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Érika abriu os olhos sentindo-os ofuscados pela claridade do dia que entrava pela vidraça.
Havia sol do lado de fora. Ela rezava para que a noite passada tivesse sido apenas um pesadelo. Mas não tinha tanta certeza quanto a isso, ainda sentia o medo.
Ficou ali deitada e escutou a casa. Silêncio total e absoluto. Ela quase podia sentir a casa respirar, mas sabia que quem respirava era ela. Casas não respiravam, eram objetos inanimados, sem vida.
Quem matou Gislene?
Era uma realidade que ela tinha que encarar. Uma realidade tenebrosa. Gislene estava morta e ela sabia que Samara também poderia estar.
Mas por quê? O que estava acontecendo ali?
Eram perguntas que ela não conseguia responder.
Ela se levantou e olhou no relógio vendo que passava das nove da manhã. Provavelmente os outros já tinham se levantado e estavam tentando chamar a polícia ou encontrar Samara.
Ela se levantou sentindo-se totalmente indisposta como se tivesse tomado todas na noite passada.
Caminhou até a janela e olhou para fora. Não viu nada a não ser a floresta.
Ela suspirou. Afinal tinha sido um erro fazer aquela viagem.
Foi ao banheiro e tomou um banho. Depois se trocou no quarto e abriu a porta.
Ficou parada à soleira, olhando para os dois lados do corredor. Depois, como se tomasse coragem, começou a caminhar em direção à escada.
Parou no hall do primeiro andar e olhou para cima, para o segundo. Olhou também para o outro lado onde havia um novo corredor e para o pavimento térreo. Dali se tinha uma boa visão da sala.
Seus olhos pousaram na porta do lavabo. Ela estremeceu.
Nada. A casa parecia um maldito cemitério, e ela parecia ser a única coisa viva ali dentro.
Érika ficou ainda mais aflita e começou a descer a escada.
Ela ouviu um ruído e olhou para cima. Viu alguém parado lá em cima, no patamar da escada, no segundo andar. Érika sentiu medo. Talvez fosse um dos outros. Sabia que Danielly e Fernando tinham escolhido quartos no segundo andar. Talvez fosse um deles, mas ela não estava tão certa disso. Érika viu uma coisa descendo em sua direção. Ela arregalou os olhos e desceu mais um degrau.
Abriu a boca e gritou.
Ela sentiu quando uma flecha atingiu sua cabeça e terminou de descer a escada rolando.
Érika ainda tentou ficar em pé, mas caiu e ficou imóvel. A flecha tinha traspassado sua cabeça e saído no queixo.
*******
Os outros tentavam tomar o café da manhã na sala de jantar quando os gritos ecoaram pela sala.
Eles saíram em disparada e pararam na sala.
Érika estava caída em meio à uma poça de sangue.
Danielly gritou e se abraçou à Fabrício. Rodrigo correu para socorrer Érika e viu que já era tarde demais.
Érika estava morta.
*******
Eles se reuniram na sala depois de terem vasculhado a casa e não encontrado absolutamente nada.
Danielly estava chorando, sentada no sofá com um copo de água com açúcar na mão.
— O que vamos fazer? - Perguntou Rodrigo.
— Precisamos ter calma. - Disse Fabrício.
Mário se levantou aturdido.
— Calma?! Você disse calma?! Estamos em perigo nessa merda de lugar! Tem um assassino solto por aí, e você vem com esse negócio de calma! Calma o caralho! Eu vou dar o fora dessa droga! Vocês que fiquem calmos se quiserem!
— Sabe o que eu acho? - Disse Rodrigo pensativo, e todos olharam para ele. — Acho que a Samara é o assassino.
Fabrício levantou-se indignado.
— O que foi que você disse?
— Pensem bem. Temos duas pessoas mortas aqui e a Samara está desaparecida. Quem me garante que ela não é o assassino?
— Eu vou partir a sua cara seu pulha!
Fabrício partiu para cima de Rodrigo que se levantou para se defender.
— EI VOCÊS DOIS!! - Gritou Danielly. — Parem já com isso! Ao invés de brigar, temos que pensar no que vamos fazer. Você já chamou a polícia Fabrício?
— Não tem sinal nessa droga de lugar!
Ele sentou-se suspirando.
— Fiz um péssimo negócio comprando essa porra de fazenda. Vou exigir meu dinheiro de volta assim que sairmos daqui! Merda!
Mário levantou-se.
— Aonde você vai? - Perguntou Danielly.
— Vou lá fora. Preciso espairecer.
Ele saiu da casa e desceu até o lago onde ficavam os bancos de cimento.
Mário tirou um maço de cigarros do bolso e tentou acender um. Suas mãos estavam trêmulas. Ele não queria admitir, mas estava se borrando de medo. Vir naquela viagem tinha sido a pior coisa que ele já tinha feito em toda a sua vida.
Ele sentou-se em um dos bancos e fumou olhando para a casa.
— Droga de lugar!
Mário decidiu que estava na hora de dar o fora dali. Ele arrumaria suas coisas e cairia na estrada. Com sorte estaria na cidade ao anoitecer.
Levantou-se e deu três passos em direção à casa.
Ouviu um ruído e olhou para trás
Mário viu um machado sobre o banco em que acabara de sentar-se, machado esse que não estava ali, ou ele estava ficando louco.
— Foda-se.
Por hora o importante era dar o fora daquela merda de lugar.
Mário voltou a caminhar e ouviu novamente um ruído. Parou pela segunda vez olhando para trás. O machado havia sumido.
Ele sorriu. Seria engraçado se não fosse loucura.
Ele olhou para a casa e seus olhos saltaram da órbita.
Havia uma pessoa (aquilo era uma pessoa?) na sua frente.
Mário levou uma machadada no meio da cara.
*******
A chuva voltou a cair de forma intensa e eles ainda continuavam na sala. Era como se estivessem amarrados, sem saber exatamente o que fazer.
— Onde está Mário? - Quis saber Danielly.
— Ele deve ter ido embora. - Respondeu Fabrício.
— Não deveríamos fazer o mesmo? - Sugeriu Rodrigo.
Os três se entreolharam.
Fabrício colocou-se em pé.
— Certo. Vamos pegar nossas coisas e dar o fora dessa merda.
Eles subiram e pegaram as coisas que tinham trazido.
Saíram da casa embaixo de chuva e foram caminhando pela aléia, sem olhar para a casa atrás deles.
Danielly acreditava em lugares assombrados. Talvez aquele fosse um. Sabe-se Deus o que poderia ter acontecido naquele lugar no passado. Talvez uma carnificina horrível. Os fantasmas povoavam aquela casa como se ela fosse o próprio inferno. Danielly sentia-se observada, como se alguém os espreitasse por entre as árvores da floresta. Aquilo lhe causava um medo profundo e intenso.
Ela enganchou-se em Fabrício, mas só sentiria alívio quando eles estivessem bem longe daquele lugar.
Eles caminharam uns quinze minutos em silêncio.
Rodrigo parou e arregalou os olhos. Ele começou a balançar a cabeça visivelmente desesperado.
— O que foi Rodrigo? - Perguntou Fabrício.
— NÃO PODE SER! NÃO PODE SER!
Rodrigo saiu correndo em direção ao portão. Fabrício e Danielly o acompanharam.
Então eles viram a causa do descontrole de Rodrigo.
Não havia mais portão. Não havia mais estrada. Não havia nada. Apenas uma imensa e intransponível barreira causada por um deslizamento, que bloqueava a passagem.
— NÃO! NÃO PODE SER!!!
Rodrigo abaixou- se desesperado e começou a coçar a cabeça. Danielly abraçou Fabrício e desatou a chorar.
Eles estavam isolados naquele lugar até removerem a barreira, o que levaria pelo menos uns três dias.
— MERDA!! - Gritou Rodrigo chutando o ar.
Ele olhou para cima e disse:
— OBRIGADO SENHOR, POR FERRAR COM A GENTE!!!
Danielly olhou para Fabrício e perguntou:
— E... E agora? O que vamos fazer?!
— Nós vamos voltar.
— VOLTAR PARA AQUELA CASA?!!!- Exclamou Rodrigo.
— Tem uma ideia melhor?
— Esse mato deve ter alguma trilha que nos leve para longe desse lugar.
Fabrício olhou à sua volta.
— A chuva está aumentando cara. Não é uma boa ideia andar nesse mato com chuva. Precisamos voltar e nos trancar dentro da casa até a chuva passar. Depois podemos quem sabe subir a montanha e procurar sinal de celular... Pedir ajuda.
— Eu não quero voltar lá Fabrício! - Disse Danielly, trêmula.
Fabricio segurou o rosto dela e lhe deu um beijo.
— Nós vamos ficar bem. Eu prometo. Temos que ir Rodrigo.
Ele segurou a mão de Danielly e começou a andar de volta para a casa.
Rodrigo olhou novamente para a barreira.p
— Que se foda! - Praguejou ele e seguiu os outros dois.
******
Havia uma pessoa sentada em um dos bancos de cimento diante do lago. Foi a primeira coisa que eles viram ao se aproximarem da casa.
— Quem é aquele?! - Perguntou Fabrício assustado.
Danielly se abraçou a ele. Eles pararam. Rodrigo se aproximou.
— Tome cuidado Rodrigo.
— Ei você. Tá tudo bem aí?
A pessoa não respondeu. Os três se entreolharam.
— Mário, é você?
Nada. A pessoa permaneceu imóvel
Rodrigo aproximou-se ainda mais, percebendo que era de fato Mário.
— Ei, Mário. Você está bem?
Ele o tocou. Mário caiu no chão com o rosto partido ao meio.
Rodrigo se afastou. Danielly soltou um grito de pânico.
— MAS QUE MERDA!!!!- Gritou Rodrigo. — O QUE VOCÊ QUER SEU FILHO DA PUTA?! QUEM É VOCÊ?!
Rodrigo abriu os braços olhando para a floresta.
— VEM ME PEGAR SEU DESGRAÇADO!!! EU VOU MATAR VOCÊ SEU FILHO DA PUTA!
— JÁ CHEGA RODRIGO! - Gritou Fabrício. — VAMOS ENTRAR!!
Danielly apontou para a frente, tremendo em estado de choque.
— O que... O que é... aquilo?
Eles viram o que parecia ser uma sombra. Se formar entre a chuva.
À princípio, Fabrício pensou que fosse uma pessoa. Parecia uma pessoa, mas era enorme. Devia ter mais de dois metros de altura. Parecia estar usando uma capa preta, o rosto oculto pelo que parecia ser uma máscara.
Fabrício caminhou para trás puxando Danielly que continuava em estado de choque.
— RODRIGO, TEMOS QUE ENTRAR AGORA!!!
Rodrigo olhou para eles. Ele sentiu a coisa atrás de si e olhou para trás. Seus olhos saltaram da órbita, seu corpo começou a tremer e ficou paralisado.
A sombra negra grudou seu pescoço e o ergueu do chão.
— RODRIGO!!!- Gritou Danielly e intentou correr para ajudar Rodrigo.
Fabrício a segurou e começou a puxá-la para a casa.
— NÃÃÃÃÃOOOOO!!!!
— NÃO PODEMOS FAZER NADA DANIELLY!!!
Rodrigo olhou para a coisa que parecia não ter rosto, e por um momento pensou estar vendo seu próprio rosto.
Rodrigo caiu na escuridão.
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