15 | UM PEDIDO
EU EVITEI OS CULLEN em geral nesses meses que passaram. Eu não queria me afastar de Alice e Emmett, mas eu pensei melhor nas palavras de Carlisle e no meu real objetivo, que era apenas observar.
Até Riley se afastou de mim por algum motivo que ainda não sei. Parou até de responder minhas mensagens.
Enfim, hoje era aniversário de Bella, então eu tentava enrolar um chaveiro para enfeitar seu carro, em um embrulho tão estranho que acho que ela se assustaria.
— É pro Halloween? — indagou Isaac se sentando na ilha da cozinha.
— É um presente. — Faço uma careta. — Tá tão ruim assim?
— É… muito. Parece um mini esqueleto.
— Ah, para. — resmunguei o ignorando e colocando o presente na minha bolsa. — Vou pra aula.
— Boa sorte. — murmurou.
— Pra você também. — digo pegando as chaves do meu carro e indo até ele.
O carro de Jessica era um Volkswagen Jetta 2000, cinza. Dentro dele havia coisas da Jess, como maquiagem e revistas de moda.
Em minutos, cheguei na escola, agradecida por não ter que pegar ônibus com Mike. Estacionei perto da picape de Bella e sai dando uma corridinha até ela.
— Feliz aniversário, Swan! — brinquei animada e ela sorriu amarelo. — Feliz por ficar mais adulta?
— Nem um pouco. — Ah é, ela tem problema com a questão de idade.
— Você tem muito tempo ainda, fica tranquila. — digo entregando o meu embrulho estranho. Ela franziu o cenho o pegando. — Não julgue pela capa, eu sou péssima nisso.
Ela riu, abrindo o presente. O chaveiro era de crochê, em formato de cisne.
— Que bonito. — elogiou o olhando melhor. — Você que fez?
Assenti. Fazia vários desses pra minha irmã.
— Sabe, participei de vários clubes para aumentar as notas e aprendi. — menti.
— Obrigada, Jess. — ela me abraçou rapidamente. — Tá pronta pro trabalho sobre Romeu e a Julieta?
Perguntou se afastando.
— Ah… — Esqueci disso também. — Sim, claro.
Os outros se aproximaram. Infelizmente Angela estava abraçada com o idiota do Eric. Lauren e Mike também estavam juntos, e ele não perdeu a oportunidade de provocar Bella.
— Por que… és tu, Bella?
— Acho que vou tirar uma foto de vocês. — disse ignorando o loiro. — Minha mãe quer que eu faça um álbum com recordação.
— Legal.
— Retoca meu nariz no Photoshop. — pediu Lauren se agarrando ao Mike. Essa fala era da Jess no filme. Esqueci que tudo se misturou.
— Ah, eu tiro. Eu não preciso estar nelas. — declarou Angela.
— Você vai ficar aí onde está, Angela Weber! — ordenei a puxando pra foto. Como sempre fiz uma careta e chifre em Mike. Bella riu tirando a foto.
Mas assim que o flash piscou, o carro de Edward chegou ao estacionamento, fazendo o sorriso de todo mundo sumir.
O safado até mudou de carro. Queria ter esse dinheiro.
— Que ótimo, o Cullen chegou. — debochou Mike.
Eu tenho que sair daqui.
— A gente se fala depois. — avisou Lauren e todos se afastaram, me deixando mosqueado.
Ele se aproximava do outro lado do estacionamento, os passos silenciosos, mas impossíveis de ignorar.
Sempre chamando atenção.
Eu não podia olhar, sem meu peito apertar, o coração acelerado por motivos que eu preferia não admitir.
Ele foi muito legal comigo quando James tentou…
— Tenho que ir. — As palavras saíram apressadas, quase atropeladas da minha boca.
Bella franziu a testa.
— Mas você acabou de chegar…
Eu já estava me afastando, o corpo tenso, os passos rápidos. Eu ouvi quando Edward parou perto de Bella, sua voz baixa e suave, mas eu não distingue as palavras. Não queria.
(...)
Foi um esforço constante para manter distância de Emmett, a cada esquina, aquela geladeira inox, de duas portas, estava. Se eu escutava a voz de Edward, mudava de direção, assim como as dos outros. Mas na aula, eu não tive como escapar.
Edward me observava, sempre com aquela testa franzida. O único lugar vago era ao lado esquerdo de Edward. Eu hesitei por um segundo, o suficiente para que ele percebesse.
— Está tudo bem? — ele perguntou baixinho, enquanto eu me sentava, mantendo o corpo o mais distante possível.
Preferi não responder. Apenas fingi estar concentrada nas anotações.
Vi Edward ainda com os olhos em mim. Ele estava incomodado com o meu comportamento?
Ignorei ele e foquei no filme de Romeu e Julieta… por que fiz isso?
Uma hora do filme e eu já estava com os olhos cheios de água. Shakespeare não erra.
Ouvi uma risadinha sacana e olhei pro lado vendo Edward com a mão em punho sobre a boca, tentando conter o riso.
— Hahaha, como é engraçado. — resmunguei e ele pareceu respirar fundo, para engolir o riso.
— Voltou a falar comigo?
— Não sei do que está falando, Cullen.
— Sabe sim, Stanley.
Revirei os olhos.
— Gosta de Shakespeare? — ele indagou se aproximando um pouco pra sussurrar a pergunta.
— É… gosto, mas durmo a maioria das vezes. — explico. — Mas esse filme me faz chorar.
— É a tragédia?
— O fato deles não terem ficado juntos, depois de tanto sacrifício. — digo sincera, mas logo me revolto. — E por que caralho ela não contou pra ele sobre o plano?
— Assim não teria história.
— Drama, Edward, drama. — debochei, me virando pra olhar pra ele, e dando de frente com seu rosto estupidamente bonito. Não sabia que estávamos tão perto. Ele riu novamente, se afastando e dessa vez dei um tapa em seu ombro.
O momento foi interrompido por meus olhos enxergando Bella nos observando do outro lado dele.
Merda!
— Então, senhorita Stanley… quer repetir os versos finais em pentâmetro jâmbico…só para mostrar que prestou atenção? — pediu o professor olhando pra mim.
É eu voltar a falar com os Cullen, que me ferrei. Abri a boca para responder, mas nada saiu. Qual era as falas mesmo?
— “ Aqui…fixar o meu eterno repouso…e desta carne lassa do mundo sacudir o jugo das estrelas funestas. Olhos, vede mais uma vez. — começou Edward me salvando. — Braços, permiti-vos o último abraço. — eu não entendia nada de palavras difíceis. — E lábios, vós que sois à porta do hálito…com um beijo legítimo selai este contrato com a morte exorbitante.”
— Obrigado, senhorita Stanley. — debochou. Edward forçou um sorriso e alguns riram, mas o professor não deixou a folia se estender. — Olhos na tela, pessoal. — ordenou o professor.
Olhei pra ele, sibilando sem voz: “meu herói”, fazendo uma cara de deboche, claro. Ele revirou os olhos, sorrindo fechado.
(...)
Bella me convidou para a sua festa de aniversário na casa dos Cullen, mas recusei. Eu sabia o que iria acontecer lá e se eu impedisse, eu mudaria a história e ia me intrometer de novo, então neguei e dormi a noite toda, como uma donzela que sou.
No dia seguinte, os Cullen não apareceram em nenhuma aula, o que eu considerei sendo meu dia de folga. Passei aquele dia ouvindo as “altas” emoções na vida de Lauren.
Chegando em casa, tirei a blusa apertada, ficando de sutiã e chequei minhas mensagens. Entre outras, uma era de Alice.
“ Quando vamos voltar a nós falar? “ — sorri triste, eu gostava deles. Emmett também havia enviado emojis tristes.
Joguei meu celular em um canto, quando ouvi alguém batendo na minha porta. Revirei os olhos, vesti uma das minhas blusas gigantes e fui atender.
Desci as escadas correndo, o que resultou em mim batendo meu dedo na escada. Pulei xingando até meu ancestral.
Abri a porta toda descabelada e vi Edward fazendo uma careta.
— Você está bem?
— Tô, tô ótima. — disfarcei jogando meu cabelo pra trás. — Aprendeu a usar a porta? Que grande passo.
O céu estava coberto por uma manta cinzenta, atrás dele, o que combinava com o seu rosto pálido mais sério do que o normal, os olhos dourados opacos, sem o brilho usual. Algo estava errado. Senti um arrepio correr pela minha espinha, mas não desviei o olhar.
Eu sabia o que tinha acontecido.
Jasper atacou Bella.
— Preciso falar com você — disse ele, a voz baixa, quase um sussurro.
Concordei, abraçando meu próprio corpo pelo vento frio.
— O que foi?
Edward respirou fundo, um gesto mais humano do que necessário para ele, como se estivesse tentando reunir forças.
— Vou embora.
As palavras pairam entre nós. Eu não deveria ter esse sentimento de… abandono.
— O quê? — forcei fingir. — E... Bella?
Ele desviou o olhar por um breve instante antes de me encarar de novo.
— É por isso que estou aqui. Quero que você cuide dela, Jessica.
Dei um passo para trás, surpresa. Eu tinha que me afastar e não me aproximar mais!
— O quê? Por que eu?
— Porque você é a única que pode fazer isso sem levantar suspeitas. Bella confia em você, mesmo que ela não diga isso em voz alta. E... você é forte.
Soltei uma risada curta, sem humor.
— Forte? Você me conhece mal.
Os lábios dele se curvaram em um sorriso breve, triste.
— Você é mais forte do que imagina. Emmett e Alice vão manter contato com você, mas precisam manter distância. É perigoso.
Senti minha garganta apertar. Era real. Ele realmente estava indo embora. E eu fugi tanto de seus irmãos, que nem tive tempo de aproveitar melhor eles.
— Ela vai te odiar por isso.
Os olhos dourados de Edward brilharam com uma dor silenciosa.
— Eu sei. Mas é o melhor para ela.
Houve um silêncio desconfortável antes de ele dar um passo à frente. Automaticamente fiquei tensa, mas não recuei. Sem dizer mais nada, Edward se inclinou e, com uma delicadeza que me surpreendeu, depositou um beijo suave na minha testa. O toque era frio como gelo, mas carregava uma estranha ternura.
Fiquei imóvel, óbvio. Ignorei o coração acelerado por um motivo. Quando ele se afastou, seus olhos estavam ainda mais sombrios.
— Cuide dela... E cuidasse.
E então ele se virou, caminhando até o carro sem olhar para trás. Fiquei parada ali, sentindo o eco daquele gesto simples e inesperado, enquanto o carro desaparecia na estrada molhada, levando embora mais do que apenas ele, e…
QUE MERDA!
Bella está sozinha na floresta. Peguei as chaves dentro de casa, e fui salvar Bella mais uma vez.
(...)
Eu caminhava na mata atrás da casa de Bella. A floresta parecia engolir qualquer um, enquanto eu corria. Minhas pegadas eram abafadas pelas folhas úmidas no chão. Segui, tropeçando em galhos e praguejando baixinho.
— BELLA! — gritei, a voz ecoando entre as árvores. Nenhuma resposta.
Depois de alguns minutos, já cansada, encontrei ela caída no chão, abraçada a si mesma.
Obrigada, Edward. Prometi cuidar dela, mas ela é pior que eu quando se trata de se ferrar por conta própria.
Me ajoelhei ao lado dela, sacudindo seu ombro.
— Bella, levanta. Você parece um figurante de filme de terror.
E, claro, como se o universo estivesse ouvindo, um som de passos pesados se aproximou. Mas eu sabia que era Sam se aproximando.
— Ótimo. — comentei, ficando de pé, mas sem me afastar de Bella.
Um homem emergiu da mata, alto, com o cabelo escuro curto e um olhar sério demais para alguém que acabara de sair do mato. Ele usava apenas um short.
Não olhe, não olhe.
Droga. Olhei pro tanquinho dele.
Eles têm que parar de aparecer seminus.
— E aí? — Eu sabia que era difícil falar com Sam e improvisei. — Como é que tá?
O homem arqueou uma sobrancelha, claramente me achando sem achar graça.
— Ela está bem? — sua voz era grave, carregada de uma autoridade silenciosa.
Olhei para Bella e depois voltei para ele.
— Defina “bem”. — pedi.
— Respirando.
— Ela tá. Sou Jessica.
— Sam. Sam Uley. — Ele se aproximou, avaliando Bella com preocupação.
Cruzei os braços.
— Ela e o namorado brigaram, e esse foi o resultado. Sou uma amiga da escola. — resumi limpando o suor na minha testa. Fui ignorada. — Tá bom, lobo solitário. — agora ele ergueu o olhar pra mim. Medroso. — Podemos ir? Se você for um psicopata, só avisar que eu sou péssima de correr, então vai ser fácil.
Sam ignorou o comentário, mas havia um brilho contido nos olhos dele, quase imperceptível.
Quase.
Ele pegou Bella com facilidade e começou a andar para a saída da floresta. Pelo menos eu acho que é a saída. O segui quase caindo.
Caminhamos bastante até ver a casa de Bella novamente. Lá estava Jacob, obviamente, e a polícia, que Charlie havia chamado. O Swan correu até nós.
— Ela tá bem. — avisou Sam. — Já a outra… — olharam pra mim, me vendo colocar os bofes pra fora. Acho que estou ficando gripada.
Pedi um segundo e vomitei no mato. Mas que porra!
Jacob correu até mim, e me segurou para não cair no processo.
— Você está com febre.
— Muitas emoções. — tento brincar.
— Ela disse que sua filha brigou com o namorado e ela tentou ajudar. — contou Sam para Charlie.
Charlie se aproximou de mim e tocou meu ombro.
— Obrigada, Stanley. De verdade. — assenti e ele pegou Bella do colo de Sam. — Obrigado, Sam.
— Jacob, sai. — empurrei ele pro lado e continuei o que estava fazendo.
Vomitando.
— Dêem um casaco pra ela. — sugeriu Sam saindo de cena.
Eu vim de camiseta pra floresta, o quão idiota sou?
Esqueço que só porque morri, não quer dizer que sou imortal.
Tenho que pôr isso em mente.
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