MAIS ALGUNS DIAS PASSARAM, e Bella se sentava sozinha no refeitório e recusara minhas ligações, ou visitas. Sou péssima em cuidar de mim, imagine de outra pessoa.

Tomei um remédio para gripe. Ela finalmente foi embora, mas ainda tento evitar que ela voltasse.

“ Bella me manda emails, mas prometi a Edward não responder.” — apareceu mensagem de Alice no meu computador.

Naquele momento, meu plano de se afastar foi por água abaixo.

Digitei: “ Mas fala comigo, no entanto.”

Abrir um refrigerante, tomando um enorme gole. Admito que a vida fica sem emoção sem aqueles chatos em volta.

“ Você é exceção. “

Sorri ao ler a mensagem.

“ Como tá o abacaxi ambulante?”

“Mais ou menos, mas fica mais calmo com você aí.”

“ Claro, claro. “ Debochei, girando na cadeira. “ Vou indo nessa, Bella me convidou pro cinema.”

“ Isso é bom, ela parece bem “

“ Só parece. Vai por mim. Até. ”

“ Emmett te mandou um abraço… esmagador. “

“ Mando outro. “

Desliguei o computador, pegando minhas chaves e dinheiro. Como faço aquela maluca não subir em uma moto com um estranho?

(...)

O ar frio da noite de Forks parecia mais pesado do que o normal, misturado ao eco abafado das risadas dos adolescentes saindo do cinema. Eu segurava o copo vazio de refrigerante, batucando nervosamente com a unha na lateral plástica enquanto caminhava ao lado de Bella. O filme tinha sido péssimo, mas não era isso que estava me incomodando, Bella estava… estranha.

— Sério, foi um lixo. Quem escreve essas falas? —  resmungo, tentando puxar conversa.

O filme foi podre mesmo.

Bella mal respondeu, o olhar perdido no vazio. Era como se ela estivesse ali, mas ao mesmo tempo não estivesse.

Estou ficando frustrada já.

Viramos a esquina, e foi quando vi os motoqueiros encostados em suas motos, com sorrisos que não prometiam nada de bom. Bella parou por um segundo, os olhos fixos neles, como se fosse um ímã atraído por algo perigoso.

— Bella, não. — digo entrando na frente dela imediatamente. O braço estendido, bloqueando o caminho. — Nem pense nisso.

— Eu só vou conversar… Acho que conheço eles. — Bella tentou desviar, a voz fraca, mas com teimosia.

Segurei o pulso dela com força, a olhando sério.

— Você está brincando comigo? — Minha voz saiu irritada. Mais que o normal. — Você não conhece esses caras. Eles não são aqueles daquela vez.

Bella hesitou, mas o olhar dela parecia faminto por algo.

Bufei, frustrada.

— Eu não vou ficar aqui vendo você se enfiar em uma fria só porque tá… sei lá, entediada ou quebrada por causa do Edward.

O nome dele pairou no ar como uma faca. Bella congelou. Me surpreendi por ter dito aquilo em voz alta, mas continuei.

— Você acha que subir na moto de um estranho vai consertar alguma coisa? Não vai. Só vai piorar.

Houve um silêncio tenso. Bella respirou fundo, a mão tremendo levemente, e finalmente deu um passo para trás.

Soltei o ar, aliviada. Íamos em direção à picape laranja de Bella, mas quando vi, estava andando sozinha.

Aquela safada!

Olhei pra trás, a vendo descer a lombada da rua, indo até os motoqueiros.

— Bella! — gritei, mas ela ignorou. — VAI PERGUNTAR ÀS HORAS? — fui sarcástica. Chutei o vento. Por que ela é assim?

Vi ela conversando com um dos caras. Ele tinha barba e um alerta vermelho em seus olhos. Mas a queridona aceitou subir na sua moto.

Ela pensava que Edward iria aparecer se corresse perigo.

Amiga, ele é vampiro mas não se teletransporta, não.

O motor roncou, e eles desapareceram pela rua.

Cruzei os braços, andei pra lá e pra cá, e nada. Comecei a roer novamente uma das unhas até sangrar. Eu senti meus nervos tensos.

Edward confiou em mim e eu ferrei tudo. Eu deveria ter dado umas bofetadas pra ver se ela acordava.

Quando finalmente, ouvi o barulho da moto voltando. Senti alívio, mas também muita raiva. Bella desceu, parecendo decepcionada. Andei até eles em passos firmes.

— Você tá completamente maluca? — esbravejo sentindo meu rosto vermelho. Agarrei o braço dela com um pouco de força. — Tem o que na cabeça? Isso é vida real, não um romance adolescente onde Edward vai aparecer do nada pra te salvar!

Bella resmungou ao inaudível se soltando de mim. O cara que deu carona, se aproximou vendo a discussão.

— Ei, calma gatinha, você pode vir também. — ele tinha um sorriso nojento e tocou no meu ombro e rapidamente me veio às lembranças dos toques invasores de James. Meu corpo se movimentou automaticamente, e acertei seu nariz em cheio com um soco. Ele cambaleou para trás, levando a mão no rosto, e me xingando.

— N-Ninguêm vai encostar em mim novamente! — gaguejei. Engoli seco e me virei pra Bella. — Vem!

Caminhamos rapidamente de volta pro carro.

— Jess, me desculpa…

— Olha aqui. Se quiser morrer, tudo bem, mas me avise para eu não perder meu tempo. — reclamo entrando no carro e fechando a porta com força a fazendo tomar um susto do lado de fora.

Massageei meu pescoço, tentando ignorar os flashes do James em cima de mim com seus toques forçados.

(...)

Dormi um pouco mais naquele fim de semana. Eu não liguei mais pra Bella.

Edward que me perdoe mas sua namorada ia me matar também.

Ouvi alguém batendo na porta da frente e coloquei minhas pantufas para ir até lá.

Abrindo a porta, e falando no diabo, vi Bella.

— Me desculpa. — a olhei. — Eu fui uma idiota.

— Foi mesmo. — digo seriamente mas logo suspirei. — O que é aquilo?

Ela seguiu meu olhar para sua picape onde havia algo coberto.

— Motos. Vou levá-las pro Jacob. Quer vir junto? — a olho pensativa.

Merda, eu prometi pra ele.

— Tá bom. Espera um minuto.

Me vesti com algo quentinho e fomos para La Push. Chegando na reserva, senti o cheiro de maresia misturado com pinho e terra molhada. Onde olhava, eram enormes árvores. Vimos Jacob se aproximando enquanto Bella estacionava.

Bella desceu e logo foi abraçada pelo Black.

— Onde você se meteu, sua louca? — perguntou a girando.

Até que eram fofos.
Limpo a garganta, e ele solta Bella.

— Jess! — ele me abraçou também e me afastou um pouco, apenas pra me olhar. — Melhorou da gripe?

— Foi pesado, mas consegui.

— Isso é ótimo. Sam deve ter pesadelos de ver o tanto que você colocou pra fora aquele dia.

— Cala a boca. — resmunguei forçando ficar séria.

— Eu trouxe uma coisa pra você. — declarou Bella mexendo em seu cabelo e apontando para picape.

— Mostra aí.

Bella se virou para tirar a manta de cima das motos.

— Cê tá fortinho. — brinco apertando o braço do Black que riu. — Tem mesmo 16 anos?

— Idade é só um número, gata. — brincou me fazendo empurrar ele de leve. — Você tem quanto? 40?

— Tenho. — respondi o fazendo rir.

Bella revelou as motos para nós.

— Uau. Sucata. Que gentileza. — Coloquei a mão na boca pra segurar meu riso.

— Peguei no ferro-velho. — confessou a Swan. — Achei que ia custar mais para consertar do que elas valem. Mas aí pensei que se um amigo mecânico me ajudasse…

— Uhm, e eu sou esse amigo mecânico?

— Eu que não sou. — disse olhando a ferrugem naquelas motos.

— Percebemos. — riu Jacob me vendo tocar na moto e logo limpar a mão na minha calça. — Desde quando você se liga em motos?

— Deste agora.

— Deste de ontem. — ela me fuzilou com o olhar e me calei. — Esquece…

— Vou entender se você achar que é idiotice e imprudência.

— É, é uma idiotice e imprudência total. — Bella fechou um pouco o semblante achando que ele negaria.

— Quando começamos?

O brilho de Bella voltou.

— Agora. Por favor.

— Beleza. — Ele andou até às motos e pegou com facilidade.

Bella ficou chocada.

— Ele é fortinho. — comento piscando pra ela. Parece que ela só notou ele agora.

Ela assentiu ainda chocada e fomos para a garagem, onde Jacob começou seu trabalho.

Me sentei em cima do capô de um carro lá. Bella desligou o rádio por ouvir uma música que lembrava o cabelo de abacaxi.

— Eu estive pensando, se vamos fazer isso todo dia… espera, quer fazer isso conosco, Jess? — perguntou Bella me olhando. — Eu sei que não gosta de se sujar.

— Não gosto mesmo.

— Deveria vir. — aconselhou Jacob. — Aprender a nadar e tal.

— Pra que aprender?

— Pra não se afogar. — disse me provocando. Revirei os olhos e assenti.

— Vai me ensinar?

— Tiro um tempo pra você.

— Oh, estou emocionada. — zombou, mas concordei em aparecer.

— Certo. Continuando. Temos que reservar um tempo para os deveres. Não quero que o Billy pense que sou uma má influência.

— Eu sou má influência. — aviso com antecedência.

— Você me influenciar? — havia tom de deboche pra Bella. — Ela, eu não duvido. — Jacob pontou para mim, e fingi me ofender. — Você…Ah, por favor.

— Você… eu sou mais velha que você. Portanto… eu sou a influenciadora e você o influenciado.

— Não, não. Meu tamanho e grau de experiência me tornam mais velho que você…por causa da sua palidez e falta de conhecimento.

— Caraca. — soltei rindo.

— Você não conta, tem tamanho de um anão de jardim, mas influencia todo mundo.

— Jacob, você quer apanhar. — rosnei cruzando as pernas.

— Tô morrendo de medo. — riu me fazendo rir também.

— Que isso? — riu Bella olhando para nós dois. — Eu convenci ele a construir máquinas mortais de duas rodas. Isso não o torna jovem e ingênuo?

Jacob largou o que estava fazendo com a moto e encarou ela.

— Tá bom. Como a gente fica?

— Eu tenho 35 e você pode ter 32. Jess 40.

— Qual é, só acertou o último.

— Vou bater nos dois. — cantarolei vendo dois amigos do Jacob chegarem. Se eu não me engano são Quil e Embry.

— Bella, Jess, esse são meus amigos. Quil e Embry.

— Olha só, Jacob arranjou companhia nova.

Quil era um pouco mais baixo, de cabelos curtos e sorriso travesso, e Embry era mais alto e magro, com os cabelos iguais aos de Jacob. Longo.

— Essa é a Bella, né? — perguntou Quil. — E você é…?

— Jessica Stanley — respondi, analisando os dois.

— Quil Ateara — se apresentou, piscando pra mim. Ousadinho, hein. — E esse é o Embry Call.

— Legal te conhecer, Jess — Embry disse, acenando com a cabeça.

— Então o lance de construir moto é verdade. — começou Quil como se não quisesse nada.

— Ah, é sim. Ensinei a ele tudo que sabe. — Bella tentou brincar.

— Qual das duas é a garota dele?

— Você tem cara de ser a peste do grupo. — interrompi.

— Obrigado, eu acho? — Quil respondeu, incerto.

— Somos amigos. — explicou Bella.

— Uhh, dançou. — disse Embry enquanto Quil ria.

— Na verdade, eu disse que eram garotas, e não, a minha garota.

— Embry, lembra dele fazer essa distinção? — indagou Quil.

— Eu não.

— Vocês têm namorada? Que legal. — zombou Bella fazendo um toca aqui comigo quando ergui a mão.

Jacob gargalhou.

— Tem, tem sim. Quil teve que dançar com a prima dele no baile da formatura. — explanou Jacob fazendo Embry rir.

— Não tem mais graça. Quer graça, Black? Eu vou te dar graça. —  Antes que qualquer um pudesse reagir, os dois começaram a lutar como crianças de oito anos, empurrando, agarrando e tentando derrubar um ao outro no chão de terra.

— Nossa. — riu Bella.

Embry andou até Bella e logo começaram a fazer apostas.

— Aposto cinco no Quil.

— Fechado — Bella sorriu.

Eu suspirei, cruzando os braços. No início, foi divertido assistir, mas logo percebi que os dois não iam parar tão cedo. E, para piorar, meu estômago roncou baixinho.

Cansada da cena, me levantei e marchei até os dois brigões.

— Chega!

Fui rápida, como eu fazia com minha irmã e agora com meu novo irmãozinho, e agarrei as orelhas de ambos e puxei, fazendo-os soltar um gemido surpreso.

— Ai, ai, ai!

— Jess, qual é?! — resmunguei Jacob.

— Se vocês querem brincar de lutinha, façam isso depois do almoço!

Os dois a encararam por um momento, surpresos, antes de se entreolharem e começarem a rir.

— Você é brava, hein? — Quil comentou, massageando a orelha.

— Nem brinca com isso — Jacob murmurou, ainda fazendo careta.

Bella e Embry riram, e eu apenas bufei, voltando o meu lugar.

— Agora, alguém me diz onde tem comida por aqui.