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1 - Rastros de sangue

O comboio estava cheio, mas mesmo assim Violeta não pôde deixar de notar uma garota que se destacava entre todas as outras. Estava com a sua mãe. As duas riam de alguma piada interna e provavelmente estavam rindo de alguém ali dentro. Não era de estranhar, àquela hora da manhã o comboio se enchia de todo o tipo de gente e parte dela parecia saída do hospício. Talvez o que estivesse sentindo fosse uma centelha de inveja, queria ser aquela garota, com certeza queria, mas esse sentimento iria cessar em pouco tempo. As portas do comboio abriram e Violeta saiu. Dali apanhou um autocarro que estava sempre atrasado, para não variar, também ele a rebentar pelas costuras de tanta gente e chegou ao Colégio. Ali dentro ela era só mais uma entre tanta gente e gostava disso. Muitos anos de vida tinham-na ensinado a ser discreta, quase invisível... a menos que chocasse a cabeça em alguém por estar distraída, como aconteceu. Um cheiro a pinheiro invadiu as suas narinas nesse mesmo momento.

— Aush, caramba — reclamou, mas a pessoa já tinha desaparecido no meio das outras pessoas, antes mesmo que ela conseguisse ver quem era ou ao que se parecia.

Entrou pela porta da casa-de-banho mesmo ao seu lado, tinha passado metade da viagem nos transportes com vontade de aliviar a bexiga. Bem no momento que estava sentada na sanita sentiu algo molhado em baixo de uma de suas sapatilhas. Limpou-se, levantou-se e vestiu as calças olhando para o chão. Podia até estar louca, mas aquilo seria... sangue?

Pegou na mochila, saiu da cabine e abriu a porta da cabine ao lado. E sim, aquele líquido era sangue e ele vinha daquela garota deitada no chão numa posição humanamente impossível. Já a tinha visto antes, mas nunca havia trocado uma palavra sequer com ela. Não precisou de lhe tocar para saber que estava morta. O seu pescoço tinha um corte que parecia profundo de um lado ao outro.

Face àquela imagem, simplesmente não conseguiu reagir. Não conseguiu gritar, não conseguiu sequer se mexer e também não conseguiu parar de olhar. O seu corpo estava paralisado. Esteve assim por pelo menos trinta segundos.

Saiu da casa-de-banho ainda mergulhada em um turpor que nunca havia vivenciado. Não sabia bem para onde ir, talvez para a direção, apenas sabia que precisava de ver um professor, a diretora; algum adulto, não importava quem. Não foi de imediato que percebeu que enquanto andava os alunos se afastavam de si, sobretudo depois de passar por eles. Olhavam-na pelas costas com um ar carregado de espanto e... medo? Já havia caminhado todo o corredor quando se apercebeu disso.

— Violeta? — ouviu alguém atrás de si.

Violeta olhou para trás.

— Porque estás a deixar um rastro de sangue?

Foi então que Violeta olhou para o chão e viu seu rastro ficando cada vez menos ténue. O sangue que havia pisado na casa-de-banho sem querer tinha feito aquele rastro.

E então ouviu-se um grito ensurdecedor vindo da casa-de-banho. Um grito de garota, um grito de fazer todos os pelos se arrepiarem e o mundo parar de rodar. Violeta sabia bem o porquê daquele grito, porém seu grito fôra na alma e estava ressoando ainda em todo o seu corpo.

Não demorou para que todos os alunos fossem enviados para casa, todos com exceção de Violeta. E foi quando Violeta entendeu a expressão de "estar no lugar errado à hora errada" e também o que seriam o policial mau e o policial bom, pois a inspetora loura que a interrogara parecia realmente simpática e afável, já o policial moreno dava medo só de olhar, era como se a chamasse de assassina apenas com seus olhos escuros.

Mas o pior, porque efetivamente não havia mal que não pudesse piorar, a sua mãe havia sido chamada à escola. E não sabia bem o que lhe havia sido dito, mas fato era que Filomena demorara duas horas para chegar.

Ao que tudo indicava, ela deveria ser levada até ao Departamento de investigação criminal para prestar depoimento, porém tendo em conta ser ainda menor de idade e a inspetora parecer estar facilitando as coisas para toda a gente, estavam ali mesmo, na sala onde normalmente Violeta tinha as suas aulas de EVT, o que não melhorava o seu nervosismo em nada. A porta daquela sala de aula tinha vidro, qualquer pessoa que passasse à frente a via frente a dois policiais, que para piorar a olhavam sem parar, algo que ela não conseguia suportar. Ela detestava se sentir olhada. Sempre fazia de tudo para passar despercebida por todos e conseguia, mas agora ali estava ela, durante duas longas horas esperando a sua mãe, o que a deixava ainda mais nervosa. Preferia ter de responder o que quer que fosse sozinha.

Filomena chegou como se fosse uma estrela, nada de novo para Violeta. Já era normal. Até num momento daqueles Filomena tinha de se destacar. Estava mais maquilhada que normalmente, os cabelos tinham sido alisados a prancha. Para Violeta ficou bastante óbvia a razão pela qual ela demorara tanto. Certamente a sua mãe tinha passado em casa para se arranjar. A noção por vezes passava longe de Filomena. Ela estava minimamente ciente da gravidade da situação?

— Bom dia — disse Filomena aos inspetores, sem nem sequer olhar para a filha — Sou a Filomena Santos, mãe da Violeta.

Curta e grossa. Para Violeta estava claro que a mãe não sabia o que havia de dizer, nem o que fazer, apenas ficou levantada até que a inspetora lhe pediu para se sentar ao lado da filha numa das cadeiras dos alunos. Filomena sentou-se olhando para a frente. Não dirigiu a palavra a Violeta... nada de novo sob o sol. Violeta sentiu o odor de perfume que vinha da mãe. Ela parecia ter literalmente tomado banho de perfume.

— Somos a Inspetora Portela e o Inspetor Medeiros. Estamos aqui por causa de um assassinato que ocorreu aqui na escola. Não lhe vou mentir, a sua filha pode ser uma suspeita, pois foi vista saindo da casa de banho com sangue nas sapatilhas, o que significa que ela esteve na cena do crime e não avisou ninguém logo a seguir. A zona do crime creio que já foi analisada pela nossa equipe forense. Você demorou duas horas a chegar por alguma razão em específico?

Violeta sentiu a tensão de sua mãe ao seu lado. Ela nunca diria a verdade, era óbvio.

— Estava no trânsito.

A inspetora ouviu, mas Violeta teve a leve impressão que esta não acreditou propriamente no que ouvira. Estaria ela diante de uma policial com o lendário faro apurado?

— Pois bem, como é óbvio não podíamos interrogar a Violeta sem a presença de um encarregado de educação e você demorou tanto a chegar que tem cerca de vinte minutos que telefonamos para o pai da sua filha. E vou-lhe dizer, já tivemos muita paciência, porque era suposto estarmos na DIC e não aqui.

A inspetora pensou para si que parte dessa sorte se devia ao fato de ela ter tido uma história bem íntima com a subdiretora e herdeira daquele colégio.

Nem a propósito do que a inspetora acabara de informar Filomena, o pai de Violeta estava à frente da porta, a expressão mortificada num horror exasperante. A professora que o acompanhava abriu-lhe a porta com alguma timidez e então Roberto entrou, medindo com cautela cada passo que dava, porém aproximou-se da filha e abraçou-a.

— Está tudo bem, minha filha? O que se passou, afinal? Não te preocupes, já liguei ao Saldanha, ele já abriu o caso, infelizmente não posso fazer nada pela ética profissional, mas tudo vai ficar bem, o pai está aqui.

Olhou a seguir para a ex-mulher abanando a cabeça.

— Então, apareceste.

A expressão de Filomena respondeu que sim por si só.

"Insolente", pensou Roberto.

— Senhor promotor, o senhor é que é o pai da Violeta? — perguntou a inspetora.

— Sabia que a ía encontrar aqui, Inspetora. É um prazer revê-la. E a si também Inspetor Medeiros. Vou-me então sentar. Aqui não sou o promotor público e sim o pai da minha filha, porém quero que lembrem que ainda assim sou o promotor.

— Muito bem — respondeu a inspetora, sentando-se seguida de seu parceiro — O caso é o seguinte...

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Aquele interrogatório não fôra o pior do seu dia, Violeta simplesmente não conseguia tirar aquela imagem de morte de sua cabeça. Já passara da uma hora da tarde quando chegara a casa, mas o seu estômago se contorcia tanto que ela não conseguia nem pensar em comida. Entrara no seu quarto, jogara as sapatilhas sujas de sangue no seu cesto de roupa suja e pousou a mochila no mesmo lugar de sempre. Sentou-se frente ao computador e enredou por um monte de perfis de facebook de pessoas da sua escola, até finalmente encontrar a cara daquela garota morta.

Vendo bem ela até tinha traços bem parecidos com os seus, cabelos pretos, olhos azuis, pele clara. Será que poderia ter sido ela a vítima? Bruna Góis, esse era o nome daquela garota e ela só estava sabendo agora, após a sua morte. Será que se ela se abrisse mais para os outros poderia ter sido amiga dela? Parecia uma pessoa simpática pelo seu perfil de Facebook. E ela não tinha só Facebook, tinha Instagram, Tiktok e talvez mais algumas redes sociais e era bem ativa em todas elas, o tipo de pessoa que postava de tudo e socializava com todos. Praticamente a sua Némesis.

Quando deu por si, Violeta também estava entrando igualmente nesse mundo de redes sociais, fazendo perfis, embora o intuito dela não fosse de todo socializar com quem quer que seja. Queria saber mais sobre a Bruna; com quem ela se dava, com quem saía, se namorava, se tinha pais casados ou divorciados, se tinha inimizades, se sofria bulliyng... Não sabia de onde vinha toda essa vontade de saber tudo sobre a garota, mas sentia que precisava de saber.

Bruna era uma boa aluna, sabia isso porque só bons alunos eram bolsitas.

Como descobrira que Bruna havia ganhado uma bolsa de estudos? Por um quadro no seu quarto. Bastara um pequeno zoom e lá estava ela, abraçada a outra garota, ambas com um diploma de bolsa de estudos nas mãos. Aquela outra garota ela conhecia, era a Rosângela. Caramba, Rosângela era uma bolsista?

Ficou surpresa por saber aquilo, mas também ficou surpresa por na foto as duas parecerem tão amigas, apesar de nunca as ter visto juntas. Podia até jurar que as duas nem se conheciam apesar de andarem na mesma escola. Aquilo era deveras intrigante!

No dia seguinte o colégio abriria de novo e com certeza ela iria entender aquela história. Por que raio Bruna e Rosângela agiam como se não se conhecessem?

Uma coisa boa daquela sua investigação de amadora era que por instantes conseguira tirar da cabeça aquela imagem de Bruna morta, esvaída em sangue. Essa imagem voltou mal desligou o computador e saiu do quarto. Nem se apercebera, mas era hora do jantar e não comia há prováveis vinte e quatro horas. A sua barriga já roncara reclamando comida.

— Pensei que não vinhas jantar — disse a sua mãe.

Violeta olhou para a mesa. Tinha dois pratos, um para Filomena e outro para o seu namorado. De fato Filomena não pensara nela, mesmo sabendo que não tinha almoçado e que tinha ficado o dia inteiro sem comer. De vez em quando era impossível não se perguntar porquê morava com a sua mãe e não com o seu pai. Ah, sim, porque Filomena sempre conseguia fazer os outros, inclusive Roberto, acreditar que amava muito a filha e precisava dela ao seu lado. Balelas...

Violeta tirou um prato do armário e colocou na mesa.

— Afinal vais-nos dar a honra da tua presença?

Violeta controlou a vontade de revirar os olhos. Porque é que a sua mãe precisava de ser sempre tão desagradável?

— Deixa a miúda — disse Carlos, o namorado de Filomena — Ela precisa de comer.

Na verdade Violeta ficava bem na dúvida se ele era namorado, segundo namorado, amante... mas fôra por causa dele que Roberto pedira o divórcio, pelo menos na versão dele. A versão de Filomena é que Roberto se deitava com Camila, a sua secretária quando ainda era casado e por isso é que se divorciara. O pior é que era muito difícil de acreditar numa versão e não na outra, pois a verdade é que Camila, a tal secretária, era atualmente a sua madrasta, casara com o seu pai dois anos após o divórcio.

— Ela tem energia no corpo — respondeu Filomena — Da idade dela eu era mais magra.

Carlos abanou a cabeça e colocou uma colher cheia de arroz no prato de Violeta.

— Não, Carlos, não queria tanto — disse Violeta.

— Ele está a servir-te e ainda agradeces assim? — Atirou Filomena.

— Eu só não queria tanto — respondeu Violeta.

— Estavas melhor no teu casulo.

— Não ligues — disse Carlos — Ela só está nervosa por causa do que se passou na escola hoje de manhã.

— Está nervosa porquê? — perguntou Violeta indignada — Ela não pareceu nervosa quando demorou duas horas para chegar.

— Ela não demonstra, mas sente — respondeu Carlos.

— Sente? Não foi ela que encontrou uma pessoa sem vida. Eu fiz xixi ao lado de alguém assassinado sem saber. Acho que aqui a traumatizada sou eu.

— Claro, só ela é que tem sentimentos. És igualzinha ao teu pai.

Ela amava o pai e realmente via-lhe qualidades, apesar de pensar em trabalho de forma obsessiva, mas quando a mãe dizia aquela frase que já se tornara habitual, ofendia-a. Não ouvia aquilo como algo agradável. Aquilo era um claro insulto, não só a si como ao seu pai. Queria poder atirar-lhe umas quantas à cara, mas sabia que aquilo iria ficar difícil, então colocou a comida em seu prato, pegou nos talheres e foi para o seu quarto, ou como a sua mãe gostava de chamar: o seu casulo.

— Ainda por cima és mal educada, nem sequer comes com as pessoas à mesa. Não foi essa a educação que eu te dei.

Já de costas Violeta revirou os olhos. Viver naquela casa era absolutamente insuportável... talvez mais que ser a principal suspeita de um crime de homicídio.

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