20
VINTE
–Vem, Melinda, o que está fazendo? – Ouço a voz do Max soar impaciente.
Ele está a alguns metros de mim, praticamente na ponta do penhasco, enquanto eu congelei no fim do Campo. Estou estática, de olhos arregalados e com os pensamentos bagunçados. Só a ideia de aproximar do desfiladeiro me causa arrepios.
– Já vou. – Consigo dizer.
– A vista é espetacular, vem! – Não, obrigada, vou deixar essa passar.
A passos vacilantes, chego mais perto do Max. Ele se vira para mim, sorrindo, mas quando vê minha cara, fica sério.
– O que foi?
– Nada. – Eu inspiro e vejo que, do lado esquerdo da ponte, tem uma placa. – O que diz aí? – Max me encara desconfiado, mas vira-se e lê:
– "Precipício da Coragem: a luta é o princípio da vitória". Parece que não precisaremos enfrentar nada demais, apenas uma vertigem básica.
Quanta modéstia! Eu estou com as pernas bambas, respiração irregular e uma vontade enorme de sair correndo de volta para o castelo! De repente, sinto as pesadas mãos do Max nos meus ombros e estremeço de susto, nem o percebi se aproximando...
– Você está bem? – Eu balanço a cabeça que sim e ele fala, irritado: – Quem está tentando impressionar? Não banque a durona quando você está morrendo por dentro!
– Eu não estou tentando impressionar ninguém! – Minha voz sai mais alta. Droga, se controle, Melinda!
– Então me diga o que está acontecendo. – Vejo preocupação nos olhos terrivelmente verdes dele e logo estou perdida naquela floresta. Max não parece estar brincando e eu admito:
– Tenho medo de altura. – Sinto-me como uma gatinha encurralada e odeio essa sensação de exposição.
– Não, você não tem. – Eu volto o olhar para o Max com uma cara de quem diz "Pirou?!", e ele continua, com o tom de voz firme: – Você não tem coração e, por isso, não é capaz de sentir nada. Nem medo.
– Eu senti medo no Vale. Senti medo no castelo da Rainha, droga! Eu senti medo em tantas circunstâncias!
– Não, esse medo aí não é real, assim como os monstros não eram. O medo que sentiu no Vale era verdadeiro, porque ele estava cravado no mais profundo do seu ser, mas isso que está sentindo agora não é real.
– Quem você pensa que é para me dizer isso?! – Eu soo incrédula.
– Acredite em mim, é verdade. O que você está sentindo é apenas uma memória. Seu cérebro sabe que você tem medo de altura e por isso ele está te dizendo que você está com medo, mas você não está.
– Pois parece muito real – falo, inconformada.
– Diga para si mesma que é mentira. Vamos lá. Feche os olhos e mostre ao seu cérebro quem é que manda. – Então eu cerro os olhos e os punhos com força.
Não estou com medo. Se estivesse, teria um coração a mil agora. Mas não tenho. Eu não estou com medo. Estou apenas nervosa. Inspiro fundo. É isso aí, Melinda. Abro os olhos e fito o Max com a mesma determinação que senti na fenda.
– Vamos lá. Vamos lutar – digo sorrindo, me referindo às palavras da placa.
– É isso aí, ninguém brinca com a Viúva Negra e o Capitão América quando eles estão numa missão! – Max grita empolgado para a paisagem ao nosso redor.
Começo a rir e dou dois passos em direção à ponte.
– Eu vou primeiro. – Max faz uma expressão de surpresa e eu justifico: – A ponte balança mais para quem está atrás.
– Uau, e eu achando que você era corajosa! – Começo a rir e seguro a corda, minhas mãos estão suando. EU NÃO ESTOU COM MEDO!
Começo bem lentamente a andar pela ponte. Ela balança e eu olho para cima e para frente, concentrada em fazer a travessia de uns quarenta metros.
– Não olhe para trás nem para baixo! – Max grita atrás de mim.
– Não estava planejando mesmo! – grito de volta.
Está bem, Max, agora deixe eu me concentrar. É difícil atravessar uma ponte bamba de cordas e madeiras sem abaixar a vista. Meus passos lentos retardam a travessia e eu tento andar mais rápido, porém a ponte balança muito e eu paro.
– Continue naquele ritmo! – Max reclama e eu inspiro fundo. Sinto todos os meus músculos tensos e ergo ainda mais a cabeça.
Estou na metade da ponte. Tento afastar o pensamento de que aquele é o ponto mais alto, porque não é. Pare de pensar em altura, Melinda, vamos lá, concentre-se nos passinhos: um, dois, um, dois...
– Era primeiro de julho...
– Agora não, Max! – Contar histórias não é exatamente o modo mais adequado de me acalmar nesse momento!
– Tínhamos acabado de chegar nos Hamptons, na casa dos meus avós...
– Sério, Max, depois você me conta! – Eu grito e a ponte balança. Paro por um minuto, expiro e volto a andar.
– Eu tinha dezoito anos e o Nicky, treze. – Ao ouvir o nome do irmão dele, eu paro. Sério que ele vai me contar agora?! – Continue andando! – Eu não faço isso de imediato, fico parada tentando me decidir.
Depois de alguns segundos ponderando, recomeço a andar e o Max continua contando. A voz dele é amarga e denuncia as cicatrizes de sua alma:
"Estávamos de férias e muito animados. À noite, meus pais saíram com os meus avós, disseram que voltariam no dia seguinte. Eu tinha dezoito anos e eles confiaram em mim. Assim que eles saíram, Nicky pediu para brincarmos de soldado. Eu o ignorei. Queria dar uma festa e convidar uma garota que eu já vinha paquerando fazia alguns meses. Liguei para uns amigos, que chamaram outros e, no fim, tinha umas cinquenta pessoas ou mais na casa. Eles compraram cervejas, ligaram o som no máximo e brincavam na piscina. Nicky começou a me encher dizendo que não gostava daquilo, que queria brincar de soldado. Então os rapazes começaram a ridicularizar ele, dizendo coisas como 'bebê da mamãe', 'vai chupar mamadeira', e eu ria. Eu ria junto com eles. Lembro dos olhos de mágoa dele me encarando e um dos rapazes me perguntou: 'você brinca de soldado com o bebê, Max?'. Eu dei uma risada e disse: 'claro que não! Vai brincar de carrinho lá no quarto, Nicky'. Todos riram dele e eu vi que ele estava chateado comigo. Vi em seus olhos... O olhar de um traído. Tentei não me importar. Nicky saiu pela porta dos fundos e eu fui ficar com a garota. Eu estava lá com ela e os caras começaram a me provocar porque eu ainda não tinha bebido. Tomei dois copos de cerveja e a garota pediu para irmos para o quarto. Eu não me sentia bem com aquilo, em ter dado aquela festa na casa dos meus avós e zombado do Nicky. A garota de repente não me parecia tão atraente assim e eu pedi licença para ver onde o meu irmão estava. A verdade é que eu não estava preocupado com o Nicky, mas com ele contar aos meus pais o que eu tinha aprontado. O grupo tinha feito uma bagunça enorme, chequei cada cômodo e nada. Fui para a piscina e ele também não estava lá. E foi então que eu olhei para a praia. Corri até lá e comecei a gritar. Os tênis dele estavam na areia e eu gritei com mais força. Então eu vi... A alguns metros, sendo jogado para todos os lados pelas ondas, um corpo boiando. Senti uma dor em meu coração e um desespero tão grande que nunca imaginei ser capaz de sentir, entrei no mar e nadei até lá. A maré estava forte e minha calça jeans pesava, mas eu me esforcei e o arrastei para a praia. Ele estava branco, Melinda. Branco como um anjo... Com os olhos fechados e uma expressão de paz, eu entrei em pânico! Fiz boca a boca, massagem cardiovascular, mas ele não voltou, Melinda. Ele não voltou... Via o sangue escorrendo da testa dele, manchando sua blusa favorita... Comecei a gritar angustiado, eu gritei o mais alto que pude, implorei para que Deus o trouxesse de volta... Porém, ele não acordou... E eu fiquei ali, com meu irmão em meus braços, sabendo que ele morreu com raiva de mim. Sabendo que ele partiu magoado comigo..."
Piso em algo firme e olho para baixo: eu acabei de atravessar a ponte. Olho para trás: Max está a uns cinco passos, ainda na ponte, com os olhos vermelhos e o rosto banhado de lágrimas. É a segunda vez que eu o vejo chorar. Porque algumas dores vão além do nosso coração, como se fizessem parte de nós.
– Você disse que tinha matado ele. – Minha voz sai num misto de acusação e piedade.
– Se eu não tivesse dado aquela festa, se eu não tivesse magoado ele daquela maneira e na frente de todo mundo... Melinda, ele sabia nadar! – Max grita revoltado. – Mas a maré estava forte e ele bateu a cabeça numa rocha... Eu deveria estar lá naquele momento! – Os ombros dele balançam por causa dos soluços e sua expressão é de pura angústia.
E a única coisa que eu consigo fazer é encará-lo. Max dá um passo e continua falando:
– ELE IA FAZER ANIVERSÁRIO DALI A ALGUNS DIAS! – gritou tão alto que o eco se propagou como uma concordância. – Ao invés disso, voltamos para Nova Iorque... Para enterrá-lo... Minha mãe não conseguia me encarar. Eu vi meu pai pegar uma arma e abrir a boca, mas antes que ele puxasse o gatilho meu avô chegou. Melinda, naquela noite eu morri para minha família e eles para mim. – Max parou porque chorava tanto que as palavras embolavam com a amargura. Passou a mão na testa e voltou a me encarar. – Eu tentei falar com minha mãe. Queria pedir perdão... Mas ela me deu um tapa na cara e... E eu soube que eu não era mais seu filho... – Ele dá mais um passo. – Eu não fiquei no enterro. Fugi de lá e fui para a biblioteca. Melinda, eu fui um covarde na noite que meu irmão morreu, fui um covarde quando fugi e a covardia é a única coisa que me impede de voltar para casa! – Max fala entre lágrimas e, finalmente, ele é completamente honesto comigo. – E eu nem consegui te contar isso olhando nos seus olhos...
– Covardia não é você sentir medo, ou coragem a ausência dele! – Eu grito, revoltada por ele se culpar assim. – Coragem é quando, mesmo com medo, você continua, você enfrenta. – Max dá mais dois passos e pisa no início do penhasco. Ele está bem próximo de mim e eu tenho que olhar para cima, para poder encarar seus olhos. – Eu também fui covarde. Fugi quando percebi que não teria o homem dos meus sonhos, fugi antes mesmo de tentar. Então, se somos uma dupla de covardes, pelo menos estamos tentando, Max. Pelo menos estamos lutando e, se isso não nos torna corajosos, então eu não sei o que nos tornará.
Ele parou de soluçar, mas seus olhos estão vermelhos e o semblante, abatido. Seguro a gola do sobretudo dele e digo, baixinho:
– A culpa não foi sua, ouviu? Então não se torture pensando no que teria acontecido, porque isso não vai ajudar em nada. Acidentes acontecem e não é justo você se culpar por um deles. – Eu o abraço e Max passa as mãos ao redor de minha cintura, me apertando contra o peito. – Sua mãe estava triste, mas duvido que ela te culpe como você imagina. As mães não conseguem deixar de amar e eu aposto que ela sente sua falta. – Ao dizer isso, sinto o Max enterrar a cabeça em meu ombro e eu passo a mão em suas costas. Ele beija o topo de minha cabeça e a gente se afasta o suficiente para nos fitarmos nos olhos. Ele ainda tem os braços ao meu redor e dá um sorriso triste.
– Por que não te conheci antes? – Eu dou um sorriso e ele me solta. Abaixa a cabeça e murmura. – Acha mesmo que minha família me receberia de volta?
– Não acho. – Ele ergue a cabeça com uma cara de espanto. – Tenho certeza – digo sorrindo.
– Você é cruel. – Max balança a cabeça, morde os lábios e dá uma fungada. Acho que agora ele está constrangido por ter chorado na frente de uma garota. Eu passo a mão no rosto dele, enxugando as lágrimas com minha luva e digo, num tom gentil:
– Ei, Vingadores também choram, tá?
– Preciso te confessar uma coisa. – Ele torce a boca e eu pressinto coisa ruim. Lá vamos nós de novo... – Você sabe quando eu disse que você não estava com medo, que aquilo não era real?
– Sei... – respondo, superdesconfiada.
– Então. Eu menti. – Abro a boca e arregalo os olhos, chocada demais para dizer qualquer coisa. – A fobia não depende do seu coração, é algo que vai muito além dele. Mas, pense pelo lado positivo, você conseguiu atravessar a ponte!
– Seu cretino miserável! – Eu grito, dando um soco no ombro dele, que tenta se defender e segura meu braço. Eu levanto o outro e vou dar uma tapa, mas sou impedida novamente.
– Você é muito agressiva! – Ele fala, entre risos.
– E você é um filho da... – Um piado alto e assustador ecoa pelo desfiladeiro, me fazendo parar de xingar e olhar para cima. – O que foi isso?!
Max solta meus punhos e puxa rapidamente seu arco e flecha. Ouvimos novamente o piado, o mesmo que ouvimos na noite anterior, e dessa vez eu vejo algo no céu: lá em cima, bem distante, a sombra de um animal enorme.
– Ai, meu Deus! – Eu berro desesperada.
– Corre! – Max grita e me empurra ao mesmo tempo. Eu viro, porém mal dou cinco passos e sinto meu corpo ser puxado para trás com força.
– AI! O que foi?! – Eu bufo irritada.
– Já viu isso? – Max sai detrás de mim e fica do meu lado. Parece que estamos em cima de uma parede!
Olho para frente e percebo: o solo simplesmente se acaba e começa uma ladeira íngreme. Vejo, lá embaixo, a continuação do terreno. É como se estivéssemos em cima de um canyon gelado.
– Eu não vou descer.
– Vai, sim! – Max soa categórico.
– Não vou – ranjo entre os dentes. Ainda mais sabendo que tenho medo de altura.
– Está bem, então fica aí e vira pastel de seja lá o que for aquilo! – Ele se abaixa para começar a descer, mas eu seguro seu braço:
– Não pode me deixar aqui!
– Eu te ajudo a descer, mas tem que tentar. Cadê aquele sermão sobre coragem? – Ouvimos novamente o piado e quando olho para cima, vejo não somente uma coisa gigante voando, mas duas!
– Eu não tenho medo, eu não tenho medo, não tenho medo de nada! – Começo a repetir que nem uma maluca enquanto me preparo para descer.
– Fica de lado, vamos lá.
– Deus, muito obrigada pela vida que me deste... – Eu começo a fazer o que parece ser minha última prece, enquanto tento descer aquela parede montanhosa. – Assim, eu queria ter visitado Paris, sem falar da viagem para o Texas que minha mãe está me devendo, e... Ah, tem minha formatura também! Então, se pudesse adiar meu dia, eu ficaria muito contente!
Max tenta me ajudar ao máximo, porém o fato de estarmos nas alturas e eu encarando aquela vista fatalmente linda me faz tremer toda, sem falar que meus pulmões simplesmente não querem trabalhar! A única coisa que me faz continuar são esses piados apavorantes e o fato dos animais terem começado a descer!
– Olha isso! – Max chama minha atenção para um buraco na parede. – Entra!
Ele não precisou pedir duas vezes, no mesmo instante eu já tinha me jogado lá dentro. Tento respirar normalmente, estou encostada no fundo da minúscula caverna e Max está esmagado do meu lado, também com a respiração irregular.
– O que era aquilo? – pergunto ofegante.
– Acho que eram... – De repente uma cabeça gigantesca aparece na entrada da caverninha. – ÁGUIA! – O grito do Max se mistura ao meu e ao piado do pássaro monstruoso.
O animal tenta nos bicar, porém a cabeça dele é grande demais para entrar totalmente na caverna. Eu e o Max gritamos desesperados e nos encolhemos o máximo que podemos no fundo da caverna. O bicho sai e a gente para de gritar, até ele enfiar uma de suas patas.
– SOCORRO! – Eu grito em pânico, tentando me espremer ainda mais. Sinto as garras roçando minha calça e eu me esgoelo de tanto gritar. – SOCORRO! Atira nele, Max!
– Não dá para atirar encolhido do jeito que estou! – Ele berra de volta.
A Águia para as investidas, porém podemos ver a sombra dela na boca da caverna. A imbecil pensa que a gente vai sair daqui achando que ela já foi embora.
– O que fazemos? – Eu sussurro.
– Você já fez sua prece, agora me deixa fazer a minha... – Max murmura de volta.
– Eu estou falando sério! – Quem faz piadas numa hora dessas?!
– Poxa, eu também! Posso não ter coração, mas ainda tenho uma alma.
De repente, ouço um guinchinho do meu lado e agarro o Max como se ele fosse um bote salva-vidas.
– Tem uma coisa aqui do meu lado! – Eu grito sussurrado. Não sei por que estamos falando baixinho, mas também não tenho tempo para pensar.
– Veja o que é, não posso te ajudar do jeito que estou... – Ele tem razão. Ainda estou agarrada no seu casaco, mas viro a cabeça cuidadosamente e dou de cara com um bichinho peludo.
– Aaaaaah, é uma coisinha fofa, tira ela daqui, tira! – Eu imploro, sacudindo o Max pelos ombros.
– Ai, sua maluca! Geralmente as garotas não gostam dos bichos esquisitos e adoram os fofos!
– Da última vez que eu brinquei com um bichinho aqui, me dei muito mal!
– Afaste-se. – Eu tento dar espaço para ele ver o que está na parede da esquerda. – Ah, é um ratinho montanhês!
– Então estou perdoada, garotas e ratos não combinam!
A águia pia e eu estremeço. Fecho os olhos tentando não surtar de vez quando o Max fala do meu lado:
– Mas é claro, são as Duas Águias! – Eu abro um dos olhos e pergunto:
– O quê?!
– Elas são usadas pela coroa em casos de emergência! Lembro que uma vez um membro de minha equipe se perdeu na floresta Portal dos Pinheiros e a Rainha usou uma Águia para resgatá-lo. Elas têm três metros de altura e seguem o cheiro que lhes foi apresentado. Nunca voltam sem a presa delas.
– A Rainha está usando-as para nos levar de volta ao palácio?!
– É, e ela vai conseguir, a menos que... – Max olha por cima dos meus ombros e pede: – Pega o rato para mim.
– Pirou de vez?! Eu não!
– Eles são inofensivos! Pega logo antes que a águia resolva tentar de novo. – Eu suspiro irritada e me viro na direção do bichinho.
– São dois...
– Perfeito! Me passa um de cada vez. E me dá seu cachecol.
Eu vou perguntar para quê ele quer isso, mas deixo para lá. Olho para o animalzinho na minha frente. Ele é enorme para um rato, tem uns quinze centímetros e parece muito mais com um porquinho-da-índia. Todo branquinho, narizinho rosa e bigodes gigantes, é realmente muito fofo. Estico meu braço e seguro ele, que guincha desesperado, mexe as perninhas freneticamente, porém nem tenta me morder.
Passo ele para o Max, que enrola seu cachecol no animalzinho e coloca ele para correr caverna afora. Assim que o rato sai, a sombra de uma das Águias some também e logo vemos parte do enorme corpo dela passando pela entrada da caverna. Ela foi atrás do rato, seguindo o cheiro do Max!
– Agora me dá o outro. – Eu passo o rato e ele faz o mesmo, enrolando esse com o meu cachecol. Assim que a Águia sai, eu vou saindo da caverna também, quero ver o que elas vão fazer com os ratinhos, porém Max me segura. – Espera, elas precisam estar longe. Se sentirem seu cheiro, adeus, plano.
Ouço um guinchinho mais fraco vindo da mesma região e me viro.
– Ah, não! Acabamos de deixar um bebê rato órfão! – Max me ignora e eu insisto. – Vamos levá-lo.
– De jeito nenhum! Não vamos adotar nenhum pet!
– Mas ele vai morrer de fome! Não seja insensível. – Os guinchinhos do órfão aumentam e eu aponto para ele. – Viu? Ele precisa de nós.
– As Águias já foram. – Max está na porta da caverna e diz antes de sair completamente dela. – Vamos descer logo, antes que voltem. E deixa o rato aí! O lugar dele é na montanha.
Assim que eu o vejo virar-se para ir, abro minha mochila e enfio o bichinho lá dentro, sussurrando para ele:
– Não se preocupe, Leopoldo, ele não manda em mim. E eu não vou te abandonar.
Fecho a mochila deixando uma gretinha para ele respirar e recomeço a tortuosa descida.
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