Capítulo 26
— Você cortou o cabelo!
Não me surpreendo ao entrar no meu quarto e encontrá-lo deitado em minha cama, tem sido assim todos os finais de semana quando volto da minha folga.
— Por que você cortou o cabelo? — Se aproxima, tocando as mexas curtas.
Antes meu cabelo batia mais ou menos um palmo abaixo do ombro, agora está cerca de dois dedos acima do ombro.
— Achou feio?
Ri, enrolando uma mecha em seu dedo.
— Você teria que se esforçar muito para ficar feia — me olha com atenção. — Non, non Vero. (Não, não é verdade.) Acho que nem tentando muito você conseguiria ficar feia — passa os braços a minha volta, repousando as mãos na minha lombar. — Está ainda mais linda! Mas por que você cortou?
Dou de ombros.
— Fiquei com vontade de mudar o visual, então fui lá e fiz.
— Adoro a leveza e espontaneidade com que você leva a vida.
— A vida não é complicada, sabia? Nós que complicamos.
— Não concordo — uma sombra escura parece cobrir sua feição.
Ergo meus pés, unindo nossos lábios em um beijo tranquilo, carregado de saudades. Pouco à pouco sinto a tensão de seu corpo diminuir. Seu suspiro pesado no meio do beijo me arranca um sorriso.
— Me conta, como foi o final de semana? — Me arrasta até a cama. Apoia as costas contra a cabeceira, me puxando para sentar entre suas pernas.
— Ah, Matt, foi lindo. Fiquei triste por voltar tão rápido, adoraria passar mais tempo lá, principalmente no verão. Mas agora também seria legal.
No final de semana consegui três dias de folga pois uma amiga minha, que fiz durante o breve tempo na universidade, se casou e me convidou para ser dama de honra. O noivo dela vem de família abastada e, como os dois são apaixonados por praia, optaram por realizar a cerimônia na casa da família dele nos Hamptons.
— Eu adoraria ter uma casa nos Hamptons, ou pelo menos alugar uma casa e passar um ou duas semanas por lá.
Passo os próximos minutos tagarelando sobre a cerimônia, a festa e a beleza do local. Matteo apenas ouve tudo atentamente, acariciando meus cabelos.
Quando seus lábios tocam suavemente meu pescoço, o clima entre nós muda. A temperatura de repente parece mais quente. Me viro em seus braços, beijando seus lábios com fervor.
Nossos beijos estão cada vez mais afoitos, mas ainda não passamos para a próxima etapa. Não sei os motivos dele para não avançar, mas sei que ainda não avancei, principalmente, porque as coisas entre nós já estão suficientemente complicadas.
Não consigo, e nem quero, ignorar o fato de que ele é meu chefe. Me preocupo com como as coisas ficarão se formos além.
Me afasto ofegante.
— Preciso... Acho melhor eu tomar um banho. Daqui à pouco os gêmeos acordam e quero matar a saudades deles com muitos beijos e abraços.
Balança a cabeça suspirando e puxa uma das minhas almofadas, colocando no colo. Mantenho meus olhos fixos ali, como se em algum momento fosse conseguir enxergar através da almofada
— Analice?
— Hm?
— Banho.
— O quê? — Finalmente desvio os olhos. Um sorrisinho sacana estica seus lábios sedutores.
— Você não ia tomar banho?
— Oi? Ah, é... Banho — aponto para o banheiro e praticamente corro para lá.
Me encosto contra a madeira, sentindo minha pele em chamas.
— É... Analice, acho que você tá cada vez mais perto de descobrir se o pirulitinho dele é mesmo de gelo ou não.
— Buona Notte!
— Papa! — Alice grita feliz. O sorriso que ele dirige para a filha é tão brilhante que poderia ofuscar o sol.
Antes que possa chegar até a filha, Brittany entra em seu caminho.
— Você tá bem? — Segura o rosto dele, virando de um lado para o outro — Seja sincero, você está bem?
Ele larga a pasta preta na ilha e tira as mãos dela de seu rosto.
— Eu estou bem, você é que parece não estar. O que aconteceu?
— Tim me ligou, ele tá desesperado achando que você está com alguma doença terminal.
Bufa, revirando os olhos.
— Você conhece aquele stronzo, sabe como ele é dramático.
— Você está doente? — Pergunta novamente.
Ele ignora, se inclinado para tirar a filha — que não para de chamar por ele — do cadeirão de alimentação.
— Buona Notte, Picola Ragazza — a menininha se derrete toda, enchendo a bochecha dele de beijos babados.
— Matt, você está doente? — Insiste aflita.
— Não, Sorellina, eu não estou doente.
— Então por que Tim está preocupado? Ele parecia mesmo desesperado, Matt.
Revira novamente os olhos.
— Ele tá fazendo esse drama todo apenas porque informei que vou tirar uma semana de férias — fala como se não fosse nada, entregando o copo de água, próprios para bebês, para a filha.
— É o quê? Você vai o quê?
Faz careta.
— Tim falou exatamente essas mesmas frases.
— Tem certeza que não está morrendo, Matt?
Bufa.
— Claro que tenho, Brittany. É tão chocante assim eu tirar férias?
— Claro que é! Você é Workaholic Matt, folga no domingo porque praticamente te obriguei, mas ainda assim trabalha remotamente monitorando seus investimentos, ações e empresas menores. A última vez que você tirou férias foi na sua lua de mel, cinco anos atrás. Entendo muito bem porque Tim está tão preocupado.
— Estou bem, Sorellina, não se preocupe. Apenas decidi tirar uns dias de férias e aproveitar minha casa nos Hamptons.
Abro a boca surpresa.
Ele tem uma casa nos Hamptons?
— Você tem uma casa nos Hamptons? — Britt expressa minha curiosidade.
Confirma sem olhá-la, ocupado demais limpando a boca de um Levy quase adormecido na cadeira de alimentação.
— Acho que ele precisa dormir.
— Matt, se concentra em mim. Como é que eu não sabia da sua casa nos Hamptons?
Dá de ombros.
— Até ano passado você também não sabia sobre minha Villa em Mykonos.
— É verdade. E eu também não sabia da casa em Mimai Beach. Tem mais alguma propriedade praiana que você não me contou? Em Santa Mônica, talvez? Aliás, eu adoraria uma casa de praia lá, você tem?
— Não, nenhuma casa em Santa Mônica.
Faz bico.
— Tudo bem. Mas você tá bem mesmo, não é? — Confirma.
Devolve a filha ao cadeirão, beija a testa da irmã e sai da cozinha, não antes de me dirigir um sorriso discreto.
— Viu isso? — Britt vira para mim animada. — Ele beijou minha testa na sua frente. Ele nunca demonstra nada na frente de ninguém. E ele também me chamou de Sorellina, faz quase quinze anos que ele não me chama assim — seus olhos se enchem de lágrimas. — Obrigado por entrar nas nossas vidas — me abraça apertado.
— De nada... Eu acho.
Largamos uma a outra quando Alice grita, exigindo nossa atenção.
— O que é Sorellina? — Pergunto enquanto subimos para o quarto dos gêmeos.
— Irmãzinha em italiano. Aliás, seu italiano é horrível.
Rio.
— Ei! Você tá falando igual seu irmão.
— Quando ele te disse isso?
— Muitas vezes. Uma delas foi quando eu tava ensinando os gêmeos a chama-lo de papà. Aquele ingrato.
Ri.
— Por que ele parou de te chamar assim?
Deita o sobrinho sobre o trocador, o olhar ficando triste de repente.
— Quando voltamos da Itália eu pedi para ir morar com meu pai, acho que magoei ele com esse pedido. E acabei nem indo morar com meu pai, aparentemente ele tinha um longo histórico de embriaguez e uma vida muito instável, por isso abriu da nossa guarda quando eu tinha uns seis ou sete anos. Depois que cresci e enxerguei alguns dos sacrifícios que meu irmão fez por mim, me senti bem culpada e meio ingrata. Ainda me sinto.
— Mas você era uma criança com saudades do pai, não pode se culpar.
Dá de ombros e suspira.
— Enfim, falando sobre os Hamptons e a estranha novidade das férias do meu irmão, eu vou deixar vocês sozinhos por pelo menos uns três ou quatro dias — seu tom é conspiratório e o sorriso malicioso.
Pigarreio, meio desconfortável.
— Por quê?
— Estou querendo sair da agência e abrir um estúdio de fotografia, então estou começando a pegar alguns trabalhos freelancers e tenho dois deles agendados para a semana que vem. Mas vou falar pra ele ir e levar você e meus sobrinhos, eu arrumo alguma desculpa. Apesar que eu acho que ele não vai arrumar desculpas para não ficar sozinho com você.
— O quê?
— Quis dizer vocês, tava falando com Levy — sorri para o bebê sonolento e pelado.
Pega a toalhinha com estampa e orelhinhas de vaca e vai para o banheiro.
— Acho que sua tia sabe de algo, Allie — sussurro para a bebê —, ou pelo menos desconfia.
Tiro toda a roupa da garotinha inquieta, levo ela para o banheiro — no mesmo momento que Brittany sai com o sobrinho adormecido — e dou um longo banho em Alice. Toda vez que tento tirá-la da banheira a garotinha faz escândalo. Quando seus dedinhos começam a enrugar, decido tirá-la mesmo sob protesto.
Brittany não está mais no quarto quando saio com Alice, Levy já ressona tranquilamente em seu berço.
— Shii, Alice, não grita, vai acordar ele.
Me afasto do berço, deitando Alice no trocador. Não é nada fácil concluir a tarefa de colocar seu pijaminha azul escuro com estrelinhas amarelas — idêntico ao do irmão — mas por fim consigo. Faço uma dancinha da vitória, arrancando risadas da garotinha.
São nove e cinquenta quando finalmente consigo fazê-la dormir. Beijo as duas cabecinhas cheias de fios loiros e entro no meu quarto.
Com dez meses, as noites acordada diminuíram drasticamente uma vez que Levy já dorme a noite toda e Alice acorda uma ou duas vezes e nem é toda noite.
— Oi, intruso.
O moreno bonito abre aquele sorriso que me desestabiliza inteira.
— Tá fazendo o que aqui? — Me deito em seus braços.
— Vim buscar meu beijo de boa noite.
Sorrio.
Agora ele não sai para trabalhar sem seu beijo de bom dia e também não dorme sem o beijo de boa noite.
— Acho que beijos hoje estão em falta.
Sorri.
— Não tem problema, meu estoque está cheio e posso, encarecidamente, doar alguns para a garota mais petulante que já conheci.
— Ah, confessa, você adora minha petulância.
— Isso não vem ao caso, agora. E não muda de assunto, vamos renovar seu estoque de beijos.
Sem mais esperar, une nossos lábios.
Trocamos muitos beijos por muito tempo até eu sentir que se ele continuar aqui nós vamos ultrapassar alguns limites.
— Tá bom né? — Empurro seu peito, fazendo ele sair de cima de mim. — Já ganhou seu beijo de boa noite, agora pode ir.
Concorda, se ajoelhando na cama e passando as mãos no rosto. Preciso de muita força de vontade para controlar o desejo de descer os olhos até seu quadril. Escolho me concentrar na sua aparência caótica. Os cabelos estão revoltos, os olhos nublados de desejo e os lábios inchados por todos os beijos que trocamos.
Ele se inclina sobre mim, roubando um último beijo antes de me desejar boa noite e sair.
— Estamos parecendo dois adolescentes — resmungo sozinha enquanto tiro a roupa para tomar um banho.
Debaixo do chuveiro, me pego sorrindo quando as lembranças de nós dois invadem minha mente. Visto meu pijama e deito na cama ainda com o mesmo sorriso bobo no rosto.
— Analice, Analice... Cuidado para não perder seu coração — alerto a mim mesma antes de permitir que o sono me tome.
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