Isso é nauseante. Eu vou acabar ficando doente.
— Olhe quem vem aí— a voz sonhadora e bem humorada de Luna me tira de meu mundinho. Fico agitada, olho para o lado muito rapidamente e ao mesmo tempo deslizo para debaixo da mesa.
— Adhara? Amiga, o que está fazendo?— Gina se curva para me olhar, confusa se ri ou não.
— Hã... e-eu...— mal consigo encará-la, preocupada com o par de sapatos masculinos que se aproxima do meu esconderijo improvisado. Meu coração bate com muita força e desespero. Os sapatos polidos se viram para mim e o garoto se abaixa. Só percebi que havia prendido o fôlego quando o soltei por causa do alívio que era ver o rosto de Ian.
Mas quando ele sorriu o alívio foi embora. Ian é o garoto que quer me beijar desde que nos conhecemos, mas foi a Potter que eu entreguei essa oportunidade sem que ele sequer tivesse pedido. A culpa que ainda não havia sido explicada, se sobressai e eu entendo porque ela está ali.
Essa é a primeira vez na minha vida que eu acredito fortemente que sou uma pessoa horrível, como Brandon sempre me acusou.
Merlin, como eu o odeio.
Como eu queria que fosse ele e não Ian a vir me procurar.
— O que está fazendo aí, Adhara?— ele me pergunta, interrompendo meus devaneios que estão me incomodando mais do que nunca hoje. Me dou conta da posição patética que me coloquei; de quatro debaixo da mesa, e tenho o estúpido reflexo de tentar me levantar.
Obviamente, bato a cabeça e faço careta pela dor que me atinge.
— Eu... eu pensei ter visto Kitty!— arfo, indo na sua direção e aceitando sua ajuda para sair do meu esconderijo. Deus sabe que se eu pudesse teria desaparatado ou então atravessado o chão com minha cabeça.
Valeu a tentativa.
— Está tudo bem?— ele quer saber, colocando a mão sobre a minha na parte de trás da minha cabeça. Ele está perto demais, mas Ian sempre chega perto demais.
— Sim, sim, tudo ótimo.— meu olhar é puxado na direção de minha melhor amiga e ela fica me encarando com a expressão séria e os braços cruzados sobre a mesa. É. Agora eu tenho total atenção dela.
— Tem certeza?— Ian parece preocupado, mas agora eu estou olhando por cima do seu ombro, de onde posso ver o resto de seus colegas de quarto indo em direção da mesa da Grifinória. Meu olhar se encontra com o de Aspen, mas ignoro seu aceno e encaro Brandon de volta.
Lembro do seu rosto sob a luz pálida da lua, a sombra que tinha do lado esquerdo como se ele não estivesse cem por cento lá. Seus cachos, ainda mais bagunçados do que estão agora. Ele não esboça nada então não tenho nada para interpretar. Me sinto obrigada a desviar o olhar primeiro, e ainda que minha cabeça esteja doendo de verdade, tiro a mão para que Ian seja obrigado a baixar a dele também.
— Tenho. Tenho sim.— sorrio, sem jeito e fico olhando para baixo, estralando minhas mãos para disfarçar o quanto elas estão tremendo. Ian gosta de mim, eu sei, e mesmo sabendo que não sinto o mesmo, o alimentei com esperanças e me entreguei para outro pelas suas costas. Pior ainda, outro que é amigo dele.
Me sinto tão culpada e decepcionada comigo mesma que tenho vontade de chorar. Eu não queria partir o coração de Ian. Eu não quero magoá-lo ainda que a gente não se goste da mesma maneira. Ele é um bom garoto.
— E você?— pergunto só para tentar tirar a atenção de mim. Estou com vontade de vomitar, meu estômago está frio e comprimido como se um trasgo com a mão de gelo estivesse apertando minhas costelas.
— Estou bem!— ele responde. Deve estar sorrindo, mas não olho para conferir.— Querria saber se posso me sentar com você!
Respiro fundo. Preciso de um momento para me recompor.
— Claro, pode sentar, eu só... só vou no banheiro um minutinho.— olho brevemente em seus olhos brilhantes e dou tapinhas no seu ombro ao passar por ele.
Acho que criei uma expectativa quando estava saindo, uma em que Brandon viria atrás de mim assim que eu deixasse o Grande Salão.
Mas ele não veio.
E, quando voltei, ele não estava mais na sua mesa.
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