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6. Ao Amanhecer

Os raios solares invadiram o quarto de Bruno Albuquerque, anunciando a chegada de mais um dia. Entretanto, a luz não foi a responsável por fazer o adolescente acordar, levando em conta que ele havia passado a noite inteira em claro, estudando. Nos dias que precisou faltar da escola perdeu uma prova de história importante, e agora precisaria fazer a recuperação, na qual era estritamente conhecida por ser extremamente mais difícil que a primeira. No fundo não se importava muito. Sua recuperação estava progredindo cada dia mais e isso que importava, mesmo com as cicatrizes que teria para o resto da vida, além da psicóloga que precisaria passar a frequentar duas vezes por semana.

"Que se foda!", pensou jogando os três livros no outro lado da cama. Deitou-se, pensando em tirar um cochilo, mas repudiou a ideia logo em seguida, com medo de acabar se atrasando. Pegou seu celular, rapidamente olhando as mensagens que havia mandado para suas três amigas inseparáveis, na esperança de alguma delas fazer companhia, já que o ano letivo havia praticamente acabado e quase ninguém estava indo na escola. Mesmo sendo bastante popular, o garoto queria apenas suas fieis companheiras por perto. Seria uma boa oportunidade de conversar sobre sua tentativa de suicídio, que a cada dia que passava se tornava um de seus maiores arrependimentos. Estranhou a ausência de Alice e Karina, mas ficou feliz ao ver o ícone da Meghan respondendo a mensagem praticamente na hora que ele pegou o telefone.

"Bom dia Bruninho. Te vejo na escola, quero saber das novis sumido. Bjão".

Não conteve o sorriso. Uma das melhores características de Meghan era seu carinho por todos à sua volta. Era tão meiga e atenciosa que qualquer um que tentasse importunar a garota compraria uma briga com muita gente. Suspirou, pensando em como contaria para ela o que havia feito consigo mesmo. Apenas Karina e Fabrícia sabiam, e no fundo Bruno necessitava mais do que tudo da companhia de sua melhor amiga para explicar o ocorrido para Alice e Meghan.

Estava digitando o número de Karina quando uma ligação invadiu a tela de seu telefone. O adolescente estranhou por ser um número privado. Atendeu, apenas por educação, imaginando ser alguma operadora oferecendo um plano de internet móvel.

— Alô?

— Bom dia, Bruno. Caiu da cama?

— Quem é? E que voz estranha é essa? — perguntou, despretensiosamente.

— Nossa, quantas perguntas. Por que está tão irritado, Bruno? Deveria estar se preparando...

— Preparando o que? Olha, se não se importa eu tenho mais o que fazer.

— Preparando seu funeral, bobo. Já que não conseguiu morrer por si só, permita que eu lhe ajude.

O rosto do adolescente se contorceu. Ficou olhando para a parede alguns segundos, antes de responder:

— Vai se foder cara! Cê é doente?!

— Se obsessão for uma doença, sim, estou em estado terminal.

— Mostra a cara, otário! Acha que eu tenho medo de um engraçadinho que nem você?!

— Deveria ter, Bruno Albuquerque. Mas fique em paz, sinto que hoje será um dia propício pra eu te ajudar nisso.

— Vai te catar, seu animal! — desligou o telefone. Ficou tão eufórico que precisou abrir a janela e respirar um pouco de ar puro.

Pela janela conseguiu ver sua mãe no quintal dos fundos. Um raio de culpa preencheu o adolescente. Odiava fazê-la se ausentar do trabalho, e mesmo a médica tendo horas em haver, deveria usá-las para descanso, e não ficar cuidando dele.

Ainda com a ligação martelando em sua mente, o garoto desceu as escadas espiral para o primeiro andar. Além da sala, que ficava próxima das escadas, duas portas integravam o local, sendo uma para a cozinha e a área de serviço, e a outra para uma sala de estar, provavelmente sendo o maior cômodo da casa.

— Bom dia, querido. — disse sua mãe. Havia dado férias para a faxineira da família para cuidar do filho de forma mais privada. Estava com um rodo na mão, e trajava luvas de borracha.

— Bom dia, mãe. Hoje eu volto pra escola, lembra?

Roberta assentiu.

— Se quiser, posso conversar com a Raquel. Você compensa com algum trabalho. É o mínimo que eles podem fazer.

— Eu faço questão de ir. A Meghan vai me fazer companhia.

— Certeza? A Raquel me deve vários favores e...

— Eu não sou melhor que ninguém, mãe. Fora que eu varei a noite estudando.

Roberta se aproximou do filho. Deu um abraço apertado, dizendo:

— Eu me preocupo. Desculpe ser desse jeito.

— Ei mãe, eu juro que não vou fazer nada comigo mesmo de novo. Não quero ser um peso pra você.

— Não diga isso! Você nunca seria um peso pra mim! Você é o ser mais precioso na minha vida!

Bruno se sentiu seguro, pela primeira vez em muito tempo.

[...]

— Achei que faríamos nossa manhã de pai e filha. Ir na feira, comer pastel e tomar caldo de cana até não aguentar mais...

Meghan sentia-se um pouco culpada em dispensar o pai, em um dos seus poucos dias de folga, para passar o período da manhã com Bruno. O sumiço de dias do amigo deixava ela perplexa, ainda mais com a recusa dele em receber qualquer tipo de visita. E por mais que Meghan se preocupasse com tal situação, respeitar o espaço de seu amigo era mais importante.

— Podemos fazer algo de tarde, Fábio. Eu, você e a Laura.

Fábio esperou o carro parar em um semáforo. Suspirou, encarando o volante, enquanto a garota observava o pai pensando em alguma resposta, pronta para rebater seus argumentos.

— Margharet, é complicado.

Meghan bufou. Tanto ele quanto sua mãe fugiam do assunto, não cedendo para uma possível reconciliação, ou até mesmo uma explicação plausível para o que estava acontecendo. No dia anterior, após ser proibida por Laura de sair com as amigas, numa tentativa de quebrar o gelo que pairava durante o jantar, a adolescente comentou sobre a misteriosa morte de Hilda Camargo, que havia visto no noticiário horas mais cedo. Laura se manteve indiferente, o que não se deu com seu pai, que mesmo não demonstrando nervosismo, ficou vermelho que nem um pimentão. Uma hora depois tiveram uma briga colossal, da qual Meghan ignorou, colocando música em seus fones de ouvido no volume máximo.

— Além de que — prosseguiu o homem, sem tirar a atenção do trânsito. — Sua mãe vai ficar uns dias na tia Suzi. — disse a última frase o mais rápido possível.

— Ela o quê?! Meu Deus Fábio, e vocês não me falam nada?

Ele estacionou o carro na frente da escola.

— Ontem a briga foi o ápice, Margharet. Você já é grande o suficiente para entender. — Disse, de maneira calma. — Quando ela partiu, fui até seu quarto, mas você já estava dormindo.

— Eu sou grande — fez aspas com os dedos para enfatizar o "grande" — quando convém pra vocês dois! Você tem ideia do quanto eu tô sofrendo? Sem entender nada?

— Filha...

— Nada justifica! — berrou a adolescente. As lágrimas involuntariamente desciam sobre o rosto da garota. — Eu não sou surda e muito menos burra, sabia?!

O médico tentou dizer algo, mas não teve chance, pois quando se deu conta, sua filha havia saído do carro, batendo a porta com tanta força que o veículo se estremeceu por completo. Teve apenas tempo de vê-la se afastando, com os curtos cabelos negros balançando enquanto ela se aproximava da entrada da escola.

[...]

Kevin Azevedo tomava uma xícara de café extraforte, na tentativa de manter-se acordado. Dormir havia sido uma tarefa praticamente impossível, após ficar sabendo da morte de Hilda Camargo, que além de ser uma amiga de anos do homem, carregava um passado nebuloso com ele. Era tortuoso e cruel, e se Eduardo Silva fosse mesmo o responsável por aquilo, ele próprio tomaria as medidas cabíveis para encerrar aquela suposta brincadeira.

— Nossa, um caminhão te atropelou e você recusou o atestado?

Raquel surgiu, com sua saia preta apertada habitual, que ia até os joelhos. Vestia uma blusa social também, dando um ar requintado para a loira que raramente vestia-se de maneira tão sofisticada. Se recostou na parede, encarando o amigo.

A sala da coordenação possuía quatro mesas quadradas, dispostas cada uma em um canto do cômodo. Kevin observava a paisagem da janela, sentado em sua mesa. A Escola Don Fernando possuía quatro blocos de três andares cada um, sendo o primeiro a ala administrativa, e os três restantes as salas de aula. A sala da coordenação ficava no último andar, o que garantia uma visão bem ampla do pátio principal e de uma das quadras de esporte.

— Aquele maldito assunto fervilhando na minha cabeça. Não preguei os olhos essa noite. Ah, e teve a morte da Hilda também. — Virou o restante do café de uma vez.

— Eu vi. Horrível demais! Será que foi divida de agiota?

Kevin se incomodou com a indiferença da mulher em relação à morte de Hilda, que era professora ali há mais tempo do que ela trabalhava lá.

— Mudando de assunto — prosseguiu Raquel, se servindo de café. — Conversou com o Eduardo? Ontem você tava bem determinado.

— Ele sumiu. Não atende minhas ligações. Tentei o número residencial, mas ninguém atendeu. Horas depois liguei pra mulher, mas ela tá fora da cidade, mas disse que ele provavelmente estava na festa de despedida com os amigos.

— E você não foi convidado? — debochou Raquel, rindo.

— Você é uma vaca!

— Só se for uma leiteira. São mais valiosas.

Antes que pudesse rir, o celular do homem tocou. A música ricocheteou na sala.

— Não vai atender?

— Claro que vou! — disse de forma nervosa, agarrando o celular.

"Número privado".

— Privado? Que bizarro. — disse Raquel se agachando para olhar a tela do celular do homem com mais precisão.

— Esse número me liga há dias!

— E você atende? Como sabe que é mesmo o mesmo?

— É porque é uai, você...

Ignorando o homem, ela pegou o celular de sua mão, atendendo o telefone, colocando na viva voz.

— Telesex, pronto para expelir seus desejos mais safadinhos? — Raquel usou sua voz mais sexy.

— Não sabia que Kevin tinha uma prostituta particular, Raquel!

— Que seja! Quem tá falando? — respondeu, despreocupada.

— O pior pesadelo de vocês dois. — disse a voz, mantendo uma serenidade na fala.

— Raquel, desliga isso! — pediu Kevin, apavorado. A voz era claramente manipulada. Aquilo não era bom sinal.

— É você que fica atormentando o Kevin?

— Na mosca! Parece que o boato das loiras serem burras não é tão verdade quanto imaginei.

— Nossa, que fofo da sua parte. É o seguinte — prosseguiu, completamente irritada com o deboche sobre sua inteligência. — Acho bom você parar de encher o saco do meu amigo!

— Ou o quê?

— Ou chamarei a polícia. Sou uma pessoa muito importante! Tenho contatos que você jamais imaginaria.

— Oh, que medinho. Você pode tentar, mas acho que não permanecerão vivos tempo suficiente para contar história.

— Vai dar meia hora de cu com o relógio parado! — desligou o telefone.

— Puta merda! Raquel, você deixou ele irado! — disse Kevin, preocupado.

— Para de ser frangote Kevin! Isso foi claramente um trote. Desencana e vamos trabalhar. Temos que ajeitar esse lugar para fazer o memorial da Hilda.

— Não deveria ter dispensado todos os funcionários.

— Hoje eu vou aplicar algumas provas de recuperação. Além disso, teve três alunos que se dispuseram a ajudar.

— Posso saber quem?

— Otávio Garcia, Frank Santiago e Fabrícia Amaral.

Kevin grunhiu, debruçando a cabeça na mesa, agora mil vezes mais preocupado com as ameaças.

[...]

O Sol batia contra o rosto de Meghan, que não fazia esforço para bloquear a luz, aproveitando os raios solares. Tentava digerir a discussão que tivera com seu pai momentos antes, pois brigar era algo que a incomodava profundamente, ação contraditória a sua personalidade doce e calma.

Observando a paisagem pela janela disposta ao lado de uma das carteiras brancas, ela aguardava Bruno finalizar sua prova, esta que estava sendo aplicada na sala ao lado. O pátio, completamente vazio, deixava a garota tensa, sendo ela e seu amigo literalmente os únicos alunos a estarem naquela escola naquela manhã. Isto sem contar a presença das três figuras que também estavam na mesma sala que ela: Frank Santiago, Fabrícia Amaral e Otávio Garcia.

Meghan não se sentia à vontade na presença do trio, sem ter algum motivo específico para tal, sendo Fabrícia e Frank provavelmente os alunos que ela teve algum tipo de atrito na vida. Frank lembrava vagamente Alice. Possuía os mesmos olhos azuis cintilantes que ela, com um cabelo castanho escuro que parecia ser mais preto, sempre bagunçado. Fabrícia lembrava Karina, tendo o mesmo tipo físico que a amiga, com uma cintura bem modelada, unhas extravagantes de grandes e lábios carnudos. Ao lado da dupla, Otávio não dizia uma palavra, envolto em seu mundo pessoal, pois jogava algum jogo em seu celular, totalmente imerso naquela realidade. O rapaz, com seus olhos verdes e nariz empinado parecia ter saído de alguma novela teen. A massa muscular estava em evidência, provando que ele realmente havia começado algum tipo de atividade física de alguns meses até o presente. Para ser sincera, a garota poderia jurar que os três poderiam ser um triângulo amoroso fácil de qualquer fanfic adolescente. Claro que se ignorar o fato de Otávio ser gay e de Fabrícia amar mais a si própria do que algum garoto, aquilo nunca iria se concretizar.

— Veio ajudar a decorar a escola, Margharet? — perguntou Frank, claramente sabendo a resposta. Mesmo sendo muito atrativo, o adolescente era fascinado por ela, chegando a ser abusivo em algumas ocasiões.

— Credo, Frank. Decorar é uma palavra bem infeliz pra usar. Mais respeito pela professora morta. — disse Otávio, irritado. Não tirava os olhos da tela do telefone de jeito nenhum.

— E desde quando palavra tem felicidade?

— Você entendeu, Fabrícia. De qualquer jeito, duvido muito que amanhã alguém apareça.

A morte da professora não era agradável de se ouvir. Meghan, sabendo de toda a história que assolou sua amiga no dia anterior, imaginava que seria uma boa maneira de se despedir da professora. Por isso, sem pensar respondeu:

— Eu me ofereço pra ajudar. Já tô aqui, né?

— Gostei do espírito, gatinha — comentou Frank, exibindo um sorriso malicioso no rosto. Meghan fingiu que não ouviu, fazendo uma nota mental para ligar para Alice. Não se falavam desde que ela mandou uma mensagem a convidando para ir até o Clube McGoy. Karina também não mandou nenhuma mensagem em retorno.

— Frank, vamos tomar água comigo. — pediu Fabrícia, fazendo um biquinho.

— E precisa de ajuda pra tomar água? Eu hein — deu de ombros.

— Vai, levanta essa bunda daí e vamos comigo!

Resmungando o adolescente se levantou. Meghan não havia notado quando chegou, mas Santiago mancava, fazendo um esforço tremendo para andar.

— O que houve? — Meghan perguntou.

— Caí jogando bola ontem. Continuei forçando, sabe como é né?

— Melhoras. — disse, finalizando o assunto.

Quando a dupla saiu, um clima estranho se instaurou no ar. Meghan não tinha muito convívio com Otávio, e ele não fazia o tipo que dava liberdade para qualquer um. Pensando melhor, o garoto não tinha nenhum amigo, alguém que ficasse diariamente ao seu lado, fato que não parecia abalá-lo.

Meghan, após anos ficando sozinha sem nenhuma amizade assim como ele, era ótima em analisar o comportamento das pessoas. Sem ter ninguém para conversar, reparar nos outros trouxe bons resultados em sua percepção.

— O que tá jogando aí? — quebrou o clima, tentando soar simpática, apesar da aparente vergonha por puxar papo com alguém.

— Moba. — respondeu, seco.

— Legal... — Desbloqueou o celular, fingindo estar mexendo em alguma coisa.

Garcia, vendo-a ficar sem graça, se retratou.

— Margharet, desculpa. — Seus olhos mostravam um arrependimento. — Não tô acostumado, sabe...

— Acostumado com o que?

— Das pessoas darem a mínima pra mim. Depois desses anos, ainda não me acostumei, de verdade. — Meghan notou que o adolescente se entristeceu ao falar aquilo, pelo olhar baixo e perdido do garoto.

— Ei, relaxa, Otávio...

— O que as pessoas falam de mim? — tornou a guardar o celular, adquirindo uma postura energética, exibindo um sorriso contido. Virou na direção da garota, que estava duas carteiras atrás dele.

A adolescente corou, quando levou aquela encarada de Otávio. Era um olhar ao mesmo tempo sincero, penetrante e curioso. Difícil de decifrar.

— Aí Otávio, você deve imaginar né.

— Pode falar. Eu aguento. — A voz tremeu um pouco. Meghan começou a suar. — Só quero confirmar o que eu ouço.

Duarte aguardou alguns segundos, e sem opção começou a falar. Afinal de contas, se era o que ele queria ouvir, não havia motivos para se sentir mal. Até porque, Meghan era tão mal falada quanto ele. O uso excessivo de preto e maquiagem forte nunca foi bem-visto, além de ser uma das amigas de Bruno Albuquerque.

— Você é taxado como o garoto adotado. — disse sem olhar diretamente para ele, temendo uma possível reação. — Recluso, introvertido. Mas agora que tá gostoso, as falsianes estão louquinhas.

— Me acha gostoso? — perguntou, exibindo um sorriso sincero no rosto.

Vendo a espontaneidade que disse aquilo, a garota se sentiu fora de si. Saiu de maneira tão natural e sem maldade, que ela própria não acreditou.

— Aí eu... Me desculpe. — Voltou a olhar seu celular, navegando nas mensagens antigas, sem propósito.

O garoto se levantou, chegando até a carteira dela. Se agachou, sussurrando em seu ouvido:

— Pra ser sincero, te acho a garota mais bonita dessa escola.

Meghan se arrepiou com a suspirada em seu cangote. Aquele era definitivamente um lado que não conhecia de Garcia. Quando ele deu sinal que ia sair da sala, a garota o interrompeu.

— Otávio, espera aí!

— Oi, lindona.

— Pensei que você fosse gay. — Cuspiu as palavras, aproveitando a coragem repentina.

Ele riu, coçando atrás da cabeça.

— O B, do LGBT, não é de Beyoncé, sabia?

— Ah sim. Me desculpe.

— Relaxa. Nos vemos depois?

— Sim, claro. — respondeu, sem saber onde enfiar a cara. Provavelmente ficaria dias sem encará-lo.

Com a saída de Otávio, a adolescente ficou sozinha naquela sala de aula, sentindo um leve burburinho em seu estômago.

[...]

— Tirou dez! — Constatou a mulher. Sorria para Bruno, da maneira mais simpática que pôde. — Parabéns!

Bruno suspirou, não demonstrando alegria alguma naquilo. Sabia que sua mãe não se daria por vencida, como sempre, facilitando tudo para ele. Não reclamou, afinal de contas a matéria era sua única preocupação, podendo ficar finalmente em clima de férias.

Transpirava por debaixo da blusa de manga longa, mesmo com o ar-condicionado ligado. Nem tanto pelo calor, e sim pelo fato de ter certeza absoluta de que Raquel Queiroz sabia que ele tentara se matar, do contrário, jamais teria direito a consulta para a avaliação. Sentia os olhos da diretora, ora ou outra pousada na direção de seu pulso, sentindo uma ânsia instantânea de estar sendo motivo de pena dela e do resto da administração da escola.

— Que seja. Posso ir embora?

— Conversei com sua mãe hoje. Ela achou uma boa ideia você ficar para ajudar na organização do memorial da Hilda. — disse Raquel, se apoiando na mesa.

"Ah, é claro que conversou", pensou. Estava morto de cansaço, mas a ideia de ficar algumas horas a mais sem a monitoria superprotetora de sua mãe pareceu uma boa.

— Claro, o que preciso fazer?

— Vamos reunir os outros primeiro, aí divido as tarefas certinho.

Saíram da sala, seguindo em direção à sala do zelador, no final do corredor. Bruno chamou Meghan, que havia sido deixada sozinha na sala. Lembrou-se de ter visto Fabrícia e Otávio, sentindo um alívio em não ter que encarar ele tão cedo.

— Vai ficar também, Bruno?

— E como dizer não pra diretora. — brincou, deixando Raquel contente, claramente sem entender a ironia de seu comentário.

— Você é uma graça, Bruno. Fico feliz em ver você se recuperando. — Ela entrou na sala, provavelmente para pegar alguma chave ou algo do tipo.

Bruno nem precisou olhar na direção da amiga, para sentir um olhar surpreso. Raquel teria que ser muito ingênua para pensar que todo o círculo social do adolescente estava sabendo daquilo. Se virou lentamente, apenas para constatar o óbvio: Meghan, na sua forma mais intimidadora, claramente esperando uma explicação.

— Eu nem vou perguntar nada, Bruno Albuquerque!

Bruno coçou os olhos, pensando em alguma desculpa. Lembrou de quando pegou pneumonia após ir em uma cachoeira, e de como recebeu visitas diárias da amiga em sua casa. De todas, Meghan era a mais carinhosa com ele.

— Vem aqui — puxou a amiga pelos braços até longe da vista de Raquel, que ainda procurava algo na sala do zelador. — E não surta, por favor.

Entraram no banheiro, o coração do adolescente à mil. Karina havia descoberto aquilo por acaso, e ele estava chapado o suficiente de analgésico para lidar com aquilo da maneira que queria resolver tudo em sua vida: dormindo. Agora a situação era diferente, teria que explicar detalhe por detalhe do que ocorreu, ainda por cima para o elo mais sentimental do grupo.

— Só saiba que eu tava me sentindo um lixo, sozinho e tipo, minha cabeça tava fora do lugar. — Sua voz tremeu, com um soluço vindo em seguida ao se lembrar daquelas malditas horas.

— Meu Deus Bruno! Para de mistério, tá me dando dor de barriga já.

Delicadamente o jovem arregaçou a manga da blusa, revelando a atadura em seu pulso. Sua voz sumiu, enquanto lentamente a garota começou a interpretar o que via na sua frente.

— Isso é atadura pra queimadura né?

Bruno acenou de maneira negativa, se entregando à um choro contínuo. Não conseguia encarar a amiga. Tinha sido dez vezes pior do que imaginava. A vergonha era tanta, ainda mais vinda dele, que sempre se mostrou a figura mais forte e confiante do grupo. Foi surpreendido quando o corpo pequeno da amiga envolveu o seu num abraço mega apertado. A cabeça da amiga estava pressionada contra seu peito, com os braços dando a volta, até chegar em seus ombros.

— Não sei o que me deu... — disse com as lágrimas descendo sobre seu rosto, caindo nos cabelos negros da amiga. — Foi, tipo, pra valer. Sinto muito, Meghan, você não merece passar por isso. Nem a Ali, a Karina, meus pais, e até a vaca da Fabrícia que veio me visitar bem no dia que eu fiz essa merda. — Sentiu o coração se apertar ao lembrar da adolescente ajudando seus pais a estancar o corte.

— Bruno, por quê?

— Muita coisa Meghan... Demais, cara.

— Você não tá sozinho, Bruno. Eu não sou nenhuma psicóloga pra curar o que quer que tenha causado isso, mas eu tô aqui. Assim como as meninas e até a vaca da Fabrícia. — disse, já encarando o amigo.

— Eu ouvi isso. — disse uma voz vindo de uma das cabines.

Os dois deram um grito conjunto, rapidamente desfazendo o abraço. Uma descarga foi ouvida, com Fabrícia em seguida saindo de lá.

— Pode nem dar um cagão mais, eu hein.

Bruno e Meghan não seguraram a risada. Fabrícia, surpreendendo a todos, deu um rápido abraço na dupla, dando um beijinho na bochecha de Bruno, tentando desviar da barba falhada que começava a crescer.

— Não se acostumem. Minha versão clean é que nem funk proibidão. Não é sempre que se vê em horário nobre e só os atrevidos escutam. — Lavou as mãos e saiu rebolando, sem dar a chance de a dupla responder.

— Eu tô dizendo, essa garota tá mais passada a cada ano que passa.

Bruno concordou, rindo.

— Vamos voltar pra lá, temos muito o que fazer.

— Partiu! — disse Meghan, se vendo surpresa pela vibração de seu telefone. Pegou o aparelho no bolso, rapidamente atendendo, torcendo para ser Alice ou Karina.

— Alô?

— Olá, Meghan. Sentiu minha falta?

A mesma voz. Meghan travou, ao ouvir a mesma fala do dia anterior. Tremeu e passou a ficar mais ofegante.

— Meghan, tá tudo bem? — disse o amigo, ao vê-la adquirir um semblante desesperado.

— Parece que tem companhia, Meghan. Que belo momento inclusive. É algo raro ver um pouco de fragilidade no Bruno.

— Você o conhece? Tá me observando por acaso?!

— Como não conhecer a pessoa mais desprezível de Campos de Cordeiros? Mas nem tente colocar a conversa para ele ouvir, meu assunto é reto contigo! Conversei o suficiente com ele nesta manhã.

Ignorando o pedido da voz misteriosa, Meghan colocou seu telefone no viva-voz. Pediu para o amigo ficar em silêncio, gesticulando com o dedo.

— O que você conversou com ele?

— Nada demais, apenas prometi que ajudaria ele a fazer o que ele não conseguiu. Matá-lo, no caso.

Bruno arregalou os olhos, ao constatar que aquela ligação era a mesma que recebeu antes de sair de casa. A ameaça nunca pareceu tão real. Estranhou o fato de a amiga estar na mesma posição, ficando preocupado instantaneamente. A voz era assustadora, mesmo exibindo uma calma descomunal ao proferir palavras tão macabras.

— Vai me matar também?

— Jamais. De maneira alguma. Você é a minha favorita, Meghan. Precisamos de alguém para contar a história, quando tudo acabar, não?

— Isso não tem graça, tá! — gritou Bruno, surpreendendo Meghan, que quase derrubou o telefone no chão.

— Olá, Bruno. Não me surpreenda sua descrença. Nenhum de vocês acredita! Até que os corpos começarem a crescer de maneira desenfreada.

— Você tá blefando! — prosseguiu Meghan, vendo que se deixar levar naquele trote seria estúpido.

— Hilda Camargo não foi um blefe. E acreditem, meu corpo vibrou quando eu estanquei a minha faca na fuça dela! Eu senti o medo dela, e vocês entenderão o que eu falo, logo, logo. E Meghan, mesmo você sendo minha favorita a ser a final girl, isso não vai impedir de brincarmos um pouco.

— Vai se foder! — berrou Bruno, lembrando da teoria de Alice, que no dia anterior mandou um áudio de dez minutos contando o ocorrido. Lembrou do quanto ela disse que o apartamento da professora tinha sinais de luta, e de seu desespero ao ver o corpo dela empalado na porta do apartamento.

— Quanta bravura, Bruno Albuquerque. Já que não acredita em mim, por que não checam a quadra da escola? Tenho uma surpresa para vocês lá. — A risada que se prosseguiu fez Meghan colocar a mão na boca, cambaleando para trás, tendo que se apoiar na pia.

Bruno tomou o telefone da mão da amiga, encerrando a chamada ali mesmo.

— Isso só pode ser brincadeira. Que merda!

— Eu falei pra você ficar quieto. — disse Meghan, sem aparentar estar brava com o garoto, e sim preocupada. — Mas já foi.

— É trote de alguém daqui, só pode. Todo mundo tem inveja da gente.

A garota concordou. No fundo, o quarteto possuía um grande número de desavenças na escola, sendo grande parte brigas compradas, já que Bruno era o único que não se dava com quase ninguém lá.

— Só tem um jeito de descobrir — disse o garoto. Sorria de animação, pois diferente de Meghan, ele realmente achava que aquilo não se passava de uma brincadeira. — Vamos na quadra olhar.

— Aí, Bruno, só você pra me arrastar nisso. Mas vamos né.

— Já estamos aqui mesmo. O que pode acontecer de pior?

[...]

A câmera do celular voltada para a face de Fabrícia, como se ela fosse tirar uma selfie, irritava Bruno, que já se arrependia profundamente de ter comunicado Raquel sobre a ligação secreta, apenas omitindo a parte da ameaça anterior da parte dele, de Meghan e da afirmação sobre o portador daquela voz ter supostamente assassinado Hilda.

— Fiquem todos calmos! — vociferou Raquel, estando a frente do grupo. Em sua cola estavam Frank e Otávio.

— Tá todo mundo calmo aqui — disse Otávio para a diretora, achando um pouco de graça da situação. O garoto permanecia calmo, diferente de Meghan, que sem proferir uma palavra, estampava em seu delicado rosto preenchido de maquiagem uma preocupação clara.

A quadra ficava do outro lado da escola, então ainda faltava um bom trecho para o grupo andar. Meghan permanecia com as mãos em sua calça jeans, e a todo custo tentava se manter tranquila. Nunca lidou bem com coisas macabras, mesmo gostando de filmes de terror. Final girl. Aquela palavra não saía de sua mente. O termo era usado em filmes slashers, justamente para a protagonista que sobrevivia no final. O sangue da garota congelou, temendo que aquilo fosse realmente verdadeiro.

Otávio, vendo a inquietação da colega, chegou até seu lado, envolvendo seu braço no vão que havia entre o antebraço da garota e seu tronco. Aproximou-a em seus braços.

— Tá nervosa?

— Tá tão óbvio? Meu Deus, eu sou muito fraca.

— Você é esperta. Qualquer um ficaria com medo num momento que nem esse. E você foi ameaçada. Isso é sério.

— Obrigada, Otávio, é muito gentil da sua parte.

Duas pessoas fuzilavam a dupla com o olhar. Bruno e Frank mostravam estar completamente enciumados. Frank, vendo sua paixão nos braços de Otávio, e Bruno, por incrível que pareça, sentindo uma raiva descomunal de Otávio, lembrando de tudo o que passaram. Meghan nem deveria saber, já que não houve tempo do adolescente contar algo. O fora recebido por Garcia foi claro. Não poderiam ter nada.

No dia em que Albuquerque surtou na rua e Otávio o convidou para ficar em sua casa de maneira despretensiosa, algo aconteceu. Otávio cuidou dele, com um carinho muito fora do padrão no começo. Quando foram dormir, a coisa acabou esquentando, e o adolescente simplesmente se entregou para a situação. Podia sentir o quente da coberta e do corpo do rapaz quando se recordava daquele dia, que parecia ser tão promissor, como uma luz no fim do túnel. A esperança foi cortada com um pedido de desculpas dias depois por sumir, seguido do temido fora que levou. Conversaria com Meghan quando tivesse chance, mas por enquanto apenas queria constatar que a ligação não era nada séria.

Finalmente chegaram na quadra. Raquel estava com as chaves na mão, mas o cadeado estava arrombado. Respirou fundo e entrou. Abriu a porta de proteção, deixando os adolescentes para fora, já temendo pelo pior.

— Vou checar e já volto.

O salto da mulher ressoou naquele imenso chão cinza, com todas suas demarcações pintadas de amarelo. Em cada lado havia uma cesta de basquete e em seu centro dois suportes nas laterais caso fosse preciso colocar uma rede, para jogar vôlei ou algum jogo do tipo. Logo a atenção da diretora se voltou a uma das cestas de basquete, onde havia suspenso uma sacola um tanto grande. A mesma sacola era usada para guardar as bolas em uma salinha rente à quadra.

— Alguém ajuda aqui?! — Gritou para os adolescentes. Os cinco rapidamente vieram em seu socorro, todos com suas motivações a respeito daquilo, sendo Meghan a mais nervosa. Não havia se desgarrado de Otávio, que no fundo gostava daquele toque. Imaginaria que aquilo não duraria o quanto gostaria, já que Bruno Albuquerque via aquilo com total atenção, e não pouparia esforços para convencer Meghan do quanto ele era desprezível. E talvez ele fosse um pouco, mas Otávio não ligava tanto quanto a isso. Sabia que qualquer tipo de relacionamento seria barrado por Cintia.

— Acho que eu alcanço — se ofereceu Bruno. Era um tanto alto, o que ajudaria a desprender a sacola.

— Eu te ajudo — se ofereceu Otávio. Era quase da mesma altura de Bruno, parecendo ser mais alto por ser mais musculoso.

— Que seja. — Bruno respondeu, revirando os olhos. Otávio notou, dando um sorriso que apenas Albuquerque viu.

Ambos se posicionaram próximos a haste de metal que sustentava a cestinha. A sacola, sendo preta, não mostrava tanto de seu interior, podendo caber pelo menos vinte bolas, estando aparentemente cheia. De maneira desajeitada, eles tentavam alcançar o objeto, sem sucesso de primeira.

— Tive uma ideia. Eu te ergo e você passa a sacola pela haste.

Bruno corou, ficando ansioso e com raiva ao mesmo tempo. Concordou com a cabeça, sabendo que era bem mais magro que o outro, este que o ergueria facilmente. Tendo pensamentos impuros, o garoto desviou o olhar de Otávio, sentindo ódio de si mesmo. Então se posicionaram um pouco atrás da cesta. Garcia agachou, contornando os braços em volta das coxas de Bruno, e num impulso repentino levantou o garoto, grunhindo enquanto os músculos saltavam.

— Vai logo — ordenou, sentindo o braço queimar, enquanto um tom avermelhado cobria sua pele.

— Tô quase...

Pegando a alça da sacola o adolescente tentava erguer, mas o conteúdo em seu interior pesava. Puxava para cima, mas sua posição não era confortável, com Otávio não mantendo um mínimo de estabilidade. "Que se dane!", pensou ao constatar que o melhor jeito de descer aquela sacola era arrebentando suas alças. No fundo nem sabia o propósito daquilo, imaginando ser alguma brincadeira de Frank, Fabrícia ou até mesmo o próprio Otávio. Meghan e Raquel se aproximaram, ficando de frente com a cesta de basquete. Frank permanecia encostado na grade com os braços cruzados e Fabrícia filmava tudo, fazendo questão de criar um suspense no ar.

Após um minuto forçando a sacola, ela enfim cedeu. O baque no chão foi iminente enquanto diversas bolas quicavam no chão, indo em direção a Raquel e Meghan. No fim teria tudo sido uma brincadeira, mas ao constatar uma coisa fora do comum rolando em sua direção, Raquel sentiu uma leve tremedeira, sentindo os olhos instantaneamente cederem a lágrimas de desespero que escorreram em sua bochecha. Meghan soltou um grito de pavor, indo para trás, e Fabrícia que mantinha um ar de brincadeira colocou a mão na boca, derrubando seu telefone no chão, sentindo o mundo parar por um minuto.

Aquela careca, aqueles olhos castanhos e aquele cavanhaque característico fizeram Raquel gritar com todas as forças quando constatou, com toda a certeza, a cabeça decepada de Eduardo Silva, atual vice-diretor da escola rolar em direção aos seus pés, parando coincidentemente deitado, como se aquela figura a encarasse, num último suspiro de misericórdia. A diretora berrava, como nunca antes, caindo de joelhos no chão. Quando se deu conta, toda sua pressão saiu de si, tornando tudo preto enquanto caía desmaiada.

[...]

A mesa de jantar da família Cavalcante nunca esteve tão cheia como naquele dia. Além de Karina e Sheila, Bruno, Meghan, Alice, Augusto e até mesmo Fabrícia preenchiam o local, onde suspiros e diferentes tragédias assolavam aqueles ali se alimentavam, com exceção de Augusto, que ao descobrir pela vizinha fofoqueira que sua ex-paquera se encontrava no hospital, rapidamente foi em seu encontro, sabendo de todo o ocorrido. O ataque que Karina e Alice sofreram somado à cabeça do vice-diretor decapitado foi discutido, tornando aquele um jantar inesquecível e macabro.

— Não consigo imaginar o que todos vocês passaram. Sério...

— É Augusto, a cidade perfeita parece estar se desmoronando.

Ele concordou com Sheila. No fundo sentia-se bem por Karina estar viva, mas algo dizia que aquilo seria apenas o começo. Poderia ser apenas uma intuição, mas ao descobrir sobre as ligações misteriosas, sabia que aquele presságio era real.

— Eu me sinto horrível, vazia...

— Todos nós sentimos isso, Alice. — Prosseguiu Sheila, desolada. — É tanta informação que minha cabeça tá em qualquer lugar, menos aqui.

Alice estava quieta o tempo todo até aquele momento. Bruno a encarava, vendo olheiras profundas surgirem em seu rosto, além de um curativo quadrado colocado sobre o lado esquerdo de sua testa. Ora ou outra ela fungava e limpava o nariz num paninho. Karina se encontrava pior. Os olhos inchados e vermelhos mostravam uma garota que chorou muito. Quando ele se lembrou do terrível relato da amiga, sentiu o peito apertar. Ficou pensando se a escolha de um cachecol seria para esconder as marcas do enforcamento.

Um assassino estava solto na cidade, e o garoto começou a formular milhões de teorias em sua cabeça. Hilda assassinada, a cabeça decapitada de Eduardo e o ataque a suas amigas na noite anterior não eram simples fatos aleatórios. Só queria entender a motivação daquilo tudo.

— A ligação. — disse Meghan aleatoriamente, surpreendendo alguns rostos na mesa. — Eu não consigo tirar aquela voz da cabeça.

Alice ia dizer algo, mas ao sentir o telefone vibrar sobre seu colo, decidiu atender, imaginando ser sua avó.

— Oi, vó, tô aqui ainda. Já disse que vou dormir aqui e...

— Não sou a sua vovó, Alice.

Ela sentiu os pelos do corpo arrepiarem. Pelo relato de seus amigos, aquilo era um péssimo sinal. Mantendo a calma, apenas respondeu:

— Por favor, me fala que você não é a pessoa de ontem.

Todos os olhares da mesa caíram sobre si. Karina sentiu o pesadelo voltar em flashes confusos, imaginando que aquelas terríveis coincidências estavam sim interligadas.

— Nossa, parece que é mais esperta do que parece, Alice Fernandéz. Gosto da sua garra.

— Ah, é?

— Sim. Se provou ser mais esperta do que imaginei. Mas relaxe, não tive intenção de te machucar.

— Obrigado pelo mimo.

— A decisão é sua — a voz riu. — Corra enquanto é tempo. Você entre os três têm menos a perder.

— Os três você quer dizer, o Bruno, a Meghan e a Karina?

— Sim. Não tem culpa no cartório, cara Alice. Está livre.

— Escuta aqui, seu psicopata de merda! Se eu não fosse um alvo, não teria sido atacada. Além do que, jamais permitirei que eles enfrentem isso sozinho, ok? Eu não tenho medo de você!

— Quanta determinação. Tem certeza de que é isso que quer?

— Nunca me senti tão convicta na minha vida!

— Bem-vinda então. E boa sorte... Vai precisar.

Fechou os olhos, temendo que suas teorias formuladas durante o jantar não se tornassem reais. Primeiro pensou na vestimenta do assassino. Poderia estar enganada, mas havia semelhanças entre a usada no clube e a que viu em seu condomínio. Com a morte de Eduardo, além do fato de Meghan e Bruno terem sido ameaçados, fez a adolescente formular as piores suposições possíveis. Estes três fatos, no intervalo de dois dias, eram algo fora do comum.

— É, estamos fodidos. — Constatou Alice ao ouvir o beep da chamada ser encerrada antes que pudesse responder. 

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