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CAPÍTULO ONZE:
꧁ Só mais uma conversa normal ꧂
Quando meu estômago ronca durante o castigo, é impossível disfarçar. O silêncio era quase absoluto e eu atraí os olhares dos dois que me acompanham nessa tortura. A diretora franze a testa para mim, não sei como ela consegue ficar em pé o tempo todo, mas pra ser bem franca ficar sentada não é mais confortável.
— Senhorita Black, a senhorita não jantou?— ela quer saber. Ignoro o Potter atrás dela, ele e a sua cara ridícula de deboche como se eu estivesse fazendo uma ceninha. Uso desse momento para parar de escrever. Meu pulso está dolorido e eu o aperto debaixo da mesa.
— Não. Não estava com fome na hora, e pensei que aguentaria até amanhã.— faço a melhor cara de anjo com a asa ferida que posso. A diretora comprime os lábios finos e hesita. Claramente está relutante em me deixar a sós com o Potter por um minuto que seja.
Meu estômago ronca outra vez e eu mal consigo disfarçar a careta. Minerva suspira.
— Não saiam dos seus lugares. Eu volto já.— então com o barulho dos seus saltos batendo contra o piso de pedra, ela se retira da sala de aula nos lançando um olhar muito frio e ameaçador. Eu e Brandon trocamos olhares, mas ele desvia o dele primeiro, fingindo estar concentrado nesse nosso trabalho entediante. Fico o observando, a camisa amassada, os cachos selvagens e a gravata sem nó pendurada no pescoço. Balanço a cabeça e viro o rosto para a janela. Está muito escuro lá fora, e é noite de lua cheia. Espero que meus pais passem bem essa noite.
— Ainda não acredito que tem gente que cai nessa sua ceninha de boa samaritana.— Brandon fala pela primeira vez em dias que não conversamos um com o outro. Volto a encará-lo. Ele está a muitos metros de distância, mas não longe o suficiente. Solto um suspiro.
— Não estou fazendo ceninha. Estou mesmo com fome, senhor ignorante.
— Jura? Porque eu tenho certeza que pulou o jantar de propósito só para ficar a sós comigo.— ele larga a pena na carteira e se encosta na cadeira, metendo um sorriso presunçoso no rosto. Garoto estranho.
— Claro, porque é tudo o que eu mais quero na vida.— ironizo— Agora, se não se importa, eu vou sacar minha adaga e vou matar você.
— É lógico que eu me importo. Tenho muito o que me vingar de você.— ele ameaça, nós fulminamos um ao outro com o olhar.
Irritante. Muito irritante.
— Gina me contou de uma proposta que fez pra você quando você estava destruindo minhas coisas. Lembra?— ele é dissimulado. Fala como quem não quer nada.
Quero me afundar no chão depois de fazer isso com a cabeça da minha melhor amiga.
— E daí?
— E daí?— ele me imita, debruçando-se em sua carteira, um sorriso debochado na cara sonsa dele— Depois que passou aquela onda intensa de repulsa, vi que fazia sentido. Tipo, é óbvio que você sente alguma coisa por mim que eu nunca vou poder corresponder. Por isso a perseguição do meu corpinho lindo: você me adora.
Fico o encarando por uns segundos. Depois começo a rir, começo a rir muito e muito alto.
Demoro a me recompor, mas ele espera pacientemente como se minha risada não fosse nada demais. Falando sério, é bobo quando Gina sugere, mas é patético quando o próprio Potter acha isso.
— Nem morta!— eu digo ainda com algumas risadinhas subindo pelo peito.— Eu prefiro me atirar da Torre de Astronomia a apertar sua mão. Quem dirá... hm— limpo a garganta.
Brandon levanta a sobrancelha.
— Eu entendo porque eu não quero ficar com você, mas por que você não quer ficar comigo?
— Isso é sério, Potter?— arregalo os olhos, largando as mãos na carteira.
— Seríssimo. Que foi? Tem medo de que eu descubra que você é obcecada por mim? Adivinha só, Lupin, eu sempre soube.
Ele sorri enquanto eu volto a rir.
— Ah, agora você me pegou, poxa, não tenho como negar.— reviro os olhos.
— Por que não ficaria comigo?
— Sua presença é intragável. Sua proximidade seria insuportável. Mais do que é agora.
— Fala sério.
— Se ficar insistindo em saber a resposta, vou começar a achar que se importa.— brinco com o tom de ameaça. Brandon faz careta.
— Não me importo. Mas você tem que concordar que eu sou muito bonito.— eu realmente tenho lá minhas dúvidas se seu narcisismo é brincadeira, as vezes.— É compreensível que você me queira. Repulsivo? Pode crer, mas compreensível.
— Você tem o ego frágil demais, Potter.— resmungo olhando para a ocorrência que eu deveria estar reescrevendo.
— Olha quem fala.— ele retruca e eu não posso dizer que está errado então fico quieta— E você não negou que eu sou muito bonito.
O olho com tédio.
— Você já é inseguro o suficiente sem que eu precise intervir.— digo com um pouco de acidez. Sorrio de canto quando ele me fulmina com o olhar.
Ficamos quietos por um tempo. Viro algumas folhas e fichas, mas não me concentro em nenhuma dessas coisas.
— E você? Por que não ficaria comigo?— pergunto sentindo um estranho frio na barriga por conta do teor da conversa, mas já que estamos aqui...
Me sinto bem menos audaciosa do que ele pareceu ao me disparar essa mesma pergunta.
O Potter levanta os olhos castanhos pra me encarar e dá uma risadinha.
— Você é irritante. Sua presença é intragável porque você é chata demais.— ele provoca.
— Ah, por favor— estalo a língua sem levá-lo nem um pouco a sério— seja mais original.
Potter passa a língua nos lábios e dá de ombros.
— Gosto de garotas fáceis.— ele pega a sua pena e volta a escrever. Eu realmente não sei se isso foi algum tipo de elogio ou se deveria ficar ofendida. O encaro enquanto seus cachos caem sobre seus olhos e sua camisa se aperta contra seus músculos. Respiro fundo e desvio o olhar.
Não nos falamos pelo resto da noite. Minerva me trouxe cookies, sanduíches e chá. Eu adoro essa mulher.
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