• Invasão •
Me levantei seguindo diretamente pra janela podendo ver o caos que se instalou em Trynie. A cidade estava sendo atacada por Orcs, que não sei como conseguiram entrar com um exército. Agradecendo por ter trocado de roupa antes de dormir, saí de meu quarto encontrando Ellyna e tio Ray conversando sobre algo preocupadamente.
- Samhara! Já íamos entrar e te chamar. Faz uns minutos que levantamos e você não deu sinal de vida.
- Onde está Lucian? - pergunto ao notar a porta aberta.
- Não o vimos. Deve estar lá fora.
- Ok tio, se cuidem vocês dois - respondi já me afastando.
- Aonde vai Sam?
- Vou conseguir a aliança élfica Elly - gritei por sobre os ombros.
Saí pras ruas e vi a batalha se desenrolando, os orelhudos estavam perdendo feio. Um ataque inesperado onde todos foram pegos completamente desprevenidos, sem que a cidade fosse evacuada, não é a toa que tudo está sendo destruído.
Desvio de uma lança, a agarrando pela ponta e a girando, fazendo com que seu dono a soltasse, o atingi com o cabo no olho e virei a arma rasgando seu pescoço.
Continuei andando e puxei minhas adagas a tempo de juntá-las em um x e amparar um golpe de espada vindo em minha direção. Com um chute nos joelhos de meu adversário o desequilibrei cravando as adagas em seus olhos, mas não sem antes levar um corte raso na perna.
Um outro me atacou por trás, conseguindo cortar minhas costas verticalmente, só não foi grave por ter sido muito longe e mal calculado, fazendo apenas a ponta da espada conseguir um corte superficial, mas que não deixava de incomodar e arder feito pimenta. Ao girar pra encará-lo dou um chute alto, mas ele agarra minha perna e a gira na tentativa de quebrá-la, mas pra que isso não ocorra acabo girando meu corpo junto e caindo ao chão.
Melhor ser derrubada que ter a perna quebrada de novo.
Ele tenta cravar a espada em mim, mas abro um buraco que o engole. Me levanto continuando a luta e me desviando de alguns ataques aleatórios. A situação não é nada boa. Cada vez mais elfos são mortos, e vários do exército inimigo já atingiram os distritos. Tem que haver um motivo pra eles estarem ganhando com tanta facilidade, mesmo com os fatos citados a pouco, os elfos são poderosos e tem uma forte magia.
Lucian não está em lugar algum, já avistei Ellyna e tio Ray por aí, mas nem sinal do lobo. Será que foi embora?
Avisto então o motivo de tanta vantagem, é a coisa mais magnífica em que já pus os olhos.
Os Orcs possuíam uma poderosa arma, uma que eu sempre quis ver, tocar, e que sempre admirei mais que tudo. Eles possuíam...
Dragões.
Capturados e presos, eles eram arrastados em um tipo de carroça gigante, que os imobilizavam, a tal carroça era guardada por quatro Orcs e estes pressionavam as gargantas dos animais os obrigando a soltar fogo. Se esses monstros já tinham minha raiva conseguiram meu ódio. Eles estavam aprisionando dragões! Dragões!
Subi em um dos telhados pra visualizar melhor, havia por volta de cinco dragões. Um estava com um batalhão dirigido ao distrito de Kellen, outro ao distrito Carlay, mais um a Trynie, outro aqui no centro, e um último que era dirigido para onde precisasse de apoio.
Fui atrás do de Kellen primeiro. Era esplêndido! Suas escamas eram vermelhas e douradas, um dos maiores, realmente gigante, não sei como conseguiram deixá-lo nesse estado. Os Orcs o pressionaram no ponto certo, e ele soltou uma labareda de chamas de quase trinta metros. Trinta metros!
Me aproximei e esperei o próximo ataque. Assim que a labareda foi lançada a manipulei fazendo-a se dispersar a partir do centro em quatro tiros diferentes, que fizeram os Orcs saírem correndo pra apagar as chamas em seu corpo. Cheguei perto do dragão. Ele era imenso, acho que comentei isso, passei as mãos por suas escamas e ele se contraiu ao toque. Derreti as partes férreas da estrutura, e carbonizei as de madeira, a fera me encarou com seus olhos cinzas em um silencioso agradecimento, antes de abocanhar um Orc que iria me atacar e o engolir, e em seguida abriu as enormes asas acinzentadas por dentro, e se lançou aos céus.
Fui para Carlay e avistei a carroça seguinte. Eles usavam um Dragão Albino um pouco menor que o vermelho. Sua crista ia desde a cabeça até a ponta da cauda que termina em uma seta perfurante, e era feita do que parecia um tipo de cristal pontiagudo.
Depois de destruírem todas as construções que haviam lá, seguiram para o lago e pressionaram o animal, ele lançou um raio azul na água que instantaneamente foi congelando. Antes que o lago estivesse completamente sólido atingi o guarda que o torturava com uma flecha, soterrei um segundo, e afoguei um terceiro. O quarto resistiu e veio até mim, mas desviei de seu machado girando para trás dele e cortando sua nuca. Da mesma forma que o primeiro, libertei este que me agradeceu com seus olhos prateados, abriu as asas em um tom de azul claro por dentro e voou pra longe. Como a magia lançada não foi concluída, a água voltou ao normal.
Seguindo pelo campo de batalha me direcionei a Trynie. Os Orcs de lá usavam um dragão pequeno, o menor até então. Ele tinha escamas em tons de marrom e verde musgo, suas asas tinham nas pontas uma saliência que me parecia osso, e imagino ser tão pontiaguda quanto uma adaga. Sua cauda termina em uma forma arredondada cheia de espinhos.
Ao ser pressionado nada aconteceu. Então me aproximei e antes de atacar um súbito tremor surgiu e em questão de segundos um grande terremoto estava assolando aquela parte da cidade e fazendo algumas casas serem engolidas pela terra.
- Droga então é isso que ele faz.
Me concentrei ao máximo no solo, fiz uma conexão entre meu corpo e a terra, senti uma força tentando me destroçar, me fazer ruir. Resisti o máximo que pude vendo o chão ganhar um pouco de estabilidade, e enfiei o pé na terra já frágil fazendo um rastro seguir em direção aos projetos de ogros, os acertando com pedras e os fazendo cair.
É o tempo que preciso. Rapidamente atiro três flechas acertando os alvos em questão, infelizmente erro a quarta e sou obrigada a lutar. Ele tenta um golpe de espada e eu desvio, mas sou pega por um chute que me joga ao chão sem fôlego. Ao tentar me levantar ele me segura pela cabeça com mãozorra, mas com um impulso, envolvo sua garganta com minhas pernas cruzando firme os tornozelos e girando meu corpo, quebrando o pescoço do monstro que caiu sem vida no chão.
Ainda ofegando encaro os olhos dourados do dragão que me suplicam ajuda. O liberto, e ele vai embora.
- Faltam dois. Tenho que voltar ao centro.
O motivo de não ter pego o de lá primeiro, foi que exceto o castelo de Yedryn, não havia residência alguma no lugar, o mais importante era salvar o máximo de vidas possíveis nos distritos. Voltando ao local de início, avistei a quarta carroça. O dragão era usado para causar várias rajadas de vento e tufões. Consegui atirar em todos os quatro guardas e rapidamente corri até a criatura. Este possuía escamas cinza claro, e olhos completamente brancos. Sua cauda se assemelhava a de um lagarto comum assim como a do vermelho. Quando o soltei, pude ver a coloração negra por dentro de suas asas assim que alçou vôo.
Os Orcs começaram a cair, os elfos finalmente puderam parar de tentar controlar os incêndios, geadas e terremotos que eram causados pelos dragões e concentrar seus poderes elementares na batalha. Sem suas armas, os monstrengos não tinham a mínima chance. E tudo estava indo bem, até que a quinta carroça que eu havia esquecido é solta. Sim, ela é desmontada, mas não para libertar o dragão. Eles colocaram um tipo de sela especial, que permite total controle sobre os movimentos do animal.
Este é conpletamente negro. Não faço idéia de seu poder sendo que os quatro elementos já foram. Sua cauda é bifurcada e cada ponta termina em uma seta fatal, ele é quase do tamanho do dragão vermelho.
Ele alçou vôo e pude ver suas asas por dentro, que ostentavam um tom idêntico a cor do céu noturno, com vários pontinhos prateados que facilmente podiam ser confundidos com estrelas enquanto voava. Da boca da fera saia uma negra névoa, que simplesmente corroía tudo que tocava como ácido, no caso, os prédios administrativos do centro.
Faço uma conexão com a atmosfera. Sinto o ar como parte de mim e com isso uma queimação como se fosse em minha pele. Recolho toda a névoa lançada, e a direciono ao Orc. Faço com que ela entre em suas narinas e percorra seu corpo. O cadáver cai da sela em direção ao chão. Ainda manipulando a nuvem ácida, faço ela corroer as estruturas que envolvem e prendem o dragão, o libertando. Livre, ele voa pra noite, se misturando as constelações.
Vejo o Lord elfo em meio a batalha, observando os acontecimentos seguintes enquanto descansa. Me aproximo.
- Quanta agitação para uma noite não? - pergunto ofegante do esforço.
- De fato. Em apenas poucos segundos, a cidade foi invadida e destroçada.
- Não. Não foi questão de segundos - ri.
- Do que está falando feiticeira?
- Não compreendeu ainda? Orcs, criaturas burras e estúpidas utilizando mecanismos muito bem elaborados e domando dragões! Não são cavalos ou lobos gigantes. São dragões! E além do mais, eles passaram pela barreira élfica, eles passaram a muralha! O portão possui maldições...
- Como sabe das maldições? - ele me interrompe.
- Ah por favor qualquer um com o mínimo de inteligência saberia que aquelas runas entalhadas em dourado são belas maldições élficas. Continuando, não foi questão de segundos. Foi tempo, foi planejado, foi traição.
Somos atacados e cada um pega um adversário, amparo a espada do inimigo com minhas adagas e a giro, fazendo com que ele se desequilibre pra frente e eu dê uma cotovelada em seu rosto, cravando as adagas em seu peito. Yedryn acaba com o seu e embanha a lâmina.
- O que disse é muito grave e não deveria falar sem certeza.
- Quem disse que não tenho? É a única explicação possível...
Uma explosão me interrompe, jogando nós dois pra longe. Tossindo observo algo vir em nossa direção. Um golpe alto de espada vem em direção à Yedryn, que está completamente ensanguentado e imóvel, e apenas observa o golpe de morte. Minhas adagas voaram distantes, então me lanço à frente do elfo, erguendo minha faca de caça e apoiando minha outra mão na ponta, para amparar o golpe. O som do metal no metal ecoa, ele usa sua força contra a minha e eu sei que vou perder.
Em um movimento rápido, deslizo a lâmina, fazendo o corpo do Orc cair sobre mim, mas antes que ele atinja o elfo, cravo minha faca em seu coração.
Minhas duas mãos se encontram no cabo da faca completamente enterrada no cadáver que quase está a me esmagar. Os cortes em meu corpo protestam fortemente me fazendo gritar, e com um impulso das pernas o jogo pro alto, ele cai de costas no chão, e eu por cima. Rolo pro lado, encarando o céu enquanto controlo a respiração ofegante.
- Obrigada Samhara. Você salvou minha vida...
- Ah cala a boca!
Me levanto ainda fraca e vejo o elfo se erguendo e indo para algum lugar seguro. Enquanto o observo ir embora, uma dor alucinante me atinge. Olho pra baixo e encontro uma flecha cravada na parte de trás da minha perna. Me virei a tempo de desviar de um golpe do machado, mas com a dor e o cansaço me desequilibrei e caí. Rolei evitando dois golpes, minha visão já estava turva com a exaustão aparecendo, não consiguia me concentrar o suficiente pra usar qualquer magia, quando estou assim posso explodir tudo ou fazer algo inútil.
O terceiro golpe vinha, um machado é impossível de ser amparado com uma faca. Já não consiguia mais rolar, era algo tremendamente difícil. A lâmina desceu e eu fechei os olhos esperando a dor.
Mas ela não veio.
Levantei as pálpebras e vi um corpo caindo sem vida e sem cabeça pra trás. Lucian se agachou perto de mim e passou os braços ao meu redor me ajudando a levantar.
- Sam está acordada? - tocou em meus rosto.
- Estou... - Acabei tossindo com o esforço de falar.
- Ótimo, aguenta firme, vou te tirar daqui.
Ao nosso redor os elfos iam tomando mais espaço e cada vez mais orcs decoravam o chão da cidade.
- Obrigada - agradeço - De verdade.
- O que seria de você sem mim Sam? - ele me encara com um sorriso descarado.
- Se era pra ficar se achando me deixasse morrer - suspirei.
- É assim que me agradece? - com a proximidade seu riso soprava em minha orelha
- Esperava o que? Uma festa? - tossi um pouco de sangue.
- Esperava algo bem mais simples que uma festa - me olha maliciosamente.
- Pra você interromper e fugir outra vez? - o provoquei - E pode me soltar babá, já posso ficar de pé. Eu acho.
- Está bem senhorita independente. Vamos pra enfermaria temos que cuidar disso. - ele aponta pra flecha.
- Eu mesma cuido.
Segurei com força no cabo da flecha, dei um suspiro, e a puxei de uma vez quase caindo com o esforço, e só não o fazendo graças a Lucian que me amparou antes da queda.
- Obrigada outra vez Garoto Lobo - me apoiei em seus ombros novamente.
- Disponha Sam. Agora deixa eu cuidar disso vai.
Antes da minha resposta ele rasgou um pedaço da minha calça, expondo o ferimento, e em seguida fez uma atadura improvisada.
- Pronto. Eu te dou cobertura.
Em pouco tempo a batalha terminou, com os elfos bradando a vitória em cima dos invasores. Fui levada a enfermaria onde cuidaram de meus ferimentos com agilidade. Descidi descansar um pouco antes de pensar em qualquer coisa, e claro, Lucian ficou o tempo todo do meu lado. Ele me olhava com tanto carinho e preocupação que chegava a ser fofo.
Apesar do trabalho de toda uma noite, do cansaço, da exaustão e entre outros, valeu a pena. Afinal o Lord elfo a partir de agora, vai comer na minha mão.
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