Capítulo 8
- ACHEI!
Vejo um Ron emergir de trás de um monte de pergaminhos abertos com cara de cansado e com o cabelo bagunçado, vir para o meu lado. Depois que passamos horas revirando as estantes, tínhamos conseguido achar os três livros com o símbolo na capa.
Eu estava com os livros abertos nos contos que faziam referência a lugares distantes e a armas mágicas, como Ron não sabia nosso idioma, sua função foi tentar achar a localização desse lugar, conforme eu lia os contos para ele, mas as referencias eram confusas, e os contos pareciam falar de lugares distintos, mas eu sabia que tinha uma conexão entre eles, que todos falavam do mesmo lugar de alguma forma, alguma coisa me dizia que a resposta estava ali.
- O que você achou?
- A conexão – Olho entusiasmada para o rapaz, que me olha com cara de cansado.
- Aqui – Aponto para o livro de capa roxa a minha direita na mesa - Todos os livros fazem referência a alguma arma que vai derrotar magicamente algo ou alguém, este fala de uma lança que irá derrotar um monstro, o segundo de uma espada para derrotar um monarca cruel que tinha feito um pacto com criaturas das sombras, e o terceiro de uma flecha que ajudaria a caçar o monstro que assombrava o vilarejo.
- Sim, você já me contou sobre as histórias, mas qual a conexão que você achou?
- Calma, todos os livros parecem falar de lendas, mas todos falam que as armas vêm do mesmo lugar. – Vejo Ron me olhar confuso – Todos os livros citam que as armas são lindas, que sua lâmina transparente é mais forte que qualquer metal conhecido no mundo e que seu brilho é único. A espada, a lança e a flecha, todas são descritas dessa mesma forma, ou seja, todas vieram do mesmo lugar.
- Ok, mas como saber que elas vieram do mesmo lugar, vai nos ajudar a achar o lugar, um diz que o lugar era atrás de uma cachoeira esquecida, o outro falava que ficava dentro de uma caverna dentro de uma montanha, e o terceiro em um lago congelado, fora as outras referencias que mais confundem do que ajudam.
- A questão Ron é que sabemos que todas vieram do mesmo lugar...
- Ou da mesma criatura – Zamir fala quando ele e Lia se aproximam mais de nós – As características únicas das armas dizem que ela foi moldada pela mesma criatura, mas não necessariamente no mesmo lugar.
- A mesma criatura que ao longo dos anos pode ter morado em diferentes lugares – Falo animada – Em uma cachoeira, numa montanha ou em um lago congelado, mas todas as histórias se referem que seus personagens seguiram para a direção sul do deserto, como saber onde essa criatura está agora?
Nós quatro ficamos em silêncio pensando, mas o olhar rápido que Lia e Ron trocam entre eles não me passa despercebido, quando minha amiga vai para o seu lado, como se um imã a atraísse para lá, para o familiar.
Pego os mapas que Ron analisava, nós quatro começamos a marcar todos os lugares no mapa que encaixava na descrição dos livros, mas eles pareciam ser aleatórios, sem ter uma conexão entre eles, como íamos saber que cachoeira, lago congelado ou caverna as lendas se referiam, uma vez que existiam várias ao longo da região sul do deserto, uma área que a muito tempo fora esquecida por causa do clima volátil.
Não sei quanto tempo vi Zamir debater com Ron e Lia diversas teorias para tentar achar os lugares certos, minha cabeça já estava doendo, quando meu irmão chegou com Ansal, eu os atualizei sobre o que tínhamos descoberto até o momento, Raoni se sentou na cadeira ao lado de Zamir e já começou a debater possibilidades com os outros.
Ansal veio em direção a cadeira do meu lado, mas não se sentou, ficou em pé, calada, observando intensamente os mapas e as marcações que tínhamos feito.
- Os livros que vocês acharam, onde está? – Ela me olha com aqueles olhos azuis interrogativos.
Pego os três livros que estavam escondidos debaixo dos pergaminhos de mapas e pilhas de livros de localização que peguei para tentar ajudar Ron, e entrego para ela.
Ansal pega os livros da minha mão e começa a folhear o primeiro deles, a ninfa se afasta de nós com os livros nas mãos, eu me levanto e vou atrás dela, que se senta numa mesa mais afastada de onde os outros quatro estavam discutindo sobre os mapas.
Ficamos em silêncio, Ansal lendo os contos e eu a observando.
- Encontrou mais alguma coisa?
- Talvez, esses livros são antigos, mas os contos não se passam todos na mesma época, não a indicação de quanto tempo se passou entre cada um deles, mas se o clima é tão irregular como vocês me contaram naquela região, talvez não estejamos procurando três lugares diferentes, mas sim, somente um, que se modificou ao longo dos anos.
Fico surpresa com a hipótese que Ansal levantou.
- Mas como saber onde seria, voltamos ao mesmo problema...
- Talvez... - A ninfa ergue a mão pedindo para eu me calar e folheia uma das páginas do livro verde aberto na sua frente – O metal.
- O que tem o metal? – Olho confusa para ela que ainda folheia o livro.
- O metal é a resposta, lógico, como não percebi antes.
- Ansal? – Ela me olha e vejo que seus olhos se iluminaram um pouco.
- A descrição das armas, somente um metal é capaz de fornecer tal armamento.
- Nunca vi nenhum metal que criasse armas com lâminas transparentes.
- Eu já, uma vez... - Ela leva a mão ao peito, como se estivesse apalpando algo embaixo da roupa. – Kuana, qual é o mapa mais antigo que vocês têm aqui.
Me levanto e vou buscar alguns dos mapas mais antigos que tínhamos, vejo que Ansal voltou para junto dos outros, não me demoro a achar os papiros envelhecidos em uma das estantes e voltar para junto de todo mundo.
- Obrigada, esperamos que tenhamos um pouco de sorte.
Todos ficam em silêncio enquanto que Ansal abre o mapa mais antigo que tínhamos ao lado do mais recente, as diferenças entre os dois são gigantes, ela começa a ler os contos e a fazer a rota hipotética de cada um deles no mapa mais antigo, aos poucos ela consegue definir três pontos próximos que formavam uma área, ela fica alguns minutos analisando o antigo mapa com o novo e então defini uma zona no mapa novo, uma área que se colocássemos o mapa antigo sobreposto, é um local que fica a mesma distância dos três pontos.
- É aqui, é aqui que o distral está.
- O que está ai? – Lia faz a pergunta que eu e pela cara do meu irmão e de Ron, também queríamos fazer.
- Você não pode estar falando sério ninfa, isso daí é uma lenda. – Vejo Ansal fuzilar o elfo com os olhos.
- Assim como nós também nos tornamos lendas elfo e olhe só para nós bem vivos aqui.
- Ok, vocês dois – Lia se apressa em interver entre os dois – Será que podem explicar o que é distral? E tia, como você chegou a essa conclusão?
- Distral é um metal lendário – Zamir começa a explicar - É considerado o mais forte entre todos, o indestrutível, ninguém sabe onde encontra-lo, mas diz a lenda que para forjar uma arma com esse metal é preciso ir para um campo aberto, onde se tem tempestades de raio, que invés de se usar a forja com o fogo, a pessoa tem que forjar a arma com os raios que vão atingindo o metal, e por isso ele tem uma característica única, as armas são quase transparentes com um pequeno brilho azulado, se diz que uma arma forjada com esse metal pode matar qualquer coisa, e não existe nada no mundo que ela não consiga cortar.
- A descrição bate com as armas dos livros – Me pego falando e vendo todos olhando para mim.
- As histórias têm em comum as armas, todas forjadas pela mesma criatura, se analisarmos os mapas, atualmente o único lugar onde ela conseguiria forjar essas armas é nessa área – Ansal aponta para a zona no mapa que ela circulou – É um tiro no escuro tentar encontrar Griska, mas se tivermos que começar por algum lugar, eu começaria por aqui.
- Encontrar quem? – Me pego perguntando para Ansal, vejo que ninguém mais sabe do que ela está falando, nem mesmo Zamir.
Ansal respira fundo, como se tivesse se preparando para falar algo íntimo.
- A muito tempo a trás, antes deu nascer a ordem lutava contra as criaturas das sombras em nosso mundo, espectros que devoravam tudo pela frente, nosso mundo estava se tornando um cemitério sombrio, por isso, alguns membros partiram em uma jornada para achar alguma arma que conseguisse eliminar de vez o rei dos espectros, pois uma vez que o rei morria, todos os seus filhos também desapareceriam. Dois membros da ordem encontraram essa criatura que chamaram de Griska, ela é a responsável por forjar as armas de distral, a história conta que ela consegue controlar os raios, por isso consegue fazer as armas das histórias.
- Ela forjou as armas para a ordem? Onde elas estão? – É Lia quem pergunta.
- Griska fez uma flecha, de acordo com a história, ela imbuiu um pouco da sua própria magia nessa flecha, pois só assim o rei seria derrotado, a ordem conseguiu derrotar o rei, a arma serviu ao seu propósito.
- Porque nunca escutamos falar dela? – Foi Zamir que questionou Ansal.
- Griska é uma criatura antiga, eu não sei qual é a sua aparência, eu só sei essa história pois fazia parte da ordem, nem minha mãe sabe da existência dela, foi um pedido que ela fez aos membros da ordem, que mantivessem sua existência em segredo. Com o passar do tempo, o distral e Griska foram sendo esquecidos e se tornaram lendas, que poucos se lembram.
- Muito bem então, providenciarei uma equipe para ir encontrar essa tal criatura e ver se ela consegue nos ajudar, se conseguirmos armas como essa conseguiríamos derrotar o exército de Raruks – Meu irmão fala.
- Não tão rápido príncipe – Ansal o interrompe – Griska pode parecer uma criatura boa por causa das histórias, mas não é bem assim, a ordem sabe que alguns que foram buscar por essas armas não retornaram, acho que chegar com um pequeno exército não é uma boa jogada para nós, além do mais, parece que tem mais uma questão – Ela olha profundamente pro rosto do meu irmão - Se você analisar os livros com cuidado, verá que todos que ela ajudou eram humanos, que tinham como características serem líderes ou sábios para o seu povo, na ordem, os membro que foram procura-la eram uma sacerdotisa e um elfo, e ela entregou a flecha somente na mão da sacerdotisa. – Ela vira a cabeça para mim.
- Não, de forma alguma vou deixar minha irmã ir a uma missão sozinha, procurar uma criatura antiga que pode matá-la ou que nem sabemos que ela existe.
Fico alguns segundos digerindo o que Ansal tinha acabado de falar, que para conseguirmos que essa criatura nos ajudasse, somente eu poderia ir falar com ela, senti medo, mas também euforia, eu poderia finalmente ir explorar o mundo como sempre quis.
- Essa decisão não é sua Raoni – Encaro meu irmão – Concordamos em ajudar, se for necessário eu ir sozinha encontrar essa criatura para conseguirmos armas contra esse exército, eu estou pronta para partir.
- Kuana.. – Levanto a mão para calá-lo.
- Qual o propósito de me manter aqui, sendo que eu posso ajudar a ganharmos essa guerra, pois se perdermos não teremos mais casa, então te pergunto, do que adiantou eu ficar presa aqui? – Meu irmão me olha com pesar, ele sabe que estou certa, mas entendo sua preocupação, não o julgo por isso.
- Pelo menos deixe que alguns homens te acompanhem.
- Você escutou o mesmo que eu, ir com um pequeno exército não será uma boa impressão.
- Mas você não precisa ir sozinha, eu posso ir com você – Ron se oferece – Como Ansal disse, os membros da ordem eram dois, acredito que Griska não veja duas pessoas como uma ameaça, e parece que ela gosta dos humanos.
- Com todo respeito humano, mas o segundo membro da ordem era um elfo, assim como eu, suas chances de proteger a sacerdotisa numa terra que você não conhece, e vocês dois voltarem com vida são bem pequenas.
- Tenho que concordar com o elfo – Meu irmão olha de um para o outro, vejo que Ron está se controlando para não responder os dois – Eu posso ir com você.
- E aí arriscamos os dois herdeiros do trono de uma vez só com a situação que estamos enfrentando? Não Raoni, isso não é uma possibilidade.
- Zamir – Vejo Lia olhar para o elfo – Você poderia ir com Kuana?
Antes que o elfo respondesse Ansal se intrometeu em nosso debate.
- Não, Zamir e você precisam ir para o território élfico, temos que ser perspicazes e nos dividirmos com inteligência – Ansal olha para cada um de nós – Lia você e Zamir precisam conseguir o apoio do reio dos elfos, Raoni, como conversamos mais cedo, precisamos que você faça a defesa da fronteira e desestruture os reinos aliados de Serafina que estão aqui, Ron irá te dar apoio nas informações que ele tem de como funciona o exército de Dakar internamente – Vejo que Ron se surpreende com essa notícia, pelo visto Ansal ainda não tinha falado com ele sobre isso, mas o rapaz faz um sinal de afirmativo com a cabeça – Eu preciso falar com Letéia, ela precisa informar minha mãe do que sabemos em partes, as ninfas precisam se preparar, e então eu irei com Kuana até Griska.
Me surpreendo com essa afirmação de Ansal, todos ficam calados, a comandante que existe dentro de Ansal tinha acabado de dar as ordens e ninguém queria contestar.
- Se todos concordam, é assim que seguiremos – Ninguém fala nada– Se tudo ocorrer bem, todos nós nos veremos em breve.
- Quanto tempo até partirmos? – Pergunto a Ansal.
- Uma semana – Ela olha para Lia – Você também, uma semana é o suficiente para se recuperar e partir na nova jornada. – Vejo minha amiga concordar e olhar de relance para Ron, os dois mal se encontraram e já iriam se separar novamente.
O silêncio parece pesar entre nós.
- Já está tarde, é melhor irmos descansar, mas antes que saiam – Ela olha para mim, Raoni, Lia e Ron – Aproveitem essa semana para ficar com quem vocês amam, descansem, não deixem assuntos inacabados para trás, eu espero pela Deusa que nos reencontremos todos novamente, mas isso pode não acontecer, por isso, usem esses dias sabiamente. – Ela olhou profundamente nos olhos de cada um de nós – E você elfo, espero que cuide bem dela, pois se algo acontecer com minha sobrinha eu vou até o inferno atrás de você.
Ola pessoal!!
Pois é... teremos só mais uma semana de paz para os nossos personagens e depois essa nova etapa começa.
Bem espero que tenham gostado, deixem nos comentário as reações e impressões de vocês para conversarmos um pouco mais.
Um grande bj e até o próximo cap
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