Capítulo 15
— Não se preocupe, meu raio de sol, eu estou bem. Fiz um acordo com Deus, ele não vai me levar antes que eu veja minhas meninas formadas, casadas e felizes.
— Não quer conhecer os netos? — brinco, tentando apaziguar o temor no meu coração.
Meu pai descobriu o câncer no estágio dois, não estava tão avançado, o que nos aliviou um pouco, mas em nada diminuiu a devastação emocional que um diagnóstico desses causa.
Ver o homem alto, forte e divertido, que me recebeu com tanto amor, se tornar cada dia mais magro e frágil não foi algo fácil de lidar. Ainda não é.
— Claro que quero netos. Muitos netinhos correndo pela minha casa e deixando sua mãe louca.
Não consigo responder, se eu falar qualquer coisa ele vai notar que estou prestes a chorar.
Sua tosse faz meu coração apertar ainda mais.
— Eu vou ficar bem, meu Raio de Sol, eu prometo.
Afasto o celular do ouvido e puxo a respiração com força, buscando controle.
— Eu sei que vai, pai. O senhor é o homem mais forte que já conheci, a doença não vai te vencer.
— Não vai. Eu não vou deixar ela vencer. — afirma com convicção. Ao fundo, escuto a voz da minha mãe — Meu amor, sua mãe tá me chamando pra comer, vou lá antes que ela venha me arrastar. Te amo, não esquece.
— Também te amo pai.
Trêmula, deixo o celular cair sobre minhas pernas e escondo meu rosto com as mãos.
Por favor, Deus, não tira ele de mim. Eu já perdi coisas demais, preciso dele mais um pouco.
Me arrasto pela cama, retirando o colar da mesinha de cabeceira. Seguro com força entre meus dedos e aperto contra meu coração.
Por favor, mamá, habla com Dios, pídele que deje a mi papá aquí um poco más. (Por favor, mamãe, fala com Deus, pede pra ele deixar meu pai aqui comigo mais um pouco.)
Encolho meu corpo em posição fetal, me deixando sucumbir ao medo e a dor. Imploro a Deus, repetidas vezes, que não tire meu pai de mim.
Algum tempo depois, me sentindo menos desesperada, levanto, guardo o colar no mesmo lugar, lavo meu rosto e respiro fundo.
Ajeito meu cabelo diante do espelho e sorrio para meu reflexo, me sentindo novamente eu mesma.
Ele vai ficar bem, eu sei que vai.
Decidida a mandar o baixo astral para bem longe de mim, coloco minha playlist latina e começo a dançar, sentindo a música reverberar por todo meu corpo.
Conforme as músicas vão passando e a exaustão vai chegando, sinto meu humor melhorar.
Quando finalmente paro, estou cansada, suada e ofegante, mas sorridente.
Sabendo que os gêmeos não vão demorar a acordar, tomo um banho revigorante. Estou saindo do banheiro quando ouço um palavrão alto em italiano segundos antes da porta do meu quarto ser aberta com violência.
— Arruma sua mala e as dos gêmeos, vamos viajar — ordena irritado.
Cruzo os braços, erguendo a sobrancelha esquerda.
Iniciamos um embate com os olhares. Aceito que ele solte os cachorros em cima de mim, aceito até que grite comigo, contanto que eu tenha dado motivos para tal, o que não é o caso aqui.
— Cazzo, Genebra, não enche minha paciência.
— Não me culpe pelo seu péssimo talento em formar frases.
Ele rosna.
Juro, ele rosna igual um cão bravo.
— Che diavolo (que diabos), Analice, por que você é tão petulante?
Mordo a boca para não sorrir.
Ele acabou de me chamar de Analice?
Uau, um pequeno passo para o homem, mas um grande passo quando o homem em questão é ninguém mais ninguém menos que Matteo Di Rienzo.
— Articule melhor sua frase e eu atendo seu pedido. É simples, chefinho.
Ele sai do quarto bufando.
Corro para o quarto dos gêmeos e arrumo três malinhas, duas com uma infinitude de roupas e mantas e outra com fraldas descartáveis.
Escondo as malinhas no closet do meu quarto e sento na cama. Ouço seus passos pesados no corredor e ligo a tv, fingindo que estou muito entretida com o programa de fofocas.
— Ainda não fez as malas?
— Não tenho como fazer as malas sem saber para onde vamos. Coloco casacos ou biquínis? Shorts ou cachecóis? Não sei, meu chefe não me disse.
Ele grunhe.
Desvio os olhos e mordo o lábio, tentado não sorrir.
— Brittany ligou avisando que apareceu um trabalho de última hora em Milão e a agência vai manda-la para lá. Eu tenho alguns compromissos inadiáveis em Nova York, então você precisará ir comigo. Agora faça as drogas das malas, volto em dez minutos.
— Viu? Não é difícil articular melhor as frases, facilitaria nossa vida.
— Sabe o que facilitaria minha vida? Te demitir.
— Chefinho, o que falamos sobre cachorro que late muito?
Ele sai batendo a porta e me jogo na cama, rindo.
Irritar ele é fácil e divertido.
Me apresso em fazer minhas malas, colocando algumas mudas de roupa e duas mudas do uniforme. Tomo um banho rápido, visto o uniforme que deixei sobre a cama. Volto para o quarto dos bebês e refaço as malinhas deles, adicionando mais alguns agasalhos e roupinhas mais quentes, afinal estamos em meados de novembro e deve estar frio em Nova York.
— Genebra? — o chamado vem do meu quarto.
— Aqui.
Atravessa a porta de ligação, me olhando de cima à baixo.
— Troque de roupa.
Cruzo os braços e ergo as sobrancelhas.
— Que droga, Genebra, deixa de ser tão afrontosa e vai trocar a droga da roupa. Coloca um daqueles seus vestidos feios.
Abro a boca indignada.
— Ei! Meus vestidos não são feios.
— Tem razão, são horrorosos.
— Como ousa?
— Deixa de ser petulante e vai tirar a droga do uniforme, Analice.
Faço minha melhor cara de Você não manda em mim mesmo sabendo que ele manda sim.
— Quer saber? Vai assim mesmo. Não tenho tempo a perder com sua petulância.
O gritinho de Alice atrai nossa atenção. Ela está sentada no berço olhando para nós. Quando me aproximo do berço a garotinha agita os braços e grita com mais animação.
Troco seu pijama de corujinhas por um vestido vermelho e coloco uma faixa com um laço da mesmo cor sobre seus cabelos volumosos. Mas ela arranca e joga no chão antes de agarrar meus cabelos e enfiar a boquinha desdentada no meu queixo.
— Solta, filha — meu chefe se aproxima e me ajuda a me livrar do agarre da bebê.
Ela vai toda serelepe para os braços dele. Eles vão para a varanda e aproveito para trocar de roupa em Levy.
Tiro ele do berço com cuidado, deito sobre o trocador e o encho de beijinhos enquanto tiro seu pijama. Ele abre os olhinhos e sorri para mim.
— Bom dia, pequeno Príncipe.
Ele sorri sonolento, se espreguiça esticando os bracinhos e perninhas, sua irmã grita na varanda, atraindo sua atenção.
Visto nele uma calça caqui e uma camisa preta com estampa do McQueen, durante todo o tempo converso com ele, sorrindo quando ele interage de volta. Depois de calçar o sapatênis marrom nele, levo-o para meu quarto.
Sento ele no chão e corro até o meu closet, pego o primeiro vestido que acho e volto correndo, encontrando-o no mesmo lugar. Se fosse Alice já teria se arrastado pelo quarto todo.
O vestido que peguei é preto e longo. As mangas são folgadas e chegam quase no meu cotovelo. Tanto as mangas quanto o busto e a barra tem uma estampa boho colorida; verde, azul, laranja e outras cores. As laterais têm um recorte triangular, deixando a mostra um pouco de pele. Calço uma mini bota marrom, faço um coque nos meus cabelos, sabendo que não podem mais ficar ao alcance de Alice, guardo meu colar na mochila e saio.
Atravesso a porta de ligação no mesmo momento que Matteo entra no quarto.
Ele para um pouco, seus olhos me analisam de cima à baixo, parando no meu rosto. O olhar gelado e feições neutras não me dão nenhuma dica do que pode estar passando por sua cabeça. Alice bate o chocalho contra a cabeça dele, quebrando esse momento estranho.
— Não pode, filha. Isso machuca.
A garotinha ri e joga o brinquedo no chão. O pai suspira e se abaixa para pegar.
— Minha mala e a sua já estão no carro, os bebês conforto também já estão lá — informa, entregando novamente o brinquedo barulhento para a filha — Pronta?
Concordo.
Pega as duas mochilas creme com ursinhos marrons bordados, coloca uma sobre o ombro livre e segura a outra pela alça. Pego a outra bolsa do conjunto, mas essa não é mochila e sim uma daquelas malinhas com alça longa. Eu enchi ela de fraldas. Coloco ela sobre meu ombro e seguro a alça da minha mochila, com o outro braço seguro firmemente Levy.
Descer a escada é sempre uma verdadeira provação, mas, graças a todas as divindades, o bebê e eu chegamos ao chão intactos.
— Podemos ir, senhor? — Charles pergunta quando Matteo entra no carro, meu chefe me olha, para confirmar.
— Na verdade, eu esqueci duas coisas.
— Cazzo, Genebra!
— São sete horas da manhã, Matteo, não me culpe por meu cérebro ainda estar acordado.
Grunhe.
— O que você esqueceu?
— A chupeta de Levy e a malinha com as mamadeiras.
— Vai buscar a chupeta, a malinha das mamadeiras eu já trouxe.
Junto as sobrancelhas.
— Mas eu ainda não coloquei as mamadeiras na mala.
— Mas eu coloquei.
— E o leite?
— Também.
— Termômetro?
— Leite, mamadeira, termômetro, remédios para cólica, antitérmicos. Tá tudo ali, Genebra, agora vai buscar a droga da chupeta.
Saio do carro sorrindo.
Será que ele percebe como é um pai incrível?
Tudo bem que ele tem lá seus problemas com demonstração de afeto na frente de outras pessoas, mas ele é tão atento a tudo sobre os filhos.
Indiferente e insensível? Que nada! É apenas um homem machucado se escondendo debaixo de uma armadura.
Todos os dias Matteo me prova que não é nada do que imaginei nos meus primeiros dias aqui.
Pouco mais que seis horas depois entramos em um apartamento enorme e luxuoso na cobertura de um prédio ainda mais luxuoso.
Praticamente corro até a grande parede de vidro, a vista é de tirar o fôlego. O apartamento fica em frente ao Central Park. Melhor ainda, fica na famosa quinta avenida.
Eu estive aqui uma vez, há alguns anos. Era o sonho de Taylor passar o réveillon na Times Square e nossos pais realizaram. Nós também fomos ao Empire State e a Estátua da liberdade, mas não visitamos o famoso parque urbano.
Foram dias legais, mas a vista que tínhamos da janela do quarto do hotel não era nem de longe tão impressionante quanto essa.
Cara, é de frente para o Central Park!
— Senhorita Genebra, eu tenho uma reunião em um hora. Preciso ir. Pedi que providenciassem um berço duplo para os gêmeos, está no primeiro quarto. Lá também tem uma cama de casal, portanto você pode decidir entre dormir no mesmo quarto que eles ou no quarto ao lado. Ambos têm suíte. Ah, também providenciei trocadores e banheiras. Fique a vontade para comer o que quiser, os armários estão abastecidos.
Balanço a cabeça.
Ele pega as malinhas dos gêmeos e vai para o corredor. Volta minutos depois e tira o filho do bebê conforto.
— Vou colocar ele no berço, mas fique atenta, pedi a instalação da câmera wi-fi, mas só poderá ser feito amanhã.
Confirmo e coloco o bebê conforto que acomoda Alice sobre o sofá, sentando ao lado. A menininha está dormindo, mas vez ou outra resmunga.
Ela acordou poucos minutos depois que o jatinho decolou — sim, Matteo tem um jatinho particular — e passou a maior parte da viagem acordada, chorou muito e custou a dormir. Já imagino que a noite de hoje não vai ser fácil. Se ela fica chatinha com um simples passeio no parque do condomínio, imagina como vai ficar após viajar de um estado para o outro.
— Estou indo. Não esqueça de ficar atenta a Levy.
Assinto e ele sai sem falar mais nada.
Aproveito para fazer um tour pelo lugar.
A cozinha é grande e espaçosa. A decoração e móveis são brancos, assim como na sala. A primeira porta a direita é um quarto. A decoração é toda branca. Com exceção do carpete cinza. No centro tem uma cama grande, de cada lado possui uma mesinha de cabeceira, com um abajur sobre cada. Do lado direito tem um grande guarda roupa na cor dominante do quarto e do lado esquerdo tem uma porta que deduzo ser o banheiro, poucos metros ao lado da porta está o berço duplo branco.
Aproximo-me do berço para olhar Levy, ele agora está apenas de fralda. Acho que Matteo quis deixá-lo mais confortável. Mas não é como se alguma coisa pudesse atrapalhar de verdade o sono precioso de Levy.
Saio do quarto e entro na porta ao lado. É um quarto exatamente igual, com a diferença de que não tem o berço duplo. Saio e entro na porta da frente, tendo certeza que é o quarto de Matteo.
O quarto é maior que os outros. As paredes são cinza escuro, os lençóis da cama super King são pretos, assim como as mesinhas de cabeceira e os abajures sobre ela. Não tem um guarda roupa nesse quarto, mas na parede da direita tem duas portas. Penso em ir lá olhar mas me seguro. Não acho que Matteo vai gostar de descobrir que andei bisbilhotando suas coisas.
Abro as grossas cortinas pretas, me deparando com uma parede de vidro como a da sala. O quarto dele também tem vista para o parque urbano mais famoso dos Estados Unidos.
Me encosto no vidro e suspiro, imaginado como deve ser incrível dormir com essa vista. Passo muito tempo admirando a paisagem e só saio quando meu trabalho chama.
Tiro a garotinha loira do bebê conforto e caminho com ela até a parede de vidro da sala. Consigo acalma-la um pouco e ficamos as duas olhando para os grandes edifícios e as pessoas entrando e saindo do parque a frente.
Não muito tempo depois ela se cansa e começa a chorar.
— Não, neném, não chora — volto até o quarto onde Levy dorme e tiro da bolsa alguns brinquedinhos.
Lamento ao perceber que não trouxe o tapetinho colorido. Não posso colocar eles no chão. Olho em volta pensando no que fazer e dou de ombros quando meus olhos pousam na cama.
Coloco Alice no berço e ela solta um gritinho ao ver o irmão no berço ao lado.
— Não, bebê, não acorda ele — ela grita de novo e agarra a mãozinha dele através das grades. O menininho abre os olhinhos meio desorientado.
Suspiro e coloco ela no mesmo berço que o irmão, que ainda está meio sonolento e não reage quando ela se vira de vez e enfia a boca no braço dele.
— Não, Alice! — puxo ela para a ponta do berço e coloco sentada com as costas apoiadas no proteção acolchoada, mas ela começa a gritar e suspiro.
Coloco ela de novo ao lado do coitado do Levy que ainda nem acordou direito e fica olha para a cara da irmã, enquanto ela grita e balbucia.
Deixo os dois lá e tiro o lençol da cama, dobro ele no meio e forro no tapete macio sala, coloco os brinquedos em cima e depois busco os gêmeos, deito os dois no lençol e Alice, agitada como sempre, balança um chocalho irritante de um lado para o outro enquanto o irmão se distrai com um mordedor.
O resto da tarde segue tranquilo. O que Alice tem de agitação Levy sobra em tranquilidade, então não é muito difícil lidar com eles.
Era mais cansativo cuidar de Teddy do que deles dois, ao menos durante o dia, de madrugada é que se torna cansativo cuidar deles porque ainda não dormem a noite toda. Mas, sinceramente, eu prefiro mil vezes cuidar deles do que de Teddy. Eu até gostava do menino, mas ele era um pequeno capetinha, vivia aprontando comigo e a irmã.
— Buona notte, piccoli miei. (Boa note, meus pequenos.)
Deus do céu, por que fica cada vez mais sexy ouvir esse homem falar italiano?
— Boa noite! — olho para ele quando entra na cozinha com os filhos nos braços e solto um grito quando a faca atinge meu dedo, Alice se assusta e chora — Você está bem?
— Sim, tô ótima, quase decepei meu dedo, mas tirando isso, tudo ótimo. E o senhor? — a preocupação momentânea é substituída por sua carranca habitual.
— Será um momento muito feliz para mim quando eu te demitir.
— Chefinho, lembra o que te falei sobre cachorros que latem muito?
Ele sai da cozinha soltando fogo pelas ventas e tentando acalmar a filha.
Sorrindo por irrita-lo, enfio o dedo debaixo da água corrente e faço careta. Tento tirar o dedo debaixo da água duas vezes, mas sangra muito, mesmo sendo um corte pequeno.
Algum tempo depois meu chefe volta com os gêmeos dentro dos bebês conforto, coloca os dois sobre o balcão.
Alice está com o pé na boca e Levy distraído com o pequeno móbile de estrelas, parecido com o de seu berço. Junto as sobrancelhas quando Matteo se aproxima de mim e pega meu dedo, analisando o pequeno corte.
— Aquele drama todo por isso?
Puxo minha mão e coloco de novo em baixo da água.
— Posso passar a faca no seu dedo pra você ver o drama?
Ele se afasta em silêncio e volta minutos depois, desliga a torneira e segura minha mão. Pega um pouco de algodão e limpa o corte, passa um spray e coloca um band-aid. Faz tudo em silêncio.
— O que ia preparar?
— Macarrão com queijo.
Ergue uma sobrancelha.
— O quê? Sou a babá não a cozinheira.
Seu rosto fica mais sério e dou de ombros.
Não estou mentindo.
— Vou pedir comida — informa, saindo da cozinha com os filhos.
Sigo-os e sento no sofá.
Observo meu chefe tirar os bebês com cuidado, um por vez, e colocar sobre o tapete forrado com o lençol. Em seguida abre os dois primeiros botões da camisa preta, tira o sapato social e senta no chão, ao lado dos gêmeos.
A cena me choca um pouco e não consigo tirar os olhos dele, que por sua vez não tira os olhos dos filhos que estão conversando na linguagem do bebês.
— Perdeu algo no meu rosto? — se mexe, parecendo incomodado com meu olhar insistente.
— Tudo bem se eu tomar um banho? — questiono, ignorando sua pergunta.
Afinal, o que eu iria responder? Você no modo pai fica um tesão? Óbvio que não né, seria demissão na certa.
— Claro.
Após o banho visto uma calça de yoga amarela com estampa de mandalas laranjas e brancas e um cropped de crochê laranja.
Ao me ver Matteo faz careta.
— O quê?
— Eu não falei nada.
— Mas fez careta.
— Porque sua calça é feia.
— Para de reclamar das minhas roupas. Sou eu que visto e eu gosto.
Me olha de cima à baixo, desdenhoso. Mal sento no sofá e a campainha toca, faço menção de levantar mas meu chefe diz que não. Ele próprio levanta e atende a porta, paga o entregador e coloca a sacola de papel sobre a mesinha de centro.
— Uau, comida italiana, que chocante — brinco parando ao seu lado.
Matteo trinca o maxilar e empurro meu ombro contra seu braço.
— Não seja tão tenso, chefinho, é só uma brincadeira.
Enquanto tiro tudo da sacola ele vai na cozinha buscar pratos e talheres. Servimos nossos pratos e sentamos no chão, cada um em uma ponta do lençol.
É uma cena curiosa, Matteo sentado no chão olhando os filhos enquanto come. Parece que a cena não encaixa com a pessoa. Não com a pessoa que, por algum motivo ainda desconhecido por mim, ele finge ser.
Já percebi que na frente de outras pessoas ele não interage muito com os filhos. Na verdade ele não interage muito com ninguém. Mas já vi ele sendo super fofo com Britt quando achava que ninguém estava olhando, assim como já vi inúmeras vezes ele sendo um fofo com os gêmeos através da babá eletrônica.
Por algum motivo, ele parece não ter dificuldade em interagir com os gêmeos na minha presença, mas ainda é bastante estranho vê-lo em uma demonstração tão... aberta.
— Senhorita Genebra, você perdeu algo no meu rosto?
Pisco notando que estou a tempo demais encarando-o.
— O senhor me parece uma caixinha de surpresas.
E eu estou morrendo de vontade de abrir.
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