Passo número 5 - Tenha paciência (Parte 1)
— Isso só pode ser brincadeira! — Resmunguei, encarando a hora que meu celular indicava.
Se houvesse um recorde para atrasos em encontros que você mesmo marcou — o que é uma possibilidade, já que diversos recordes inimagináveis foram criados —, Edmund certamente ganharia. Com honra! Talvez passe pela sua cabeça que estou exagerando, mas veja meu ponto: 2 horas! O cara se atrasou 2 horas para um encontro que ele mesmo marcou! 2 horas e 17 minutos, para ser exata. Pelo menos esse foi o último horário que registrei antes de tentar sair de lá pela quarta vez. Obviamente fui proibida de prosseguir, caso contrário, seria impossível estar ali, pois minha paciência se esgotara há muito tempo. O segurança parecia entrar em desespero cada vez que eu tentava sair, murmurando algo como "o chefe me matará se eu te deixar prosseguir". Aliás, o sotaque dele era muito forte e eu sequer consegui imaginar sua origem. Então fiquei lá, encarando a decoração da área da piscina aquecida e coberta, simplesmente porque não pensara em levar meu fone. Quem pensa em levar um fone quando acha que ficará horas na companhia de uma pessoa? Eu, pelo menos, não penso assim.
Pelo menos pude usar a primeira hora de espera para escrever um capítulo de minha fanfic. Um capítulo sobre Henry se atrasando, especificamente, algo que ele ainda não fizera. Há muito de mim e de minhas experiências no que escrevo. Entretanto, não tive inspiração suficiente para durar mais uma hora escrevendo. Parei. Depois meu passatempo foi observar a decoração e imaginar de onde cada peça viera. Criei histórias para as cadeiras brancas, daquelas que sempre temos perto de piscinas. Criei histórias sobre a janela escurecida, imaginando que devia ser para impedir que qualquer pessoa me visse nadar, pelo menos do lado de fora da casa. O segurança era outra história... Desisti da decoração e retirei meus sapatos, encarando a água limpa e soltando vapor. Talvez eu só conseguisse sair dali na manhã seguinte, pelo andar da carruagem, então o que custava me aproveitar do "sinta-se à vontade"? Tirei peça por peça de roupa e fiquei com o maiô, encarando a água como se fosse uma das personagens principais de H2O - Meninas Sereias. Eu não iria virar uma sereia, como elas, mas tinha um medo semelhante de ser vista nadando. Sou um pouco desajeitada, então, às vezes, pareço apenas um cachorro medroso nadando. Não, comparação errada! Um cachorro medroso nada melhor do que eu. Fechei os olhos e, irritando-me com tamanha hesitação, pulei na piscina. O líquido aquecido me deu um choque, além de conseguir me tranquilizar. Era o que eu precisava.
Nunca fui muito de nadar, principalmente por morar em uma cidade sem praia e em uma casa sem piscina. No entanto, sempre gostei de me movimentar pela água, em um tempo determinado. Sempre acabo me cansando após uns 20 minutos, não que eu veja problema nisso. 20 minutos já é muito para quem não costuma entrar em uma piscina. Só que eu não saberia dizer quanto tempo passei naquela piscina em especial. Ela funcionou bem como uma distração, se quer saber. Apenas aproveitei a água, deixando sua estagnação ditar meu cérebro. Fiquei igualmente estagnada, pelo menos até meu celular apitar. Suspirei e subi a escadinha mais próxima, secando-me com uma das diversas toalhas que se encontravam ao redor. Era uma mensagem de áudio de Nick, seguida por uma foto que estava cortada, quadradinha, indicando que eu só a veria inteira se abrisse.
O áudio era, basicamente (tirando a bagunça que estava ao fundo na festa), o seguinte:
"Eu estava aqui na festa, com minha companhia sorridente, despreocupado, então me deparei com o seguinte... Não, Nate, eu não estou falando sozinho e, não, o álcool não subiu a minha cabeça... Enfim, como eu dizia, Amy, eu me deparei com o seguinte. Uma mensagem de Olivia, aquela garota que sai comigo às vezes, falando sobre um cara conhecido na festa de gente chique em que o pai dela está. O pai dela é da política, não sei se lembra e... É, o Nate está certo, isso não tem pertinência. Apenas veja quem ela encontrou e, qualquer coisa, só me ligar que eu corro aí para te pegar. Demorei uns 30 minutos para visualizar a mensagem dela, então não sei se ele já conseguiu sair".
A mensagem durou, aproximadamente, 30 segundos, mas foi tempo suficiente para milhares de teorias passarem pela minha cabeça. Dei uma olhada furtiva para o segurança, apenas para garantir que ele não me observava. Abri a foto, já imaginando de quem se tratava. Edmund, virado, conversando com um homem, ambos de terno. Fiquei boquiaberta. Mesmo quando imaginamos o que uma pessoa pode fazer, acabamos nos surpreendendo, pois, internamente, não achamos que alguém possa ser tão sem consideração. Entretanto, lá estava eu, sendo idiota por um garoto novamente. Fiquei furiosa e digitei uma resposta com fúria.
"Eu quero morrer! Estou aqui há mais de duas horas, encarando a decoração, criando cenas para a minha fanfic... E o cara está em uma festa chique? Eu quero morrer! Como consigo ser tão idiota com garotos, Nick?"
E a resposta veio logo depois.
"Você não é idiota, eles são".
"Claro", foi a mensagem que mandei de volta, seguida de três emojis de carinhas revirando os olhos.
"Quer que eu vá te buscar? Ou prefere ficar aí para dar uma lição no idiota?"
— Dar uma lição no idiota? — Li em voz alta, apenas para testar a ideia. Não parecia muito ruim, apesar de me custar mais alguns instantes de vida. Qual a melhor opção?
— Espero que o idiota não seja eu. — Um Edmund ofegante disse. Levantei minha cabeça para me deparar com seu rosto avermelhado, indicando cansaço ou vergonha. Seu terno estava todo bagunçado, apesar de ainda lhe cair muito bem.
Logo soube a resposta satisfatória. Apertei o botão de gravar áudio em meu WhatsApp (que eu fizera Nick ter o hábito de usar) e disse o seguinte:
— Esquece, o idiota chegou. — E enviei para Nick, bloqueando meu celular em seguida e colocando-o sobre minhas roupas, as quais se encontravam sobre uma das diversas cadeiras. Àquela altura do campeonato eu sequer me importava em estar de maiô diante de um quase desconhecido. — Olha quem resolveu aparecer. — A frase não apresentava a intensidade que deveria e eu tampouco me importava com isso.
— Desculpe, eu costumo estar nos lugares 15 minutos atrasado, sempre achando que estou adiantado. — Fez uma tentativa de piada e deu um riso falho. Não esbocei nenhuma reação.
— Só que não são 15 minutos, são duas horas! — Tentei permanecer calma ao dizer isso, mas estava difícil. — E você não estava se arrumando! Estava em outra festa!
— Ah... — O moreno piscou algumas vezes antes de conseguir formular uma frase. — Como sabe?
— Tenho meus contatos. — Revirei os olhos. — Foi legal a festa?
— Um saco, para falar a verdade.
— Claro... — O tom de descrença era perceptível em minha voz, pelo menos era o que eu desejava.
— É sério! Essas festas das empresas são sempre chatas.
— Não vá então, simples.
— Não é assim que funciona...
— Não? — Arqueei a sobrancelha. — Você é maior de idade, Edmund, pode decidir se vai ou não.
— Não funciona assim na minha família. — Ele encolheu os ombros. Encarou-me por um tempo e suas bochechas adquiriram um tom muito vermelho. Desviou o olhar rapidamente.
— Não funcionava também na casa de Nick, então ele decidiu lutar para ser quem era e agora só faz o que quer. — Usei um argumento que nunca usara antes em uma discussão, mas que veio a calhar.
— Não é simples assim...
— Não se ficar estagnado.
— É que... — Ed ia dizer algo, mas se deteve no meio da frase. Então me encarou, visivelmente desconfortável. — Esquece! Você não entende!
— Se espera que eu diga "então me explique", está no dia errado. Hoje não estou no humor para nada e vou ligar para o Nick, para que ele venha me buscar. — Uma decisão brusca, mas completamente plausível.
— Não esperava que dissesse nada...
— Então adeus. — Ajoelhei-me para pegar minhas roupas, decidindo sair de lá do jeito que fosse mais rápido. Se tivesse que correr de maiô, paciência. Apenas precisava sair daquele lugar!
— Não! Espera! — Ele se aproximou com uma velocidade absurda, ajoelhando ao meu lado.
— Eu esperei bastante, Edmund. Mais do que o normal, pois o segurança não me deixou ir embora. — Usei a toalha mais próxima para enxugar meu cabelo, pois algumas gotas escorreram pelo meu rosto. — Então, acho que mereço um descanso.
— Mas eu... — Ele começou a gaguejar e parecia que não ia parar mais. — Eu... — Balançou os braços, freneticamente, como se tentasse gesticular algum tipo de mensagem. — Eu... — Fechou os olhos e respirou fundo. — Eu acordo cedo e durmo tarde. — Ele fez careta ao dizer isso e eu fiz careta por não entender o contexto. — Você me diz algo, então eu esqueço. Não sou perfeito, estou longe disso. — Continuou a dizer frases, aparentemente, desconexas. Era estranho, mas eu sentia que já ouvira aquelas mesmas frases em algum lugar. — Eu trago a bagunça e você traz... — Fez uma careta maior ainda e demorou a completar a frase. — A limpeza? — Balançou a cabeça, como se descartando essa parte. — Pergunte por aí e perceberá, você é a única em que penso.
— O tempo virá e você irá ver, você é o único que me conserta. — Completei, reconhecendo de onde as frases eram. — Você estava mesmo parafraseando a música Fixes Me do Griffin Peterson? — Eu estava incrédula.
— Sim? — Deu um sorriso tímido e se explicou. — Fiz algumas perguntas para Nick, sobre seus artistas favoritos. Ele disse que a lista é extensa, mas que você costuma gostar de pessoas que passaram por programas como American Idol e The X Factor. Eu não tive o costume de assistir a esses programas, mas posso adquirir agora, se achar interessante. E pedi para Nick mandar uma lista dos artistas que mais gosta desses programas, e das músicas. — Ele parecia uma metralhadora de palavras. — E ele só disse esse artista e essa música, alegando que era a música perfeita para nós... Mim! — Ele mudou a palavra ao ver que arregalei meus olhos. — Também disse que eu deveria aprender o resto com você, então é o que vou fazer. Como viu, eu aprendi as letras dessa música... Ou quase.
— Eu não sei se acho isso fofo ou se acho irritante, pois está tentando me fazer esquecer a raiva.
— Fofo é melhor.
— Só se for para você...
— É.
— Isso não ajuda muito. — Levantei e ele fez o mesmo. — Precisará de mais do que isso para me convencer.
E ele levou isso a sério. Pegou em minhas mãos, enrugadas pelo tempo nadando, e se posicionou de maneira que eu fosse obrigada a olhá-lo. Perto demais para o meu gosto. Afastei-me um passo grande e continuei olhando nos seus olhos, apenas para garantir que ele não me agarrasse novamente.
— Se me der outra chance, não vou te decepcionar. — Os olhos de Edmund suplicavam em sintonia com seu tom de voz.
— Essa é a frase de todo idiota de filme. — Pontuei com meu sorriso de sarcasmo.
— Sei que precisamos conversar, mas eu não sabia como começar. — Ele começou a tagarelar, como se desconsiderasse meu comentário amargo. — Parece ser uma tendência comigo. Geralmente não sei como começar.
— Os idiotas de filme também dizem isso. — Cutuquei ainda mais a ferida, mas isso não o conteve.
— Você está brava? — Parecia uma pergunta retórica, mas, pela sua cara, ficou óbvio que ele esperava uma resposta. Fiz minha melhor cara de "sério que está me perguntando isso?" e esperei alguma reação. — É claro que está brava. — Murmurou em desânimo. — E eu entendo, mas precisa ouvir meu lado.
— Eu já ouvi, Edmund, só esperava que tivesse me ligado, ou algo assim. Eu merecia ter o direito de ir embora.
— Eu sei, mas...
— É errado da sua parte me manter aqui contra a minha vontade.
— Eu sei...
— Então por que não usou tudo o que já sabia para me deixar livre?
— Porque eu só penso em você.
— Ótima resposta ensaiada. — Sentei-me na cadeira para começar a me arrumar. É claro que um lado meu se derretera com aquela resposta, mas o outro lado, criado pelo meu pai, me ensinava a duvidar de qualquer frase desse tipo.
— É verdade!
— Vou acabar cedendo pelo cansaço. — Resmunguei baixinho, esperando que ele não me ouvisse.
— Então há esperança?
— Parece que você não sabe aceitar não.
— Não quando sinto que estou certo.
— Essa é uma resposta perigosa. — Uma resposta perigosa que me fez ficar ainda mais receosa com toda a situação, e com medo novamente.
— Não! — Ele se desesperou ao entender o que isso significava. — Eu não te beijaria contra a sua vontade, ou nada acima disso. Eu só... — Edmund se atrapalhou com as palavras e suas bochechas coraram novamente. É bom anotar em sua lista de características que Edmund sempre fica vermelho. — Tem razão. Pode ir. — Encolheu os ombros e virou de costas para mim, encarando a piscina. Era isso? Ele insistira tanto para me deixar sair assim? Ok então, quem sou eu para reclamar?
Encarei minhas roupas por um tempo, como se não soubesse o que fazer. E eu não sabia. Esperara tanto tempo por Edmund e, agora que ele estava finalmente ali, não tinha certeza do que fazer. Talvez não custasse ficar mais um pouquinho, não é? Já estava lá mesmo...
— Bem, sobre o que você quer conversar? — Fiquei ao seu lado, esperando que virasse para me olhar.
— O quê?
— Sobre o que quer conversar?
— Sério?
— Já esperei esse tempo todo, o que custa esperar mais?
— Ai meu Deus! — Ele me deu um abraço de urso rápido, logo se afastando por saber que não gosto de contato. Olhou em meus olhos, não cabendo em si de felicidade. — Obrigado! — O sorriso que ele deu era tão intenso que poderia iluminar até o abismo mais obscuro.
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