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Sebastião adormecera esperando por Simone, era um sono leve, ele ainda conseguia ouvir o ruído da chuva caindo, mas agora ele parecia estar vindo de muito longe.
De repente ele ouviu gritos e despertou. Sentou-se e aguçou os ouvidos.
Devia ser apenas sua imaginação, um devaneio por causa do sono.
Sebastião ouviu o grito novamente e então deu-se conta de que não estava sonhando. Alguém estava gritando no meio da noite chuvosa e pareciam gritos de pânico.
Uma certeza o atingiu como uma flecha.
"Simone!"
Sebastião se vestiu, pegou uma lanterna e saiu da barraca. A chuva diminuíra mas não havia parado.
Felipe também saiu da barraca com uma lanterna, pouco depois Tiana e Juliana também fizeram o mesmo.
— O que está acontecendo? Quem está gritando?
sebastião ignorou a pergunta.
— SIMONE!!
— Foi a Simone quem gritou? - Perguntou Tiana.
— Eu acho que sim.
— O que ela faz aqui fora? - Inquiriu Felipe.
— SIMONE!!! CADÊ VOCÊ?!!- Gritou Sebastião mas sua voz parecia não alcançar dois metros.
Darlene saiu da barraca.
— Gente. Que gritaria é essa?!
— Não foi nada- disse Felipe. - Fique ai dentro- Olhando para Sebastião:- Pra onde ela foi cara?
Sebastião apenas o fitou e se aproximou da cachoeira. Não dava para ver muita coisa no meio da escuridão.
— SIMONE!!
Ele começou a caminhar em direção à floresta.
— Espere Tião- Disse Felipe - vou com você.
Ele olhou para trás de onde as mulheres observavam quase sem entender:
— Fiquem aqui, a gente já volta.
Sebastião e Felipe embrenharam- se no matagal.
Sombras escuras ocultas no meio da noite. Era tudo o que eles conseguiam ver no meio da imensa floresta. Era um cenário macabro que chegava a dar arrepios. Mesmo assim
Sebastião sabia que era apenas uma floresta e o que ele queria era encontrar Simone.
— O que... O que realmente aconteceu, Tião? - Felipe ainda estava meio sem entender o que estava acontecendo, se é que estava mesmo acontecendo.
— A Simone saiu na chuva para mijar. Eu acho... Acho que aconteceu alguma coisa com ela.
— Será que ela caiu dentro d' água?
Sebastião olhou preocupado para Felipe.
— Espero que não.
Felipe olhou à sua volta tentando iluminar a floresta à sua volta.
— Cara, a chuva está aumentando. Eu acho melhor a gente voltar.
—Volte se quiser. Eu vou procurar a minha namorada.
Sebastião avançou pela trilha.
Felipe olhou para trás vendo a claridade dos lampiões lá no acampamento, apenas um ponto difuso em meio à escuridão da floresta.
—Merda!
Olhou para a frente. Sebastião já havia desaparecido no meio da noite.
— Sebastião! Mas que merda!
Felipe começou a andar.
A tempestade desabava toda a sua fúria sobre a noite. Certamente não era uma boa ideia andar no meio do mato com aquela chuva toda caindo. O sensato a fazer seria voltar para o acampamento e deixar que Sebastião se fodesse. Afinal era a namorada dele e não a sua.
Mas ele continuou avançando pela trilha.
Não havia nem sinal de Sebastião em parte alguma. Aliás, não havia nada, apenas a escuridão e a tempestade.
Um trovão sacudiu a floresta, relâmpagos revelaram o que estava oculto na escuridão.
Felipe estremeceu. Não era bem medo, mas uma estranha sensação de que as árvores, ou alguma coisa em meio à elas o estava observando.
— Tião! Cadê você cara?!
"Mas que merda! Devia ter ficado na barraca trepando com a Darlene."
Felipe virou à direita e de repente a trilha acabou. Ele se viu em um beco sem saída. À frente havia um córrego.
Ele viu uma sombra de pé diante do córrego.
À principio pensou em sair gritando e correndo, mas então ponderou que só podia ser Sebastião.
"Deus do céu! Tem alguma coisa errada com ele!"
— Caralho cara! Você me deu um susto.
"Tem alguma coisa errada! Tem alguma coisa errada!"
A sombra olhou para Felipe e ele sentiu seu coração parar por alguns segundos.
Não havia rosto, mas havia olhos (ou ao menos parecia). A sombra
(não era uma sombra) parecia ser feita da própria escuridão.
— Ei Felipe!...
Felipe olhou para trás e viu Sebastião, e de repente seus olhos arregalaram- se de maneira descomunal deixando transparecer o medo.
Felipe sentiu alguma coisa cravando-se em suas costas e soltou uma golfada de sangue. Então ele foi puxado para a escuridão.
Sebastião começou a correr.
*****
Tiana estava com uma lanterna do lado de fora da barraca iluminando a floresta para ver se conseguia vislumbrar alguma coisa além da escuridão.
Minutos depois ela viu uma claridade difusa em meio à floresta e Sebastião surgiu correndo feito um louco.
— O que aconteceu Tião?
— Comessem a desmontar o acampamento. Temos que dar o fora daqui agora mesmo!
— Como assim? O que está acontecendo?
Juliana e Darlene se juntaram à eles.
— Onde está o Felipe?- Perguntou Darlene.
Sebastião olhou para elas assustado.
— Escutem. Eu não tenho tempo para explicar. Vocês precisam confiar em mim. Temos que sair daqui agora mesmo! Me ajudem a desmontar as barracas!
Sebastião começou a desmontar as coisas.
— Ei. Espere aí.- Bradou Juliana. — Como assim temos que ir embora. E Simone e Felipe, onde estão?
Sebastião a fitou com os olhos arregalados.
— Tinha... Tem uma ...uma coisa lá.
— Que tipo de coisa? - Inquiriu Tiana.
A resposta foi vaga. Sebastião tinha o olhar perdido.
— Não sei...
— Eu vou atrás do Felipe.
Darlene pegou a lanterna da mão de Tiana e começou a andar em direção à floresta.
Sebastião a segurou pelo braço.
—SE VOCÊ FOR LÁ VAI MORRER!
Darlene começou a chorar.
— Você está me assustando!
— Eu disse. Tem uma coisa lá, eu não sei o que é, mas precisamos dar o fora daqui agora mesmo.
Tiana olhou sombriamente para floresta e então começou a ajudar Sebastião a desmontar as barracas.
*****
Sebastião parou exausto e as mulheres fizeram o mesmo.
— Estamos perdidos.- Afirmou Juliana.
— Não estamos. Tenho certeza de que é a clareira em que deixamos o carro.
— Então onde está o carro? - Perguntou Tiana.
Sebastião não respondeu. Ele conhecia aquelas trilhas como as palmas de suas mãos não conseguia entender como fora se perder, porque ele precisava admitir: estavam perdidos.
— Merda!
— Acho que pegamos trilha errada lá atrás.- Sugeriu Darlene.
— Talvez seja isso. Vamos tentar voltar e pegar outra trilha.
Eles retomaram a caminhada.
*****
Tiana ouviu o som da cachoeira e começou a praguejar:
— Mas que merda! Andamos em círculo e acabamos no mesmo lugar onde estávamos!
Sebastião aproximou-se iluminando a água com a lanterna.
— Não é a mesma cachoeira.
— Como sabe disso?
— É a cachoeira do diabo.
— O que vamos fazer agora? - Perguntou Darlene aflita.
— Não podemos descer a cachoeira agora. Vamos acampar aqui. Amanhã descemos a cachoeira e saimos da floresta pelo outro lado.
— E quanto à Felipe e Simone? - Perguntou Darlene.
Sebastião não respondeu. Eles podiam sair pelo outro lado e voltar pela estrada até o posto dos bombeiros em Paraisópolis. À pé podiam levar o dia inteiro. Sebastião achava que a melhor opção era subir a montanha pelo outro lado e achar o lugar onde o carro estava estacionado. Com a luz do dia a probabilidade de se perderem caia a quase zero.
— Montem duas barracas e tentem dormir. Eu vou ficar de guarda.
Tiana se aproximou dele.
— Do que estamos fugindo Tião?
Sebastião a fitou com expressão grave no rosto. Por um momento ele vislumbrou aquela sombra que parecia se confundir com a negridão da noite.
— Eu ... Eu não sei.- Respondeu ele.
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