4
Danielly e Fabrício entraram na casa. Fabrício trancou a porta. Os dois abrigaram- se no sofá e ficaram ali um longo tempo. Danielly apenas chorava em estado de total pânico.
Fabrício levantou-se.
— O que está fazendo? - Exclamou Danielly. — Volte aqui!
— Está tudo bem. Eu só vou olhar.
Ele se aproximou da vidraça e olhou para fora. Viu apenas a chuva que caia sem dar trégua. Nenhuma sombra negra, nem um corpo.
Ele voltou ao sofá e abraçou Danielly.
— O que era? - Perguntou ela. - O que era aquela coisa, Fabrício?
— Eu não sei.
Não havia explicação. Apenas o medo.
Eles ficaram ali um longo tempo e adormeceram.
*******
Fabrício abriu os olhos acordando assustado.
Já era noite. A chuva ainda caia do lado de fora. Era o único som. A casa parecia uma tumba fria e silenciosa.
A sala estava imersa na penumbra. A única luz vinha da porta aberta do lavado, e dos clarões bruxuleantes dos relâmpagos que penetravam no interior sinistro da casa através da vidraça, revelando o que estava oculto em meio às sombras, produzindo sombras que pareciam dançar pelas paredes.
Alguém abrira a porta do lavabo e removera o cadáver de Gislene. Ele podia ver o rastro de sangue deixado no chão.
Havia algo ali. Estava dentro daquela casa agora. Algo que estava além da compreensão humana, algo que se escondia nas sombras e que era nocivo e perigoso. Um predador implacável. A casa não era um lugar seguro. Ali não havia lugar seguro. Era uma armadilha, uma arma de caça.
Ele olhou para Danielly e viu que ela ainda dormia.
— Danielly. Acorde. Temos que ir.
Danielly não respondeu.
— Acorde Dani.
Seu coração palpitou. Ele sabia exatamente o que acontecera. Não queria admitir, mas sabia que era verdade.
Fabrício mexeu em Danielly e sua cabeça pendeu para o lado, flácida.
Ele entrou em pânico.
Ela estava morta, como todos estavam. Agora ele era o único que ainda respirava.
Olhou para os seios dela. Eram seios lindos, seios que ele planejara chupar naquele final de semana. Agora estava tudo perdido, agora ele não conseguia sentir prazer ao olhar aqueles seios, havia apenas o medo.
Fabrício colocou a mão nos seios dela e foi descendo até parar no abdome. Havia uma protuberância pontuda ali. Ele sabia que era a ponta de uma lança. Sua mão ficou suja de sangue.
Fabrício sentiu o gelo da morte perto de si e viu uma sombra se projetando na parede.
Seus olhos percorreram a sala e pararam num canto escuro perto da escada.
Havia mais uma sombra ali. Ele viu olhos brilhando no escuro.
Fabrício jurou a si mesmo que nunca mais compraria uma fazenda.
Ele olhou de lado e viu uma lareira. Seus olhos pousaram sobre um atiçador de brasas.
Fabrício soltou um grito como se aquilo lhe desse forças e deu um salto passando a mão no atiçador.
A coisa também pareceu gritar. Fabrício viu a escuridão partir para cima de si e usou o atiçador sentindo que atingira alguma coisa.
Recebeu um golpe no peito e literalmente voou. Ele caiu sobre a vidraça que explodiu numa chuva de estilhaços. Fabrício sentiu dezenas de cacos entrando em seu corpo e caiu no pátio cimentado do lado de fora.
Em pânico ele rastejou-se para longe.
Fabrício olhou para a casa. Todas as luzes estavam acesas. Ele viu sombras por detrás de cada janela.
Fez força e ficou em pé. A dor em seu corpo era lancinante. Ele a ignorou e começou a cambalear para longe, completamente sem rumo em meio à escuridão da noite.
*******
O terror o impedia de pensar. Ele não sabia para onde estava indo. Tudo o que desejava era ir para longe daquela casa sinistra e terrível.
Assim ele avançou pela mata. Caminhou por um tempo que não tinha a menor ideia de quanto fora e viu um barranco.
A chuva continuava a cair, trovões bradavam furiosamente, e os relâmpagos clareavam a noite a cada segundo, revelando as árvores ocultas na escuridão da floresta, dando-lhe o aspecto de que estavam vivas, e que olhavam para ele com olhar de fúria.
Era um lugar assombrado. Um maldito lugar assombrado!
Ele deu três passos e deslizou pelo barranco indo cair em um pântano.
Fabrício bateu a cabeça em alguma coisa dura e mergulhou na escuridão.
*******
Fabrício despertou dando um grito.
"Por favor Deus! Que seja só um pesadelo!"
Não era. Era real.
Ele estava no pântano.
Já era dia. A chuva tinha parado e o sol brilhava forte.
Fabrício viu que a coisa em que batera a cabeça era a van que tinha desaparecido.
Olhou à sua volta. A floresta estava silenciosa, morta como tudo ao redor.
Ele contornou a van com uma certa dificuldade. Cada junta de seu corpo doía.
Viu Samara no interior da van.
— OH meu Deus! Samara!
Fabrício abriu a van e puxou Samara. Ela estava morta.
Ele começou a chorar.
— Não! Não! Deus, não! Samara!
Fabrício abraçou sua irmã. Era a última vez que a abraçaria.
Um ruído quebrou o silêncio da floresta.
A coisa estava vindo. A coisa que habitava a floresta e que ele não tinha a menor ideia do que era.
Ele precisava sair dali.
Deu um beijo em Samara e disse:
— Eu... Eu sinto muito.
Fabrício deixou Samara e avançou pelo pântano até conseguir sair dele.
Ele começou a correr pela floresta. Corria mancando, dando o máximo que seu fôlego conseguia suportar.
Parou e inclinou o corpo tentando puxar o ar para seus pulmões. Estava completamente exausto.
Ouviu o ruído e percebeu que estava em uma clareira.
Viu rostos escondidos entre as árvores.
— QUEM SÃO VOCÊS? O QUE VOCÊS QUEREM? ME DEIXEM EM PAZ!!!
Fabrício ouviu o que parecia ser o som de tambores e caiu de joelhos completamente vencido pela exaustão.
Olhou à sua volta percebendo que estava cercado por colunas de pedras erguidas em uma clareira no meio da mata. Ele balançou a cabeça. Aquele lugar parecia um templo.
Alguma coisa saiu da mata.
Fabrício viu uma coisa negra enorme diante de si.
Ele ouviu um chiado intenso como o som de uma turbina e olhou para cima. Havia uma coisa envolvida em uma intensa cortina de luz pairando acima das árvores.
Fabrício olhou para a coisa negra e de repente percebeu que estava olhando para si mesmo.
— NÃO...
Ele olhou para sua mão e percebeu que sua carne estava se desintegrando, esvoaçando-se como fumaça.
A coisa negra que tinha o seu rosto caminhou para a floresta e Fabrício foi envolvido pela luz, desaparecendo como névoa ao sol.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro