DEZESSETE

            A Rainha andava de um lado para o outro na sala do trono, aguardando a caravana dos Máximos soldados. Ouviu o portão principal se abrir e virou-se ansiosa. O general entrou sozinho. Isso era mau sinal...

– Majestade. – Ele fez a reverência e permaneceu assim.

– Vocês sempre demoram nesse cumprimento bobo quando trazem más notícias. – Imediatamente o Máximos aprumou a postura e pigarreou.

– Eles... Chegamos tarde demais, já tinham adentrado o Vale.

A Rainha praguejou mentalmente e voltou a caminhar de um lado para o outro, já esperava por isso.

– O que eu faço? – murmurou mais para si. Deviam existir Máximos conselheiros, eles seriam muito bem-vindos nessas horas!

– Não há mais nada a se fazer. Ninguém vai para além do Vale das Trevas, adentrar a Terra dos Sem-Coração é o mesmo que suicídio! – respondeu o general.

A Rainha continuou andando e ele apertou ainda mais seu elmo com os dedos finos, a ponto de perderem a cor. Sentia-se impotente e isso era horrível! Estava ali para servi-la, no entanto, não havia nada a se fazer.

– Eu não posso simplesmente fazer nada! E a profecia?

– Ela não pode ser o Valente. Eles estão viajando juntos, a menos que um deles morra... – O Máximos estava falando besteira de novo. Pobres criaturas, eram ótimos servos, mas péssimos quando o assunto era usar o cérebro! A Rainha voltou-se na direção dele, irritada:

– Eu estou falando da outra profecia! – Ele coçou a monocelha sem entender e ela foi pisando duro até o trono, onde tinha deixado o Livro. Leu em voz alta. – Um caminho sem saída, Como a lágrima caída... O primeiro que para casa voltar, Levará consigo a desgraça, Daquela que ficar.

– Aaah... Essa profecia. – O Máximos suspirou, aqueles versos incomodavam todos no castelo, não só as rainhas que assumiam o trono.

– Não quero essa terra em desgraça. E se eles conseguirem?!

– Se houvesse ao menos... – Ele não precisou terminar, a Rainha teve uma ideia e estalou os dedos:

– As Águias!

O general arregalou os olhos e disse, balançando negativamente a cabeça:

– Mas elas são apenas para emergências!

– O que acha que isso é? Solte as duas Águias. – Ordenou, sentindo a adrenalina percorrer seu corpo.

– Sim, Majestade... – Concordou, relutante, o general, e saiu.

A Rainha foi até uma janela para encarar o horizonte. Podia ver a cordilheira do Vale das Trevas ao longe e suspirou, desanimada... As Águias tinham que conseguir, caso contrário, seria seu xeque-mate. Dela e de todos quantos ali ficassem.

Os moradores da vila não conheciam as profecias, afinal, elas não haviam sido escritas para eles, mas, se soubessem, ficariam tão amedrontados e ansiosos quanto ela.

❄ ❄ ❄

Caminhamos por alguns minutos, até que finalmente avistamos o fim do Vale, como literalmente uma luz no fim do túnel. Não sei o que nos aguarda no Campo Nebuloso, mas eu me sinto mais forte depois de ter enfrentado meu maior medo. Agora, mais do que nunca, quero voltar logo para casa e abraçar a Ashley para nunca mais soltar!