Capítulo 66
– Mais quanto tempo até chegarmos nessa cidade ninfas? – Zamir perguntava enquanto descansávamos embaixo de uma sobra de uma pedra.
– Já estamos chegando, acredito que até o anoitecer estaremos em Matmata. – Minha tia responde para ele.
Nós três estávamos exaustos, o braço de Zamir estava quebrado, não pude curá-lo, pois tive que poupar minhas energias para a jornada no deserto, Ansal ainda mancava da feriada que tinha tido na perna, eu estava com alguns cortes, mas nada sério.
O calor do deserto era castigante, minha pele estava queimada e rachada, não usei o pouco de água que tínhamos para curar nossos ferimentos, precisávamos guarda-la para bebermos e também, não deixei minha magia me auto curar, esse processo demandava energia que eu não podia desperdiçar.
Éramos um grupo que estava castigado pela viagem exaustiva, e pelo embate que tivemos de última hora, antes de entrarmos no deserto. Eu não via a hora de chegar em Matmata e poder me banhar nas águas de lá.
– É melhor seguirmos logo viagem, se quisermos chegar hoje ainda na cidadela.
Me levanto relutante, meu corpo estava exausto da viagem no deserto, apesar deu adorar Matmata, o caminho até ela era uma verdadeira provação. Escuto Zamir gemer de dor, o orelhudo estava bem machucado.
– Está precisando ser carregado elfo? – Ansal falava para ele.
– Por você, jamais, na primeira oportunidade você me jogaria de um barranco minha querida ninfa.
– Querida? – Posso imaginar a cara de desprezo que minha tia faz ao escutar essa palavra vinda dele – Não sou sua querida, e se é tão teimoso para receber ajuda, merece sentir cada dor que seus ferimentos te provocam.
Eu rio internamente, esses dois já estavam viajando a quase um mês juntos, mas ainda não confiavam um no outro. Sempre se alfinetando, mas acho que essa implicância toda, era a forma que os dois tinham para se aproximar.
Passamos a tarde caminhando debaixo do calor escaldante do deserto, quando o sol estava quase se pondo, minha tia avisou que já avistava a cidade. Pedi para nos aproximarmos, mas que esperássemos anoitecer mais para adentrar o lugar.
Sei como o povo desse lugar é ligado a ordem e a mim, se eu aparecesse com o manto da ordem junto de uma ninfa e um elfo, teríamos mais curiosos do que o necessário.
Precisávamos entrar de madrugada na cidade, quando a maioria da população está dormindo, onde o contingente de guardas é reduzido, quanto menos pessoas soubessem que estávamos aqui melhor, além do mais, entrando de madrugada, os guardas nos levariam direto para a família real.
Ficamos escondidos numa formação rochosa esperando o tempo passar, a temperatura tinha despencado, ao relento sobre o céu estrelado do deserto, o vento frio era cortante.
Não podíamos fazer uma fogueira para não denunciar a nossa posição, nossa água tinha acabado, estávamos sedentos de cede, pois usamos o pouco que tínhamos, no final do caminho dessa tarde.
Usei minha afinidade para ver o que tinha ao nosso arredor, percebi que alguns cactos brotavam perto de nós, peguei o cantil de água e fui até as plantas, sei que não deveria usar magia para não me esgotar, mas já estávamos tão perto da cidade, que me dei o direito de usar um pouco.
Através da minha ligação com a água, a extrai de dentro da planta, conforme eu retirava a água do cacto, o mesmo ia murchando e ficando seco até o momento que morreu.
Refiz isso com mais duas plantas para conseguir encher o cantil, tomei um bom gole do cantil, a água fresca passando por minha garganta seca, era revigorante.
Fui até minha tia e a ofereci o cantil, ela o tomou na mesma hora, deixando um pouco da água para o elfo. Apesar de eu não poder vê, sentia que Zamir me observava.
– O que foi orelhudo?
– Você é uma dissecadora.
Eu não sabia o que dissecadora realmente significava, mas pelo tom de voz dele, não era algo que ele aprovava.
– Todas as ninfas com afinidade com água podem ser dissecadoras elfo – Ansal respondeu por mim.
– Sim, mas nem todas usam essa técnica.
Algo na voz de Zamir estava estranho, ele estava sério e posso dizer que talvez até com um pouco de medo.
– Porque está me acusando Zamir? Eu apenas peguei água para nós.
– Você controla muito bem essa técnica, se usou numa planta, o que a impede de usar em mim ou em qualquer ser vivo.
– Eu jamais mataria alguém assim.
– Nunca diga isso, se você estivesse em perigo ou alguém que ame estivesse prestes a morrer e esse fosse o último recurso, você o usaria, então não diga que jamais o usaria.
Me calo perante as palavras do elfo, ainda fico um pouco confusa, parece que esse termo tem mais peso do que eu estou compreendendo. Entendo que ele tenha medo deu matar alguém para usar a água do corpo da pessoa, mas isso seria abominável de mais.
– Lia – Minha tia se senta ao meu lado – As náiades são muito temidas e disso você já sabe, mas um dos fatores que causou a má fama delas é que, algumas que matavam os homens ou elfos que se aproximavam de seus domínios, deixavam seus cadáveres dissecados iguais a uma múmia como aviso, não é uma morte bonita de se ter, é bem dolorosa e lenta.
Minha tia continua explicando como essa técnica não era bem vista nem dentro das próprias ninfas, era algo que não era mais ensinado, era visto como algo ruim e quem a usava, normalmente eram ninfas que tinham perdido o seu caminho.
Fico em silêncio, recebendo mais uma lição de minha tia, não sabia dessa fama e não sabia que esse poder era tão abominável. Eu já o tinha usado antes em Matmata, mas nunca matei com ele.
– Você parece uma criança sendo instruída ninfinha, mas já era para você saber disso pela idade que tem. – Zamir fala.
– Digamos que tive uma criação diferente orelhudo.
– Acho que já está na hora de entrarmos, a Lua já está alta no céu. – Ansal corta nossa discussão e a investigação de Zamir.
Nós três saímos de nosso esconderijo, eu visto o manto de minha mãe e sigo minha tia em direção a cidade de Matmata. Assim que nos aproximamos dos portões de pedra, já pudemos escutar a movimentação de guardas ao nosso arredor, Zamir e Ansal ficam na minha frente como um escuto protetor.
Nós três paramos e deixamos que eles nos cercassem, afinal, éramos três estranhos que vestíamos mantos com capuzes e escondíamos nossas identidades.
O guarda que estava no comando foi quem se dirigiu a nós, perguntando na língua do deserto quem éramos e o que queríamos ali. Se quiséssemos, poderíamos derrota-los facilmente, mas não era a nossa intenção, por isso, apoiei a mão no braço da minha tia e me pus a frente dos dois, abaixei meu capuz e deixei que o guarda visse o meu rosto e o meu manto.
– Vocês já me conhecem, sou Lia, a pouco tempo morei aqui na cidade com vocês, esses dois são amigos – Eu falava na língua deles – Precisamos ir até a princesa.
Um silêncio se faz, o guarda provavelmente está tentando ver melhor meu rosto na noite e avaliar se o manto que visto é realmente verdadeiro, mas por fim o escuto dar ordens para que nos deixássemos passar. Somos escoltados por quatro guardas, passamos pelo túnel que dá no interior da montanha, dentro da cidade o frio do deserto já não é tão terrpivel.
Os guardas nos levam até o palácio, ficamos esperando na porta, quando os portões do palácio se abrem escuto uma voz familiar e não consigo evitar o sorriso em meu rosto.
- Lia!
Kuana vem em minha direção e me abraça. Eu devolvo seu afeto, também estava com saudades da minha amiga.
– O que você está fazendo aqui, não que eu não esteja feliz em te ver, mas pensei que...
– É uma longa história Kuana.
Minha amiga me solta do seu abraço.
– O que houve com você, porque está usando essa venda? E quem são eles? – Sua voz agora é de desconfiança e curiosidade.
– Esse é o motivo que me trouxe de volta – Aponto para a faixa em meus olhos, depois me viro para Ansal e Zamir – Vocês podem retirar os capuzes agora por favor.
Escuto minha amiga prender a respiração, provavelmente pelo que, ou melhor, por quem estava na sua frente.
– Essa é Ansal minha tia e esse é Zamir, um amigo.
– Mas eles são... – Kuana estava sem palavras.
– Sim, nós temos muito o que conversar.
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