A batalha da planície de Nain
A companhia e Kate fizeram uma reunião com uma pausa na batalha onde ainda conseguiam manter um sítio bem acirrado na fortaleza de Riktor. Aquele dia não tinha sido bom igualmente aos anteriores, pois perdera muitos amigos, a moral de todos estava baixa. Ela mostrou o mapa entregue por Baldoc quando ainda lutava naquela muralha e explanou todas as notícias da batalha, na qual o inimigo estava reagindo. Nos primeiros dias foi pego de surpresa, desprevenido sofreu bastante, contudo resistiu e despertou. Mais preparado, começava a somar as primeiras vitórias no campo de batalha. Seus soldados motivados pelo covarde ataque surpresa de Baldoc, quando este senhor maligno de Lived recuou seus homens, deixando a pior frente na mão de Kate com os seus. Ela que não teve muita escolha, lutava com muita bravura, contudo seus números menores e sua posição desprivilegiada fora da grande muralha do forte mais armado de Alcalim, detendo suas investidas, frustrando todos os seus planos e começando a apresentar os primeiros indícios de uma derrota quase que certa.
Os norabitas analisaram o mapa, Guilhe assumiu o comandando como general eleito na reunião, era o mais experiente em guerras. Pela infidelidade do Senhor de Lived, ele mandou retirar todos os soldados do flanco oeste, desprotegendo a retaguarda de Baldoc que estava no portão do ocidental, que era distante, nada obstante, nunca faria aquilo com seu próprio povo.
Enviaram mensageiros avisando sobre a passagem do adversário pelo lado oeste. Com aquela tropa sobressalente, que antes se espelhava pela planície de Naim, reforçou a parte central que ficava próximo ao acampamento. O portão já se encontrava derrubado e o efeito da mudança de tática foi rápido. Com aquele espaço dado ao inimigo no oeste, criou-se uma sensação de vitória adversária que a preencheram rapidamente. Quando Guilhe viu o efeito da manobra e oportunamente ordenou que fizesse uma coluna como uma cunha, entrando no portão pela ponte para dividir os alcalimitas que foram empurrados e os que resistiram morreram com a bravura, após este renovo da tropa motivada por seus novos capitães.
Rave e sua companhia partiram para aquela nova frente de batalha, deixando Guilhe no centroeste, para não deixar que voltassem, e Kate pelo leste, que estava quase dominado.
O exército inimigo não possuía cavalaria naquele ponto, os sete entraram a cavalo com tanta fúria na batalha que em poucos minutos dividiram os homens do Rog e alcançaram a soleira do portão. Todos do exército aliado vendo aquela mudança repentina, quando aqueles homens altivos e ferozes em cavalos enormes, trajados como reis de contos antigos, com malhas e elmos belos e ao mesmo tempo terríveis, que derrubavam tudo que vinha pela frente, ocasionando um efeito destruidor naquela defesa antes solidificada depois da ausência de Baldoc.
Os alcalimitas recuaram deixando uma grande porção isolada do lado de fora, que foram perseguidos por Guilhe e Kate ao oeste e leste respectivamente. Ela fez muitos prisioneiros, mas ele, devido ao ódio que sentia pelos homens do norte, matou todos em uma fúria que acabou muito longe das muralhas de Alcalim.
O portão, a ponte e todos os acessos da parte superior do grande muro fora dominado, a parte interior do castelo foi toda abandonada e os poucos soldados que ficaram foram pegos de surpresa quando o forte foi totalmente tomado. Ao amanhecer, se reuniram no acampamento e foi aí que todos os homens viram sobre a luz do dia o rosto daqueles jovens. A sangrenta noite vitoriosa deixara um orgulho na virada da batalha a favor de Lived que ainda com a empolgação do triunfo, não percebera que as mortes foram demasiadamente grandes também do lado amigo.
Havia muitos soldados, caçadores de menor expressão de Baldoc que não aceitaram sair da batalha por Kate, ademais pessoas simples do povo que no momento da saída de Baldoc, não abandonaram aquele fronte pelo calor da batalha e medo de ficar ao lado daquele senhor maligno, não porquanto possuíssem algum amor pela irmã de Rave. Guilhe foi o último a chegar com aqueles caçadores de Lived e, se existe algo que une os homens, isto é a guerra. Aqueles que estavam sob o comando do primo de Enzo, ficaram muito ligados pela luta, ele tinha perdido muito poucos e destruiu todos os inimigos, o que fez dele reverenciado naquele acampamento no seu primeiro dia seu na campanha contra Rog.
Chamavam-no de leão amarelo e em pouco tempo, todas as frentes já conheciam seu nome. Foi dado ordens para providenciar um fim digno para os mortos amigos e inimigos, para cuidarem dos feridos também, um hospital foi montado, o que ainda não tinha. Separaram os grupos de soldados por tamanho, experiência com armas, arqueiros, lanceiros, mensageiros, curadores e rancheiros. Deixado todos os pelotões ao comando de cada um da companhia. Kate ficou responsável pelo acampamento, o que a deixou furiosa, mas Guilhe insistiu veemente, pondo seu posto de general a prova. Ela aceitou e no fundo gostou daquela proteção, porque se afeiçoara muito a ele. Quando Tuca fez uma piada com a situação, deixando Guilhe com as bochechas vermelhas e muito sem graça.
Depois de tudo organizado, Kate percebeu a ausência de Doge, ficaram imaginando o que teria feito sumir, foi quando um dos garotos que Guilhe salvara a vida e era comandado pelo que sumira, chamou-os e contou a verdade. Eles se reuniram e não sabiam o que fazer, tinham agora um exército a frente e possivelmente um vindo de trás.
Analisaram a situação da parte da muralha dominada e era assim: existia um castelo que fora abandonado e, uma pequena guarnição de aproximadamente uns cinquenta homens antes de outro portão interno que já se encontrava fechado pelos fugitivos da investida da noite anterior, que bloqueava o retorno daqueles soldados para o interior da cidade.
Negociou-se a rendição daquele posto, o que foi muito fácil. A tarde já avançara e eles tomaram com facilidade aquela muralha interna, abriram o portão e viram que não tinha alcalimitas por aquela saída. Destruíram todas as escadas de acesso para a parte superior que vinha de dentro da cidade para fortaleza, fecharam novamente este portão de dentro pondo muitos reforços na estrutura e depois fizeram uma ponte de madeira ligando a muralha interna que separava a cidade do forte com o muro externo, onde neste ponto poderia ser de muita serventia a passagem criada, pois em caso de uma fuga, na possibilidade de entrada do exército de Baldoc pelo portão principal.
Depois de todos os preparativos da defesa do castelo, retiraram todo o acampamento e instalaram-se dentro das muralhas. Foi um trabalho em equipe como nunca o povo do norte tinha participado, eles não entenderam a proteção externa, inclusive a reforma do portão principal, todavia depois de alojados, sentiram-se mais seguros.
Colocaram os soldados da confiança de Kate na muralha externa e o restante na muralha interna. Posicionaram batedores a alguns quilômetros de distância para avisar a chegada do exército, e na madrugada após todo serviço estar pronto, comeram e descansaram bastante.
O castelo na verdade era uma fortaleza que se chamava Riktor, guardava o grande portão do leste que seguia uma estrada para Lived e outras cidades menores. Era o portão mais movimentado e a maior destacamento militar de Alcalim. Baldoc sabia de sua importância e da grande guarnição que ali ficava. Mil e quinhentos homens serviam naquele posto. Ela pertencia ao general Bulito, que era amigo de Rog, entretanto já estava velho e não sofria ataques a muitos anos, desde uma revolta dentro da própria cidade que foi esmagada brutalmente por ele.
De lá, saiam muitas expedições para o sul, leste e oeste, a maioria para controlar as colônias, uma delas era Lived. Havia um grande pátio externo e casas para os oficiais na parte alta. Na baixa viviam os de menor escalão e alguns prostíbulos autorizados pelo general, o castelo era sua residência.
Havia três torres de vigilância; uma para o leste, outra para o sul e mais uma para o oeste. As duas últimas tinham saídas para a muralha, e o castelo ficava na base das Montanhas Naim. A parte leste ficava em cima de uma rocha lisa que o protegia naturalmente. O general vivia na parte superior com suas muitas mulheres, filhos e servos, porque nas baixas eram os arsenais, salas de oficiais e no subterrâneo ficavam os calabouços onde Kate libertou todos os presos, quando alguns ficaram para lutar.
Ela conheceu muita gente interessante naquelas masmorras, homens da ciência, revolucionários, anciãos de muito conhecimento, religiosos e criminosos. Os últimos foram deixados a sua própria sorte, os demais ela reuniu, deixou Tala responsável por eles, porém não estavam presos, somente foi pedido para passarem todo o conhecimento que tinham, e se quisessem depois, poderiam partir.
Muitos ficaram e foram tão bem tratados por Tala que possuía uma áurea angelical magnetizadora, onde aqueles que procuravam sua sincera amizade passavam a ser servos por um amor fraternal que jorrava de ambos, de uma forma que quase todos resolveram juntar-se a eles nas demandas do grupo de Kate, que ainda não estavam bem estabelecidas, salvo o fato de se apartarem de Baldoc e de fugirem do norte do mundo, isto notava-se bem claro. Um desses mestres anciões, o mais importante deles, chamava-se Deutro, um homem muito velho que conhecia todas as tradições da época dos reis antigos e amigo de um companheiro de cela da irmã do caçador, intitulado Talode.
O dia amanheceu chuvoso, com muito vento e a temperatura caiu bruscamente. Acalim era no extremo norte e aquela parte da cidade ficava colada na montanha. O inverno estava próximo e faltavam poucos dias para sua chegada, quando chegasse, a guerra iria ter que parar, pelo menos nos campos, ou todos seriam derrotados pelo tempo. Baldoc não era um bom estrategista e a sua ansiedade de poder poderia ser a sua derrota. Kate percebeu e enviou espiões por dentro da cidade para ter notícias do oeste.
Depois da metade do dia, reuniram todos os dez capitães e a companhia de Rave, que discutiriam assuntos sobre que decisão iriam tomar. Decidir-se-iam continuar com a ofensiva ou esperar-se-iam por Baldoc? Eles estavam resolvendo, quando um representante do senhor de Alcalim entrou na sala e falou sem ser autorizado, passando pela guarda como se não tivesse ninguém.
- Meus espiões descobriram um plano do exército de Lived para invadir o castelo... queremos uma aliança?
- Quem é você e como entrou aqui? Perguntou Guilhe.
- Há muitas passagens secretas neste castelo, aqui é nossa casa, ou pelo menos, era.
Rave pediu um tempo, mas ele insistiu que não teriam. Eles estavam confusos, passaram tanto tempo trabalhando em suas defesas, que esqueceram de tentar descobrir como estava a outra frente de batalha, então pediram até o final do dia, e o negociador aceitou.
Estavam jogando com a sorte, esperavam os relatos dos espiões que foram para o leste na manhã daquele dia ou do batedor confirmando a marcha do exército livedita para o forte. Antes de anoitecer, a notícia chegou dos dois lados, os espiões falaram que o senhor de Lived tinha entrado pelo portão oeste, e também o batedor relatou que este exército junto com a guarda pessoal de Baldoc estava marchando agora para o leste por dentro da cidade. A sorte virara para eles, porque devido o inverno estar chegando, e pelos espiões inimigos já estarem sabendo do fortalecimento das defesas do castelo, assim como a presença de guerreiros desconhecidos que fizeram grande fama na guerra, até mesmo no lado oeste da muralha, na campanha de Baldoc, isto o fez repensar.
Leão amarelo, este era o grande nome da campanha vitoriosa do leste, conquista que o senhor de Lived jamais imaginara acontecer, pois seus planos eram de ver Kate e seu grupinho morto. Com este desfecho surpreendente, juntamente com a volta de Rave aliado a guerreiros de grande força, fez com que o exército de Lived procurasse abrigo dentro da cidade pelo acesso do portão oeste que foi tomado e deixassem por último, aqueles que achavam que os tinham traído e estes eram Rave e Kate, quando fora tudo relatado por Doge.
Malec o Caçador aceitou a proposta com uma condição, deixariam o castelo, contudo não trairia o povo de Lived, e a oferta foi aceita. Mandou todos os homens de Baldoc que tinha ficado com eles no leste irem embora, alguns até contra suas vontades, queriam lutar principalmente com Guilhe, mas ele não falou os motivos e disse que eram ordens de cima onde não poderia contestar. Então, partiram contrariados, entretanto foram para o leste mesmo assim.
Ao amanhecer do dia seguinte, faltava menos de duas semanas para o inverno e eles estavam muito ao norte, teriam que partir com todo aquele povo imediatamente. Havia um contingente de umas quinhentas pessoas, mesmo com a saída dos que se juntaram a Baldoc a pedido de Rave, além dos muitos feridos. Não dava para pensar, partiram pela estrada deixando o portão interno fechado para que, se houvesse uma traição no acordo, ganhariam um tempo na retirada.
O clima estava piorando, a marcha era lenta, os batedores de Baldoc partiam o tempo todo para o oeste para avisar da fuga. Depois de dois dias chegou um de seus representantes querendo informações do motivo pelos quais abandonaram a guerra e suas intenções com Lived. Na parte que o mensageiro falou sobre a cidade, Kate percebeu uma certa ansiedade pela resposta esperada pelo mensageiro e ela perspicaz, pensou muito rápido, pois era inteligente e astuta. Então falou para este homem de Baldoc sem consultar a ninguém dos seus, pois não perderia tempo, porque ele poderia saber que ela notou que seu senhor estava com medo, por suas próprias palavras proferidas. Não tinha ninguém para defender a cidade daqueles guerreiros, visto que no seu orgulho ou por condição climática, ele retirou seu último exército dos campos, desguarnecendo totalmente a cidade, então a irmã de Rave falou.
- Não faremos guerra a Lived, não somos traidores. Mas, libertaremos todos os presos e levaremos conosco todos que quiserem fugir da opressão e tirania desse senhor maligno. Ou acha que não sabemos que seríamos mortos?
Todos olharam para ela, suas palavras eram tão fortes e verdadeiras, que deixou aquele homem com medo. Rave se apresentou logo entre o povo e aquele soldado, pois previu a atitude do povo, que já perderam muitos com a guerra.
- Não somos covardes! Gritou Rave assustando a maioria com sua atitude repentina.
- E os que quiserem partir comigo, não poderão levar o mal do norte para o sul, pois lá não existe traição, covardia ou qualquer coisa ruim que vimos por toda a nossa vida em Lived. Daqui para frente não permitirei que nada, digo nada de Lived vá para o sul. Todos ficaram calados, o mensageiro voltou, e eles prosseguiram para a cidade.
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