Capítulo 19
No ambiente rotineiro do seu posto de comando, Jonas se mantia prestativos as ocorrências daquele dia. Com um interesse genuíno e curiosidade elevada, o policial procurava informações sobre os casos anteriores de sombra e suas primeiras vitimas, se é que foram as primeiras.
Ao passo que meditava mentalmente, o policial foi arrastado a um caso assustador e completamente inexplicável. Quanto mais detalhes ele conseguia, mais assustador e chocante parecia. Uma das vitimas, denominada como primeira vitima, ou gatilho, era uma jovem estagiaria.
A família compartilhou todo seu desespero com a imprensa fazendo mutirões e campanha de solidariedade e isso foi um grande problema, sua filha foi encontrada morta dois dias depois próximo a Evanston. Sentindo uma sensação estranha, Jonas reconfortou-se na cadeira.
— Espera, Evanston? — Jonas sobressaltou-se da cadeira, agora analisando os novos relatórios dos corpos encontrados.— Exatamente onde encontrei o corpo de Nora, isso quer dizer que esse é realmente o retorno de sombra, mas porque no mesmo local de antes e o segundo nas redondezas do Zoologico? Qual a ligação? O que estamos deixando passar?— Ao passo que meditava em suas investigações particulares a porta da sala foi aberta.
Com um suspiro cansado e um semblante estressado, Thomas se jogou na cadeira de frente ao colega, ambos rodeando a mesa da sala de interrogatório.
— Nem mesmo o melhor perfilador do mundo conseguiria descobrir a verdadeira face daquele infeliz.— Num misto de raiva e cansaço, Thomas proferiu ao passo que movia o corpo sobre a cadeira.
— A quem está se referindo ? — Jonas ergueu os olhos do notebook, agora olhando o colega. Cruzando os braços observou o desconforto de Thomas.
— Aquele idiota suspeito de assassinar o companheiro de trabalho na balada, o amigo foi encontrado esfaqueado.— Movendo a cabeça para trás, Thomas mexeu nos cabelos espessos.
— Ainda quebrando cabeça nesse caso ?— Jonas não estava nem um pouco preocupado nesse caso, na verdade, sua mente estava submersa na nova descoberta.
— E como não fazer isso? Como um dos mais antigos aqui os superiores costumam colocar a corda no meu pescoço.— Emburrado, o policial mais velho encarou a face de Jonas desconfiado com a expressão pensativa dele. Normalmente o colega era bem mais animado e despreocupado.
— Ethan faz muita falta a Chicago.— A frase proferida por Jonas fez Thomas reprimir o desconforto a menção do nome do velho amigo.
— Você o conheceu?— Curioso, o Thomas aproximou-se da mesa.
— Não pessoalmente, na época não estava nesse campo profissional.— Jonas evitou ser óbvio, na mente se questionava o motivo de comentar sobre Ethan. Suplicou mentalmente que seu colega não percebesse sua mentira. Ethan pedia extremo sigilo e mesmo não sabendo o motivo exato para isso, Jonas preferia manter em segredo a parceria.
— Ele foi um completo desequilibrado.— Jonas notou uma raiva contida dentro de Thomas.
— Desequilibrado? O conheci na época como a mente brilhante de Chicago.— O policial negro, Jonas, comprimiu os olhos ao passo que observava a expressão desonesta do amigo.
— Não estou dizendo que ele não era "o mente brilhante" como todos diziam, ele realmente chegou perto do criminoso mais procurado de todos os tempos da história de Chicago, me refiro a forma desesperada e desequilibrada a qual ele agia.— Um suspiro fadigado de Thomas fez Jonas sentir-se curioso.
— Vocês trabalharam juntos na época ?— Jonas não conseguiu esconder o espanto. Afinal, porque Ethan nunca mencionara nada relacionado?
— Éramos grandes amigos, mas nunca aprovei a forma desesperada e obcecada que ele agia pelo tão temível sombra. Na época ele foi totalmente imprudente e nossa relação ficou abalada pelo simples fato de ele não ouvir conselhos.— O policial parecia sincero, pelo menos foi isso que seu colega achou, mas sentia que no fundo tinha muito mais do que ele não sabia.
— Eu não acho que ele foi imprudente, na verdade a polícia não estava a altura do grande perfilador que ele era.— Jonas divagou e Thomas encarou o amigo completamente assustado com suas palavras.
— Você não sabe nem metade do quanto a polícia foi sobrecarregada na época, sabe pelo menos o que está falando? — Thomas se posicionou na cadeira na expectativa da resposta.
— Sim, eu sei o que estou falando, por conta da imprudência da polícia o cara perdeu a própria esposa.— Com uma incredulidade quase palpável, Jonas ergueu o rosto de forma convicta observando os olhos azuis do companheiro.
— Desculpa Jonas, mas você não faz ideia do que está falando. Ethan foi um tremendo maluco lunático que não aceitou perder uma vez pra um criminoso. Sombra não era um ladrãozinho de esquina ou qualquer assassino perdido nas ruas de Chicago, ele era o um dos mais perigoso que já existiu na história de Chicago.— Jonas sentiu entusiasmo na explicação do colega, era um pouco estranho elevar tanto um criminoso, mesmo ele sendo de fato um criminoso difícil de localizar. — Ethan agiu por conta própria, se ele realmente se preocupasse com o bem estar da esposa dele, ele jamais a colocaria em risco como a colocou. Por conta dessas palavras ele se afastou completamente de mim e eu vi um grande profissional se afundar simplesmente por egocentrismo.— Como se tivesse tirado um peso das costas, Thomas suspirou mais uma vez movendo os ombros juntos.
— Talvez você possa ter realmente razão em alguns pontos, mas como profissional o que ele poderia fazer? Aceitar a existência do criminoso e nunca tentar pega-lo? Devido a intromissão da polícia no encontro dele com aquele criminoso, a esposa dele foi morta. Talvez ele tenha sido descontrolado mesmo, mas não podemos negar que a esposa dele foi morta devido a intromissão da polícia na época.— Jonas rebateu ao passo que reiniciava a tela do notebook e juntava a papelada num envelope amarelo.
— Tá legal!— Thomas esboçou um sorriso forçado. — Eu continuo encarando da mesma forma, mesmo que você ache o contrário. Ele estava agindo sozinho, Ethan não ajuda ninguém que não seja ele mesmo, ele manipula as pessoas ao seu favor. Se estou dizendo isso é porque o conhecia suficiente pra saber que ele nem sabe o que faz direito. Ele viu o criminoso e simplesmente se apaixonou por ele a ponto de não levar em consideração as consequências de seus atos imprudentes.— Ao fim da frase, Thomas fixou seus olhos sobre Jonas mais uma vez. Uma tensão crescente quase palpável entre ambos.
— Você o procurou desde o seu sumiço? — Jonas questionou de forma menos agressiva e percebeu a apreensão repentina no colega.
— Sim, feito um completo idiota eu o procurei, mesmo depois de todas as suas palavras imprudentes e suas atitudes questionáveis. Eu só queria que ele não se afundasse como se afundou aos poucos. — O tom de voz de Thomas denotava uma profunda tristeza.
— O que você acha que aconteceu com ele? — Curiosamente, com um interesse genuíno, o policial queria entender o que de fato ocorreu entre os dois e o motivo de Ethan nunca mencionar seu trabalho com Thomas. Era nítido que Thomas se preocupava com o amigo, talvez tentar ajuda-los a se reencontrar não fosse ruim.
— Sinceramente não faço ideia, tenho minhas dúvidas se ele de fato ainda está vivo.— Thomas depositou as mãos sobre os bolsos.
— Talvez você se surpreenda.— As palavras misteriosas de Jonas despertou uma curiosidade no amigo.
O policial sentia genuinamente falta do ex colega, não podia negar, e saber que seu ex companheiro pudesse de fato ainda estar vivo com certeza o animaria muito. Mesmo sabendo que a relação entre os dois estaria abalada. Ocorridos passados e intrigas profissionais afetara uma relação de anos de trabalho.
O policial mais velho estava prestes a questionar o que significava aquelas palavras, mas ambos foram interrompidos ao som da porta da sala sendo aberta. Um dos colegas de trabalho, magro de pele negra e cabelos curtos cacheados adentrou a sala despertando os colegas rapidamente. A tensão inicial se instalou, o silêncio predominando os três envoltos no momento.
Com passadas temerosas o colega mais jovem aproximou-se da mesa, com olhos assustados e semblante alerta.
— O que aconteceu? Porque essa cara assombrada?— Thomas tomou a frente usando a mão direita para acariciar sua barba por nascer, ao passo que aguardava o que o jovem companheiro tinha a dizer.
— Recebemos uma ligação de uma mãe desesperada avisando que a filha está desaparecida a três dias e que a polícia não está dando ouvidos.— Jonas ergue-se com rapidez inexplicável ao ouvir as palavras do colega. Internamente ele pensava que poderia ser uma nova vítima.
— Quem é a filha dela? Ela é médica ou enfermeira ? — De forma peculiar, Thomas observou minuciosamente a expressão do amigo. A respiração sobressaltada, a boca levemente aberta, a garganta fazendo movimento com a saliva descendo. Ele sabia o que o amigo imaginava.
— Como assim médicas ? O que está falando?— Thomas aproximou-se do colega agora ficando ao mesmo lado da mesa.
— Podemos estar prestes a receber um novo corpo em algum lugar de Chicago, precisamos correr contra o tempo.
— Espera aí, do que está falando ? Acha que isso tem alguma relação? Cara pode ser uma desaparecimento comum, talvez ela esteja com algum amigo ou amiga, não se sabe ainda exatamente. Acredito que não seja exatamente o que você está pensando.— Jonas estreitou os olhos, girando o corpo devagar e encarando o amigo ele questionou.
— Como pode ter tanta certeza?
— Certeza? — Thomas riu nervoso. — Você está juntando coisa com coisa, não sabemos ainda. Vamos conversar com a mãe da garota e depois tiramos as nossas conclusões.— Tocando o ombro do policial Jonas, Thomas tomou a frente passando direção a porta. Parando o trajeto ele girou nos calcanhares e voltou observar o amigo. — Cuidado com suposições exageradas, Jonas, não deixe que a opinião popular te faça fazer coisas que pode se arrepender depois. Já vi isso acontecer com muitos colegas que não souberam ter lógica
As notícias rondavam Chicago como um turbilhão, inacreditavelmente aparentemente todos os canais de divulgações resolveram divulgar notícias distorcidas e vagas sobre o que de fato ocorreu em Chicago. Octávia amassou o segundo jornal só aquela manhã. Sentindo-se atrasada e totalmente impotente ela tamborilou os dedos sobre a bancada do escritório de jornalismo.
A verdade é que seus pensamentos estavam muito longe da matéria a qual estava encarregada de revisar. Suspirando exageradamente ela encarou a tela do computador voltando a suas pesquisas particulares sobre o caso sombra. Observando o cenário a sua frente brevemente, a jornalista constatou que a barra estava limpa, pelo menos teria algum tempo para continuar suas pesquisas e anotações relevantes sobre o caso.
— Incrível como Chicago sempre teve problemas com médicos — A jornalista foi pega de surpresa ao som da voz de sua colega de trabalho, Julia. Minimizando a aba de suas pesquisas ela encarou a companheira ao passo que girava a cadeira para observa-la de frente.
— O que quer dizer com isso?— A jornalista aguardou a resposta enquanto evitava não revirar os olhos para a colega de trabalho. A vontade que ela sentia, era segurar a colega pelo pescoço e expulsa-la de seu pé, só assim ela continuaria suas pesquisas sem levantar suspeitas.
— Como assim o que quero dizer ? Não sabe do caso de 35 anos atrás? — Julia reconforto-se sobre um dos pufes espalhados. Com uma expressão debochada, a colega sentia-se superior, por saber de algo que Octávia não estava familiarizada.
— Se não disser do que se trata fica difícil adivinhar, não costume fazer o uso de bola de cristal. — Com sarcasmo, a ruiva girou a cadeira mais uma vez na expectativa da colega.
— Acho que não preciso comentar isso com você, porque não pergunta a Emily? Nosso chefe a designou como responsável sobre o caso atual mais falado em Chicago.
Octávia sentiu um calor subir por seus seios naquele exato momento, saber que não podia relatar sobre o caso antes já era o suficiente para deixa-la angustiada, agora ser trocada por outra de suas colegas pra dar cobertura sobre o caso era de fato o estopim.
— Emily?— A voz espremida da jornalista fez Julia gargalhar.
— Eu te disse querida, não se ache tão superior que no fim vai ser substituída como varias outras. — A colega deu as costas.
Se jogando sobre a cadeira giratória mais uma vez, Octávia suspirou pesadamente depositando soco na mesa. Se seu chefe achava que isso iria fazer com que ela parasse de aprofunda suas pesquisas ele estava erroneamente muito enganado.
Voltando as suas pesquisas mais uma vez e deixando de lado totalmente o artigo que necessitava de revisão, a jornalista focou nas suas descobertas, guardando trechos importantes e filtrando o que de fato seria importante. Octávia se fixou em algo que jamais ouviu falar. Mesmo a matéria não tendo nada relacionado, sua curiosidade a guiou como um animal ao abate.
"O incêndio de 1986" clicando no link da matéria, Octávia foi direcionada a um vlog de uma faculdade que usou o caso como trabalho de investigação em conjunto. Navegando na matéria, a jornalista foi bombardeada por controvérsias de um caso que nunca foi resolvido.
Relatos sobre o incêndio no hospital psiquiátrico em 1986
Situado à beira de uma área arborizada, entre Evanston e o norte de Chicago, o LakeviewHaven fica afastado da atualização urbana, mas ainda de fácil acesso. Ele ficava próximo à Lakeshore Drive, permitia uma vista distante do Lago Michigane mantia a sensação de tranquilidade para os pacientes.
Fundado na década de 1960, o hospital surgiu como uma iniciativa de um grupo de médicos e psicólogos renomados da região, com o objetivo de fornecer tratamentos avançados para distúrbios mentais em um ambiente seguro e restaurador. Inicialmente focado em tratamentos experimentais para traumas severos, o Lakeview Haven passou por uma fase controversa devido a práticas não convencionais nos anos 80, resultando em uma série de investigações e mudanças drásticas em sua administração.
Em uma noite trágica de outubro de 1986, o Hospital Psiquiátrico de Lakeview Haven, localizado entre Evanston e Chicago, foi palco de um dos incidentes mais sombrios da história da cidade. Às 2h45 da madrugada, um incêndio devastador irrompeu de forma inesperada, consumindo rapidamente o prédio de cinco andares. Os pacientes, em sua maioria internos de longa permanência, e os médicos de plantão na noite fatídica, foram todas vítimas da tragédia. Nenhuma pessoa sobreviveu.
Completamente impactada a jornalista repousou sobre a bancada usando os cotovelos para manter firmeza na bancada.
— Como assim um incêndio dessa magnitude sem ter sido descoberto a causa até hoje?
A curiosidade da jornalista crescia ao passo que ela meditava no ocorrido, era estranho pensar que um dos corpos havia sido encontrado na estrada que leva ao antigo hospital, e se houver alguma ligação? Movida por urgência a jornalista ergueu da cadeira dando as costas ao escritório jornalistico, Ethan precisava explicar algo sobre aquele ocorrido.
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