Capítulo 20
A semana se passou sem nenhuma novidade, todos os dias tomávamos café da manhã, tínhamos aula de história, íamos para a arena treinar e no final da tarde, tínhamos aula de poções.
No meio da semana Wala começou a acompanhar o nosso treinamento na arena junto de Ansal, a presença dela sempre me deixava agitada, como se não bastasse Calisto me fuzilando com os olhos, agora eu tinha a minha tia avó para me vigiar também.
As aulas de poções tinham começado básicas, com introdução a ervas, muito do que nos fora passado, eu já tinha aprendido com a minha mãe, contudo, tinham algumas plantas que nunca tinha escutado falar, assim como misturas que para mim eram bem inusitadas.
Eu estava distraída na aula quando escuto Ansal chamar meu nome, quando a encaro, vejo seu olhar de reprovação por eu estar sonhando acordada na aula dela.
Não consigo evitar de ficar envergonhada, pois todas estão me encarando, algumas escondendo sorrisos maliciosos com a mão. Minha tia repete o que tinha falado e finalmente desvia o olhar de mim.
Iríamos formar duplas para a próxima tarefa, nós tínhamos que fazer um tônico curativo de Stromigo. Íamos ter autorização para sair do palácio para buscarmos as ervas e por causa disso, Ansal estava dando um sermão sobre segurança.
Na hora de dividir as duplas, minha tia deixou que nós mesmas escolhêssemos quem seriam nossas parceiras. Olhei para Shanri que estava duas mesas de mim e fiquei contente de ver, que ela também tinha pensado em mim para sua dupla quando buscou meu olhar.
Ficamos o resto da aula discutindo quais ingredientes seriam mais apropriados para fazer o tônico. Eu estava em desvantagem, pois nunca tinha escutado falar de tal doença.
Pedi para Shanri me explicar os sintomas e o que o Stromigo causava. Percebi que assim como eu, ela também não tinha muita familiaridade com essa doença, começamos a procurar nos livros para então termos uma ideia melhor do que tínhamos que buscar.
- Aqui, achei Lia! Stromigo, doença causada por magia ou ingestão de plantas noturnas.
- Plantas noturnas?
- Sim, são extremamente venenosas e podem ser letais.
- O que ele provoca?
- Deixa eu ver, aqui, o Stromigo deixa a pele amarelada, causa vômitos com sangue, degeneração óssea e pode levar a morte.
- Não parece ser agradável!
- Nem um pouco eu diria.
Rimos baixo enquanto continuávamos a ler sobre a doença.
- Tem alguma coisa aí sobre como curar a doença Shanri?
- Tem uma lista de ervas aqui, mas também fala que só pode ser curado com a causa original.
Fiquei pensando sobre o assunto, Shanri já tinha começado a escrever uma lista de ingredientes para o tônico, mas algo me dizia que não era tão fácil, Ansal não teria dado uma missão onde a fórmula estava na página de um livro.
Nós íamos ter três dias para fazer esse tônico, tínhamos sidos dispensadas de todas as atividades, menos das aulas de história. Assim que a aula de poções acabou, combinei com Shanri de nos encontrarmos no meu quarto para discutirmos sobre o tônico.
Caminhando de volta para meu quarto, acabei me perdendo nos meus pensamentos e fui parar numa parte do palácio que não conhecia. Uma espécie de jardim com espelhos espalhados por ele se encontrava a minha frente.
Comecei a caminhar por entre as árvores, parecia que alguém não arrumava aquele lugar a muito tempo. Olhei para um dos espelhos e então vi um vulto com capa preta atrás de mim.
Assim que me virei não tinha nada ali, senti a temperatura cair e meu coração acelerar. Comecei a caminhar mais rápido por entre as árvores, quando olhava por algum espelho tinha a impressão de ver o vulto, mas sempre que olhava para o lugar do reflexo não tinha nada.
Já estava correndo desesperada para sair daquele lugar, não sabia como, mas aquele jardim de espelho tinha se tornado um labirinto. Um medo crescente tomava conta do meu corpo e lágrimas ameaçavam a escapar de meus olhos.
Estava correndo sem direção, sentia os galhos arranharem minhas pernas e braços, estava vendo aquele vulto sempre me perseguindo. Estava tão desorientada que só parei quando fui ao chão.
Corria tão freneticamente que não vi Wala na minha frente, trombamos e nós duas caímos. A irmã da rainha se levantou com uma cara de poucos amigos, ela parecia querer me estrangular por ter a derrubado, entretanto, ela esticou a mão e me ajudou a me levantar.
Assim que estava de pé, fiz uma reverência meio desajeitada, limpei as lágrimas e lhe pedi desculpas. A mulher ficou me olhando, sua expressão era indecifrável.
- O que estava fazendo correndo por aí sem olhar por onde vai?
- Desculpe majestade – Eu mantinha meu olhar abaixado – Pensei que alguém estava me seguindo.
- Te seguindo?
- Sim.
Wala pareceu ponderar o que acabei de falar, ela olhou ao nosso arredor e pareceu ver mais do que demonstrava.
- O jardim dos espelhos pode ser traiçoeiro, você não deveria andar por aqui sozinha.
- Eu me perdi no caminho para o meu quarto, não foi minha intenção vir aqui de propósito.
- Entendo.... Venha, vou te levar até seu quarto.
Não demorou muito para sairmos do jardim, era estranho ver uma mulher como Wala. Se a vissem somente de longe iam pensar que era frágil e indefesa, mas estando perto da protetora do Sol, somente sua presença colocaria medo em qualquer um.
- Você está sangrando, melhor te levar para uma curandeira.
Olho rapidamente para meu braço e vejo que esta sangrando com os cortes feitos nas árvores com espinhos.
- Não precisa, tenho remédios em meu quarto – Minto para ela, mas sei que assim que entrar no pequeno riacho irei me curar.
Ela me olha desconfiada, mas assente e continua a me levar para o meu quarto. A mulher não é muito de falar, fico a observando e procurando semelhanças entre ela e minha avó.
Vejo que seus cabelos são iguais, o formato dos seus olhos e boca, mas ao contrário da minha avó, Wala tem um rosto que apesar de belo, transmite algo que não sei identificar.
- Percebi essa semana que você não tem utilizado as armas na arena.
Fico em silêncio, não queria chamar a atenção para as minhas poucas habilidades comparadas as das outras.
- Porque ficou somente treinando fazer armadilhas e correndo na pista de fuga?
- Não me senti a vontade para usar uma arma ainda.
- Uma Oreáde que não se sente à vontade com uma arma – Ela se virou com os olhos arregalados e um sorriso nos lábios – Essa é uma novidade para mim.
Fiquei em silêncio, não sabia como responder.
- Uma hora ou outra você terá que pegar em armas jovem ninfa – Seu rosto ficou sério – Se você passar na prova de poções e continuar, se quiser, treinarei com você.
Demoro um pouco a processar o que ela tinha acabado de falar.
- Como assim se eu passar? Essa prova eliminará alguma de nós.
- Sim, não pense que minha sobrinha irá mandar ninfas despreparadas para a floresta, essa é a primeira eliminatória.
Ficamos em silêncio até chegarmos no meu quarto, Wala me desejou boa sorte e disse que nos veríamos na arena. Não sei como, mas pelo visto o meu silêncio foi interpretado como aceite do treinamento com ela.
Deitada na minha cama fiquei pensando no que Wala tinha falado, alguém ia ser eliminado e não podia ser eu. Minha cabeça girava, a cada dia que se passava parecia que em mais enrascada eu me metia.
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