Capítulo 49
Kael estava desorientado, não acreditava que o rei mandaria alguém para a Torre Cinzenta, não depois de tudo que aconteceu e do que os elfos que moram lá representam.
Alguns seres mágicos nascem com uma afinidade a magia mental, o que possibilita a eles lerem a mente de alguém, contudo, os elfos daquela maldita Torre foram além disso.
Foi para esse lugar abominável que o rei mandou a garota, me impossibilitando de ir atrás e obter maiores informações, me forçando a recorrer a ajuda do príncipe.
Eu sabia que meu amigo ficaria surpreso e em negação com o que acabei de lhe dizer, mas preciso que ele volte ao foco, que me ajude a entrar naquele lugar.
- Preciso ir falar com meu pai, ele deve estar louco.
- Você pode tirar satisfações com o rei depois, agora precisamos é tirar a menina de lá, antes que danos irreparáveis aconteçam.
Vejo Kael ficar em dúvida quanto a que atitude tomar primeiro, mas não tenho tempo para essa indecisão, ninguém merece passar pelo que ela vai passar, independente da raça ou do que tenha feito.
Lhe seguro os ombros e quase grito no rosto do príncipe, se ele não fosse me ajudar, as informações que ele quer jamais serão descobertas e a menina, talvez nunca mais saia daquele lugar.
- Acorde Kael, precisamos tira-la de lá imediatamente, você sabe tanto quanto eu que a prática feita por aqueles elfos é proibida em todo o reino, seu pai deixou eles morando lá por não querer mata-los e agora como o bom hipócrita que é, resolveu usa-los a seu favor para conseguir informações de maneiras cruéis.
O príncipe me olha nos olhos e vejo seu rosto tenso com cada palavra que falo.
- Tenho certeza que ele não quer que ninguém descubra o que ele anda apoiando, isso causaria problemas internos – Falo em tom de ameaça – Existem outros meios de se ter informações, mas ele recorreu ao pior deles, demonstrando o seu caráter, contudo, se me ajudar a tira-la de lá, esse segredo morrerá comigo e você poderá lidar com isso da forma que bem entender.
Solto os ombros do príncipe bruscamente, nossa relação sempre foi de morder e assoprar, sim, ele é meu amigo, mas jamais abaixarei a cabeça para uma coroa quando vejo coisas que não concordo.
- Você tem certeza que ela foi mandada para lá Zamir?
- Tenho, e eu vou tira-la de lá, com ou sem a sua ajuda, você sabe as consequências deu agir sozinho.
Com o príncipe do meu lado eu evitaria um monte de gargantas cortadas, lutas mentais desnecessárias e uma encheção de saco burocrática e real que só de pensar reviro meus olhos.
- Irei te ajudar Zamir, mas com uma condição.
- Qual?
- Eu decido o que faremos com a garota.
- Desde que não seja trancafiada na Torre, você pode fazer com ela o que quiser.
Saímos os dois do beco imundo que nos encontrávamos, caminhando pelas ruas escuras de Magno, sinto meu corpo ficar tenso conforme vamos chegando próximo da Torre Cinzenta.
Vejo ao meu lado Kael colocar a sua máscara real, ele pode ser muitas coisas, mas sabe vestir bem o papel de realeza e o executa-lo brilhantemente quando necessário, mesmo não gostando muitas vezes dele.
Paramos em frente a uma enorme construção de pedras cinzentas, a Torre era redonda e bem larga, onde de qualquer lugar da cidade conseguia-se vê-la, por estar situada numa posição alta e por seu tamanho.
Em volta dela nenhuma construção foi feita, dando mais imponência e destaque para aquele lugar maldito. Nos dirigimos em direção a porta de entrada, mas antes que batêssemos na gigantesca porta de madeira, o príncipe me segurou pelo braço.
- Vamos fazer do meu jeito.
- Eu farei qualquer coisa necessária Kael para tira-la dai.
Ele segura meu braço mais apertado, olho para sua mão com uma sobrancelha levantada e então de volta para seu rosto, juro que pude ver chamas queimando em seus olhos, o que faz eu engolir em seco.
- Faremos do meu jeito espião e isso não está aberto a discussões. – Ele usa o título que tanto odeio e menosprezo, sinal claro de poder sobre mim.
Eu já o forcei de mais, não o quero perdendo a cabeça comigo neste momento, por isso, apenas assinto em afirmativa, o que faz com que ele solte o meu braço e bata três vezes na porta de madeira.
Não esperamos muito para um dos elfos virem nos atender, a aparência deles sempre me deu calafrios, as marcas em seus rostos e corpos são estranhas e seus olhos vermelhos arrepiantes.
- Príncipe – O elfo faz uma reverência para Kael – Mas que bela surpresa, a tempos não o vemos por aqui.
- Olá Inper, vim em missão real.
- A que devo a honra, meu senhor, o que podemos fazer para ajuda-lo.
- Desejo ver a prisioneira.
O elfo faz cara de desentendido, mas mantém o sorriso bizarro em seu rosto.
- Meu príncipe, nós não temos nenhum prisioneiro, o senhor sabe que não trabalhamos mais....
Meu sangue ferveu com as palavras de negação do elfo e sua cara de falsidade, mas antes que eu fizesse qualquer coisa, Kael lançou uma rajada de fogo que acertou a porta atrás de Inper, passando a centímetros de seu rosto e queimando alguns fios de seu cabelo.
O gesto pegou a mim e ao outro elfo de surpresa, vi sua pele negra empalidecer com o aviso do príncipe e o mesmo engolir em seco, fazendo seu sorriso desaparecer de seu rosto.
- Não me faça de idiota Inper, me mostre a garota agora.
O elfo a nossa frente abriu mais a porta e fez uma reverência indicando para que entrássemos na Torre. Kael é um doce de elfo, justo e amoroso com seu povo, além de ser um excelente amigo, apesar de me enfiar nas missões mais estranhas e é por isso, que as vezes esqueço como ele é poderoso, e é em momentos como este, que relembro e agradeço por tê-lo como aliado e não como um adversário.
O saguão da Torre é iluminado por tochas, uma escada enorme em espiral se encontra a nossa frente, Inper começa a subir os degraus e indica para nós o acompanharmos.
A Torre é um completo silêncio, conforme vamos subindo algumas portas se destacam de tempos em tempos, elas levam a outros cômodos da Torre, como aposentos dos elfos e salas que prefiro não lembrar.
Percebo que estamos chegando quase ao topo, pois os degraus começam a se estreitar. Kael mantém sua postura real e sempre fica entre mim e o elfo mental, fazendo com que nós dois mantenhamos distância um do outro.
Inper para diante de uma porta antiga de madeira, antes que ele a abra, já sei o que encontrarei do outro lado, essas últimas portas são destinadas as masmorras da Torre.
- Ela está aqui senhor. – Inper faz uma reverência e se afasta da porta.
Kael abre a porta e com sua magia ilumina as duas tochas presentes no recinto, jogando luz sobre as sombras daquele lugar. Assim que a sala está iluminada, o vejo olhando para a menina que está sentada de costas para nós.
O príncipe ao ver a garota trava na porta, vejo seus olhos se arregalarem, não compreendo a reação de Kael, pois ele se aproxima com passos hesitantes, como se tivesse vendo um fantasma.
Ele vai para a frente da menina que fica inquieta ao perceber que não está sozinha, vou em direção ao príncipe que quando vê o rosto da jovem parece decepcionado, mas ao fixar seu olhar em seu rosto vejo indignação em sua face. Sigo seu olhar e vejo o motivo de sua reação, quando olho para o rosto da jovem.
- Quem está aqui? Por favor eu não quero machucar vocês, me deixem ir embora.
A menina falava, percebo que sua voz está embargada.
- Inper – Kael chama pelo elfo que adentra a sala, sua voz me dá calafrios, ele está prestes a explodir e não quero estar perto quando isso acontecer – O que aconteceu com ela.
Vejo o elfo tremer diante da fúria do príncipe.
- Nós fizemos o que seu pai mandou, meu senhor, mas a garota é resistente – O elfo gaguejava um pouco para falar - Ela lutou contra os irmãos.
Os gêmeos eram famosos entre os elfos mentais, eram os mais fortes dentre eles, totalmente implacáveis e seus métodos eram os mais criativos possíveis. Sempre que alguém luta contra uma invasão mental, pode haver consequências se essa luta se estender por muito tempo.
Coloquei a mão no ombro de Kael para ele não fazer nenhuma besteira, o príncipe precisava manter a calma, indiquei com a cabeça a garota a nossa frente.
O príncipe se abaixou e retirou uma mexa dos cabelos ruivos da menina de seu rosto, ela se encolheu com o toque inesperado de Kael, ele olhava para ela com carinho. A menina era extremamente bela, mas nós chegamos tarde de mais, pois seus olhos agora já não tinham mais vida, ela estava cega.
- Olá minha jovem, eu não vou lhe fazer mal.
- Quem é você?
- Um amigo – Kael volta eu olhar para Inper – Vocês descobriram algo?
- Não, meu senhor, os gêmeos iam fazer uma nova seção hoje, como já falei, ela é extremamente teimosa.
Vejo o príncipe sorrir com essa fala de Inper, ele se simpatizou com a menina.
- Escute criança, eu posso lhe tirar daqui mas preciso que você me obedeça.
- Mas meu senhor... – Kael lança um olhar para Inper, que o faz se calar.
- Como posso confiar em você? – Sua voz era cheia de desconfiança e medo.
- Não pode, mas que escolha você tem. – Ele mantinha uma voz suave para falar com ela.
A menina ficou em silêncio, pensando no que Kael tinha acabado de falar, ela parecia machucada, apesar de não ter nenhuma ferida a mostra, imagino o que deve ter passado na mão dos humanos e depois vir para essa Torre maldita, era para deixar qualquer um maluco.
- O que terei que fazer.
- Primeiro, me diga seu nome e não minta, posso escutar seu coração acelerar quando mente.
Ela fica resoluta em dizer qualquer coisa, mas acaba cedendo.
- Lia.
- Muito bem Lia, eu sou Kael e estou com um amigo aqui, nós vamos te soltar, mas prometa não nos atacar, vamos lhe tirar daqui.
A garota assente com a cabeça, Kael fala o encantamento que destrava os grilhões dos braços da jovem, ela automaticamente os esfrega, reparo que marcas anteriores ainda estavam se curando e foram reabertas.
A jovem respira profundamente, mas enruga a testa, como se estivesse esperando algo que não aconteceu, ela suspira e balança a cabeça de frustração, por algum motivo que não sei dizer qual é.
- Consegue se levantar minha jovem.
A menina tenta se levantar, mas suas pernas fraquejam, estendo meus braços para segura-la pela cintura, assim que ela sente o meu toque em seu corpo, solta um grito, empurra minhas mãos e tenta se afastar para o mais longe possível, ela acaba trombando com o braço da cadeira e caindo no chão, mas se arrastar até encostar na parede e ficar o mais longe possível de mim.
Kael me olha assustado, sem entender a reação da jovem, eu a olho e sinto empatia por ela. Compreendo nesse instante o que ela passou no acampamento humano, e tiro minha dúvida de uma vez por todas, que ela era afinal, uma fugitiva.
- Ela estava presa no acampamento humano Kael – Olho para o príncipe, que entende nessas breves palavras o que quis dizer, o vejo trincar o maxilar.
Ele se aproxima com cuidado da menina que agora se encolhe na parede, abraçando seus joelhos contra si, ela vira o rosto em diversas direções, como se tentasse identificar onde estamos.
- Escute criança, não vamos te fazer mal, mas precisamos tira-la daqui – Ele faz uma pausa – Você está fraca de mais e não está conseguindo ficar de pé, por isso, irei te carregar no colo tudo bem?
Ele não toca na jovem, fica esperando que ela fale ou faça algo, vejo Inper murmurar algo encostado na porta. A jovem com muito receio sussurra um tudo bem, Kael a pega no colo e vejo que um tremor percorreu seu corpo com o toque do meu amigo.
Ela fica tão pequena no colo dele, que parece uma criança sendo carregada por seu pai. Kael se dirige a saída com a menina no colo, nessa hora, Inper bloqueia o caminho.
- Meu senhor não posso deixar que faça isso.
- Quem é você para me dizer o que posso ou não fazer?
- Mas senhor, são ordens do rei.
- E essas são minhas, saia da minha frente agora Inper, ou incinerarei essa Torre com todos vocês dentro – O olhar que Kael lança ao elfo não é nada amigável - E deixe que com o rei, eu me entendo depois.
Kael nunca fazia ameaças vazias e Inper sabia disso, um sorriso de satisfação surgiu no meu rosto ao ver como aquele maldito era tratado.
- Como desejar, meu senhor.
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