Capítulo 3
Em Evanston...
O carro sacudiu quando os pneus rangeram no asfalto, fazendo Lawrence se agarrar ao banco. Já não era a primeira vez naquela viagem que ele se perguntava por que não tinha optado por dirigir o seu próprio carro.
Kim Mi-young estava ao volante, sua expressão igualmente tensa como nas situações do dia a dia. Isso trouxe certo conforto a Lawrence; pelo menos, ela não reservava todo seu mau humor só para ele. Um sorriso curvou seus lábios enquanto ele esfregava os olhos.
— Por favor, lembre-me de não vir de carona na próxima vez, e que você não esteja ao volante. — Lawrence se arrependeu das palavras assim que o olhar furioso de Kim Mi-young o atingiu. Pareceu que sua língua estava fora de controle naquele momento.
Ele soltou o cinto de segurança e abriu a porta do carro, que fechou com um baque sonoro. A raiva e a frustração na voz dela ecoaram em seus ouvidos, e ele decidiu manter o silêncio, evitando prolongar a discussão.
Ao focar no cenário à frente, Lawrence notou dois policiais com olhares questionadores. Mantiveram posturas rígidas e rostos sérios, marcados por experiências com situações assustadoras como aquela.
Kim Mi-young chegou até eles, estreitando os olhos para Lawrence. A brisa fria brincou com seus cabelos medianos enquanto ela observava um sorriso malicioso nos lábios dele, o que a fez se perguntar sobre o que exatamente ele estaria pensando.
— Quem são vocês? — O policial mau encarado, de corpo largo e roupas marcadas, os cumprimentou. Lawrence decidiu ficar calado, sentindo uma sensação estranha de ser observado.
Seus olhos percorreram o cenário, capturando detalhes da floresta, das folhas secas sendo carregadas pelo vento, do cheiro de terra e da umidade no ar. Embora não tivesse encontrado nada suspeito, Lawrence permanecia atento, sentindo a mesma sensação de observação. Algo naquele local o incomodava profundamente.
Quando um tom de vermelho-escuro chamou sua atenção, seu olhar se fixou em uma das árvores. Poderia ser apenas sua imaginação, mas por um instante jurou ter visto algo que parecia cabelo.
Lawrence mostrou seu crachá com uma foto e o título "Investigador Criminal" estampado logo abaixo. O policial se calou rapidamente ao ver o crachá, mostrando respeito por sua posição.
— Sou Kim Mi-young, e este é Lawrence. Somos os investigadores encarregados do caso. Agradecemos pela colaboração. — Kim Mi-young foi rápida em apertar a mão do policial, evitando um aperto de mãos desajeitado. Ela baixou a cabeça levemente e sorriu, embora Lawrence suspeitasse que fosse mais um sorriso de fachada.
— Quando o corpo foi encontrado e quem o encontrou? — Mudando completamente sua expressão, agora cheia de perguntas e incertezas, Lawrence cruzou os braços, sentindo uma tensão palpável no ar. Algo não estava certo, e ele podia sentir isso.
Com uma avaliação crítica, Lawrence observou atentamente a equipe forense e os policiais presentes. Involuntariamente, ele balançou a cabeça, enquanto sua mente começava a traçar possíveis cenários e criar um quadro mental do local do crime. Lawrence sempre acreditou que para desvendar crimes, você precisava pensar como um criminoso. Ele se conectou ao ambiente ao seu redor, seus pés movendo-se automaticamente sobre as folhas secas que cobriam o chão, sem deixar que o ruído atrapalhasse sua concentração.
Seu sexto sentido e sensibilidade física o guiaram na busca do desconhecido. Imagens sombrias se formaram diante dele, enviando arrepios pela espinha ao imaginar a jovem desaparecida vagando por aquela região isolada. Como ela havia chegado lá? Quem a teria conduzido até aquele lugar?
Apesar do cenário propício para um crime, considerando a distância de Chicago, quase em Evanston, Lawrence duvidava que a vítima estivesse sozinha. Enquanto sua mente trabalhava para reconstruir uma trilha imaginária de passos que poderiam fazer parte do trajeto da vítima, Lawrence deparou-se com um pedaço de tecido manchado de sangue. No entanto, o sangue estava tão seco que ele considerou brevemente se poderia pertencer à mesma vítima encontrada menos de 24 horas atrás.
Lawrence imediatamente chamou a equipe forense e se juntou a Kim Mi-young, que examinava o relatório entregue em suas mãos com determinação.
— Ele estava sozinho? — Kim Mi-young entregou o relatório a Lawrence, seu corpo tenso e observador, mantendo o pé direito atrás como se quisesse equilibrar o peso do corpo. — Precisaremos de mais detalhes, especialmente se ele notou algo mais na cena — ela acrescentou antes mesmo que o policial à sua frente pudesse responder à primeira pergunta.
— Não se preocupe com isso, você pode encontrá-lo. Ele é Jonas Miller, um policial da divisão de crimes violentos. Estava com Thomas Brown — o policial detalhou, movendo-se de um lado para o outro enquanto falava. Seus gestos eram explicativos, e ele parecia ter uma vasta experiência com situações como aquela.— Algo muito estranho aconteceu na noite, Jonas e Thomas relataram que receberam um chamado pra fora de Chicago fora de nossa jurisdição.
Lawrence fechou o relatório, notando o nome do policial John Williams no uniforme, que o chamou a atenção.
— Eles não suspeitaram que poderia ser uma armadilha? — Lawrence foi direto, umedeceu os lábios rapidamente e cruzou os braços, mantendo a pasta do relatório contra o peito.
— Jonas é experiente o suficiente para desconfiar disso, mas é curioso demais para ignorar um chamado — John respondeu, balançando a cabeça negativamente enquanto mencionava a curiosidade de Jonas.
— Entendi, mas isso não nos leva a lugar algum. Talvez o chamado de assistência fosse legítimo— Kim Mi-young interveio rapidamente, recebendo um olhar desaprovador de Lawrence.
— Na verdade, nos leva sim — Lawrence respondeu enquanto sua mente trabalhava em alta velocidade. — E se o chamado fosse feito pelo próprio assassino?
Houve um momento de silêncio entre os três, durante o qual John, que havia sido tomado por um pensamento que ainda não tinha considerado, foi interrompido por seu colega mais jovem. John afastou-se de Lawrence e Kim Mi-young por um momento, enquanto Mi-young não conseguiu evitar revirar os olhos ao pensar nas palavras de Lawrence.
— Você acha que está em um programa de televisão? Esta foi a teoria mais absurda que já ouvi. Desde quando um assassino entregaria suas vítimas à polícia? — Lawrence estava tão absorto em seus próprios pensamentos que as palavras de Mi-young soaram como um sussurro inaudível.
— Pelo visto, você não tem muita experiência, Mi-young. Em todos esses anos trabalhando neste campo, aprendi algo importante: devemos desconfiar de tudo. Você nunca sabe do que uma mente criminosa é capaz de pensar ou fazer — as palavras de Lawrence fluíram com gravidade, revelando sua vasta experiência.
— Você sempre precisa se gabar de sua experiência, não é? — Ela colocou as mãos na cintura e soltou um suspiro cansado.
— Não é uma questão de me gabar, Mi-young. Você é excessivamente crítica, e isso prejudica seus relacionamentos com as pessoas — Lawrence sorriu maliciosamente, ciente de como suas palavras afetavam Mi-young. Com um grunhido, ele continuou — Mas isso não importa agora. Precisamos coletar as evidências, e precisamos localizar esse tal policial, Jonas Miller.
Foram as últimas palavras de Lawrence enquanto eles se dirigiam juntos à equipe que coletava evidências e materiais que seriam usados como provas.
Octávia permaneceu imóvel, observando enquanto Lawrence e a mulher à sua frente trocavam farpas. Ela ficou ali por tempo demais, esgueirando-se entre as árvores. Por um momento, Octávia chegou a pensar que Lawrence a havia visto. No entanto, ficou claro que ele não a notou quando se voltou para a equipe, discutindo o caso entre si.
Ela sabia que não tinha o direito de estar ali, mas a curiosidade falava mais alto. Além disso, sentia-se impotente por não poder fazer muito a respeito. Uma onda de adrenalina a envolvia, afinal, investigar crimes, relatar eventos como aquele e cenários tão intrigantes tinham a capacidade de cativá-la completamente.
Mantendo os pés firmes, evitando fazer barulho nas folhas secas, Octávia decidiu dar as costas à árvore, iniciando o trajeto de volta em direção ao carro, que estava a uma certa distância. Com os braços abertos, tentava manter um equilíbrio para distribuir o peso de forma uniforme. No entanto, um desequilíbrio repentino a forçou a parar bruscamente.
Deixando escapar um longo suspiro, Octávia retomou o trajeto. Instintivamente, virou-se para verificar se alguém a estava observando. No entanto, ela foi surpreendida quando sentiu a presença de um corpo masculino bem à sua frente.
Para evitar um possível grito, Lawrence cobriu a boca de Octávia e jogou seu próprio corpo no chão, protegendo-a de um dos policiais que, provavelmente, havia notado algum movimento suspeito na direção deles. Com a audição aguçada, Lawrence percebeu passos leves, mas o policial, aparentemente, não suspeitou de nada.
Mantendo-se em silêncio e evitando movimentos bruscos, Lawrence pôde sentir o coração da jovem batendo forte. Sua respiração estava acelerada, e as mãos dela tremiam, demonstrando o medo de ter sido descoberta no local. O vento soprou sobre eles, e Lawrence captou o delicado perfume dos cabelos vermelhos da mulher, cuja identidade ele ainda desconhecia.
Quando ele finalmente retirou a mão da boca de Octávia, por um momento, ela hesitou em encará-lo. Ela sabia que as emoções daquele encontro poderiam ser intensas, dado o que havia acontecido entre eles anos atrás. No entanto, Octávia manteve uma postura séria e decidida, que sempre a caracterizara.
— Quem é você e o que faz aqui?— A voz de Lawrence soou por trás de Octávia. Ela suspirou antes de se virar para encará-lo, e por alguns segundos, a confusão em seus olhares deu lugar à surpresa.
— Sim, sou Octávia. Quanto tempo, Lawrence!— Ela ergueu a mão em um pedido silencioso de um cumprimento amigável, e ele correspondeu segurando sua mão de forma um tanto desajeitada.
— O que você está fazendo aqui, exatamente? Você não percebe que pode ser mal interpretada?— A expressão confusa nos olhos estreitos de Lawrence fez Octávia murmurar em resposta.
— Eu não devo explicações a você, e ninguém além de você me viu aqui. Você vai me denunciar?— Ela colocou as mãos na cintura, assumindo uma postura de posse e determinação. Octávia arrancou um arquear de sobrancelhas de Lawrence e um leve sorriso malicioso, algo que ele já conhecia bem.
— Sempre direta.— Um sorriso sincero escapou dos lábios de Lawrence, deixando Octávia desconfiada.— Mas o que você estava procurando ao vir para este local? Não tem medo do perigo?— Lawrence virou-se para olhar a equipe policial, percebendo que fazia um tempo considerável desde sua última interação com eles.
— Sou jornalista, eu sei, fui imprudente.— Octávia se aproximou da árvore novamente, levando as mãos à testa. Lawrence cruzou os braços, seu rosto refletindo uma expressão de curiosidade genuína. Ele queria entender por que Octávia havia se arriscado tanto, mas sabia que o momento não era oportuno, já que ela estava se escondendo e poderia ser mal compreendida.
— Podemos conversar em algum outro lugar?
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