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8 - Deslocada

O mundo parecia ter dado mais uma volta sobre si mesmo, quando Violeta acordara com uma enorme enxaqueca. Pegou em seu telemóvel para visualizar mais uma vez a mensagem que Soraia lhe mandara o dia antes de morrer. Via aquela mensagem várias vezes, como se nalgum momento ela se pudesse transformar numa resposta. Era finalmente sábado, haviam-se passado cinco dias que Bruna morrera e apenas dois que Soraia morrera também. As duas assassinadas, garganta cortada, largadas na escola para serem encontradas...

Violeta encostou o seu telemóvel em seu peito, olhou o teto branco de seu quarto e sentiu de repente um medo e uma certeza vacilante. Aquelas mortes não parariam por ali. E fosse quem quer que fosse, por alguma razão estava obstinado a fazer de si um bode expiatório. E sobre estar nessa posição, ela sabia muito bem.

Demorou a sair da cama.

Apesar de tudo que havia vivido na última semana, começava a sentir o vazio que lhe sentia todas as férias. Não gostava de férias, mas nunca essa sensação havia surgido tão rápido, logo no primeiro dia de férias de Natal. Porém já nada era igual. Agora tudo estava diferente. Já não se sentia em seu espaço de paz na escola. Nunca sentira isso em casa. Atualmente sentia-se completamente deslocada. Lugar nenhum era o seu lugar.

Sem nem bater à porta, Filomena entrou em seu quarto, furiosa com algo, provavelmente com a existência da filha, Violeta nunca sabia ao certo.

— Acorda!

— Estou acordada. Precisas de algo.

— Preciso que metas a roupa a secar quando a máquina acabar, que faças o almoço para quando eu chegar a estar pronto. Tens carne descongelada no balcão. Faz um arroz.

— Não pode ser umas batatas cozidas?

— Não, vais fazer o que eu te digo.

Violeta revirou os olhos.

— Ok, eu faço.

— Não me revires os olhos, devias agradecer por ter comida à mesa. É bom que esteja tudo pronto quando eu chegar.

Violeta não pensou em dar uma resposta, porém antes de sair batendo a porta, Filomena disse:

— Não te devo satisfações da minha vida.

— Mas eu não perguntei nada.

O erro de Violeta cedo se virou contra si. Ela já deveria saber que quando respondia as coisas pioravam para o seu lado, porém às vezes era tão difícil evitar.

— Acabaste de o fazer.

— Eu? Só perguntei se podia fazer batatas cozidas. É sempre arroz, estou um pouco farta. Só isso.

— Não me respondas. És igualzinha ao teu pai.

Dito isto, Filomena bateu novamente a porta, o que fez a cabeça de Violeta latejar um bocado de dor.

A adolescente não sentiu vontade de sair da cama, não sentiu vontade de ver ninguém, de fazer nada, queria voltar a dormir, queria voltar ao mundo dos sonhos onde nada era real. Perguntar-se porque a sua mãe a odiava tanto tornara-se algo corriqueiro. Sabia que não podia ficar na cama, então desceu à cave para ver em quanto tempo iria ter de tirar a roupa da máquina. Foi então que se cruzou com Conceição, a mulher a dias que vinha de vez em quando a sua casa dar uma limpeza mais a fundo. Na verdade era a empregada de sua avó. Filomena não gostava muito de a ter em sua casa, mas não era capaz de contradizer a vontade de sua mãe, que sempre dizia que ter dinheiro tinha de ter as suas vantagens.

— Menina Violeta!

Violeta olhou a mulher que estava a passar a ferro um cesto de roupa.

— Bom dia, São.

Conceição a olhou de forma curiosa. Decerto já estava sabendo sobre a fofoca que se espalhara na família. Parecia estudá-la com o olhar, medindo se seria capaz ou não de matar alguém, quem sabe mais que uma pessoa, pois agora não era apenas Bruna que fôra assassinada.

— Está tudo bem? A menina parece abatida.

Violeta já tinha pedido imensas vezes à empregada doméstica de sua avó que esta a tratasse por tu, mas tanto fazia, Conceição era demasiado teimosa para o fazer, demasiado humilde, até.

— Dói-me a cabeça.

— Quer que lhe faça um remédio caseiro?

— Não é preciso.

— Vá-se deitar, menina.

— Precisava ver quando a máquina que a minha mãe colocou vai acabar de lavar. E fazer o almoço.

— Ah, menina, ainda é tão cedo. Eu faço. Estou aqui para isso.

Violeta olhou Conceição bem nos olhos. Claro que esse era o tipo de tarefas de Conceição, ela era paga para isso, mas sabia que a sua mãe iria atacá-la se soubesse que não fez o que esta lhe disse.

Conceição continuava olhando para si com uma expressão curiosa.

— Preciso-lhe dizer que eu não acredito!

Violeta voltara a atenção para a empregada.

— Está a falar do quê?

— Estou a falar desse boato pateta de a menina ser uma assassina. A menina nunca mataria ninguém, nem mesmo tendo razões para isso.

— Diga isso à minha avó, então!

— Eu disse, menina, eu disse. Não ligue ao que a sua avó lhe diz, no fundo ela gosta muito de si e só quer o seu bem, mas sabe como é, ela...

Aquela frase nunca terminou.

— Nem sempre é fácil, mas preciso mesmo deixar de ligar a isso. Vou tomar qualquer coisa para as dores de cabeça.

Nesse momento o seu estômago emitiu um ronco.

— E coma alguma coisa.

Violeta não quis dizer que não lhe apetecia comer nada, sabia que no fundo Conceição tinha razão. Uma hora iria passar mal com dores de estômago. Não andava comendo grande coisa e há conta disso quando a fome a atacava acabava de comer e tinha essas dores de estômago devido ao hábito que estava dando ao estômago de ficar vazio. Nem sempre era culpa sua. E o fato de ser sempre arroz estava-lhe fechando cada vez mais o apetite. Não aguentava mais sempre com a mesma comida. Não entendia como a sua mãe nunca se fartava, mas ela estava farta, por isso quando chegou o momento de fazer comida lembrou de fazer batatas cozidas para si. Fez só duas pequenas, mas não muito. Numa outra panela fez arroz para a mãe e para Conceição que comia lá quando ía trabalhar lá em casa.

O almoço já estava quase preparado quando Conceição surgiu da cave. Olhou para si abanando a cabeça.

— Menina, eu ía fazer o almoço.

Violeta olhou para as horas e pensou em voz alta.

— Não ía dar tempo.

Quando percebeu que falou em voz alta, pensou que Conceição lhe fosse perguntar alguma coisa, porém Conceição consentiu. Às vezes parecia que Conceição sabia mais que qualquer pessoa de sua família sobre coisas que nem ela mesma conseguia explicar, apenas sentir. Era como se Conceição tivesse a perceção exata do ambiente naquela casa. Contudo, Violeta não conseguiria explicar. Só sabia que ali não era o seu lar e só desejava do fundo do coração o dia em que sairia para viver na sua própria casa.

Foi logo após dizer que não ía dar tempo, que ouviu umas chaves na porta. Ela tinha razão. Não teria dado tempo.

A sua mãe entrou acompanhada de ninguém menos que Lurdes, o que deixou Violeta atónita olhando para a mãe de Bruna.

Os olhos de Filomena viajaram com uma rapidez voraz na direção de Conceição que retificou a sua postura. Aquele seu jeito foi impossível de passar despercebido aos olhos de Violeta.

— O que está aqui a fazer?

— Ora, senhora Filomena, é o meu dia de vir para aqui. Estive a passar a ferro.

— Foi você que fez a comida e estendeu a roupa, não foi?

— Não, senhora. Foi a menina sua filha que fez. Ela não precisava, estou aqui também para isso, mas foi ela que fez, eu juro por os meus filhos e pelos meus netos.

— Vou fingir que acredito — disse num jeito que deixou Conceição e Violeta frustradas, então virou-se para Lurdes e pediu-lhe para se sentar. — Vês, sempre tem alguém que a protege, por isso ela sai sempre impune.

Violeta não quis acreditar no que acabava de ouvir e Conceição por sua vez sentiu um sabor amargo na boca. Nunca tinha sentido aquilo por ninguém, mas estava sentido nojo de Filomena, um nojo puro, acompanhado de raiva, de ódio e de pena de Violeta, porque sabia que não estava sequer perto de imaginar o que aquela mulher fazia aquela adolescente sentir dentro da própria casa. Já não era a primeira vez que tinha a sensação de que Filomena não a queria ali para fazer da sua filha a empregada da casa. Os seus próprios filhos sempre a ajudaram a manter a casa limpa e organizada, mas uma mulher como Filomena, que tinha dinheiro e não fazia grande coisa em casa não necessitava de fazer a sua filha de empregada. Era a sua opinião e aquela menina fazia de tudo desde muito cedo. Sempre trabalhara em casa de gente rica e nunca vira tal coisa. Podia até parecer muito bom para a criação de Violeta, não fosse pela maneira que sua mãe lhe falava, metendo a sua palavra em cheque, jogando os outros contra a sua filha e aquela mulher que vinha ao seu lado pareceu ter sido influenciada pelas palavras de Filomena na mesma hora que esta as proferiu. Ela tinha exatamente aquele poder sobre a sua mãe, Virgínia, sobre os seus irmãos e inacreditavelmente até sobre o seu ex-marido, que provavelmente se sentia na necessidade de acreditar visto tê-la traído, mas ela como gostava de dizer era burra velha, já tinha visto muita coisa na vida, já tinha limpado muita sujeira de patrões e sabia que nos panos mais limpos, também caíam as piores nódoas.

Lurdes olhou para Violeta, perto do fogão com os olhos vermelhos, faiscando numa revolta quase palpante.

— Como consegues sequer comer sabendo que a Bruna morreu pelas tuas mãos? E agora até aquela gêmea. O que elas te fizeram?

Violeta paralisou face àquela pergunta. Estava sendo acusada na cozinha da casa onde vivia, com a sua mãe do lado da acusação. Não devia ser uma coisa nova, ainda assim magoou-a a ponto de seus olhos ficaram vermelhos, mas as lágrimas, essas ela conseguiu não soltar. Não era a pergunta de Lurdes que a magoava mais, na verdade esta só a ofendia profundamente, era a postura de sua mãe. Não era suposto estar a defender? Porque é que apesar de tudo ela ainda esperava por isso.

— Senhora, eu mal conhecia a sua filha, conhecia de vista, como toda a gente. Só isso. E a Soraia, ainda menos. Nem o nome dela eu sabia até esta semana.

Lurdes ficou desconcertada.

Filomena olhou a panela com batatas e olhou a filha com raiva, mas não iria dizer nada, não com Lurdes ou Conceição ali. Provavelmente nem para Violeta diria alguma coisa, mas ela iria receber a sua paga por ter desobedecido. Ela devia comer também o arroz. Ninguém lhe havia autorizado a fazer duas comidas diferentes. Não era um hábito de Violeta tomar as suas próprias decisões e também não era suposto que isso acontecesse e aquilo mostrava-lhe que devia fazer atenção antes que a sua filha se rebelasse contra si. Precisava do controle total e ela perdera um pouco desse controle nesse dia. Sentia isso.

Era sempre assim quando Conceição estava naquela casa. Por isso não gostava da empregada ali, Violeta podia fazer a lida de casa sozinha, afinal das contas, ela vivia ali, gastava energia, água e tinha comida à mesa, devia agradecer por tudo que ela enquanto mãe fazia por ela. Se não fosse ela, Violeta nem teria nascido. Se não fosse ela, Violeta estaria com o pai e a sua amante. Ela devia saber o quanto a vida era difícil e ela vivia na sua casa, então ela tinha de colaborar e já que não colaborava com dinheiro, que colaborasse com tarefas. Não lhe fazia mal algum, só bem. Algumas pessoas até diziam que para alguém com posses, ela estava educando muito bem a sua filha. Filomena se deleitava quando ouvia isso. Nesses momentos ela falava em como Violeta sabia fazer de tudo e era inteligente graças a si. Claro que as qualidades tinham de ter sido puxadas a si, mesmo que Roberto não fosse burro, só maleável, talvez até ingénuo e sobretudo falho, o suficiente para ela parecer a vítima e ele o vilão.

Ouvir a resposta que Violeta deu a Lurdes fez Filomena duvidar de algumas certezas. Podia jurar que Violeta era capaz de matar por inveja. Julgava até que o dia que se rebelasse, podia até matar a si, a própria mãe, por isso é que precisava de a malear o máximo possível, tê-la prendido a uma coleira invisível que fizesse com a filha não explodisse. Por vezes olhava Violeta e tinha a sensação de olhar uma bomba-relógio. E ela nunca acreditara naquela postura de não querer ser vista que Violeta tinha. Não lhe parecia minimamente credível alguém ser assim. Decerto ela tinha inveja de Bruna e de Soraia, porque elas tinham a vida social que Violeta nunca tivera. Violeta era um bicho do mato. Com certeza ela era.

Nunca nenhum homem iria querer uma moça assim, sem carisma, sem estima, sem atitude. E por isso Violeta também deveria ter inveja de si, que sempre tinha alguém atrás de si, querendo namorar, casar... Nunca soubera de nenhum rapaz que gostasse de sua filha.

Lurdes sentou-se, como se não aguentasse mais estar de pé.

— Se não foste tu, quem foi? — perguntou.

Violeta abanou a cabeça.

— Eu realmente não sei, mas eu vi alguém sair da casa-de-banho. A pessoa quase me fez cair. Foi rápido demais.

— Estás a proteger o culpado.

— Eu nunca protegeria um assassino — respondeu Violeta, com uma autoconfiança e uma postura tão altiva que fez com que Filomena recuasse de um passo.

— Nem se o assassino fosse a tua mãe?

A boca de Filomena secou.

— Com certeza não. Não protegeria.

Filomena não soube o que sentir. A sua filha era uma ingrata, como o seu pai.

— Pois então — respondeu Lurdes. — És uma péssima filha.

Violeta engoliu em seco. Não era a primeira vez que ouvia aquilo e queria que aquilo não a ofendesse, mas ofendia a cada vez.

Lurdes levantou-se.

— Filomena, eu não estou a fazer nada aqui. Só queria entender porquê, mas acho que não vou e não quero estar na casa da única suspeita, mesmo que ela não seja a culpada. Acredito que para ela também não seja confortável.

— A casa é minha, não dela. Podes ficar, podes até mesmo comer batatas, se não quiseres arroz.

Violeta ía falar, mas fingiu ter cola colando seus lábios um ao outro e não emitiu qualquer som.

— Não, Filomena, eu vou indo, preciso ainda tratar de assuntos sobre o óbito, mas agradeço teres-me trazido aqui para falar com a tua filha e sinceramente, ela não parece culpada de nada. Não ela. E isso ajudou-me a tirar um peso do coração. Então acho que tenho de te agradecer.

Diante de tal declaração, Filomena não achou que deveria contestar. A dor da perda de Lurdes era demasiado frágil, mas não era tão cega que não entendesse o que ela estava tentando fazer. Devia controlar-se para as pessoas não pensarem que ela era uma má mãe. Ela era boa, a sua filha é que era uma má filha, porque não era nem um pouco parecida consigo. Até aquelas madeixas roxas no cabelo lhe davam asco. Nunca pintaria o cabelo daquela cor tão anormal.

A mesa já estava pronta, quando Lurdes saiu e Conceição começou a meter as coisas na mesa.

— Comes connosco, não é, São? — perguntou Filomena, servindo-se de um copo de água.

— Sim, ainda tenho coisas a fazer mais a fundo. Reparei que tinha uma camisa que precisa de produto, a nódoa de sangue não está a sair nem por nada.

Filomena cuspiu a água em muitos perdigotos lançados ao ar, bem na cara de Conceição.

— Sangue? Estás a falar do quê?

— Uma camisa branca com um logótipo de dentista.

Filomena arregalou os olhos em entendimento.

— Ah, sim. É de um amigo meu que veio cá a casa e aleijou-se na mão.

Violeta sabia bem de quem a sua mãe estava falando, de Rui, o pai de Margarida e ela lembrava-se perfeitamente de o ter visto no velório de Bruna e as suas mãos estarem intactas.

Com que então... Rui tinha sangue na camisa... mas quanto sangue?

Sabia que não podia sair dali naquele momento. Disfarçou a sua ânsia, o máximo possível e então, mal pôde, desceu as escadas da cave a correr e procurou a tal camisa e lá estava ela, de molho numa bacia e aquela quantidade de sangue era bem mais do que uma ferida na mão faria, pensou.

Ou se tivesse feito, a mão de Rui precisaria pelo menos de uma ligadura e ele não tinha nenhuma ligadura quando o vira no velório.

Ou talvez tivesse enganada, mas a expressão de sua mãe fôra no mínimo estranha e tinha uma coisa... Filomena ficara genuinamente surpresa. Ela com certeza não sabia daquela mancha. Violeta aprendera a discernir cada gesto, cada entoada de voz, cada comportamento de sua mãe quando mentia e desta vez, pelo menos desta vez ela não premeditara a mentira, ela a jogara no ar com um certo receio e não fôra pelo sangue e sim por se tratar de mais um pretendente e ela fazia atenção ao que pensavam sobre ela. Recusava-se firmemente a que achassem que ela era uma p... E isso havia pesado muito mais que o sangue na camisa do dentista. Mas então, de onde tinha aparecido aquele sangue?

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