• Enfim em Trynie•
Algumas horas se passaram, nós quatro estávamos sentados de costas uns paras os outros, enquanto descansávamos da batalha ao mesmo tempo que nos esforçávamos para não deixar de prestar atenção ao redor. Afinal, estávamos em território nem tão amigo assim.
- Alguém se aproxima - Lucian anuncia.
- Certo o descanso acabou - me levanto e Lucian me acompanha.
- Não precisa menino lobo, deixa comigo.
- Não vou te deixar sozinha nessa Samhara. - ele diz ficando de costas comigo.
Aos poucos o farfalhar das folhas vai aumentando, vindo de todos os lados. Aos poucos, nossos "aminimigos" foram surgindo em meio a vegetação, nos cercando, enquanto apontavam suas flechas em nossa direção.
De súbito, nos envolvi em uma redoma translúcida, envolvendo alguns pequenos e fatais linguetes flamejantes a circundar protetivamente. Ellyna e meu tio se levantaram ficando em posição.
- Abaixe o escudo ou atacaremos - um elfo bem alto, de longos cabelos lisos e ruivos e trajes bem elegantes, diferente dos de batalha dos demais se pronunciou entediado.
- Muito interessante, eu abaixo o escudo e vocês praticam a pontaria.
- Não vamos abaixar nada.
- Ouviram o cara. Abaixem vocês primeiro. - o encaro desafiante concordando com Lucian.
- Vocês não estão em condições de exigir nada. Este é nosso território e vocês são os intrusos. Entretanto, os inimigos dos Orcs são amigos dos Elfos. Não viemos para lutar.
Com um gesto de cabeça dele todos abaixaram o arco. O que não significava grande coisa, uma vez que em questão de segundos eles poderiam nos atravessar com suas flechas. Mas estávamos sem alternativas.
- Quem são vocês?- ele pergunta.
- Samhara, de Wallya. Bruxa elementar. Estes são meu Tio Raymond Collin, bruxo branco, Ellyna Manttern, Bruxa das Trevas, e Lucian Beiver, Lobo da alcatéia de Lorde Cromwell.
- Sou Yedryn, Lord Elfo das Montanhas. Autoridade máxima dentro da cidade de Trynie - ele estende a mão e eu aceito - O que desejam conosco?
- Conversar sobre a ameaça de Agnes. A essa altura creio que o Senhor já esteja ciente.
- Certamente estou, mas não estamos em local adequado para uma conversa civilizada. Que falta de modos a minha, vamos entrar, sigam-me. Soldados! Recolham as armas dos mortos e retirem suas carcaças imundas de nosso bosque!
Fala em falta de modos o cara que nos recebeu com uma saraivada de flechas. Penso comigo mesma.
Andamos por entre a exuberante vegetação, cheia de folhas vívidas em vários tons de verde. Algumas árvores eram enfeitadas com variadas flores, que iam das mais pequenas às maiores, na maioria das vezes lilazes, cor de rosa, e amarelas.
Uma leve brisa soprava, agitando as copas, e fazendo as pétalas voarem por entre os troncos. Após o que pareceu quase uma hora de caminhada, chegamos a muralha que vimos ao longe. Não parecíamos estar tão distantes como acabo de constatar que estávamos.
A muralha se erguia imponente diante de nós. E de fato suas armações metálicas são impossíveis de serem sequer tocadas, quão afiados são seus gumes.
Com um sinal para os guardas do alto da muralha, os portões são abertos com um rangido abafado.
É de tirar o fôlego. A nossa frente começa um caminho, de tijolos completamente alinhados com um meio fio prateado, que seguia se abrindo conforme fosse avançando nas terras élficas. Quado ele disse cidade eu não imaginei que fosse um território tão extenso.
- Bem vindos à Trynie! A cidade do novo começo! - Ele fala com os braços atrás das costas, enquanto nos guia pelo caminho prateado.
- Aqui, completamente isolados da humanidade, vários elfos e seres mágicos de todos os tipos, buscam refúgio e proteção.
- Interessante... não sabia disso. Nem fazia ideia da dimensão territorial - olhei ao redor completamente encantada.
- Pois bem minha cara Samhara, deve ter andando um pouco desatualizada, somos famosos por sermos um refúgio - ele dá uma leve risada - e quanto a extensão territorial, nós precisamos de espaço para abrigar tanta gente.
Ele faz uma pausa e continuou.
- Ao sul, temos o distrito de Kellen. Lá vivem espécies mais acostumadas as florestas e bosques. Elfos das matas, alguns lobos, centauros, faunos e afins.
Ele apontou para um local onde entre as casas de madeira envolvidas em relva, e misturadas ao solo, várias árvores apareciam tranquilas.
- Ao leste distrito de Carlay, onde temos os seres aquáticos como sereias, metamorfos, e alguns outros. A maior parte deste distrito está submersa.
Ele apontou para onde havia um imenso lago, que se perdia de vista no horizonte. Ao redor desse lago construções abertas, sem paredes, a maioria em tons azuis, provavelmente apenas locais de lazer, se encontravam espalhadas.
- A Oeste nós temos de fato o distrito de Trynie. Onde nosso povo reside.
O local em questão ostenta estruturas em pedra lisas e do mesmo tom das muralhas. Todas as construções possuem traços curvilíneos ao invés de retos, vários tracejados em dourado. E com até mesmo alguns prédios.
- Agora vocês estão no Centro da cidade onde todos os blocos administrativos se encontram. Nós temos um prédio administrativo para cada espécie que aqui reside, para casos que aconteçam entre eles. Caso ocorra algo entre duas ou mais espécies diferentes, o caso é encarregado ao prédio central. Onde as leis equivalem pra todos. É pra lá que vamos, afinal, como autoridade máxima, é também a minha casa.
Nos dirigimos a construção central que na verdade era um enorme castelo. Em volta estavam os prédios que ele havia citado a pouco.
Eu não tenho palavras para descrever o lugar. O teto era tão alto que dragões poderiam voar lá dentro. As paredes pareciam feitas de cristal, com suas janelas adornadas de diversas cortinas, as luminárias usavam chamas violetas, um longo tapete azul escuro se entendia pelo enorme salão, até chegar ao fundo, onde um trono que combinava galhos folhosos e pedras preciosas se erguia majestoso. Lord Yedryn avançou e se sentou nos encarando.
- Caros visitantes creio eu que não seria nada amigável, muito menos digno, pedir-lhes que tratemos de um assunto tão grave na condição que se encontram. Pelo que me recordo, Wallya fica na província de Helles, bem distante daqui. Foi uma longa viagem, creio eu bem cansativa, e se não me engano sua última parada provavelmente foi no condado próximo as montanhas. Então, queiram desfrutar de nossa hospitalidade, poderemos tratar do assunto em questão durante o jantar.
Ele bate palmas, e um par de guardas aparecem.
- Levem nossos hóspedes para seus devidos aposentos - pediu aos guardas - eles os levarão. Nos vemos no jantar. - nos fala e nós seguimos os dois soldados.
Passamos por diversos corredores e escadas. Chegando a um específico, onde várias portas se encontravam seguidamente. Provavelmente a Ala de Hóspedes.
- Os quartos da esquerda, ficam para os cavalheiros, os da direta para as damas. Fiquem a vontade no Castelo de Trynie. São muito bem vindos.
Um deles diz a nós, e em seguida vão embora.
- Eu não sei vocês, mas eu estou louca para me jogar na cama que me espera - alonguei os braços preguiçosamente.
- Também Sam, estou morta.
- Todos merecemos um descanso não? Foi a melhor ideia até agora - mexeu a cabeça alongando o pescoço.
- Isso porque vocês ainda são jovens eu já não tenho mais idade pra essas aventuras - Tio ray põe as mãos nas costas dramaticamente - se eu alongar corro o risco de entravar aqui mesmo no corredor.
Depois de rimos da encenação e desejarmos um bom descanso uns para os outros, nos recolhemos.
Entrei no meu quarto e a primeira coisa que fiz foi me jogar na cama enorme que encontrei. O colchão era tão macio! Parecia que eu estava em cima de nuvens! As cobertas tão fofas e aconchegantes que seria fácil dormir pra sempre.
Abri o armário na parede e encontrei diversos vestidos finos e elegantes. Alguns realmente dignos de uma feiticeira de alto nível. Outros meigos e delicados. Separo um que me chamou a atenção e o jogo em cima da cama.
Me dirijo ao banheiro, onde passo um bom tempo dentro da tina, aproveitando esse luxo que eu rapidamente me acostumaria. Ao sair visto o modelo que escolhi.
Um longo vestido verde escuro, que deixava meus ombros a mostra, com mangas justas que se abriam nos pulsos, junto a um espartilho por debaixo do tecido. Meus cabelos a tanto tempo trançados, agora estavam soltos e bem escovados, com uma tiara que passava por minha testa. Não custa fazer bonito não é?
Não se enganem. Por baixo do vestido estava usando uma calça. Não trocaria minhas botas por nenhum sapato de salto. E o espartilho, bem, um vestido desses rasga tão fácil que não quero correr o risco de ficar nua em caso de uma fuga de última hora.
Entre meus seios no espartilho uma faca de atirar estava alojada, minhas adagas estavam escondidas em minhas mangas imperceptivelmente, e minha faca de caça, presa em um suporte na coxa.
Olho no espelho, com certeza essa não sou eu, mas não será nenhum sacrifício ficar assim por um tempo. Minha cicatriz no pescoço estava escondida graças aos meus cabelos.
Notei uma estante que se estendia por uma das paredes. Me aproximei e corri os dedos pelas obras lentamente, como se com isso pudesse estar mais perto dele.
- Entra - respondi ao ouvir batidas na porta.
- Está tudo bem... Uau! Como você está linda Sam!
- Não é nada de mais Elly. Apenas um vestido - digo ainda encarando os livros nostálgica.
- Se olhou no espelho por acaso? Você faria inveja nas princesas. E olha essa tiara! Que luxo!
- Você também está linda Ellyna - Digo girando minha amiga. Ela estava com um belo vestido azul claro, delicadíssimo, que destacava seus novos cabelos ruivos e seus olhos verdes.
- Nem se compara a você. Enfim, vim saber se está tudo bem.
- Está sim, não se preocupe.
Ela olha ao redor apreensiva, enquanto morde os lábios, e brinca com a ponta dos dedos.
- Fala logo Ellyna. O que está te incomodando?
Ela suspira, e me encara.
- Eu queria te pedir desculpas. Ontem quando te pressionei... e você saiu correndo... me sinto muito mal por isso.
- Senta aqui - sentei e ela se sentou ao meu lado - ontem, você mexeu no meu passado. Um passado muito recente, que deixou uma ferida até agora incurável.
- Me perdoe. Não era minha intenção trazer mais dor a você.
- Você não trouxe mais dor - rio sarcasticamente - essa dor me acompanha lado a lado comigo todos os dias. Acontece que conviver com ela, sentir ela, e sofrer por ela, é diferente que ter que falar dela. Quando se fala, ela aumenta.
Ela abaixa o rosto envergonhada. Eu ergo seu queixo a fazendo olhar pra mim.
- Não fique assim. Se eu tivesse te contado isso não teria acontecido. Você não sabe o quanto estou me odiando por ter ruído diante de vocês. Eu ainda não vou lhe contar porque ouvir essas palavras saindo da minha boca é muito mais doloroso. Saiba que não é uma questão de confiança, eu confio em você. Ok?
- Tudo bem, vou acreditar no que diz. Obrigada por confiar em mim - ela me dá um abraço súbito.
Não consegui reagir direito a esse abraço. Apenas passei as mãos por suas costas de leve. Estou meio desacostumada. Ela se levantou e foi embora me deixando com meus pensamentos. Depois de um certo tempo um guarda apareceu e me avisou que estava na hora. Todos já haviam ido e só faltava eu. O acompanhei pelos corredores chegando à sala de jantar. A mesa posta é enorme e cheia de variados pratos de comida. Meus companheiros já estavam em seus lugares, apenas o Lord elfo ainda não havia chegado.
Lucian conversava com meu tio animadamente, e Ellyna acompanhava a conversa de ambos esperando uma deixa pra falar. Quando me aproximei lucian me encarou, petrificado seria a melhor palavra pra descrever sua expressão.
- O que foi? Nunca viu uma garota de vestido antes?
- Você está linda Samhara - comentou com seus olhos nos meus - um minuto.
Ele se levantou e se aproximou, puxando minha cadeira para que eu me sentasse.
- Achei que não pudesse ficar mais maravilhosa, mas me surpreendeu - sussurrou no meu ouvido.
Um arrepio correu meu pescoço com a risada sussurrada no final, quando pensei em respondê-lo ele já estava do outro lado da mesa, me observando com um sorriso travesso.
- Vocês também não estão nada mal anh? - digo.
- Quem diria que eu voltaria a usar trajes assim. Vou ter muito o que contar quando voltarmos.
- E como vai. O que não vai faltar são histórias pra você se gabar com minhas primas - atirei uma uva na boca.
- Não vai me elogiar? Que falta de decoro Samhara.
- Elogiei os dois cavalheiros ora.
- Eu elogiei as damas separadamente cara senhorita - sorriu.
- Ninguém te pediu pra fazer isso pediu?
Ellyna gargalhou com a resposta e meu tio acompanhou com uma risada baixa.
- Fiquei ofendido agora - ele põe a mão no peito dramaticamente.
- Nem adianta fazer essa cara de cão abandonado que não funciona comigo - atirei uma azeitona em sua direção recebida com mais um sorriso e uma piscadela indecente.
Nisso Lord Yedryn apareceu.
A verdade é que lucian estava um pedaço de mal caminho naquele conjunto preto, mas não daria o prazer a ele de o elogiar, muito menos devorá-lo com os olhos. Mas acho que nessa última tarefa eu estava falando.
- Boa noite meus caros hóspedes. Espero que tenham sido bem tratados.
- Sem sombra de dúvidas. Agradecemos a hospitalidade.
- Não há de quê Samhara. Bem, sirvam-se a vontade.
Ele disse e começou a se servir, e nós seguimos seu exemplo. Chegou a hora de fazer valer essa longa viagem.
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