5 - Meu próximo erro
"Por toda a minha vida
Eu estive esperando
por alguém como você, sim
Eu estive procurando
por alguém como você
como você, como você,
como você, como você
Você me completa"
Avicci - You make me
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TERÇA-FEIRA A TARDE:
O dia estava ensolarado e ninguém queria andar naquele pedaço de chão que chamavam de praça, então a rua do lado de fora estava deserta.
E no meio do silêncio de Delfina e Cornélio, o forró tocava baixinho, em plano de fundo.
Ela não queria que ele soubesse o quanto a afetou, e Cornélio não queria dar a impressão de que estava gostando de ficar atoa. Tentava pensar em alguma coisa para dizer, mas depois do assunto pesado de antes, nada vinha em sua mente. Quer dizer, nada além daquilo:
Qual era a richa de Nathyaska com Delfina?
Ele se lembrava das palavras de Nathyaska avisando que Delfina não era uma boa pessoa, e também que quando tinham se encontrado no dia anterior, quase se atacaram.
Olhou para Delfina, ela parecia pensativa e calma. Talvez isso não se repetisse, e ele não conseguia mais se conter de curiosidade.
— Delfina — a chamou, ela voltou sua atenção para ele. — O que aconteceu entre você e a Nathyaska?
Um sorriso travesso surgiu entre os lábios dela enquanto pensava um pouco antes de responder.
— Achei que ela tivesse te contado, vocês são tão amigos.
Cornélio negou, balançando a cabeça.
— Foi o seguinte, eu tava indo pra escola, umas sete e quarenta e cinco, quando passei na frente da casa daquele seu outro amigo e eles saíram juntos da casa. Pensei: o que essa menina tá fazendo lá? Isso se repetiu por vários dias, aí eu entendi que ela tava morando na casa dele. Achei estranho, e soube que algo ia acontecer.
Ele franziu o cenho, de qual amigo ela estava falando? Tales, ou Inácio? Não sabia de nada sobre essa história.
— Depois de um tempo, a sonsa começou a passar mal dentro da sala e vomitou lá mesmo. Juntei os pontos, ela morando com um garoto e vomitando, pensei: tá grávida. Pensei e falei né. Disse que ela tava grávida e que tava morando com o menino. Não é minha culpa que todo mundo acreditou, sabe? A culpa foi dela que saiu correndo e chorando da sala.
Cornélio estava perplexo. Delfina realmente não batia bem das ideias.
— Tipo, se ela era inocente, devia ter falado.
Delfina deu de ombros, como se aquilo não fosse nada.
— E nem vem falar que eu estou errada e coisas do tipo, porque repito: você não sabe de todos os fatos.
Cornélio respirou fundo. A capacidade dela de distorcer os fatos só para estar certa era realmente impressionante.
— O que você fez foi errado.
Ela revirou os olhos.
— Falou o certinho...
— Você também não sabia de todos os fatos, Delfina.
— Então ela devia ter se defendido!
— Ela devia estar morrendo de vergonha.
— Se eu tava errada, não tinha motivo pra ela se envergonhar.
— Você falou na frente de todo mundo que ela tava grávida do amigo dela!
Delfina bufou e cruzou os braços. Estava perdendo a discussão outra vez e não gostou disso.
— Tá, tá, já passou, não faz diferença.
Cornélio sorriu discretamente, sabendo que tinha mexido com algo dentro de Delfina. Talvez ela fosse apenas uma garota inocente sobre seus próprios atos ruins. Isso era possível? Ele não sabia. Mas se fosse, até que poderia tentar ajudá-la.
— E o balde de água suja?
—Ah, isso? Foi só uma coincidência. O diretor me obrigou a limpar o pátio da escola durante uma semana depois das aulas, aí a sua amiguinha viu e riu de mim. Não tive muita escolha, joguei a água nela.
Ela apenas omitiu a parte em que sentiu muita satisfação em ter feito isso. Ver toda aquela perfeição de pessoa ser encharcada pela sujeira foi prazeroso.
Cornélio abriu a boca, e como não tinha muito o que dizer, sorriu.
— Você é maluquinha.
Em meio ao silêncio e com a sensação de que tinha perdido a discussão, Delfina logo tentou mudar de assunto.
— O que você mais gosta de fazer? — perguntou.
Cornélio franziu o cenho, surpresa com a mudança abrupta de assunto.
— Hã... — ele pensou um pouco, o que deveria dizer? — Gosto de... cantar.
— Cantar? — Delfina ergueu as sobrancelhas.
— Cantar — ele confirmou e deu de ombros.
Ela continuou com a expressão de surpresa por alguns instantes.
— Tipo o quê?
— Tipo... músicas internacionais, ou até MPB... toco no violão e canto. Só isso.
— Então você toca violão e canta — ela repetiu, tentando assimilar. — Legal.
— Legal? — Cornélio levantou uma sobrancelha, sem entender o que exatamente ela queria dizer.
— Cantar é legal, eu também gosto.
— Sério?
A cada segundo que passava perto de Delfina era uma nova surpresa.
— Do mesmo jeito que você, só que não sei tocar nenhum instrumento.
Cornélio sorriu. Era estranho, mas ele gostou e ficou curioso. Qual seria a intensidade do gosto dela por música?
— E você, o que mais gosta de fazer, além de "revelar a verdade"? — ele falou e fez aspas, abrindo um sorriso.
Ela revirou os olhos mas também riu.
— Eu também gosto muito de cantar.
Se encararam por alguns instantes. A nova descoberta era estranha e ao mesmo tempo, a sensação de identificação que sentiram era gostosa.
— Então finalmente encontramos algo em comum — ele comentou.
Então, sem aviso, um pensamento divertido surgiu na mente de Delfina. Ela olhou para Cornélio e sorriu daquele jeito que ele sabia que queria dizer que ela pensou em alguma gracinha.
— O que foi? — perguntou, desconfiado.
Delfina apenas olhou para a televisão e depois para a mulher mexendo no celular atrás do balcão. A senhora não parecia muito interessada no que acontecia ao seu redor, mas Delfina estava, e muito.
— A gente gosta de cantar, né?— Perguntou para Cornélio como quem não queria nada.
Ele concordou meio perdido e ela se levantou e foi até o balcão. Cornélio observou tudo.
— Tia, cadê o controle da televisão?
A mulher ergueu os olhos para Delfina por alguns segundos, e sem dizer nada pegou o controle e o entregou para ela.
Cornélio continuava confuso.
A garota caminhou de volta até a mesma e tirou do vídeo do forró que ainda continuava tocando. Mexeu em alguns botões e logo Cornélio percebeu que ela estava colocando alguma música.
— Você canta em inglês? — ela perguntou.
Cornélio concordou, e o sorriso presunçoso de Delfina se alargou.
— Então vamos cantar!
Olhou para Cornélio e apertou o play da música. Ele gostava da cultura pop internacional, por isso reconheceu a música pelo toque inicial.
Blank Space, da Taylor Swift.
— O quê? Delfina... — ele até iria brigar com ela e listar todos os motivos pelos quais isso era errado, mas já era tarde demais.
Delfina já tinha começado a cantar.
— "Prazer em te conhecer, onde você esteve? Eu posso te mostrar coisas incríveis"
E a voz dela era simplesmente deslumbrante. O timbre, a entoação... Há quanto tempo ela ensaiava? Quer dizer, aquilo não podia ter simplesmente nascido com ela.
Delfina olhou para Cornélio enquanto cantava e gesticulou com as mãos para que ele lhe acompanhasse. Depois de alguns segundos hesitando, ele se levantou, mandou toda a sua postura de garoto certinho para o inferno e começou a cantar com ela.
A ser livre, por alguns instantes, com Delfina.
E a voz dele tocou profundamente em algum lugar adormecido dentro dela. O timbre suave, a voz acolhedora, como se ele estivesse fazendo um carinho gostoso em seu ouvido e a consolando de sabe se lá o que.
Ela não entendeu e também não fez muita questão disso.
Até a mulher atrás do balcão começou a prestar atenção na cantoria bonita que acontecia em sua sorveteria.
Mas os dois pareciam perdidos em seu próprio mundo, e quando seus olhares se encontraram, sentiram uma corrente elétrica passando de uma só vez em seus corpos.
Cornélio perdeu o fôlego e no final, Delfina cantou sozinha:
— "Mas eu tenho um espaço em branco, querido. E vou escrever seu nome"
Não disseram nada, apenas continuaram se encarando, com as respirações aceleradas, enquanto acalmavam seus corações, agitados por algo além da música.
Até que a mulher no plano de fundo começou a bater palmas e eles desviaram seus olhares para ela, se sentindo satisfeitos com a aprovação daquela pessoa desconhecida.
Delfina se virou para ele e exclamou;
— Você tem uma voz maravilhosa!
Cornélio sorriu para ela, agradecido.
— Eu sei — respondeu sorrindo. — Você também não é nada mal cantando.
Eles se olharam ainda sorrindo, eufóricos pela boa música e por aquele sentimento que não conseguiram nomear. Ficaram se encarando por mais um tempo e começaram a gargalhar. Compartilhar aquela sensação gostosa era bom demais e eles não queriam que o momento passasse.
Mas passou, e antes do que gostariam, decidiram ir embora.
— Delfina... — Cornélio a chamou antes de irem em direções opostas.
Ela olhou para ele.
— Sim.
— Quero fazer isso mais vezes. Quero cantar com você de novo.
Delfina abriu a boca e teve que engolir em seco, porque não sabia o que dizer. Seu coração tinha se comprimido de uma forma nova e ela soube, ali, que queria muito beijá-lo. Porque Cornélio era atraente e porque ele a entendia, ou pelo menos se esforçava para entender.
E ela sentia tanta falta de ser compreendida... muito mais do que imaginava.
Esses eram bons motivos, não eram?
E ela nunca foi do tipo que passava vontade atoa ou pensava demais antes de fazer o que queria.
Então sorriu e se aproximou dele, segurou o rosto do mais alto entre suas mãos frias e lhou dentro dos olhos cor de mel enquanto engolia em seco por causa do frio na barriga que ele a fazia sentir.
Desceu os olhos para a boca meio rachada por causa da secura do ar e soltou um suspiro.
Cornélio quase não respirava.
— "Ai meu Deus, olhe esse rosto! Você parece meu próximo erro" — ela cantou um pedaço da música em voz baixa próximo aos lábios dele. — "Vou te mostrar coisas incríveis''.
Encostou seus lábios na boca dele e sem muita enrolação, o beijou.
Cornélio, que foi pego de
surpresa, não soube o que fazer por três segundos, mas depois segurou a cintura dela, se rendendo, se entregando. Delfina enfiou a mão no cabelo dele e se aproximou ainda mais, sem saber como iria querer se afastar depois. Porque a boca dele a deixava tonta e ela precisava de mais.
Ele levou uma mão até o rosto dela e como se ainda não fosse o suficiente, a puxou para mais perto.
É que ela tinha um cheiro tão bom, e a boca se encaixava perfeitamente na sua, e seu coração implorava por mais emoção, mais adrenalina, mais de Delfina.
Mas também precisavam de ar.
Se afastaram e suas respirações urgentes despertaram pequenos sorrisos entre os dois, ele beijou rapidamente os lábios dela mais uma vez e ela fez o mesmo.
Só mais uma vez...
— Eita cambada nojenta, isso aqui não é boate não! — A mulher da sorveteira gritou e pelo susto eles se afastaram. — Se for pra ficar nessa sem vergonhice, podem ir embora. Fora!
Se entreolharam uma última vez, e sem conseguir controlar o sorriso, Delfina o puxou para fora. E correndo, rindo, e sendo livres, os dois foram embora. Do jeitinho que a mulher mandou.
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Oiê! 🤠
2/2 postados hoje!
Ufa!
Ficou parecendo High School Music?
Ficou! Kakakak
Delfina e Cornélio amiguinhos ein...
Será que isso vai dar certo?
🤔🤔
Novamente, obrigada por sua leitura e voto!
Beijos, até a próxima 😘
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