🌻 Rᥱᥲdყ To Bᥱ: A babá
Jackie ama seu trabalho. Exceto pela sua chefe que é uma megera. As horas extras não remuneradas. A distância que tem que percorrer todos os dias. O pessoal barulhento do setor ao lado. O cretino do recepcionista que nunca acerta seu nome. A máquina de café que sempre esta uma medida maior que a sua xícara e claro, o gigolô da sua chefe, de quem tem que cuidar.
Não se lembrava de ter assinado em seu contrato de trabalho, que além do cuidar das redes de comunicações da empresa teria que ser babá de um homem feito e barbado. As vezes se perguntava se não havia deixado algo passar nas entrelinhas do papel assinado a frente de Morgana, isso explicaria muita coisa.
Desenhou um sorriso no rosto no instante que a chefe adentrou sua sala com os saltos absurdamente altos, o vestido colado no corpo colado e cheio de cirurgias - não que isso fosse da sua conta - só que que quando se movimentava parecia uma boneca Barbie toda travada de tanto puxar, cortar e costurar aqui e ali.
— Tenho um evento importante hoje, vá buscar Shownu naquela espelunca e o traga até a minha casa ás oito. — ditou segurando a nova bolsa Prada no braço esquerdo, como sempre exibindo seus bens mais valiosas. Estava de saída em seu dia, afinal ela é a chefe. Baixou o óculos escuro e abriu um sorriso quadrado sem muita emoção. Jackie as vezes pensava em avisar que ela deveria parar com o botox, mas não achava que ela iria ouvir.
— Claro Morg, mais alguma coisa? — responde no mesmo tom falso amigável que usava a anos. Amar o seu trabalho, não a obrigava instantanêamente a amar sua chefe.
— De jeito nenhum. — girou o calcanhares se virando para sair, a dona da sala já retornava sua atenção a tela do computador quando a mulher resolver voltar a sala. —Na verdade, preciso que a apresentação da nova fragrância seja adiantada para amanhã, se importa se chegar um pouco mais cedo querida?
Inflou o peito com a palavra "não" implorando para se formar na ponta da sua língua, seria um prazer negar aquilo a ela, especial depois de ter chegado cedo e saído tarde todas os dias naquela semana.
— Claro que não, querida. — disse apertando a calça de alfaiataria que vestia, por baixo da mesa. Sua chefe deu uma risada simpática, seu rosto virou um careta sem ela saber.
— Obrigada Jaqueline, você é a melhor fofinha.
Ali estava algo que ela odiava com todas as suas forças, ser chamada de fofinha. Esperou a mulher virar de costas e rolou os olhos com tanta força que por pouco não foram parar na sua nuca.
Assim que ficou sozinha na sala pôde respirar em paz. Tirou o pacote de salgadinhos de dentro da gaveta lateral e relaxou na cadeira apertando a tecla que voltava a transmitir o episódio da sua serie favorita no momento, todo seu trabalho do dia estava feito e com a megera dando o fora certamente não teria mais o que fazer, como ainda precisava cumprir seu horário permaneceu ali.
Até faltar um minuto para seu expediente acabar, claro.
Eram 17:59 quando fechou a porta atrás de si e caminhou nos saltos médios, calça preta e o blazer verde neon que usava. Cruzou com uma colega de trabalho no elevador, Susan era alta, bonita e italiana. De longe uma das mulheres mais magníficas em termos de beleza no prédio e ainda sim extremamente antipática.
— Jaqueline. — a cumprimentou sem ao menos olhar no seu rosto.
— Susan. — respondeu nenhum pouco instigada a começar uma conversa, só queria ir embora.
— Gostei do blazer. — Jackie ergueu a sobrancelhas prestes a reconhecer um milagre quando a boca cheia de gel continuou a falar. — Talvez tente uma cor menos chamativa da próxima vez, te deixa maior. — soltou com a mesma sutilidade que uma pessoa normal lhe deseja bom dia.
A questão é que Jaqueline já não se abalava com aqueles comentários, não mais, havia passado pela fase em que um comentário infeliz estragava seu dia ou a fazia duvidar do quão bonita era dentro das suas medidas imperfeitas para a sociedade e perfeitas para si mesma.
— Obrigada pelo conselho. — ditou olhando para a porta do elevador que se abria vagarosamente. — Amei sua saia, talvez tente um tamanho maior da próxima vez, essa te deixa com cara de vagabunda barata, como quando te pegaram fodendo com o cara da T.I. no almoxarifado.
Saiu da caixa de metal indo em direção a saída do prédio. Passou pelo porteiro o ouvindo chamar de Carol desta vez, depois de três anos chegou a conclusão que ele fazia aquilo por puro prazer. Ás vezes lhe mostrava o dedo do meio mentalmente para saciar sua irritação.
Entrou no carro estacionado na padaria á frente da empresa colocando no GPS o endereço já conhecido por si, mas dado ao horário preferia descobrir qual o melhor trajeto. Dirigir era uma das suas coisas favoritas no mundo, lembrava seu pai, um piloto de corrida falido, mas com muito talento. Ele se orgulhava das habilidades da filha, não muito da pilha de multas que tinha em seu nome, mas isto era apenas um detalhe.
Tantos carros passam por si que tinha a impressão de que ia no sentido contrário de todos, afinal, enquanto a maioria dirigia em direção as suas casas na pacata cidade Santa Clara, ela ia em direção a uma zona comercial e mais frequentada aos fins de semana.
Avistou a fachada em marrom envelhecido e vermelho lustroso do prédio de três andares, luzes neon em laranja piscavam chamando clientes e anunciando o nome do lugar Clube Fantasia. Uma boate cinco estrelas direcionado ao público feminino, no entanto, havia um pouco de tudo.
Na primeira vez que entrou ali, sem qualquer aviso, para buscar o gigolô, tomou um baita susto. Homens sarrando em sua cara, peitos nus balançando na sua boca e bundas de todos os tamanhos, formas e cores para sua escolha. Era um lugar para encontrar e ter prazer, pagos para satisfazer seus clientes e deixar o público e puro júbilo. Haviam performances sensuais, com e sem roupa, quartos exclusivos e aluguéis.
E o da chefe de Jackie estava a poucos metros, embaixo de um poste de pole dance, onde uma mulher de cabelo rosa e lingerie brilhante minúscula dançava. Ela era linda, curvas volumosas e pele amarelada cintilante.
Chegou por trás do conhecido e lhe deu um tapa na nuca. Além de ser o cachorrinho pessoal da sua chefe, eles também haviam se tornado amigos, ou quase isso.
— Sua mommy precisa de você hoje, vamos.
— Olá minha doce Jackie. — falou abrindo um sorrido orelha a orelha e ficou de joelhos no sofá em formato de "C" virando toda a sua atenção a mulher. — É bom te ver também, como vai?
— Sem tempo para isso, vamos logo. — lhe deu um tapa no braço e teve a mão surrupiada por ele que lhe agarrou a palma trazendo a mão a sua boca deixando um beijo. — Argh, estou te esperando lá fora.
— O que te deixou de mal humor meu doce?
— Carro! — desvencilhou sua mão da dele e se afastou andando de costas para a saída. — Agora.
Bancar a babá as vezes a deixava de mal humor, estava entre as cinco coisas que a faziam cogitar pedir demissão. Sabia que a única razão pela qual Morgana lhe mandava ali era por que confiava que ela nunca contaria que o namorado que exibia por ai era um prostituto, ela era a única que sabia onde e como o encontrar além da sua chefe. A tornando indispensável e também cuidadora especial.
E o outro motivo era um tanto quanto incomodo. De todas as mulheres no alcance e de confiança da sua chefe, ela era a única, aos olhos dela que não demonstrava ameaça qualquer uma. Já a ouvira dizer saber que Jaqueline simplesmente não fazia o tipo de Shownu. Talvez por isso ela simplesmente já não dava a mínima de como estava na frente dele, ao menos estando consciente.
— Onde vamos? — disse entrando no veículo, usava calça social, uma camisa branca de botões abertos até o abdômen e estava suado.
— Por que sempre entra no meu carro suado? — perguntou incrédula. — Vamos para minha casa, precisa de um banho.
— Sempre estou suado pois venho correndo para você. — soltou arrancando uma risada zombeteira da mulher.
— Você bebeu, não foi?
—Só um pouco docinho. — afastou o polegar e o indicador mostrando o quanto havia bebido. — Nada que um café não resolva.
— Vai acabar perdendo sua sugar mommy se continuar assim.
—Tudo bem, tenho certeza que você vai me adotar se isso acontecer.
— Olha bem pra minha cara, eu pareço alguém que cuidaria de um marmanjo desses de graça?
— Tem razão. — concordou enquanto a ouvia girar a chave na ignição. —Nessa caso eu posso cuidar de você.
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Passa das sete e meia quando o homem desceu as escadas da pequena e confortável casa suburbana de Jaqueline, já não cheira a álcool e vestia roupa nova e limpa. Um terno alinhado, belo e consideravelmente caro, afinal Morgana não admitiria menos. Faltava apenas a gravata que ele dizia não saber como colocar.
— Jackie, me ajuda. — pediu em um tom manso abordando a mulher que atravessava a casa com um balde de pipoca nos braços, enrolada no roupão com estampa de girassóis. Ele a achava adorável vestida daquela forma, sempre se via as margens de um desejo oculto de saber o quão fofo era aquele tecido, talvez agarrá-la.
— São cinco dólares. — ditou fazendo a cobrança de sempre, apesar de nunca ver a cor desse dinheiro.
— Vai mesmo arrancar dinheiro de um pobre coitado como eu?
— Você não tem nada de pobre, menos ainda coitado. — deixou o balde na mesinha atrás do sofá e se esticou para colocar a grava envolta do seu pescoço. Não demorou a sentir o olhar do homem sobre si. — O que é, tem pipoca no meu rosto?
— Pipoca não, mas beleza... — suspirou sem dar bola as palavras dele.
— A mulher que te paga para dizer essas coisas não sou eu, pode ir parando.
O dono de olhos médios e afinados suspirou sentindo-se derrotado, para variar. Não gostava quando Jaqueline o lembrava da relação movida a dinheiro que tinha com sua chefe, era uma verdade inegável e conhecida pelos seus amigos, mas ela era a única que o deixava incomodado ao ditar qualquer coisa relacionada a isso.
— Posso ficar no seu sofá quando voltar?
— Não. — deu duas batidinhas no seu ombro ao terminar de fazer o nó em sua gravata.
— Por favor. — pediu fazendo bico, Jackie o encarou enrugando a testa. — Minha casa esta uma zona, eu não aguento mais o cheiro que vem do quarto do Chang.
Puxou ar aos pulmões vendo aquele par de orbes castanho médio lhe encarando, como um cachorrinho pidão.
— Tá, mas eu saio cedo, então nada de chegar fazendo barulho.
— Pode deixar docinho.
Ficaram parados ali, encarando um ao outro em silêncio. Aquela situação sempre era estranha, ás vezes Shownu se agarrava a presença de Jackie como se não quisesse ir ao encontro da mulher com quem realmente tinha uma relação. Já Jackie nunca se deixava levar por essa sensação. Afinal ele era um baby, e ela a amiga gorda que não apresentava nenhum perigo, só precisava mantê-lo inteiro e limpinho para sua chefe. Era assim que pensava.
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