3
Juliana foi até a rodoviária buscar sua prima e seus amigos, que chegaram por volta das quatro da tarde do dia 23. As duas primas, que já não se viam há um bom tempo, abraçaram-se emocionadas.
— Nossa! — exclamou Paula. — Como é bom te ver, Ju!
— É bom te ver também, querida.
— Como você está?
— Eu estou bem.
— Está mesmo?
Juliana ficou meio sem jeito.
— Vou levando da melhor maneira que dá.
Paula sorriu.
Os outros que a acompanhavam eram Cleiton, marido de Paula, Aderval e a namorada dele, Dericéia. Eles já se conheciam bem e se deram um grande abraço coletivo.
Juliana sentiu-se bem. Pela primeira vez desde que tudo tinha acontecido, ela sentia-se bem e protegida. A presença daquelas pessoas a fazia sentir-se normal novamente; pelo menos por ora, as lembranças ficaram de lado, e ela só pensou em aproveitar a presença dos amigos, que só iriam embora na primeira semana de janeiro.
Abriu o porta-malas do carro e os ajudou a acomodar a bagagem.
Entraram no carro, e Juliana seguiu em direção à sua casa.
— Eu pensei que ia estar um frio dos diabos por aqui, mas me enganei — disse Paula.
Juliana sorriu.
— Nessa época do ano a temperatura é amena. Você tem que vir aqui na temporada para pegar o frio. Frio pra valer.
— Dizem que a cidade fica lotada na temporada — observou Aderval.
— E é verdade.
— E como vai indo a loja, Juliana? — perguntou Cleiton.
— Vai bem, graças a Deus.
— Você tem uma loja de grife, não é? — inquiriu Dericéia. — Foi a Paula quem me disse.
— É uma loja de malhas. A maioria dos produtos são vendidos para turistas. Mas eu não diria que é uma loja de grife.
— Preciso de um mapa da cidade — observou Paula.
Juliana a fitou.
— Para quê?
— Ora, temos que escolher nossos passeios diários.
Juliana sorriu e balançou a cabeça.
— Tem um no porta-luvas. Mas você não precisa de um mapa.
— E por que não?
— Porque eu sou o mapa.
Paula abriu o porta-luvas e arregalou os olhos.
— Meu Deus, Ju! Mas o que é isso?!
Paula pegou a pistola 380 que estava dentro do porta-luvas.
— Caralho! — exclamou Cleiton. — Você anda armada!
— É só para defesa pessoal. Guarde isso aí, Paula.
Paula a fitou.
— Tem certeza que está tudo bem, prima? — perguntou quase num sussurro.
— É claro que sim. Não se preocupe com isso. Eu nunca a usei.
Paula guardou a arma no porta-luvas.
Eles ficaram em silêncio.
E seguiram viagem.
*****
As imagens do sonho ainda estavam vívidas em sua memória durante todo aquele dia. O sonho terrível em que ela corria por uma floresta assombrada e de repente via a coisa na clareira.
Que coisa era aquela? Uma nave? Um disco voador?
Seria a coisa que os atacara na floresta, há um ano, um alienígena?
Juliana não costumava acreditar naquelas coisas, mas seria uma explicação plausível. E havia aquela coisa sobre a base secreta do governo.
Ela se lembrava muito bem do dia em que estavam indo para a Cachoeira do Diabo. Ela dormia no banco traseiro do carro e fora despertada por caminhões do exército. Lembrava-se de terem conversado sobre o que supostamente acontecia na base secreta lá nas montanhas. Sebastião, que dirigia o carro na ocasião, dissera que o governo fazia pesquisas sobre alienígenas na tal base secreta.
Alienígenas.
"Não pode ser."
Juliana ligou seu notebook e entrou na internet.
Ficou olhando a tela por alguns instantes. Coçou a cabeça, suspirou e digitou "base secreta do governo" sobre a barra de busca e clicou em "enter".
Nenhum resultado encontrado apareceu na tela.
Juliana suspirou novamente. Ela não esperava encontrar qualquer resultado de fato. Se era uma base secreta, com certeza aquilo não devia estar na internet para todo mundo ver.
Digitou "alienígenas" sobre a barra e apertou "enter".
Apareceram vários resultados.
Juliana leu alguns títulos:
"6 ESPÉCIES ALIENÍGENAS QUE ESTARIAM BRIGANDO PELO CONTROLE"
"NASA AFIRMA: VIDA ALIENÍGENA APARECERÁ EM VINTE ANOS"
"9 EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS DE QUE VIDA ALIENÍGENA PODE EXISTIR"
"AS APARIÇÕES ALIENÍGENAS MAIS INCRÍVEIS DA HISTÓRIA"
Juliana pesquisou sobre o assunto por quase uma hora, mas não encontrou nada que valesse a pena, nada que pudesse lançar luz sobre as dúvidas que povoavam sua mente.
"O que era aquela coisa?"
Um alien, uma criatura de outro mundo.
Se isso fosse verdade, poderia haver outros? Poderia o planeta estar sendo invadido por seres extraterrestres?
Era um pensamento absurdo, mas a enchia de medo.
Juliana digitou: "massacre na floresta".
Foi percorrendo os resultados até que seus olhos pousaram sobre uma manchete de jornal:
"MASSACRE NA FLORESTA: CINCO JOVENS MORTOS, APENAS UMA SOBREVIVENTE."
Juliana clicou em cima e começou a ler a notícia:
"Um crime até agora sem explicação. A polícia ainda não conseguiu solucionar a morte de cinco jovens em uma floresta nas imediações da conhecida Cachoeira do Diabo, na Serra da Mantiqueira, lugar comumente frequentado por praticantes de esportes radicais. A terrível chacina teve apenas uma sobrevivente, Juliana da Silva, que se encontra em estado de choque, internada em um hospital. O delegado Robson A. dos Santos, do primeiro DP de Campos do Jordão, espera esclarecer as mortes assim que tomar o depoimento da moça, o que deve acontecer assim que a junta médica que está cuidando da paciente julgar que ela está apta a prestar esse depoimento. 'Ela é uma testemunha direta do caso, e só ela pode nos dizer o que realmente aconteceu naquela floresta', disse o delegado."
Mas Juliana não conseguiu dar qualquer depoimento que pudesse esclarecer a chacina. Ela falava apenas sobre a terrível sombra que saía da escuridão. Eram apenas palavras sem sentido ditas por alguém que, segundo os psicólogos, levaria as marcas daquilo para sempre.
Ela ficou quase dois meses em uma casa de repouso, e quando saiu de lá, estava viciada em calmantes e antidepressivos. O terrível massacre da floresta tornou-se uma incógnita que fora arquivada sem qualquer explicação.
Um ano depois, Juliana ainda levava as marcas.
Ela as levaria para sempre.
Juliana fechou o notebook e suspirou, colocando as mãos na cabeça.
Sentia-se cansada e tensa, e, além disso, havia uma sensação estranha, algo que ela não conseguia explicar ao certo.
Saiu da cama onde estivera sentada e caminhou até a sacada. Apoiou-se na balaustrada, olhando a cidade ao seu redor.
Seus olhos pousaram sobre um carro parado bem na frente de sua casa.
Era um Opala preto, muito velho, quase caindo aos pedaços.
Juliana sentiu seu coração palpitar ao ver aquele carro. Uma forte e tenebrosa sensação de estar sendo observada se apoderou dela. Ela podia sentir os olhos do motorista daquela monstruosidade sobre rodas olhando diretamente para ela, mesmo através dos vidros escuros da janela.
Ela saiu da sacada e desceu até o térreo.
Encontrou Dericéia na sala.
— Juliana! Está tudo bem com você?
— Sim. Estou bem.
— Parece que viu um fantasma.
"Acho que vi um alienígena."
— Não é nada. Só preciso de um pouco de ar.
Juliana deixou Dericéia só e saiu da sala.
Caminhou pela varanda, descendo um lance de escadas até o gramado, e correu para o portão.
Saiu na rua e viu alguns carros parados ali, mas nenhum deles era um Opala preto caindo aos pedaços.
"Talvez eu esteja louca. Estou louca desde que a coisa aconteceu."
Juliana saiu dali e foi falar com Paula. Precisavam ir ao supermercado comprar os ingredientes da ceia de Natal.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro