Capítulo 34
Suas palavras e o peso que elas carregam, causam um forte impacto entre nós. Ele já as disse outras vezes, mas nunca com tanta certeza e determinação.
— Está demitida — repete.
Alguma emoção estranha passa pelo seu olhar, mas não consigo identificar qual.
O ar entre nós fica pesado. A tensão tão palpável que pode ser cortada com uma faca. Seus olhos aos poucos são preenchidos por pesar. Nós dois sabemos que dessa vez é definitivo.
— Peço a apenas que cumpra um aviso prévio de uma semana — pede após dolorosos minutos de silêncio. — Não por mim, mas pelos gêmeos, para que não fiquem sem babá, e pela minha irmã que precisará de uns dias para encontrar sua... Sua substituta — a forma como hesita e o som estranho como sua voz sai no final me faz pensar que ele se arrepende do que me falou no escritório.
Acredito que de fato ele se arrepende. Matteo não é uma pessoa má, muito pelo contrário, ele tem um coração lindo que mantém muito bem escondido do mundo. Um coração que eu quase pude tocar, mas ele me afastou antes que eu conseguisse.
Aquelas palavra cruéis que ele disse no escritório tinha apenas o intuito de me afastar, seja lá que merda aconteceu naquele maldito restaurante, o fez querer se proteger até mesmo de mim e acho que isso me magoa mais do que aquelas palavras.
Por isso meu coração está tão disposto a perdoa-lo. Se ele deixar de ser covarde me pedir perdão eu o farei sem pensar duas vezes. Não que eu vá permitir que ele faça esse tipo de merda sempre que estiver assustado, mas quero ajudá-lo.
Deus...
Eu quero tanto ajudar ele. Mas ele precisa permitir isso. E se antes, morando em sua casa e convivendo com ele diariamente, foi difícil imagina agora que fui demitida.
Ah meu Deus...
Eu fui demitida.
— Que merda você fez, Analice? — Murmuro observando as costas largas dele enquanto se afasta.
Procuro o quarto que Tim mostrou antes e entro banheiro, lavo o rosto lamentando ser essa pessoa inconsequente que age primeiro e pensa depois.
Enxugo o rosto quando escuto as vozes de Britt e Tim, me apressando a sair antes que eles comecem a se agarrar.
— Ana! — O grito animado do meu garotinho causa uma inundação de lágrimas nos meus olhos.
Praticamente corro até o bebê, arrancando ele do padrinho e apertando entre meus braços.
— Eu estava te ligando — minha ex-chefa mostra o celular. Meu olhos se enchem mais quando lembro da demissão. — Ei, o que foi? O que aquele stronzo fez dessa vez? Foi ele, não é? Eu vi quando vocês entraram juntos, achei que as coisas estavam se ajeitando.
Ignoro todas as suas palavras, aproveitando a quentura gostosa do corpo pequenino e gorducho do meu menino.
Um cheiro forte me faz olhar para o lado com uma careta. Tim está trocando a fralda da afilhada.
Oh, droga... Depois de sábado eu nunca mais vou trocar essas fraldas tóxicas.
Fungo um pouco.
— Eu vou matar aquele stupido. Juro que vou.
Tenta sair do quarto mas entro em seu caminho.
— Não vai discutir com seu irmão no jantar da sua sogra, vai?
— Ela não é minha sogra — ergo as sobrancelhas. — Tá, isso não importante agora. E eu prometo não brigar com ele se você contar o que aconteceu.
— Você com certeza vai brigar com ele se souber o que aconteceu e eu não quero isso. Eu só quero ir para casa com os gêmeos — tenta argumentar, mas interrompo. — Prometo que quando você chegar em casa eu conto tudo.
Me analisa, hesitante.
Seus ombros caem e ela assente, não muito satisfeita.
— Tudo bem, mas acho bom me esperar acordada, não vou dormir sem saber de tudo — concordo. — Charlie está lá fora e vai levar vocês.
— Mas e você?
— Eu levo ela — Tim se prontifica terminado de ajeitar a roupinha de Alice. — Pronto, agora está limpinha e cheirosa como uma princesinha — beija a barriguinha da bebê, arrancando uma gargalhada gostosa dela.
Meus olhos se enchem de lágrimas novamente, sabendo que em breve não vou mais ouvir essa risada.
— Ana, como posso te deixar ir se você parece que vai chorar a qualquer momento?
Balanço a cabeça em negação.
— Não vou chorar, só preciso ficar sozinha e digerir tudo o que aconteceu aqui.
— Tem certeza? — Meneio a cabeça, confirmando.
Vou até os anfitriões me despedir. Ruth insiste para que eu fique pois o jantar será servido em dez minutos, mas explico que não estou me sentindo bem. Ela deseja melhoras e saio, encontrando Tim e Britt do lado de fora, os dois já colocaram os gêmeos e as bolsas dentro do carro. Me despeço do casal e sento entre os bebês.
Algum tempo depois, Charlie estaciona na garagem e pega o adormecido Levy enquanto eu levo Alice.
— Obrigado, Charlie — agradeço quando ele, cuidadosamente, repousa o menininho em seu berço.
Abro a última gaveta da minha cômoda, coloco Alice na frente dela e deixo que bagunce enquanto troco de roupa. Deixa-la fazer bagunça é muito mais eficiente do que dar um brinquedo para ela.
Depois de vestir uma saia azul longa com flores coloridas e um top de crochê branco, troco a roupa de Alice por um pijaminha. Abro a boca surpresa, retirando da gaveta dois pares de pijamas azul escuro com estrelas e constelações brancas, a mesma estampa que o meu, mas em pijaminhas minúsculos de bebê.
— Por que ele comprou pijamas combinando para mim e para os filhos? — Reflito sozinha.
— Papa.
Levanto a cabeça a tempo de ver a porta fechando. A menina corre até a porta chorando e chamando por ele. Tento acalmar ela, mas nada adianta.
Após alguns minutos de desespero — da parte de nós duas — a porta é aberta com certa violência, meu chefe arranca a filha dos meus braços e sai sem falar uma única palavra.
Encaro a porta aberta, desnorteada.
— Você ainda vai me enlouquecer, Matteo, eu juro que vai — resmungo, retirando da gaveta um pijaminha branco com estampa de bolas de futebol americano. Com cuidado, tiro a roupa de Levy, trocando pelo pijama.
Sento na cadeira de amamentação e aguardo meu chefe trazer a filha para que eu possa colocar um pijama nela. Apenas cerca de duas horas depois finalmente percebo que ele não virá enquanto eu estiver aqui.
Frustrada, mostro o dedo do meio para uma das câmeras e vou para meu quarto. Deito na cama, o tablet nas mãos e os olhos atentos nas imagens. Menos de dez minutos depois ele entra com a filha adormecida, tira a roupa dela com cuidado, troca a fralda, veste um pijama e beija sua testa, beija também o filho e sai, não antes de lançar um olhar na direção do meu quarto.
Solto o tablet ao meu lado, frustrada com toda essa situação.
— Imbecil. Idiota. Pirulito de gelo.
Apago o abajur, me ajeitando debaixo dos lençóis. Longos minutos depois levanto sem pensar muito e deixo meus pés me levarem para o quarto dele.
— Matt? — Bato duas vezes na porta. — Matteo? — Testo a maçaneta, constatando que está fechada, como imaginei. — Está me ouvindo? — Colo a orelha na porta, tentado ouvir qualquer mínimo barulho. — Vou falar mesmo assim.
Respiro fundo, tentando organizar minimamente o caos que está meus pensamentos.
— Eu não ligo de ter sido demitida, tá? Lamento muito perdee meu salário? Claro que sim, mas trabalho arrumo outro. Estou triste por me afastar dos gêmeos? Sim, claro que estou. Amo aqueles bebês como não amei ninguém na vida. Mas o que está doendo mais é não saber o motivo para você ter se afastado de mim daquele jeito, o motivo para ter sido cruel falando que sou insignificante e substituível, você me quebrou como achei que ninguém mais seria capaz. Eu te odeio por isso, sabia? — Encosto minha testa na madeira escura, enxugando algumas lágrimas. — Mas eu sei que você só foi cruel daquele jeito porque um dia foram cruel com você, não que justifique, mas explica.
A porta treme levemente, me fazendo acreditar que ele também está próximo a ela.
— Eu nunca te pedi explicações sobre nada do que passou, que direito eu tinha para exigir algo assim? Mas agora eu gostaria de explicações, Matt. Gostaria que você abrisse essa maldita porta e me contasse o que aconteceu naquele maldito restaurante, o que te deixou tão apavorado que você agiu como um maldito sem coração e partiu o meu. Queria que confiasse em mim e me deixasse te ajudar.
O silêncio continua.
Sento no chão, apoiando a cabeça na porta.
— Seja sincero — peço após enxugar mais algumas lágrimas — não está doendo? Se afastar de mim, me mandar embora e abrir de mão daquela coisa estranha que estávamos construindo, não está doendo? Nem um pouquinho que seja? Vou ser sincera com você, em mim tá doendo. Eu disse que não tinha medo de ser quebrada por você porque já estava quebrada demais, e eu realmente não tinha medo. Não achei que algo ou alguém poderia me quebrar mais do que já estava. Mas agora, a sensação que tenho é que você enfiou a mão no meu peito e arrancou meu coração sem anestesia alguma. É uma sensação bem desagradável, sabia? Mas, ainda assim, como uma tola apaixonada, eu te perdoaria se você me pedisse perdão. Acho que nós dois sabemos que isso não vai acontecer, você está há tempo demais agarrado as próprias dores e duvido que abra mão delas agora, não é?
Me calo, tentando ouvir algo através do silêncio, qualquer coisa. Suspiro quando o silêncio se estende.
— Tudo bem, vou te deixar em paz agora — levanto, mas lembro de algo. — Matt? Pode me fazer um favor? — Encaro porta esperando por algum sinal de que ele está me ouvindo. Mas não tem nenhum.
Suspiro.
— Promete pra mim que vai ser um bom pai? Eu te assisti com eles todos esses meses e sei que você pode ser um bom pai. Promete que quando eu for embora no sábado vai voltar a passar tempo com eles? Não precisa ter ninguém por perto, pega seus filhos e se tranca na brinquedoteca ou em qualquer lugar que possa ficar sozinho com eles, mas por favor, não os deixe mais chorar chamando por você. Se eles forem a próxima Cindy da minha vida, eu mesma me encarrego de te mandar para o inferno, okay?
Começo a me afastar, mas lembro de outra coisa e volto.
— Ah e por favor, seja um bom irmão, Britt te ama muito e merece receber esse amor de volta. Seja paciente com Tim também, e dê um bônus de natal a ele por te aturar há tantos anos. Você é um homem maravilhoso, Matteo, deixe as pessoas verem isso. Daqui há quarenta ou cinquenta anos, não queira ser um velho amargurado que vai morrer sozinho porque se prendeu ao passado e afastou todos que o amavam. Nesse momento eu te odeio, mas não quero que você tenha esse fim triste.
Porque eu te odeio mas também te amo — completo mentalmente.
Me calo um pouco, pensando se tem algo mais que eu queria falar. Concluindo que não, decido parar de conversar com a porta.
— Ah, me desculpa pelo monólogo, mas te conheço o suficiente para saber que você vai continuar fugindo de mim como o diabo foge da cruz e provavelmente não te verei mais antes de ir embora. Então, obrigado por me lembrar como é estar apaixonada. Gostei da sensação, acho que vou fazer isso mais vezes — após essa pequena provocação, me afasto sorrindo.
Mesmo estando triste, deito na cama como peito leve e não demoro a adormecer.
— Foi realmente um grande prazer trabalhar com vocês e eu não pretendo de maneira alguma perder contato — abraço Kim e Lucy antes delas entrarem no carro de Charlie, que irá levá-las para casa antes de ir para sua própria casa.
Hoje Britt organizou um jantar de despedida para mim com Charlie, Lucy, Kim e até Tim. Foi divertido e emocionante. Uma despedida adequada para os meses que passamos juntos aqui.
Com minha ex-chefa e seu namorado em meu encalço, subo para o andar de cima.
— Gostei muito de te conhecer, loirinha, espero que possamos continuar amigos.
— Não se preocupe, Adônis, se você não fosse tão simpático ainda iria querer te ver só para admirar sua beleza.
Ele ri.
— Adônis? — Britt pergunta confusa.
— Piada interna — o bonitão pisca para mim. — Vou deixar vocês se despedirem — beija minha bochecha e se afasta, indo para o quarto de Brittany.
Aparentemente ele dorme aqui com certa frequência, mas Matteo e eu ainda não tínhamos notado.
Britt e eu entramos no quarto que me abrigou nos últimos onze meses e onde passarei minha última noite na mansão.
Eu deveria ter ido embora horas atrás, quando meu expediente acabou, mas por causa do jantar de despedida ela me convenceu a ficar até amanhã de manhã.
— Sinto muito — fala quando fecho minha mala após tirar um pijama de dentro.
Ela passou os últimos dias tentando convencer o irmão a voltar atrás, mas ele está irredutível. Eu sabia que ela não conseguiria, tive esperanças, mas sabia que ele não voltaria atrás, eu vi a certeza e determinação em seu olhar naquela noite.
— Tudo bem, Britt, estou colhendo as consequências das minhas próprias escolhas — deixo a mala perto da porta e sento ao seu lado na cama que poucas vezes foi ocupada por Michelly. — Por favor, não fique com raiva do seu irmão por muito tempo. Ele é um imbecil, mas um imbecil que precisa muito de você pra não se perder em si mesmo. E nós duas sabíamos que esse dia chegaria, eu testei demais a paciência dele.
— Depois que vocês se envolveram ele começou a mudar tanto que cheguei a pensar que você nunca mais sairia das nossas vidas.
Sorrio triste.
Por um segundo também me iludi com isso.
— Bem, a vida é feita de ciclos, não é? Meu ciclo aqui precisa se encerrar para um novo iniciar. Eu não ser mais babá dos gêmeos não significa que quero perder contato com você, sua amizade é preciosa para mim — aperto suas mãos entre as minhas. — Além do mais, não quero perder contato com aquelas coisinhas preciosas — aponto com o queixo para a porta de ligação com o quarto dos bebês.
— Você vem para a festa de um ano deles, não é?
— Mas é claro que sim, te ajudei a organizar tudo, não posso perder.
Nem perder a oportunidade de infernizar Matteo. Vou deixar ele se iludir achando que vou me afastar e quando ele menos esperar vai estar me chamando de amore mio. Ele não sabe o que o aguarda.
Brittany abre o sorriso mais triste que já vi em seus lábios e me abraça bem apertado.
— Não vai embora sem falar comigo amanhã de manhã — pede.
Concordo com um meneio de cabeça.
Nos despedimos e vou para o banheiro. Troco o vestido pelo pijama, escovo os dentes e solto meus cabelos, antes presos em um coque.
Atravesso a porta de ligação, observando um pouco os rostinhos adormecidos. Meu coração parece vai explodir de amor.
— Como posso amar tanto vocês? — Sussurro, sentindo a emoção apertar minha garganta.
Perco a noção do tempo enquanto fico ali gravando cada traço dos rostinhos rechonchudos. Quando minhas pernas começam a doer, acaricio os rostinhos com cuidado, beijo suavemente as bochechas gorduchas de cada um e volto para meu quarto.
Dormir não é uma tarefa fácil. Passo muito tempo rolando de um lado para o outro, minha mente não para um único segundo. Mas, em algum momento, o sono finalmente vem me levar para o mundo dos sonhos.
No entanto, não muito depois, batidas pesadas na porta me acordam. Sento na cama, tentando entender o que está acontecendo. As batidas retornam mais pesadas, me irritando. Quase grito um “Já vai”, mas lembro a tempo que os gêmeos estão dormindo logo aqui do lado.
— Ana! — O grito soa meio arrastado, quase não reconheço a voz. —Ana!
Corro para abrir a porta, com medo dele acordar os gêmeos.
— Que merda está pensando, senhor Di Rienzo? Seu filhos estão dormindo aqui do lado.
Faz careta, apoiando o corpo no batente.
— Num me chama assim.
— Você exigiu que eu te chama-se assim.
— Pois estou desexigindo.
Franzo o nariz, dando um passo para trás.
— Se jogou em um barril de cerveja, foi?
— Nunca coloquei essa merda na boca! — Praticamente grita, me deixando irritada.
Odeio bebidas alcoólicas e odeio como as pessoas ficam após beber.
— Vai dormir — começo a fechar a porta e ele cambaleia tentando me impedir.
— Não bebi cerveja, eu joro — ri como se tudo fosse muito engraçado. — Joro — ri mais. — Jo ou Ju? Ju. Eu juro que não bebi — a voz embolada me faz revirar os olhos.
— E como ficou nesse estado patético?
— Talvez... Talvez eu tenha experimentado um pouquinho de uísque.
— Um pouquinho?
— É, só um pouquinho — mostra com o indicador e o polegar.
Sorri debilmente e dá um passo em minha direção, mas se desequilibra. Preciso ser muito ágil para não deixar ele cair, com esforço, empurro o corpo dele para a parede, onde ele se apoia.
— Tá tarde, Matteo, vai tomar um banho e dormir.
— Não, Ana, não me abandona!
Fecho os olhos, tentando conter a irritação e impaciência.
— Não grita, infeliz, seus filhos estão dormindo. E eu ainda estou bem aqui na sua frente.
Abre um sorriso bêbado, acariciando minha bochecha sem muita delicadeza.
— Eu te amo, sabia?
Tiro sua mão do meu rosto com impaciência.
— Você tá embriagado e falando besteira. Vai tomar banho e dormir — peço ignorando os tropeços que meu coração dá de tão acelerado que está.
Não quero uma declaração bêbada. Quero ver ele ter coragem de me falar isso sóbrio.
— Só durmo se for com você.
— Então vai passar a noite acordado.
Dou as costas soltando um gritinho quando ele agarra minha perna direita. Ergo o braço, curvando o corpo para enxergá-lo por debaixo da minha axila.
Quando nossos olhos se encontram, ele sorri e beija a batata da minha perna.
— Mi rifiuto de dormirem senza di te. (Eu me recuso a dormir sem você.)
— É o quê?
— Quero dormir com você, perr favore — ri de um jeito fofo. — Per favore.
Tem um homem de 1,87cm jogado aos meus pés com olhos de gatos de botas e um sorriso ridiculamente fofo.
Como posso não me render?
— Levanta daí — seu sorriso é tão brilhante que facilmente ofuscaria o sol.
Com muita dificuldade, ajudo ele a se levantar. Não é uma tarefa fácil, ele está bêbado e pesa para caramba.
— Você pode dormir comigo — falo fechando a porta —, mas só depois que tomar um banho.
Sorri malicioso.
— Você vai dar banho em mim?
— Claro que não, você já é grandinho suficiente para fazer isso sozinho.
Ele apenas sorri antes de começar a desabotoar lentamente a camisa preta.
— O que está fazendo, Matteo? — Tento soar impaciente, mas estou totalmente hipnotizada pela sua ceninha.
— Não sei você, mas eu tomo banho pelado — joga a camisa no chão, começando a remover o cinto. Saio do transe quando sua calça cai no chão, exibindo um belíssimo volume mal contido pela cueca branca e fina.
Que inferno!
Esse homem tem uma imensa coleção de cuecas pretas e cinzas, mas justo hoje está com uma branca.
Deusa... Me segura ou eu me jogo em cima dele.
O encanto é quebrado quando, sem aviso prévio, Matteo se curva vomitando nos próprios pés.
Argh.
Estremeço com nojo, mas corro para ajudar o homem que parece querer vomitar mais. Guio ele até o banheiro, mal chegamos no vaso e ele vomita de novo e de novo e de novo. Algum tempo depois, quando as ondas de vômito param, ajudo ele a entrar no chuveiro. Não entro junto, no entanto, me mantenho por perto com medo dele cair.
Quando ele abre o box, entrego a toalha mantendo os olhos no seu rosto. Matteo se enxuga todo desajeitado, enrola a toalha na cintura e tenta tirar a cueca por baixo, mas se desequilibra, quase indo ao chão.
— Deixa que eu faço isso — me aproximo e ele abre o sorriso mais safado que já vi em seu rosto.
— A tata petulante é doida para me ver pelado, não é? Não fica com vergonha, também sou doido pra te ver pelada — reviro os olhos, fingindo que não estou começando a gostar da sua versão bêbada e sem filtro.
Faço-o virar de costas para mim, desenrolando a toalha antes de começar a tirar sua cueca.
— Então você pode ver minha bunda mas não pode ver meu pirulito? — Me seguro para não rir do jeito que ele fala. — Ana, você sabia que meu pirulito quer conhecer sua joaninha?
Termino de prender a toalha, virando-o de frente para mim.
— O que eu sei, Matteo, é que amanhã você vai se arrepender profundamente de ter enchido a cara e vindo aqui. A ressaca moral vai te comer vivo. Vem — seguro sua mão, arrastando-o até o quarto.
Deixo ele esperando na minha cama e busco uma cueca e uma calça no seu quarto. Quando volto ele está dormindo debaixo dos meus lençóis e tem uma toalha branca jogada sobre seu vômito.
— Acorda, Di Rienzo — chacoalho seu corpo. Ele resmunga, mas não abre os olhos. — Acorda, Matteo, você tem que vestir alguma coisa.
Puxo seus braços, fazendo ele sentar.
Sonolento, o homem tira os lençóis e arregalo os olhos, ficando de costas.
— Você está nu? Está nu na minha cama?
Ouço sua risadinha.
— Não finja que não queria me ver nu na sua cama. Eu seu que você sonhou com isso.
Okay, eu amo essa sua versão safada e engraçadinha.
— Toma — com os olhos cobertos, jogo as peças escuras em direção a cama.
— Pode abrir os olhos.
Tiro a mão devagar.
A visão é espetacular.
O corpo sarado, coberto apenas pela boxer preta, os cabelos molhados caindo na testa e os olhos me fitando com intensidade.
— E a calça?
— Não vou vestir.
— Vai sim.
Balança a cabeça em negação.
— Não quero — reafirmando seu ponto, atira a calça de moletom na cama ao lado.
Bufo, irritada com sua teimosia.
— Vem — bate no espaço minúsculo ao seu lado.
— Vou dormir na outra cama — aponto para trás de mim. — Uma cama de solteiro é pequena demais para nós dois.
Levanta, menos cambaleante do que antes. Me pega nos braços como se eu não pesasse nada e deita, mantendo meu corpo enroscado no seu.
Sua mão acaricia meu rosto com delicadeza.
— Sei la cosa più bella che i miei occhi abbiano mai avuto il piacere di vedere. (Você é a coisa mais bela que meus olhos já tiveram o prazer de ver.)
Meu corpo inteiro arrepia.
— O que isso quer dizer?
Ele apenas sorri, migrando o carinho leve das minhas bochechas para meus cabelos.
— Eu te amo — sussurra. — Daqui há quarenta ou cinquenta anos, quando eu estiver morrendo, quero que seu rosto seja a última coisa que vou ver.
Sua declaração ilude meu tolo coração. Sem saber o que falar, me enrosco mais em seu corpo, enfiando o rosto no seu peito nu.
— Ana.
— Hum?!
— Amanhã quero te contar uma coisa, promete não me abandonar?
— Prometo.
Seus braços se apertam um pouco mais a minha volta.
— Eu confio em você.
_______________
Eita, rolou até declaração de amor encorajada pelo álcool.
Acham que agora as coisa engatam?
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