2 - Vamos ser amigos
"Eu digo: 'porque é tão bom?
tão bom ser má?'
Conseguindo o que eu quero garoto
Porque isso te deixa tão bravo?
...
Porque se é problema que você está procurando
Oh amor, aqui estou eu"
Bad (feat. Vassy) - David Guetta
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TERÇA-FEIRA DE MANHÃ
Cornélio remexia a comida com o garfo sem muito interesse. Seus pensamentos estavam na tarde anterior, no dia anterior, no que ele fez e na garota estranha.
Claro que se sentia culpado, e o sentimento parecia que iria sufocá-lo. Se lembrava bem do real motivo para ter manchado o muro da escola: foi o que fizeram com Eugênia. Não conseguiu aceitar ou entender os motivos para terem feito aquilo, era demais para seu senso de justiça.
E apesar de todo o seu código de moral, havia pichado o muro do colégio. Se sentia realmente como um grande hipócrita.
Já tinham se passado quatro dias, e mesmo assim, Eugênia ainda não tinha pisado o pé outra vez no colégio. E ela não estava errada, qualquer pessoa ficaria traumatizada.
Agora, além de chateado, também estava muito preocupado.
— Cornélio, você está bem? — A voz de Inácio o trouxe de volta ao presente.
Ele levantou a cabeça e se lembrou de que estava no refeitório e que deveria estar comendo seu lanche. Inácio, Nathyaska e Tales o encararam, esperando pela reposta.
Porém, antes que ele pensasse em algo para responder, uma voz feminina e rouca anunciou:
— Ah, ele está ótimo! Não é garotão!? — Delfina se sentou ao lado de Cornélio e colocou a mão em seu ombro.
Todos se assustaram com a súbita aparição dela. E ao olhar para o rosto da garota, ele logo reconheceu a expressão presunçosa e travessa, expondo as intenções de Delfina.
Ele também olhou para a mão dela em seu ombro, com anéis em quase todos os dedos, observou as unhas pintadas com um esmalte azul escuro, e engoliu em seco.
Delfina abriu um sorriso desafiador e percebeu que todos sentados com o garoto olhavam para ela apreensivos, algo bem comum. Então analisou cada um dos rostos da mesa, e se deparou com um especialmente interessante.
— Meu Deus, Cornélio, você não tinha me dito que andava com a sonsa — Delfina comentou e encarou a garota em sua frente.
Mais cedo naquele dia, por conta de sua mais nova obsessão, Delfina foi atrás de informações sobre o garoto loiro que tinha encontrado no dia anterior.
O melhor de tudo é que nem precisou se esforçar muito, porque, aparentemente, qualquer garota naquele colégio conhecia um "moleque loiro e alto". Elas até queriam conversar com ela sobre ele, como se o garoto fosse um ídolo ou algo assim.
Claro, ele era bonito, de fato. Mas era bem sonso, como todos os seus outros amigos, na opinião de Delfina.
Porém, se tudo ocorresse de acordo com seus planos, os quais ela tinha bolado na noite anterior quando ficou até de madrugada com a cabeça a mil, ele se tornaria uma pessoa muito mais interessante. Ele tinha potencial.
— É Nathyaska — a garota retrucou.
Delfina voltou sua atenção para a sonsa em sua frente. O cabelo cacheado longo estava solto, caindo como uma cascata nas costas dela, a pele marrom de um tom avermelhado e profundo estava sempre muito bem hidratada e para a inveja de muitas outras garotas, Nathyaska parecia não ter um poro sequer aberto em seu rosto. Como se não bastasse, ela tinha um corpo que parecia ter saído de uma revista de moda, quase uma modelo.
Delfina realmente não gostava daquela garota. Algo nela a irritava profundamente, e não era apenas a aparência.
— Claro, sonsinha , acredito que começamos com o pé esquerdo, sou a Delfina. Quer ser minha amiga? — Estendeu a mão até o outro lado da mesa.
Nathyaska encarou a mão dela como se tivesse alguma doença contagiosa.
— Já te disse que meu nome é Nathyaska, e com pé esquerdo você se refere ao balde de água suja que jogou em mim ou ao boato que você espalhou sobre eu estar grávida? Não, eu não tenho a menor intenção de ser sua amiga — dito isso, Nathyaska se levantou e saiu da mesa.
Delfina não conteve uma gargalhada. Bons tempos...
Inácio se levantou junto e a seguiu.
— Será que eu fiz alguma coisa errada? — Delfina murmurou para si mesma e riu.
— O que está fazendo aqui? — Cornélio trincou os dentes.
— Bem, pensei que amigos se sentassem juntos na hora do lanche — ela respondeu indicando a mesa.
— E desde quando somos amigos?
Estava começando a ficar nervoso. Certamente a presença da garota problemática não era coisa boa, só por sua expressão dava para perceber que estava planejando algo. E aparentemente, ela nunca planejava coisas boas.
— Poxa Cornélio, assim você me magoa. Achei que depois de ontem fôssemos amigos.
Ela fez um biquinho fingindo tristeza.
— O que aconteceu ontem? — Tales, que também estava sentado à mesa, perguntou.
Cornélio soltou um suspiro cansado. Havia se esquecido que Tales ainda estava ali presenciando todo aquele show.
— Vamos sair daqui. — Cornélio se levantou e tentou puxar o braço de Delfina, mas a garota parecia estar mais interessada em ter uma platéia.
— Como assim? Você não vai me apresentar para o seu amigo? — indagou.
Delfina voltou a se sentar, dessa vez mais próximo dos outro garoto. Cornélio teve vontade de agarrá-la pelo braço e a tirar dali, já estava começando a ficar realmente irritado com aquelas atitudes.
O que ele menos gostava na vida era chamar muita atenção. Preferia viver em seu próprio mundinho, conversar com poucas pessoas e passar despercebido na maior parte do tempo.
No começo tinha sido bem difícil conquistar esse patamar na escola, já que inevitavelmente algumas garotas tentaram se aproximar. Ele deu alguma atenção para duas ou três, quase entrou em um relacionamento, mas não levou muito além disso. Com o passar do tempo, a poeira foi baixando e ele percebeu que não era tanta novidade assim e as pessoas pararam de encher o saco.
Por essa razão, Cornélio só queria que Delfina desaparece, tipo, evaporasse.
— Oi menino, eu sou a Delfina, amiga do Cornélio! — Acenou com a mão.
— Amiga? — Tales repetiu e olhou para Cornélio.
— Sim! Eu e o Cornélio temos um segredo! — ela sussurrou a última parte.
Essa foi a gota d'água.
— Segredo? Que segredo? — Tales continuou perguntando.
— Você sabia que o Cornélio... — Ela começou mas ele se apressou em tapar sua boca.
Tales arregalou os olhos diante da situação. Havia entre aqueles dois uma certa intimidade que revelava que eles provavelmente tinham alguma coisa, e isso era muito, muito estranho. E esse segredo deveria ser cabeludo, já que Cornélio queria tanto evitar que Delfina falasse.
— Não é nada. Esse é o Tales e os outros eram o Inácio e a Nathyaska, satisfeita? — Cornélio perguntou olhando diretamente nos olhos de Delfina, que agora parecia estar com raiva.
A prova disso foi quando ela sorriu consigo mesma antes de cravar os dentes na palma da mão dele. Mordeu com força.
— AAAAI! — Cornélio olhou para sua mão e viu que o local estava muito vermelho. Talvez ficasse até roxo.
— Nunca mais faça isso — ela alertou em tom de brincadeira e lhe direcionou uma piscadela.
Cornélio olhou para o rosto dela tomou consciência do que havia feito. Ele tinha colocado a mão na boca de uma garota de uma forma quase agressiva, e pior ainda, daquela garota em específico.
Só podia estar ficando doido.
O que o desespero não faz...
— E respondendo sua pergunta, — ela se levantou e ficou mais próxima dele. — ainda não estou satisfeita. Se. Prepare.
Cornélio já estava nervoso pelo que tinha feito, e quando percebeu que ela estava apenas a centímetros de distância do seu rosto, por ser um pouco mais baixa, pensou que fosse parar de respirar.
Não tinha reparado antes desse momento, mas ela tinha algumas sardas espalhadas pelo rosto.
— Eu nunca vou estar satisfeita Cornélio, enquanto não acabar com essa tua farsa — Delfina revelou em um tom baixo.
Ela olhou para trás e se despediu com um aceno de mão para Tales, depois saiu andando na direção oposta.
Cornélio achou que fosse desfalecer ali mesmo, mas apenas se sentou novamente. Delfina realmente era completamente sem noção, mas a coisa que mais o incomodava era a necessidade que ela tinha de chamar atenção para suas atitudes ruins.
Aliás, de que farsa aquela maluca estava falando?
— Cornélio, que história é essa? — Tales começou um questionário. — Você está lembrado do que ela fez para a Nathyaska, não é? Ela humilhou um monte de gente. Essa menina é uma delinquente. Uma sei lá, maníaca, drogada... E agora vocês são amiguinhos?
Cornélio fechou os olhos e respirou fundo, sem coragem para se levantar e muito menos para continuar aquele assunto. Era simplesmente sufocante, ter que lidar com tantas coisas.
De uma hora para a outra sua vida pacata tinha virado de cabeça para baixo, e gostaria muito de culpar Delfina, mas sabia que o verdadeiro culpado era ele. Por ter pichado aquele muro. Por ter desejado matar todos. Por ser tão... impotente.
As pessoas chamavam Delfina de delinquente e a evitavam como se ela tivesse alguma doença.
E se soubessem que ele era como ela, que também estava ficando maluco, o tratariam daquele jeito? Alguém poderia entender toda aquela confusão em sua mente?
Cornélio deitou sua cabeça em cima da mesa e suspirou outra vez, cansado de tanto pensar em coisas inúteis. Só queria que alguém lhe dissesse o que fazer. Precisava urgentemente de ajuda.
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Oiê!😎
Mais um capítulo publicado, glória a Deus 🥲
Essa música no início me deu uma nostalgia... mas acho que ela super combina com a vibe apocalíptica da Delfina.
Acredito que vou postar novos capítulos todo sábado, está dando certo assim.
O bom é que essa história já tá quase completa nos meus rascunhos, então vai ser fácil terminar ela.
Eu tô ansiosa pelo final, que ainda não editei totalmente 🤣
Antes de ir embora, muito obrigada pela leitura e um ótimo final de semana!
Beijos 💋
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