🌻 Rᥱᥲdყ To Bᥱ: Constrangida
Nada no mundo poderia ter preparado Jackie para aquela cena. Precisou tapar a boca com a própria mão para abafar um gritinho horrorizado. Descontou a força na maçaneta dando o mesmo passo largo que entrará no sentindo contrário. Retraindo toda sua figura como quem fugia da cena de um crime. Para seus olhos aquilo era similar, apesar de não ter nenhuma previsão na lei, certamente deixaria sequelas na sua memória.
Fechou a porta e encostou as costas na madeira, levando a mão da boca ao peito, acelerado. Simplesmente riu. Não pela cena ter sido de alguma forma cômica, mas perturbadora.
Arrastou o próprio corpo de volta a mesa da secretária de Morgana, no final do corredor, em bons dez metros longe. Apoiou as mão na madeira e encarou a amiga perplexa. Joanne jogou os fios pretos e lisos por cima dos ombros e estralou os dedo a frente dos olhos de Jackie, tentando chamar sua atenção.
— Mulher, que cara é essa? — fez um bico com os lábios pintados em vermelho e ajeitou o óculos de graus sob o nariz perfeito. — A chefinha não gostou da notícia? Fala mulher.
— Nem deu tempo de contar. — respirou fundo fazendo uma careta ao lembrar do que tinha visto.
— Mas ela não saiu.
— Não, não foi isso. — puxou uma cadeira e sentou-se ao lado da secretária. — Abri a porta e ela estava com Shownu.
— Qual é a novidade nisso?
— Ele estava segurando ela. — Joanne acenou pedindo que continuasse. — E ela estava de cabeça para baixo, a saia dela não estava no lugar certo e nem tinha roupa...a cabeça dele tava entre as pernas dela e eu ouvi...
— Não! — o dedo longo de Joanne amassou os lábios cobertos de batom nude, impedindo-a de continuar a falar. — Por favor, não me conte mais nada. Prefiro preservar a minha inocência.
— Queria ter essa opção. — resmungou baixinho, ainda perturbada pela cena. Fez todo estômago revirar, queria colocar o almoço todo para fora. — Acho que preciso de batismo depois disso.
— Tenho uma ideia melhor. — Joanne mexeu outra vez nos óculos e fitou a porta. — Que tal exorcismo?
O segundo de silêncio e a troca de olhares foi quebrada pelas gargalhadas, aliviando comicamente a situação constrangedora que acabara de acontecer. Jackie inclinou o corpo para um abraço e recebeu carinho imediato da amiga.
Joanne era de longe a pessoa mais querida em todo aquele prédio. Desde o primeiro dia, foi quem a ajudou a aprender os detalhes da sua função, além de sempre se disponibilizar para ajudar. Mesmo trabalhando ali a mais de sete anos, Joanne dizia que Jackie era sua primeira amiga verdadeira, o que a deixava triste e feliz. Um ambiente como aquele, dominado por mulheres e com tantos poucos rostos amigáveis.
Brian, o estagiário do recursos humanos, deixa uma bandeja com cafés na mesa de Joanne, ele é alto, loiro, cheio de tatuagens e sempre sorri largo quando vê a secretária. Brian fica ali conversando com elas por algum tempo, o dono dos olhos cor de mel sempre é muito educado e observador. Jackie solta uma risadinha quando o ouve comentar sobre o casaco novo de Joanne, nem ela havia notado.
A atmosfera, infelizmente, muda bruscamente quando no final do corredor passos são ouvidos. Os sapatos de salto fino batem ritmicamente contra o porcelanato anunciando a chegada de Morgana, acompanhada de seu namorado. Suas roupas estão lugar, nada do que a pobre Jackie viu parece ter acontecido.
— O que era tão importante que teve que invadir minha sala fofinha?
— Hm, uma ligação. — tentou sorrir em meio a testa franzida. — A Companhia que assistiu a apresentação entrou em contato, eles querem conversar com você, pelo que entendi pretendem investir na fragrância.
— Isso é bom. — apesar do tom animado, sua expressão era a mesma, o botox estava mesmo a arruinando.
— Se puder retornar a ligação, eles pediram para entrar em contato o mais rápido possível.
— Okay. — o olhar sem vida saiu da funcionária para a secretária. — John, faça a ligação e transfira para a minha sala.
— Joanne. — corrigiu imediatamente.
Morgana arregalou os olhos, quase ofendida por ter sido corrigida, como se ela fosse a errada por chamar a secretária pelo nome governamental, mesmo ciente da mudança a anos. Talvez se fosse recente ou acontecesse pouco, mas o caso era ridículo. Morgana parecia ter uma resistência muito grande a um nome, para alguém que se considerava tão descolada.
— Joanne, que cabeça a minha. — ela riu querendo trazer todos a sua risada, e eles fizeram, sem nenhuma dignidade, afinal precisavam do salário.
— Farei isso agora mesmo chefinha. — ela sorriu e Jackie pode jurar que rolava as orbes até a nuca.
— Agora você. — apontou para o homem alto, bonito e calado ao seu lado. — Nossa querida Jackie vai te levar para casa. — ditou e voltou atenção a funcionário. — Me faz esse favor, meu garoto esta muito cansado, como pode imaginar.
— Não. — interrompeu alarmado, sua voz soou quase como um pedido de socorro. — Não precisa me levar, pego um táxi. Estou bem, juro. — Jaqueline notou que, até aquele momento não havia feito contato visual, o que não era nada comum para ele.
— Deixa disso bebê. — agarrou a bochecha dele e beijou sua boca, um selinho estalado e desconfortável de assistir. — Você vai com ela, preciso ter certeza de que vai chegar sã e salvo. E é para ficar em casa hein. — outro beijo, Jackie se viu desviando o olhar, Brian nem estava mais ali, Joanne encarava a tela do computador digitando algo.
— Bobagem, não confia em mim? — ela não responde. — Gatinha, ta tudo bem.
— Sem mais, ela te leva. Esteja novinho amanhã...não quero imprevistos. — as orelhas do homem arderam vermelhas, ela realmente não precisava citar aquilo na frente de todos. — Agora vá, Jackie, leve-o.
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Dentro do sedan de tinta azul petróleo, somente o som do carro era ouvido, vez ou outro os sussurros de Jaqueline se misturavam a voz eteral de Bruno Mars. Um dos seus cantores favoritos, qualquer um que a conhecesse saberia disso. Shownu estava acostumado, tornou-se um ouvinte fiel, de tanto andar no banco do passageiro ouvindo sua discografia quando ganhava caronas como aquela. Bem, quase como aquelas.
O homem não se atreveu a dizer uma palavra sequer, no caminho até o estacionamento, enquanto o carro saía e Jackie por pouco não atropelou o porteiro que a chamou de Karen desta vez. Estava mudo, como uma pedra.
Vez ou outra lançava olhares curiosos para a motorista, se perguntava se ela diria alguma coisa ou pensaria alguma coisa. Ainda que não se importasse com isso, ele não deveria, não precisa. Na verdade estava fazendo tudo para não se deixar engolir pela paranoia naquele momento. Era apenas uma situação constrangedora, foi um acidente, ele nunca deixaria Jackie vê-lo daquela forma com a sua chefe, era estranho. Quase errado.
— Se continuar respirando assim vai engolir todo o ar do carro. — ela reclamou, a respiração pesada tirava sua atenção do caminho.
— Me leva para a boate, preciso resolver uma coisa.
— Morgana disse para te levar para casa. — frisou batucando os dedos no volante.
— Eu sei, por favor Jackie, não vou demorar. De lá eu vou para casa.
— Tá. — a mudança brusca de pista para fazer um retorno faz o carro balançar. Um sorriso tosco brincou no rosto do gigolô, achava adorável o jeito como dirige sem nenhum cuidado — Se ela perguntar, te deixei em casa, depois disso não sei de nada.
—Combinado.
Incomodado, se moveu no estofado, retirou o relógio do pulso e guardou no bolso. Jaqueline preferiu ignorar, não havia nada o que dizer, mesmo com o comportamento estranho dele. Em outro momento, ela poderia jurar que ele estaria fazendo piada sobre isso, no entanto, parecia um poço de ansiedade ali.
Estacionou no espaço de sempre, duas vagas a frente da boate Fantasia, as luzes desta vez estavam apagadas, não funcionava as terça-feiras.
— Bye bye. — acenou com a ponta dos dedos esperando que ele entendesse a deixa e saísse do veículo.
— Entra e toma uma bebida comigo. — pediu em um tom manso.
— Não, valeu. — rolou os olhos com a resposta, claro que ela iria negar.
— É só uma bebida, fica um pouco aqui, comigo.
— São quatro da tarde, seu expediente pode ter acabado mas o meu não. — uma pontinha de ressentimento pintou seu rosto, aquelas palavras sempre o pegavam desprevenido.
— Tá tudo bem entre a gente?
A postura antes relaxada e calma, tencionou repentinamente. Franziu a testa e inclinou o rosto para o lado, confusa com a pergunta. Apesar da cena desnecessária qual presenciou nada havia mudado, a linha entre os dois era traçado com um pincel grosso e muito visível para ela.
— Do que tá falando? Você tá agindo todo estranho hoje.
— Você viu aquilo...e
— E não é da minha conta, vocês são um casal, não esperava ver aquilo, mas ainda sim não é da minha conta. — ergueu as sobrancelhas terminando sua explicação.
— Me desculpa. — as palavras escaparam repentinamente da sua boca, a mulher não entendeu bem de onde vinha aquele tom de quem foi pego fazendo o que não deveria. — Então estamos bem?
— Sim Shownu, agora dá o fora do meu carro antes que eu leve uma multa. — pediu com a expressão neutra, balançou a ponta dos dedos o expulsando outra vez.
— Posso ganhar um abraço? — os olhos grandes brilharam com o pedido, o canto do lábio arqueado formando um sorriso inocente e charmoso. Funcionava com todo mundo. Quase todo mundo.
— Se não descer agora vou te levar de volta para a empresa.
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Apesar de estar fechada para clientes, a boate não estava vazia. Alguns funcionários aproveitavam para fazer balanço, cuidar da organização do ambiente, treinar seus números ou simplesmente ficar por ali. Este era o caso de Honey, o gerente do clube Fantasia. Por alguma razão ele sempre estava ali, mesmo em suas folgas. Por isso não foi uma surpresa quando topou com ele logo na entrada.
Honey observou o amigo dos pés e cabeça, a expressão séria quase o fazia passar por um cara mau, o que era bem diferente da sua real personalidade. Honey era um doce. Um pouco excêntrico, mas um doce.
Foram para o espaço de sempre, no sofá em formato C, o pole dance vazio desta vez e as luzes led desligadas. Era quase como a sala de casa, exceto todo o resto. Derramou dois dedos de whisky no copo do amigo e recostou no sofá com cheiro se antisséptico. Shownu desabotoou a camisa branca até o abdômen, afastou os joelhos e abriu o braços buscando apoio no encosto do sofá. Havia uma linha de expressão ridiculamente visível no meio da sua testa.
— Tá preocupado com alguma coisa?
— Não. — respondeu vago, depois xingou baixo. — Na verdade, tô incomodado com uma coisa.
— Fala. — acenou ao retirar um charuto do bolso da camisa, acendeu ali mesmo.
— Tenho essa sensação estranha de que fiz algo errado, mesmo não tendo feito, sabe? — umedeceu os lábios pequenos. — Mas eu não fiz nada errado, então porque eu tô nessa? Acho que foi o jeito que ela me olhou, tava horrorizada e depois fingiu que nada aconteceu.
— Foi tão ruim assim?
— Sim e não. Foi algo normal, as pessoas fazem isso o tempo todo, e ela não deveria entrado sem bater, que caralho.
— Onde você estava?
— No escritório. — soprou antes de tomar outro gole. — E depois ela ainda agiu como se nada tivesse acontecido. Quando perguntei se tava tudo bem ela disse que sim.
— Então deve estar tudo bem, para de ser paranoico.
— Não tá, eu a conheço. Sempre que quer ignorar algo ela da um sorriso neutro e segue em frente.
— Tenho certeza que é coisa da sua cabeça, Morgana come na sua mão.
— Eu não tô falando da Morgana. — Honey levantou o olhar alarmado, inclinou o corpo para frente. — Jackie, tô falando dela.
— A sua babá? — tossiu um nuvem de fumaça.
— Ela não é minha babá.
— Demorou no carro conversando com ela? Você pirou de vez.
— Sim, queria ter certeza que estávamos bem. — deu de ombros sem entender a estranheza do amigo.
O gerente pulou um espaço no sofá e tirou o copo da mão do amigo, tomou o último gole do whisky para si e deixou o recipiente vazio na mesa.
— Seja lá qual merda você esteja planejando fazer pode parar.
— Hm? — sorriu desconfortável. — Não é isso que você tá pensando.
— Bom que não seja, a sua dona é outra e ela não vai ficar nada feliz em saber que você ta preocupado demais com a tua relação com uma das funcionárias dela.
— Jackie é minha amiga, só isso.
— É melhor que seja mesmo, irmão. — levantou-se dando a volta no sofá. — Não vai querer foder com isso.
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Atravessou a porta giratória carregando o copo de caramelo macchiato entre os dedos, o cheiro de caramelo imediatamente melhorava seu humor, havia demorado um tempo considerado e desnecessário na cafeteria a frente da empresa. Jurou a si mesma que aquilo era pelo bem da sua saúde mental. Não queria pensar no que viu, menos ainda no pedido de desculpas que espreitava sua mente.
Tomou um belo gole passando por Susan, desejou boa tarde e não lhe deu tempo de fazer qualquer comentário desagradável. Esperou o elevador descer no andar coorporativo e saiu caminhando em direção a uma seção animada. Animada demais para o seu gosto. Tomou outro gole varrendo o ambiente com os olhos afiados.
Brian e Joanne estavam conversando em um canto, segurando taças do que parecia ser espumante. Olhou para o relógio ás suas costas. Quem toma champanhe as cinco da tarde em plena terça feira?
— Fofinha! — a voz de Morgana soou a sua direita, já parecia alterada. — Nós conseguimos! — os dedos finos lhe apertaram os ombros simulando um abraço que não era desejado por nenhuma delas.
— Conseguimos o que?
— Eles querem comercializar a nossa fragrância. — a lembrança da ligação a fez sorrir largo, alegre e em choque. — Vamos apresentar o produto final para os acionistas, em outra cidade. Se tudo der certo assinamos o contrato no mesmo dia. — os olhos normalmente apáticos da mulher brilhavam. — Arrume suas coisas fofinhas, nós vamos fechar um contrato milionário.
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