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VINTE E CINCO

           Quando a Rainha ouviu o Rio Esperança se descongelando e viu a Terra dos Sem-Coração começar a mudar, entrou em pânico. Melinda conseguira, ela sabia. Ficara por algumas horas sem saber o que fazer, olhando para o nada e andando de um lado para o outro. Até que teve uma ideia. Caminhou às pressas para a estufa, abriu a entrada secreta e foi até o coração que repousava em sua caixinha sobre uma pequena almofada azul. O nome gravado embaixo, "Melinda", parecia desafiá-la.

Ela pegara o coração nas mãos e ponderara sobre o que fazer. Ele era o único ali que batia forte e rapidamente. Era o menos congelado, o mais resistente... Porém, a sua força também era a sua fraqueza. Por não estar congelado, seu coração estava vulnerável e poderia ser facilmente esmagado.

A Rainha segurava o frágil órgão, num duelo interior. Ela estava com a vida da garota nas mãos. Não queria voltar para casa, não queria a desgraça daquela Terra, mas também não queria assassinar uma pessoa!

– Há um preço a pagar... – Ela apertou o coração, tentou fazer mais força e esmagá-lo de uma vez, porém não conseguiu e afrouxou a mão. – Vamos, esmague-o! – gritou para si mesma. – Você é ou não é a Rainha dos Corações Congelados? – Uma pequena lágrima escorreu dos olhos dela. – Eu sinto muito, Melinda...

Apertou o coração com mais força, cravou as unhas nele. As mãos dela tremiam e mais lágrimas escorreram em seu rosto. No que ela havia se tornado?! Afrouxou novamente as mãos e ergueu a cabeça, respirando fundo... Ela estava realmente disposta a assassinar uma inocente para manter o próprio conforto? Fechou os olhos com força, lembrando-se de tudo o que já havia passado...


❄ ❄ ❄


Max corria o mais rápido que podia. Adentrou os portões da muralha e foi direto para o estábulo, pegando o primeiro cavalo selado que encontrou.

– Max? O que aconteceu? Por onde esteve?

– Agora não, Summer!

E cavalgou a toda velocidade rumo ao castelo. Em três minutos ele já estava lá, descendo do cavalo e correndo desesperado, enquanto segurava firmemente o coração da Rainha. Ele a faria pagar, caso machucasse Melinda. Ah, se ia...

Entrou na sala do trono e encontrou um Máximos soldado. A criatura começou a caminhar em sua direção, mas ele não se intimidou. Estava fervendo de ira.

Onde está a Rainha?!

– Você não pode...

Max ainda estava relativamente longe da criatura, no entanto ergueu o coração e gritou novamente:

Onde está a Rainha? Fale agora ou eu juro que esmago o coração dela na sua frente!

– Ali, ali! Ela está na estufa! – O Máximos berrou, horrorizado.

Max correu naquela direção. Sentia todos os músculos tensionados, se ele chegasse tarde demais... Ele havia perdido o irmão porque não chegara a tempo, não poderia cometer o mesmo erro duas vezes!

Adentrou a estufa e viu uma estante arrastada para o lado, o que revelava um pequeno corredor escuro. Não pensou duas vezes. Correu até lá e entrou.

Alguns passos depois, viu a Rainha segurando o coração da Melinda nas mãos. Por um momento, parou. Ouviu-a dizer:

– Eu sinto muito, não sei mais o que fazer...

E então sentiu a descarga de adrenalina. Ela ia matá-la!

– Ei, sua coroada metida à assassina!

A Rainha virou-se para trás e ele enfiou o coração dela em seu peito. Nem cogitou outra opção, apenas enfiou-o com força e raiva. E, no mesmo instante, eles ouviram um estrondoso trovão.

Ela gritou de dor e caiu no chão... Max aproximou-se e tomou-lhe o coração da Melinda. A Rainha continuava gemendo e gritando de dor, mas ele não prestava atenção. Procurou com os olhos o seu próprio coração e, alguns segundos depois, avistou-o na estante. Pegou-o e voltou-se na direção da porta, quando ouviu:

O que você fez?! – Era a Rainha rangendo entre os dentes, de tanta dor e raiva.

– Achou mesmo que eu a deixaria matá-la?!

– Não percebe? Você acabou de começar o apocalipse!

Max não lhe deu ouvidos, virou-se e saiu correndo. Pegou novamente o cavalo e correu para onde havia deixado a amiga. Segurava as rédeas com uma mão e os dois corações com a outra.

– Max? – Johnny gritou quando o viu passar a toda velocidade no pátio da vila.

Não respondeu, não havia tempo... Sentia o coração da Melinda palpitando na mão e esse era o único consolo dele: a certeza de que ela ainda estava viva.


❄ ❄ ❄


De repente, ouvi um cavalo se aproximar. Abri os olhos e vi o Max saltar do animal. Ele veio correndo em minha direção e ajoelhou-se ao meu lado.

– Você está bem? – perguntou de olhos arregalados. Acho que nunca o vi tão assustado!

– Estou viva. – Sorrio levemente. – O que é isso?

– Esse é o seu coração. – Max coloca o órgão rosado em minhas mãos e eu sinto um frio na barriga ao segurá-lo. Sento-me melhor e pergunto:

– Como você sabe que é esse?

– Pela maneira como ele bate desesperado, bem típico de você. – Não pude evitar uma risada. – E porque o meu está mais congelado...

Vejo a expressão dele endurecer e eu seguro seu braço, fazendo-o olhar para mim:

– Ei, vai ficar tudo bem. – Sorrio para ele, que ergue o olhar e sorri também.

– Juntos? – Ele pergunta, preparando-se para enfiar o seu coração de volta. Eu inspiro fundo e me preparo também:

– Para o que der e vier!

– No três. – Ele diz e expira. Estamos todos nervosos... – Um...

– Dois... – Eu digo com a voz trêmula. Tanto esforço para esse momento... Mas eu faria tudo outra vez!

TRÊS!

Enfio o meu coração com toda força e o mais rápido possível. No mesmo instante, sinto meu peito sendo esmagado dentro de mim e todas as dores que sentia quando cheguei aqui voltando com força total, como se o vazio dentro de mim fosse bruscamente preenchido. Sinto dor, muita dor. E grito o mais alto que minha garganta permite, jogando meu corpo para trás e fechando os olhos.

Assim que eu e o Max enfiamos nossos corações, assim que nossos gritos de dor se propagaram como um só, a Terra treme num forte terremoto. Ela treme por alguns segundos e então ouvimos dois trovões ressoando pelas montanhas.

Eu abro os olhos, respiro com dificuldade e sinto todos os músculos do meu corpo tremerem. Vejo um raio cair sobre o pico da montanha onde está o castelo e eu fecho novamente os olhos, chorando baixinho. Ainda seguro meu peito com força, sentido meu coração dar as primeiras batidas. Elas são fortes e extremamente doloridas, como se alguém estivesse me esmurrando por dentro. Gemo de agonia, parece que meu coração está se vingando por eu tê-lo abandonado...

Até que, depois de alguns minutos, a dor finalmente diminui.

Olho para o Max. O peito dele sobe e desce por causa da respiração pesada. E... Meu coração dispara.

Olho para baixo e coloco a mão sobre o peito. Meu coração disparou por causa dele? Do Max?!

Volto o olhar novamente para aquele garoto que me acompanhou na minha maior aventura, me ajudou a vencer meus medos e me encorajou quando eu mais precisei. Ele está cabisbaixo, segura o peito com as duas mãos e respira intensamente, enquanto geme de dor. Minha barriga é invadida por um tão conhecido frio ao mesmo tempo em que sinto um calor percorrendo meu corpo. E meu coração continua disparado.

É como se, agora que estou com meu coração de volta, pudesse sentir todo o amor que tinha pelo Max e não sabia.

– Eu... – Estou de olhos arregalados. Não acredito que estou sentindo isso!

Max olha para mim e o meu coração dá mais uma cambalhota. Eu não acredito... Eu amo o Max?! Começo a rir, enquanto o garoto de olhos verde-floresta me encara confuso. Eu amo o Max! Minha risada se intensifica e eu o ouço dizer:

– Melinda... Eu acho que... – E começa a rir também.

– O quê, Max? – Eu consigo finalmente parar de rir. Ele está sorrindo de orelha a orelha e diz, antes de voltar a gargalhar:

– Melinda, acho que eu te amo!

Não sei por que isso soa tão engraçado, mas novamente estou numa crise de riso. Eu e ele, rindo que nem dois idiotas que acabaram de descobrir a América!


– Eu também acho que te amo, Max!

Ele se levanta e estende a mão para mim. Seguro-a e ele me puxa, erguendo-me num segundo. Ficamos a milímetros um do outro. Não estamos mais rindo. Eu olho para cima, para os olhos dele e vejo a auréola azul desaparecer aos pouquinhos... Ele ainda segura minha mão e me encara com o olhar de uma águia, o que faz meu coração palpitar ainda mais.

Seguro o pescoço dele, ergo os pés e fecho os olhos. Mas antes que nossos lábios se encontrem, a terra estremece novamente e nós nos afastamos, tentando não cair. Eu seguro a lateral da ponte e olho na direção do castelo. E meu coração dispara com o pânico.

Ai, meu Deus!

Max vira-se de costas e grita, desesperado:

Johnny!

A montanha onde fica o castelo simplesmente entrou em erupção! A fumaça negra sobe pelo céu e eu vejo as lavas explodindo para todos os lados. Dezenas de cabras montanhesas e Máximos descem a montanha correndo desesperados, enquanto raios caem do céu e trovões ressoam num barulho apavorante.

Max começa a correr em direção à vila e eu vou logo atrás. Uma tempestade começa a cair, mas nós não paramos. Até que o céu começa a escurecer. Não é pela noite que se aproxima, não é pela densa nuvem negra que sai do vulcão, é algo mais. De repente tudo começa a escurecer, a fica tão escuro quanto o Vale das Trevas.

Max! – Eu grito, apavorada.

Não o vejo mais. As trevas tomaram conta de tudo e a chuva que cai em torrentes, me ensopando toda, apenas me deixa mais assustada. Um raio cai a poucos metros de mim e por um breve segundo eu vejo a sombra do Max a vários metros na minha frente:

Melinda! Cadê você?

ESTOU AQUI!

Grito de volta, segurando o choro. Estou apavorada! Deixo-me cair no chão e começo a chorar:

MAX! – grito o máximo que posso, mas o vendaval e os trovões dificultam muito. – O que está acontecendo? – Dessa vez não é um grito, é quase um sussurro entrecortado por soluços.

De repente sinto como se meu corpo estivesse se desmaterializando. Eu mal sinto a grama embaixo de mim, apenas os trovões e o vulcão ressoam alto no meu ouvido. Vejo as lavas brilhando ao longe, descendo pela montanha e destruindo o castelo, mas quase não sinto mais a chuva escorrendo em minha pele.

MAX! JOHNNY! – grito o mais alto possível, entre lágrimas, porém parece que minha voz também mal sai de minha garganta.

Tento gritar novamente, abro a boca e faço força, porém nenhum som sai de minha garganta. Estou em pânico, num medo tão grande e horrível que faz meu coração quase saltar para fora!

Tento agarrar o chão com força, porém é como se eu estivesse deixando de existir!

Não, não posso sair dessa Terra assim! Não desta maneira, não depois de descobrir que eu amo o Max!

Meu coração está disparado, minha respiração é forte e irregular. E, de repente, o som dos trovões e do vento vão diminuindo...

NÃO! Eu não vou embora assim! MAX!

Minha consciência falha e fecho os punhos e os olhos com força.

Não deixe de pensar, Melinda, FOCO... FORÇA ! 

Não   deixe   de  . . .    

fique   . .  

 firme

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