Capítulo 56
O dia já estava na metade da tarde, eu estava cortando lenha do lado de fora da cabana, o suor escorria por meu peito nú. Letéia estava ao meu lado, ela escrevia em um livro, me disse que gostava de registrar as histórias que ela achava interessante nele.
Lhe perguntei que tipos de histórias a ninfa achava interessante, ela me disse que são histórias de algumas viagens que ela mesma fez, de algumas batalhas, de romances, mas nem sempre dela.
A ninfa era uma romântica, apesar do seu jeito de mulher fatal, com ênfase no fatal, Letéia se derretia por histórias de amor. Ela me fez contar como conheci Lara, das minhas aventuras ao longo da minha breve vida, cheguei a ficar com vergonha com tamanha curiosidade em algumas situações.
- O que está escrevendo agora?
Ela me olha por cima do livro, que escrevia com um olhar mortal por eu a ter atrapalhado.
- A história de um humano que vai cortar a própria mão com um machado se não prestar atenção no que está fazendo.
Eu rio, mas quando me viro para o tronco, me dou conta de que realmente iria cortar meu pulso por estar distraído. Ficamos em silêncio, sentia meus músculos do braço já dolorido pelo esforço que estava fazendo.
Escutamos um farfalhar nas plantas, a ninfa imediatamente se levantou e ficou na minha frente, foram segundos de tensão, eu segurei com mais força o cabo do machado, já me preparando para ter que atacar quem quer que fosse que estivesse chegando ali.
Do meio da mata surgiu Ansal, nós dois relaxamos quando vimos a ninfa vir em nossa direção. Ela trazia consigo uma bolsa, sua roupa era uma armadura que dava inveja em qualquer um.
Uma mistura de metal bem trabalhado que se moldava perfeitamente ao corpo da ninfa, lhe dando ótima mobilidade em combate, além disso, ele parecia ser bem leve, era uma imagem bela e aterradora ao mesmo tempo.
Ansal veio em nossa direção, seu rosto continha uma expressão de poucos amigos e em sua mão, ela carregava um bilhete. Coloquei o machado cravado no tronco a minha frente e esperei ela se aproximar.
- Recebi sei recado Letéia, vim assim que pude. – A voz da ninfa estava séria.
- O que iremos fazer?
- Primeiro preciso atualizar vocês, vamos entrar na cabana.
Nós três entramos na cabana, Ansal parecia que não dormia a dias, ela ficou em pé na pequena sala.
- A situação está controlada no momento, as tropas humanas recuaram para os limites da floresta, a fenda está bem guardada e para eles conseguirem chegar nela novamente, terão que passar por nossos bloqueios, agora nós não seremos pegas de surpresa.
- Como estão as coisas no castelo?
- Minha mãe entrou no modo general – Ela solta um longo suspiro – Tempos difíceis estão por vir.
Ansal continua atualizando Letéia sobre as manobras de guerra que as ninfas estão fazendo. Fico olhando de uma para a outra, nenhuma delas iria falar de Lia? Não me contive e acabei falando de forma meio enfática com a ninfa, a cortando no meio de uma frase.
- Quando iremos buscar a Lia? Você vem até aqui e até agora não falou nada dela.
Ansal fuzila a outra ninfa com os olhos.
- Você não se conteve, teve que contar para ele sobre ela.
- Ele tem o direito de saber Ansal, além do mais, ela é tão importante para ele quanto para nós.
Ansal fecha os olhos e massageia as têmporas com os dedos, ela está claramente estressada.
- Muito bem Ron, me mostre a adaga.
Saio sem pensar duas vezes em disparada para o quarto, pego a adaga que tinha colocado debaixo do meu travesseiro e volto correndo para a sala. Falo o feitiço e a adaga se ilumina em minha mão, se virando para a direção onde Lia se encontrava.
- Aaarh, essa menina não tem jeito! – Ansal reclama.
- Eu lhe disse, ela é igual a mãe dela.
- Não, ela é pior, pelo menos Elsyt sabia onde estava se metendo, minha sobrinha não tem noção onde está enfiando o nariz, além do mais, me manda essa mensagem. – Ela sacode o pedaço de papel em suas mãos.
- Que mensagem? – Fico curioso olhando para o papel que está nas mãos de Ansal.
- Ela está indo para o lago Cristal, pede para eu encontra-la lá.
- O que estamos esperando, quando partimos?
- Se acalme o cavaleiro de armadura. – Letéia se vira e fala para mim. – O que mais ela diz, pois pela sua cara, não foi só isso que está escrito no bilhete.
- Minha sobrinha é esperta, falou de uma forma que não a comprometesse caso o bilhete fosse interceptado, mas você está certa, tem mais. Lia não está sozinha, tem alguém com ela.
- Quem? – Letéia e eu fazemos a pergunta ao mesmo tempo e acabamos nos entreolhando.
- Não sei, ela não disse, mas temo que seja um elfo, sei que foi ela quem escreveu pelos códigos que usou, como assinar a mensagem com o nome que Elsyt usava quando humana, mas não sei se é refém ou não, e por isso vim até aqui Letéia, preciso lhe pedir um favor.
- O que você precisa?
- Quero saber se você iria comigo ao encontro de Lia, não confio em mais ninguém para ir busca-la junto comigo, sei que você sabe sobre os pais dela, sei que sabe que ela é mestiça, então não teria que me preocupar em esconder nada.
- Lógico que eu vou, mas estou escalada para os turnos da fenda.
- Deixe isso comigo, enviarei uma ordem com mudança de ninfas, informarei que você estará numa missão especial comigo.
- E eu? – Me intrometo na conversa das duas.
Ansal me olha séria.
- Você irá ficar aqui.
- Mas não vou mesmo, Lia está em perigo eu preciso ajuda-la, não vou ficar aqui sentado esperando, irei enlouquecer!
- Me fale humano, você já lutou contra um elfo?
- Não, mas...
- Você tem super força, rapidez ou sabe mexer com magia?
- Não...
- Você tem conhecimento geográfico da floresta?
- Não...
Sei o que ela está fazendo, uma raiva me consome e sem pensar, avanço contra Ansal, segurando a adaga de localização em minha mão. A ninfa me bloqueia facilmente, retira a adaga de minha mão, me joga no chão e pressiona a lâmina contra a minha garganta.
- E é exatamente por esse tipo de atitude que não irei te levar comigo, se eu fosse um elfo e quisesse te matar mataria, ou poderia facilmente te usar como refém.
Ela faz mais pressão na minha garganta com a adaga.
- Então me diga, qual parte que você não entendeu de que é uma missão que nem a rainha sabe, que precisa ser extremamente estratégica e direta, que não sabemos em que condições encontrarei a minha sobrinha e que qualquer distração pode ser um erro fatal, e no caso, você é uma distração.
A ninfa me solta e joga a adaga ao meu lado, eu me levanto e pego a adaga, eu a olhava com raiva. Raiva por ter me tratado daquela forma, raiva de mim mesmo por não ter conseguido provar para ela que estava errado. Letéia se coloca entre nós dois e dá um olhar de cumplicidade para Ansal.
- Deixa que eu falo com ele Ansal.
Ansal desvia os olhos dos meus para os de Letéia.
- Irei lá fora enviar a mudança de posto, espero que você consiga colocar juízo na cabeça desse aí, pois precisamos sair imediatamente.
Ansal sai pisando firme pela sala e bate a porta quando passa por ela.
- Nem tente me convencer a não ir.
Letéia coloca uma de suas mãos em meus ombros e me olha intensamente nos olhos.
- Preste a atenção em mim, escute o som doce da minha voz.
Algo no tom de voz da mulher me faz ficar hipnotizado por ela, não consigo desviar os meus olhos do seu.
- Você irá ficar aqui na cabana, não irá me seguir, não irá para o lago cristal, sua ida pode colocar a vida de Lia em risco e você não quer isso.
Conforme a ninfa falava, me sentia mais calmo e a ideia de esperar na cabana, não estava mais soando tão ruim.
- Lembre-se Ron, em qualquer emergência que você tenha, use o portal nos fundos da cabana, ele te levará para a floresta, fora do reino ninfico e próximo ao reino humano, mas o use somente em último caso.
Eu estava embalado pela voz da ninfa, ela era tão doce e suave, e aqueles olhos, como não fazer qualquer coisa que aqueles belos olhos me pedissem.
- Eu me vou agora com Ansal, você ficará aqui?
- Sim, vou ficar aqui.
- Ótimo – A ninfa sorri para mim.
A mulher solta os meus ombros e sai pela porta, escuto as duas conversando do lado de fora da cabana.
- Vamos logo, meu encanto não irá segura-lo por muito tempo.
Assim que a ninfa se afastou de mim, eu sentia que deveria segui-las, mas Letéia tinha falado para eu não ir, o sentimento de obedece-la brigava com a minha vontade, por isso, fiquei parado na porta vendo as duas desaparecerem mata a dentro.
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