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9 - Granizo

Rosângela estava olhando pela janela, enquanto bebia uma chávena de chá de verbena, quando viu uma mulher de cabelos imaculadamente encaracolados bater à porta da casa de Bruna. Tentava pensar que a casa não era mais de Bruna, porque ela já não existia, mas não conseguia.

Pouco depois, viu Lurdes sair e pegar em seu carro e seguir aquela mulher. Achou aquilo fora do normal, mas tentou tirar aquilo da cabeça, mesmo sendo difícil. Faziam já seis dias que não conseguia parar de olhar para a casa de Bruna, da qual tinha uma vista perfeita.

Toda a vida, Bruna fôra sua vizinha, por isso a amizade entre as duas havia sido algo inevitável, até deixar de ser uma amizade. Mas na época, divertiram-se muito, sobretudo com os telefones de fio feitos com embalagens de iogurtes e um fio longo o suficiente para ir de uma janela à outra do quarto de ambas. Ambas haviam partilhado muito uma com a outra, inclusive o sonho de alcançarem bolsas de estudo e ambas, contra todas as probabilidades, tinham conseguido. Eram inteligentes. Ambas sonhavam fazer medicina e abrir um consultório juntas. Ambas eram ambiciosas e trabalhadoras o bastante para conseguir, mas agora era só ela, apenas ela. E Bruna já não estava mais ali para partilhar consigo esse sonho que na verdade nunca havia cessado de existir, embora a amizade tivesse cessado.

Lembrava do velório com tristeza, lembrava do funeral com mais ainda. Aquele olhar de Lurdes... será que algum dia ela teria a displicência de contar, logo ela que era tão conservadora, tão religiosa e no final das contas tão hipócrita?

Era o primeiro dia das férias de Natal, mas sentia que era o primeiro de uma nova vida, onde ela não veria Bruna nunca mais e isso magoava, ao mesmo tempo que a fazia esquecer que ela também não veria mais Soraia. Fazia a esquecer que provavelmente também não veria Evelyn ou Sabrina que pretendia não voltar mais.

Fôra graças a Evelyn que aquele grupo de amigas se juntara e era provável que a sua ida de volta às suas origens, tivesse de uma forma cósmica desestruturado aquele grupo.

Agora, apenas restavam ela e Jéssica e ela nem sentia grande afeição por Jéssica. Não que ela fosse má pessoa, nem tinha nada a ver com o fato de ela estar significativamente com peso a mais, era-lhe indiferente. Tinha a ver com o fato de Jéssica por vezes lhe passar uma sensação de desconforto. Não era nada nítido, nada de tão dramático, nada com tanto peso a ponto de quebrar uma amizade, mas era um desconforto que não atenuaria com a partida das outras meninas, pelo contrário e Rosângela iria perceber isso mais tarde, em algumas semanas.

Sabia o que a esperava para aquele dia e como todas as férias, esperava muito que ninguém do colégio a visse, porque caso isso acontecesse, ela não seria nada mais que um simples rosto entre tantos no Colégio Lobo de Matos.

Foi pouco depois da partida de Lurdes da casa à sua frente. Pegou a sua bicicleta na garagem e pedalou até o café de seus padrinhos. E aí começava um dia de trabalho. Poupava aquele dinheiro com o maior afinco, pois sabia que era aquele dinheiro que pagava a sua roupa que parecia importada, mas na verdade era comprada em lojas baratas e de bom gosto.

Já estava habituada àquele trabalho de servir cafés e tomar conta do balcão. Os seus padrinhos nem precisavam assim tanto dela, mas sabiam que ela precisava do dinheiro para sustentar a sua imagem. Rosângela acreditava que não seria vista da mesma forma se soubessem que era bolsista, então se protegia. Ela sabia o que era bulliyng e não queria voltar a relembrar, porém um desses momentos surgiu muito limpidamente em sua mente quando viu Rúben entrar pelo café adentro, acompanhado de um amigo de quem a cara lhe era vagamente familiar.

Não teve como evitar de olhar para a cova que a bochecha de Rúben fazia ao mínimo sorriso. Ele era muito bonito, mas era engraçado como a sua beleza ficava mais realçada quando ele estava do lado de Violeta. Talvez fossem seus sorrisos fáceis um para o outro. Não precisava que lhe dissessem o óbvio: Rúben gostava de Violeta. Ali, diante dela, ele não tinha metade de seu brilho.

O rapaz ao seu lado tinha uns olhos de um azul oceânico e o cabelo loiro. Torceu para que ele se levantasse e fizesse o pedido para os dois. Não queria que Rúben a visse, pois se ele a visse, ele saberia o que a adolescente queria esconder do mundo. Não mesmo.

Contudo, Rúben olhou para o balcão e os seus olhares cruzaram-se. O rapaz de descendência angolana ficou tão surpreso que paralisou seu olhar nos olhos da menina que afinal não era rica. Essa informação caiu em seu colo em cheio, como uma bola arremessada a toda a velocidade na sua direção. Rosângela por sua vez, sentiu-se exposta como nunca havia sentido. O medo atravessou toda a sua espinha feito uma agulha afiada.

Rúben, recomposto da grande surpresa inicial, atraiu o seu amigo até ao balcão, depois de lhe ter dito algo ao ouvido. Rosângela estava longe demais para conseguir escutar.

— Rosângela — disse Rúben, não num tom de julgamento ou de superioridade, só de surpresa, uma enorme surpresa. — Vou querer uma coca-cola.

— Eu vou querer uma cerveja — disse o rapaz ao seu lado.

Rosângela engoliu em seco, mas rápido se recompôs, precisava servir os clientes e estar acima daquele momento de exposição.

Aquele momento iria passar, uma hora viraria passado. Era dessa forma que costumava olhar para tudo que a colocava em pânico e que não podia mudar.

Pegou rapidamente a coca-cola e a cerveja e abriu as duas com bastante desenvoltura. Rúben pôde perceber que ela fazia aquilo há muito tempo. Ela sabia servir clientes.

Por momentos, o tempo pareceu não passar para Rosângela. Os dois pegaram em suas bebidas, não querendo copo, se sentaram e falaram coisas que ela não conseguia ouvir, mas correndo o risco de estar sendo paranoica, Rosângela tinha a certeza que era sobre ela e sobre ela estar atrás do balcão, trabalhando. Sentiu-se envergonhada, humilhada, apanhada em flagrante. Queria poder se esconder, mas sabia que não podia mostrar essa fraqueza, pois seria pior.

Nalgum momento o loiro aproximou-se do balcão e foi-se embora, porém Rúben deixou-se estar sentado mais um pouco após a partida do amigo. Então levantou-se e foi até Rosângela após alguns clientes saírem. Só restava uma pessoa no fundo do café. Aquilo estava bastante vazio.

— Tu não és rica.

Rúben não perguntara, afirmara e Rosângela nem sequer tentou negar o óbvio, engoliu em seco, mas desafiou-o com o olhar.

— Não, sou bolsista. E agora? O que vais fazer?

— Nada — respondeu Rúben com a calma que lhe era tão característica. — Só fiquei surpreso de te ver aqui.

— Nada? Como assim? Não vais contar para o Colégio inteiro?

— Porque eu contaria?

Rosângela perscrutou o olhar do rapaz. Parecia demasiado sincero.

— Eu não sei. Porque não vais contar?

— Primeiro porque ninguém é mais que ninguém por os pais poderem pagar um colégio particular, segundo porque ninguém tem nada a ver com a vida do outro, terceiro porque eu não sou alguém que sinta prazer em fazer algo do gênero. Se queres viver nessa fantasia, quem sou eu para dizer que deves descer desse pedestal?

— Isso tudo para dizeres que vais guardar o meu segredo?

— Vou.

— Sem me pedir nada em troca?

Rúben ía dizer que não, porém no mesmo momento que estava abrindo a boca, lembrou-se de com quem estava a falar e do seu objetivo de livrar Violeta das suspeitas das quais estava sendo alvo. E apesar de esta não partilhar consigo todos os seus pensamentos, ele já tinha percebido que ela tinha alguma suposição que colocava Rosângela algures na sua investigação privada sobre Bruna Góis.

— Só uma coisa.

— Sabia.

— Não é nada demais, nem nada que coloque a tua imagem em causa. Não vou cobrar agora. Quero que quando eu chegar até ti com uma pergunta importante, tu me respondas com a verdade.

— Só isso?

— Só isso — constatou Rúben.

— E não vais fazer essa pergunta agora porquê?

— Porque eu ainda não sei o que preciso te perguntar.

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Rúben poderia ter dito que ele próprio era um semi-bolsista, talvez isso tivesse descansado um pouco mais um coraçãozinho de Rosângela, que quase explodira de ansiedade, mas porque ele precisava se expor? Ainda por cima não era nada que não fosse uma desconfiança na escola, pelo menos por os alunos criados por pais racistas e fascistas. Não havia muitos negros na escola, não ali que era um Colégio Particular que nem toda a gente podia pagar. Ele era de classe média. Por isso sobrava um pouco para pegar metade dos estudos ali. Mas ele pôde entender que Rosângela tinha uma bolsa integral... integral... Nossa, de fato as aparências enganam. Será que Violeta sabia disso e era por isso que andava querendo saber mais coisas sobre Rosângela e sua turminha?

Primeiro dia de férias, a sua vontade era farrear por aí, mas estava frio e de repente ficou mais frio ainda. O vento assoviava e podia estar sonhando mas parecia que o tempo ameaçava neve. Mais tarde teve pena que não fosse neve, pois na verdade era granizo.

Choveu granizo o dia inteiro.

Ele pensou em Violeta o dia inteiro.

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