Capítulo 11
⚠️Alerta de Gatilho⚠️
Esse capítulo contém cenas de violência fisica.
Não me surpreendo ao entrar na cozinha e encontrar a tata petulante, ela parece estar sempre acordada durante as madrugadas.
— Quer? — oferece um de seus sanduíches quando tiro o pão do armário.
Balanço a cabeça em negação.
— Tem certeza? É de manteiga de amendoim.
— Sou alérgico a amendoim.
— Que triste, amendoim é uma delícia, pasta de amendoim é ainda mais.
Não prolongo a conversa, minha vontade de falar qualquer coisa é zero.
— Chefinho, posso falar uma coisa com todo respeito?
Seu tom de voz e o olhar que lança em minha direção denunciam o rumo dos seus pensamentos.
— Não, não pode.
— Se não quer elogios, para de desfilar de cueca na minha frente.
— Estou na minha casa, senhorita Genebra.
— Sim, mas tem mulheres aqui, isso deve ser considerado assedio.
— A forma que está me olhando também.
Nossos olhos duelam um com o outro. Lentamente, um sorriso estica seus lábios.
— O que acontece se eu te elogiar?
— Eu te demito. Quer saber? Talvez você deva fazer isso, assim posso te demitir sem minha irmã me encher o saco.
De frente para ela, do lado oposto da ilha, apoio meus cotovelos na madeira e mordo meu sanduíche. A posição que estou me obriga a ficar inclinado e impede que ela veja da minha cintura para baixo.
— Por favor — choraminga —, apenas um elogio.
— Vá em frente, dê para minha irmã um bom motivo para sua demissão.
Bufa, dando uma grande mordida em seu sanduíche.
Longos minutos se passam sem que ela fale nada, isso me deixa surpreso e — vou fingir que nunca admiti isso — um tanto inquieto.
Olho na direção oposta quando ela levanta, me permitindo ver seu pijama branco. Não é tão curto, mas é incrivelmente transparente.
Dio santo.
Pela visão periférica, vejo-a caminhar até a saída. Em algum momento, perco o controle sobre meus olhos e eles se perdem nas curvas suaves de seu corpo.
Desvio rapidamente os olhos, quando ela vira abruptamente.
— Sua boca é irresistível — sorri travessa e corre para fora da cozinha.
Não consigo conter o pequeno sorriso que curva meus lábios. Mesmo quando noto que estou sorrindo por causa dela, não consigo me importar.
Ah, garota, o que você está fazendo comigo?
— Repita comigo, Matteo, se eu contar, mais pessoas irão se machucar.
Coloco um par de pesos na barra.
— REPITA COMIGO! — o grito me assusta e choro mais.
Coloco mais um par de pesos na barra.
Aperta meu queixo.
— Repita comigo — fala com o rosto muito próximo ao meu, mas continuo a chorar e ele desfere um tapa no meu rosto. — Se você não repetir eu não vou machucar só você, então repita comigo: Se eu contar, mais pessoas irão se machucar.
Seguro a barra com força.
— S-se eu contar, mais pessoas irão se m-machucar — gaguejo chorando.
— AHHHHH! — jogo a barra no chão, irado.
Ódio consome cada célula minha.
Aproximo-me do saco de areia, socando com rapidez, tentando expulsar as lembranças. Grito enquanto soco, sentindo a dor de cada lembrança. Porque é isso que esses malditos pesadelos são: lembranças de um passado distante, mas ainda profundamente doloroso.
Minha mente repassa com detalhes aquela noite. Foram muitas iguais, e eu lembro de cada uma. As lembranças estão gravadas no meu cérebro como uma tatuagem, a diferença é que nenhum laser pode apagá-las.
Soco com mais força, gritando mais alto.
— MALEDETTO!
Soco cada vez com mais força, sinto meus punhos arderem, mas não paro. A dor externa é mais suportável do que a interna.
Um soco.
Mais um.
Mais forte.
Mais rápido.
Em algum momento meu ódio transmuta-se em uma imensa vontade de chorar. Engulo o choro, como precisei fazer tantas vezes.
— Já disse pra você engolir o choro! — um tapa forte atinge meu rosto — Você é um homem ou uma garotinha?
Balanço a cabeça, tentando expulsar a voz repugnante da minha cabeça.
— RESPONDE! — outra tapa, dessa vez mais forte, atinge meu rosto — VOCÊ É UM HOMEM OU UMA GAROTINHA?
Caio de joelhos no chão.
— Se você continuar chorando, vou achar que é uma garotinha e vou te tratar como uma — Aperta meu maxilar com violência — Você não quer isso, quer, amigão?
Balanço a cabeça, negado.
— Então tira a roupa e engole o choro. Vou te ensinar a ser forte.
Soluço, lamentando o destino do pequeno Matteo.
Culpa e dor se misturam dentro de mim, tornando cada respiração dolorosa e insuportável.
Por minutos intermináveis, permaneço preso na minha própria dor, revivendo em looping minha infância destruída.
Enjoado, com nojo de tudo que passei, corro para o chuveiro. Após um longo e reflexivo banho, volto para meu quarto, troco o short de academia por uma cueca e me jogo na cama.
Depois de horas vegetando na minha dor, decido levantar. Aquele maldito já arrancou coisas demais de mim, não vai arrancar minha sanidade também.
Troco a cueca por uma sunga e desço para a piscina, disposto a aproveitar o dia de sol.
Cerca de quinze minutos depois, minha irmã atravessa a porta da cozinha com a babá em seu encalço.
Quase engasgo quando meu olhos encontram o micro biquíni vermelho, se destacando contra a pele clara da babá.
Seu corpo é ainda mais bonito do que seus pijamas demostram. Analice é alta, acho que tem algo em torno de 1,70cm, e magra, mas não de um jeito padrão. Ela não é totalmente seca, não tem barriga chapada nem nada disso, mas as curvas sutis são muito agradáveis aos olhos.
Cazzo!
Aperto a borda da piscina quando ela se inclina, esticando um pano amarelo na grama. Seu bumbum inclinado na minha direção faz meu corpo reagir e desvio os olhos, engolindo seco.
Mas olho novamente, surpreso ao ver os desenhos que descem do início das costas até a lombar, seguindo toda a linha da espinha. Aperto os olhos, tentando decifrar os desenhos, não enxergo bem de longe, mas acho que são as fases da lua.
Ouço minha irmã perguntar porque ela não deita em uma das espreguiçadeiras, mas ela diz que prefere o chão. Elas continuam conversando, mas não ouço pois mergulho, torcendo para as coisas lá embaixo se acalmarem.
Quando volto á superfície, encontro minha irmã em pé na borda da piscina.
— Matt, você aqui? Acho que hoje os Californianos verão nevar pela primeira vez.
— Trinta e dois graus, Britt.
É tudo o que falo antes de mergulhar e sair do outro lado da piscina. Minha irmã grita algo para a babá e nado de volta até ela.
— Hoje não é folga dela? — aponto com queixo para a garota petulante.
Ela está sentada passando protetor solar nos braços e posso ver que tem mais uma tatuagem entre os seios. Isso é surpreendente, mas ao mesmo tempo é algo que eu esperaria dela.
— É, mas ela me perguntou se podia ficar aqui, parece que a família viajou e ela não queria ficar sozinha na própria casa. Te falei isso ontem.
Assinto, lembrando vagamente da conversa. Minha cabeça estava perturbada por causa do pesadelo da madrugada anterior, foi bem parecido com o da madrugada de hoje.
— Cadê os gêmeos?
— Dormindo. Conectei a babá eletrônica ao meu celular, não se preocupe — balança o aparelho no ar.
Assinto, afastando-me.
Mergulho uma última vez e saio.
Tomo outro banho, visto apenas uma cueca e jogo-me em minha cama, abro a câmera da babá eletrônica e confirmo que meus filhos estão mesmo dormindo, deixo o aparelho sobre a mesinha de cabeceira e ligo a TV, sem querer perder tempo, escolho uma série que já assisti dezenas de vezes.
O chorinho baixo de Levy atrai minha atenção. Pego o tablet, vendo que ele está de bruços, olhando para os lados e chorando. Ele não é de chorar, então deduzo que está acordado há algum tempo e cansou de esperar alguém chegar.
Vou até a varanda e vejo que minha irmã e a babá estão dentro da piscina rindo de algo, totalmente alheias ao choro da criança. Decido eu mesmo ir pegá-lo.
O garotinho para de chorar assim que me vê e abre um sorrisinho banguela.
— Você está manhoso demais, ragazzone — largo meu celular dentro do berço, pegando-o nos braços.
Beijo suas bochechas gorduchas e ele sorri novamente.
Lembro da primeira vez que percebi que ele estava sorrindo de verdade para mim, que não era um sorriso de reflexo. Foi há mais ou menos um mês atrás.
Como sempre, eu tinha acordado cedo e passei aqui antes de ir malhar. Para minha surpresa, o garotinho estava acordado, mexia os bracinhos e perninhas e balbuciava olhando para o móbile. Quando parei ao lado do seu berço ele sorriu, inicialmente achei que fosse um sorriso de reflexo, mas desejei com dia para ele e o garotinho sorriu novamente, e mais uma vez quando o tirei do berço.
Fiquei em êxtase ao perceber que eram sorrisos verdadeiros, é uma sensação quase mágica ver essa coisinha tão pequenininha crescendo e evoluindo.
Desde então, toda vez que ele sorri para mim, me pergunto se há alguma chance de eu concertar minha alma destroçada e me tornar tudo que ele e sua irmã precisarem.
Com cuidado, sento no chão e coloco o bebê sobre o tapete de borracha colorido, apropriado para bebês. Sua cabecinha não é totalmente firme e balança um pouco, como aqueles bonequinhos cabeçudos que ficam no painel do carro.
Ele sorri para mim outra vez. Os cabelos dourados e volumosos estão bagunçados, o rostinho rechonchudo ainda está amassado por conta da soneca e tudo isso só o deixa mais encantador. Tento gravar cada detalhe da cena, do meu filho sorrindo para mim com tanto amor.
Meu celular vibra e o pego, respondo a mensagem de Tim e me inclino para colocar sobre a poltrona, mas uma ideia me faz pegar o celular de volta.
Enquadro o rosto do garotinho na câmera e chamo seu nome, quando ele olha para o celular tiro uma foto.
Deixo o celular de lado e volto a olhar para meu filho. Ele ainda não senta sozinho, não engatinha e não se arrasta, fica ali olhando tudo em volta com evidente curiosidade.
— Que vida chata você tem, ragazzone.
Ele sorri e balbucia.
Um choro alto explode no quarto e ele se agita um pouco, olhando para os lados.
— Calma, garotão, é só a escandalosa da sua irmã — minha voz faz a garotinha gritar ainda mais alto e levanto, balançando a cabeça — Sua irmã é tão impaciente, Levy, não sei a quem puxou.
Alice está de bruços no berço, o rostinho está vermelho de tanto gritar e os dedinhos gorduchos apertam o lençol com força.
— Bom dia, mia piccola ragazza — Seu choro diminui ao me ver, mas não cessa.
Deito a cabecinha dela no meu ombro e cantarolo algumas canções de ninar italianas, até que, pouco a pouco, seu choro diminui. Mas no ar sobe um fedor tão intenso que custo a acreditar que vem da fralda de uma garotinha tão pequena.
Deito a bebê no trocador e tranco a respiração quando abro a fralda e o mau cheiro atinge meu nariz.
— Princesa, sua babá tem te alimentado com o quê? Lixo tóxico? Não é possível que isso seja resultado apenas de leite, Alice.
A menininha joga as perninhas no ar e ri, seu pezinho bate na fralda suja e depois em mim, sujando minha barriga com o cocô tóxico.
Uso alguns lenços umedecidos para limpar minha barriga e o pé dela, me apressando em jogar a fralda com cheiro tóxico no lixo. Estou passando a pomada antiassaduras nela quando sinto um líquido me molhar.
— Você fez xixi em mim? — encaro a garotinha de olhos arregalados.
Ela obviamente não me dá atenção, está ocupada demais chupando a própria mão.
— Como você fez isso? — pergunto tirando-a do trocador, após prender a fralda — Seu irmão eu entendo, ele tem uma torneirinha, mas você não, então como conseguiu a proeza de fazer xixi no papai?
Papai.
É a primeira vez que ouço essa palavra associada a mim. É a primeira vez que, de fato, associo ela a mim. Obviamente eu sei que sou pai, mas nunca tinha me referido a mim mesmo assim.
Papai.
Essa palavra mexe comigo de um jeito estranho.
Ainda pensativo, sento na frente de Levy e coloco a bebê ao seu lado. O garotinho estava com a cabecinha deitada no tapete, mas levanta e fita a irmã. Ela balbucia e bate a mãozinha no braço dele. O garotinho me olha de um jeito engraçado e volta a olhar para a irmã.
Decidido a guardar o máximo de lembranças possível, pego meu celular e chamo os dois. Quando olham para mim, bato algumas fotos, inclusive de Alice babando a bochecha do irmão.
Coloco a foto como papel de parede e me apresso em ajudar meu pobre garotinho, ele não parece acompanhar a personalidade agitada da irmã.
Deito minha piccola ragazza de costas e entrego para ela um chocalho irritante que eu já notei que ela adora. Entrego para Levy a chupeta dele e o neném deita a cabecinha no tapete, parecendo estar com sono. Se eu tivesse a vida chata deles, também passaria a maior parte do tempo dormindo.
Algum tempo depois, Alice começa a chorar. Tento distraí-la com outros brinquedos, até me dar conta que ela comeu há um bom tempo. Ligo para minha irmã e aviso que eles acordaram.
Após desligar, coloco Levy no berço e fico com minha garotinha de pulmões fortes no braço. Canto um pouco, converso com ela e o choro vira resmungos.
Brittany não demora a entrar no quarto com a tata petulante em seu encalço. Tento entregar a bebê para minha irmã, mas ela recusa.
— Não, tô com cloro da piscina. Você pode olhar eles enquanto tomo um banho?
Não respondo, dividindo meu olhar entre ela e a loira.
— Não me faça implorar pra você cuidar dos seus próprios filhos, Matteo Tommaso Di Rienzo — ergo as sobrancelhas — Você é o pai deles e vai ficar com eles porque as babás estão de folga e eu preciso de um banho.
Sai pisando duro e me pergunto como a estressei sem nem abrir boca. Olho para Analice que está de cabeça baixa, tentando conter um sorriso.
— Seu nome do meio é Tommaso? — pergunta sem conseguir se controlar, arqueio a sobrancelha.
Ergue as mãos em rendição e segue a passos rápidos para o quarto. Assim que a porta se fecha ouço sua risada escandalosa e, contrariado a mim mesmo, me pego sorrindo. Mesmo sabendo que a petulante está rindo de mim.
Alice resmunga, chamando minha atenção.
— Está com fome, não é? Você tem uma fome muito grande para uma piccola ragazza tão pequena — sento na poltrona, sentando-a nas minhas pernas, de frente para mim.
Alguns minutos depois ouço a movimentação vinda do quarto ao lado.
— Sua babá canta muito mal, Alice — faço careta quando a cantoria desafinada chega aos meus ouvidos.
Levy simula um chorinho dentro do berço e vou até ele, percebendo que sua fralda parece pesada. Deito Alice no berço mas ela começa a gritar, aumentando o choro do irmão.
Agoniado, penso um pouco e lembro do canguru que já vi minha irmã usando. Vasculho as gavetas até achá-lo. Com cuidado, prendo Alice a mim e lhe entrego seu chocalho irritante.
Tiro meu garotinho do berço e deito no trocador. Enfrento certa dificuldade na troca da fralda por causa da menininha batendo insistentemente o chacoalho contra meu peito.
Minha filha volta a chorar quando termino de prender a fralda do seu irmão.
— Nossa, chefinho, onde aprendeu a trocar fralda com tanta maestria?
A voz da babá silencia um pouco a bebê.
— Ajudava minha mãe a cuidar de Brittany, já faz bastante tempo, mas parece que ainda sei.
Entrego Levy para ela e solto Alice do canguru. Analice me dirige um sorriso estranho, ergo a sobrancelha em uma pergunta silenciosa, mas ela apenas dá as costas, coloca Levy no berço e tira Alice dos meus braços.
— Pode voltar pra o seu quarto se quiser, daqui a pouco sua irmã chega.
Sem falar nada, dou as costas.
— Ah, chefe, se não quiser elogios não ande pela casa apenas de cueca.
Olho para baixo, só então me dando conta que não vesti uma calça antes de sair do meu quarto.
Accidenti!
— Não que seja ruim olhar pra essa bunda durinha — essa última parte é dita em voz baixa, mas ouço e não consigo conter o pequeno sorriso.
Essa garota é perigosa para mim.
— Pare de me olhar assim, senhorita Genebra — reclamo caminhando pela cozinha.
Não estou apenas de cueca, por que ela está me olhando assim?
— Desculpa, senhor Di Rienzo, mas eu não sou de ferro não tá! Vai me dizer que se o senhor vê uma mulher bonita caminhando por aí seminua o senhor não vai olhar?
— Não!
— Humpf! Claro que não. Perdoe-me, o erro foi meu, por um segundo esqueci que seu peitoral forte e malhado esconde um coração de gelo.
Bato a porta da geladeira e viro para ela que sorri inocente, como se não tivesse falado nada demais.
— Leite? — questiona, erguendo o copo.
Nego com a cabeça.
— Tem certeza? Tá morno, esquentei agorinha.
Por um segundo penso em aceitar, mas nego. Não posso dar liberdade e deixá-la achar que pode se aproximar de mim.
Abro novamente a geladeira, lembrando que estava procurando a torta que sobrou do jantar, mas a tata petulante me distraiu e esqueci. Curvo-me olhando todas as prateleiras da geladeira, mas não encontro. Franzo a sobrancelha, podia jurar que tinha sobrado.
— Posso ajudar? — olho para a babá que agora está curvada ao meu lado.
— O que você tá procurando?
— Senhor — resmungo.
— Ele tá no céu, vai achar aí não.
— Analice — rosno entre os dentes e ela sorri.
— Meu nome fica tão sensual saindo dessa boquinha lin...
Cala-se quando ergo a sobrancelha e levanta, com as mãos erguidas em rendição.
— Desculpa, foi mais forte que eu. Vou ficar caladinha, ó — passa os dedos juntos pela boca, como se estivesse fechando um zíper.
— Sério, o que é que o senhor tá procurando?
— Eu conheço minha geladeira, senhorita Genebra.
— Mas o que o senhor está procurando pode não estar na geladeira — empurra a torta para perto do meu rosto e pisco, tentando lembrar em que momento mencionei que esse era o objeto de minha procura.
Dá de ombros.
— Sua irmã mencionou que é uma das suas sobremesas favoritas.
— Minha irmã anda falando demais — resmungo tirando a torta das mãos dela. — Obrigado — falo a contragosto.
— De nada! Só pra você saber, Lucy sempre deixa as sobras das tortas guardada no forno. As vezes até de bolo. Geralmente ela só coloca na geladeira sobremesas geladas.
Assinto, sem dar muita importância. Ela senta novamente no balcão e volta a comer seu sanduíche, que suponho ser de pasta de amendoim, visto que o pote está do lado. Morde o sanduíche e bebe o leite.
Eca.
— Não faça careta pra mim, chefinho, vai dizer que na sua barriga cada alimento vai pra um compartimento diferente? Porque na minha fica tudo junto e misturado.
— Não é porque vão se misturar no estômago que precisam entrar juntos.
— E faz diferença?
— Se você tem paladar, sim.
Se cala e agradeço por poder comer em paz.
— Você tem razão!
Dio santo!
— O cocô é a comida toda misturada, e ninguém come cocô, então não tem porque tá misturando as co... Por que tá me olhando assim?
Uma careta horrorizada repuxa meu rosto.
— Você é muito estranha.
Dá de ombros.
— Sempre ouço isso. Estranha, excêntrica, única, tem uma luz e blá blá blá. Ninguém nunca explicou se é bom ou ruim, então apenas considero bom. Também já me chamaram de tagarela, as freiras viviam me mandando parar de tagrelar...
— Freiras? — externo sem querer minha curiosidade.
É interessante imaginá-la convivendo com freiras.
— Sim, as freiras do colégio onde estudei. Uma escola católica apenas para meninas.
Penso em todos os pijamas que já vi ela usar, e em todas as vezes que soltou gracinhas para mim, e na maneira que sempre fala, definitivamente não age como uma menina que cresceu em uma escola católica. Não vi nada em seu quarto que fizesse referência a religião.
— Difícil me imaginar em uma escola católica né?
Assinto.
É uma imagem no mínimo curiosa.
— Saiba que quase fui expulsa muitas vezes, minha falta de filtro me pôs em muitas enrascadas — sorri levantando, lava os pratos em silêncio e baixo a cabeça, tentando não olhar para sua bunda dentro do minúsculo short cinza, é de algodão e marca muito sua... Suas curvas.
Ela vira e engulo seco, fechando os olhos para apagar a imagem de sua... Sua... Femilidade?
Faço careta.
Escolha de palavra horrível, Matteo.
Enfim, short de Analice está marcando muito o meio de suas pernas. Cada.Pequena.Curva.
E eu acho que ela não está de calcinha.
Levanto de uma vez, arrastando a banqueta com tudo e a babá olha para trás, meio assustada.
— Você tá bem?
Assinto, sem olhar para ela e saio da cozinha a passos rápidos, atormentado pelos meus próprios desejos.
Para alguém que passou tantos anos sem sexo, meu corpo tem se controlado muito pouco perto dessa garota e não gosto nem um disso. Não gosto mesmo!
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Vocês perceberam como o “modo papai” foi ativado no Matteo? De agora em diante, o nível de fofura entre ele e os filhos vai só aumentar.
Sobre o passado do Matteo, a história dele vai ficar cada vez mais clara através dos pesadelos, mas já aviso que não vai ser fácil digerir o passado dele.
Gostaram do capítulo? Deixe um comentário e uma estrelinha, ajuda no crescimento da história e permite que Matteo e Analice cheguem até mais pessoas.
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