13
TREZE
Deixamos os cavalos no estábulo, ainda selados. E, então, vamos para a casa do Max. Ainda estou tremendo por causa da adrenalina e a ansiedade de descobrir o que é aquele papel está mais alta do que nunca!
Entramos e vamos direto para a cozinha, onde o Max acende uma vela e nós sentamos ao redor da mesa, depois dele conferir que as cortinas das janelas estão devidamente fechadas. Não queremos chamar a atenção dos Mínimos da vigília da noite.
– Pronto para descobrir se o nosso esforço valeu à pena? – pergunto, tirando o papel da minha cintura e segurando-o com delicadeza, como se ele fosse rasgar a qualquer momento.
– Abre logo essa merda – diz ele coçando os olhos de sono. Não pude evitar um sorriso:
– Estraga prazeres.
Então eu desfaço o lacinho vermelho e, à medida que vou desenrolando o papel, desenhos vão sendo revelados.
– Não acredito que acertamos! – Max solta uma exclamação. – Me deixa ver!
Ele se aproxima mais, olhando o mapa por cima de meus ombros. Eu estou tentando entender o desenho, quando ele vira o papel:
– Estava de cabeça para baixo.
– Já sabia. – Mentira. Observo melhor a figura e aponto para o castelo. – Acho que estamos aqui. E se estávamos certos sobre o mapa, provavelmente também estamos sobre ela manter o coração o mais longe possível daqui...
– Então ele está... – Max para analisando e eu espero que ele termine. – Aqui. – E apontou.
– Lagoa Real. Meu Deus, é do outro lado do mundo! Literalmente! Será que podemos ir de barco, descendo o Rio Esperança?
– O rio está congelado. E não temos barcos aqui... – Max acaba com minha alegria. – Vamos ter que ir a pé.
Eu olho para ele, sorrindo de orelha a orelha.
– Nós?
– Eu quero te mostrar uma coisa. – Ele suspira, virando-se e indo em direção à sala.
Eu o sigo até ele parar perto de uma estante, de onde tira um livro dos vários que tem ali. Max senta no chão e eu faço o mesmo, estou supercuriosa para saber o que ele vai me mostrar! Abre-o e começa a ler, numa página que já estava marcada:
"16 de Dezembro de 1980
Hoje eu ouvi a Rainha dizer que está preocupada com a aproximação do cumprimento da profecia. Em breve, ela irá ceder o trono para sua sucessora que, ao que tudo indica, será a Tamara. Tentei investigar o que seria essa tal profecia e por que ela perturba tanto a Rainha. Um Mínimos, amigo meu, me contou. Disse que estava cansado de ouvir a Rainha recitando-a e tentando entendê-la: 'Cinquenta reinos se passarão, na Terra dos Sem-Coração, até que venha o Valente e quebre a maldição. Com a fé e a bravura, não haverá nada que destrua a força do coração do crente'. Também não entendi muito bem, mas parece que essa Terra é amaldiçoada e que alguém está destinado a quebrá-la. O que acontecerá quando a maldição não mais existir? O que é essa maldição? Quem é o Valente? Queria ter essas respostas, mas se nem a Rainha sabe, acho que não vou consegui-las..."
– De quem é esse diário? – pergunto, assim que o garoto de olhos perfeitamente verdes para de ler.
– Não sei, não está assinado. Mas todos os livros da minha estante foram escritos por pessoas que moraram aqui antes de mim. – Ele me olha e completa. – É por isso que em cada casa os livros são diferentes. Achei isso enquanto lia há alguns meses, mas não tinha me dado conta da importância, até hoje.
– No que está pensando? – Eu também não entendi a profecia, mas parece que o Capitão América aqui tem uma teoria.
– Não sei as respostas para as perguntas do escritor, mas eu sei de uma coisa: talvez a quebra da maldição seja algo bom, talvez não seja, talvez aconteça uma guerra, talvez não. São muitos "talvez" e eu não quero você e o Johnny correndo perigo. Vou ajudá-la a sequestrar o coração da Rainha e então vocês poderão voltar para casa, onde estarão seguros.
– Mas... Você não vem conosco?
Eu o vejo dar um sorriso triste e pegar uma mecha que escapou da minha touca preta, afastando-a para o lado.
– Não...
– Por que você está me ajudando, Max? De verdade? – Acho que tem algo mais e ele vai me contar o que é!
– Já disse o motivo. – Eu estreito o olhar, inquirindo pela verdade e ele desiste. – Está bem, eu também pensei no que você disse sobre morrer aqui. E eu sei que ficando, minha estimativa de vida decai bastante, então queria fazer algo bom antes de morrer. Sabe, não quero partir sem ter feito nada. Vai que o inferno exista... – Sorrimos, embora eu não esteja contente.
Desvio o olhar e abaixo a cabeça. Ele não vai mudar de opinião, vai ficar aqui haja o que houver! E eu queria tanto que o Max voltasse para Nova Iorque! Fico sentada, cabisbaixa, mexendo no botãozinho do meu casaco, quando ele volta a falar, dessa vez com uma voz mais animada:
– Ei, ou nós partimos agora, ou nunca mais! Não vai demorar a descobrirem o sumiço do mapa. E, se descobrirem, a Rainha vai saber que foi você.
– E o Johnny?
– Arrume uma mochila que seja leve e com tudo o que for importante. Te encontro na casa dele em quinze minutos, para nos despedirmos – responde ele, levantando-se.
Esgueiro-me noite adentro e vou para casa, sentindo algo tão profundamente enterrado dentro de mim que chega a ser difícil identificar. Medo? Ansiedade? Saudade de casa? Talvez seja uma pitadinha de tudo isso... Abro o guarda-roupa e procuro, às pressas, uma mochila. Acho uma depois de alguns minutos, preta e pequena, talvez até pequena demais. Como posso colocar tudo que julgo ser importante sem deixá-la pesando uma tonelada? Nunca fui boa em economizar bagagem...
Enfio lá dentro um cachecol extra e dois pares de luvas, corro para a cozinha e vou socando queijo, biscoitos, um cantil com água e mais um potinho com nozes e outro com amoras. A mochila já está quase cheia e eu tenho aquela sensação de estar esquecendo alguma coisa. Um lampião! Pego o pequeno objeto e o coloco com cuidado junto com uma caixa de fósforos. Já são cinco horas e precisamos ir embora, antes que as pessoas acordem para trabalhar.
Espreito a rua, confirmo que não tem ninguém e saio em disparada para a casa do Johnny. Vejo uma pequena luz pela fresta da porta e imagino que o Max já esteja lá. Bato três vezes, olhando para os lados, nervosa e preocupada de ser pega.
– Ei, pronta? – Max sorri ao abri-la e eu não respondo, entro na casa e fecho a porta atrás de mim, para só então dizer alguma coisa:
– Pronta. Cadê ele?
– Dormindo.
– Então, como você... – Max dá um sorriso e eu balanço a cabeça. – Que bobeira minha, esqueci que estava falando com o invasor de casas!
– Iiiiááááá! – O Johnny pula no corredor numa posição de ataque e segurando uma vassoura. Dou uma risada e ele abaixa a arma improvisada, com ares de confuso. – O que estão fazendo aqui?
– Quem você achou que ia enfrentar com essa vassoura letal? – Max provoca, entre risos.
– Sei lá... Invasores?
– Culpa do Max, que ainda não aprendeu a usar a campainha. É uma tecnologia muito avançada para ele. – Max faz uma cara de quem diz "engraçadinha" e eu me aproximo do Johnny, sem saber como dizer o que deve ser dito. – Precisamos conversar.
– Agora? – O garoto boceja e vai para o sofá, com os olhos quase fechando de sono.
– É importante. – Max me apoia. Vai até o garoto e senta ao lado dele. – Johnny... Eu e a Melinda vamos viajar.
– Para onde?! – De repente, o garoto está bem acordado, encarando o amigo. – Eu quero ir também!
– Esse é o problema. Nós vamos atrás do coração da Rainha e usá-lo como resgate, para conseguir o seu coração e o da Mel de volta. E é muito perigoso para você ir... – Johnny volta os olhinhos pidões para mim:
– Não é, não! Eu posso ajudar! Deixem-me ir, por favor... – Ele implora.
– É muito perigoso... – Não adianta bancar o gatinho do Shrek comigo, eu não tenho coração!
– Mas eu queria ajudar... – Ele murmura, inconformado.
– Quem disse que você não vai participar? – Eu e o Johnny voltamos os olhares para o Max. – Você vai ficar com a importante missão de nos dar cobertura. Tem que prometer que não vai contar para ninguém o nosso plano e, se te perguntarem, você diz alguma coisa para distraí-los. Combinado?
Ele não responde a princípio, fica com os olhos semicerrados, acho que avaliando a importância da parte dele no plano. Max insiste:
– Vamos lá, Homem de Ferro, contamos com você.
– Homem de Ferro?! – A pobre criança fica sem entender a piada.
– Não acha que estamos muito vingativos? – Eu cruzo os braços, sorrindo torto.
– Do que estão falando? – Alguém vai ter que inteirar o Johnny da brincadeira.
– Ela é a Viúva Negra. – Max fala primeiro.
– E ele é o Capitão América – devolvo.
– Hum. – Johnny cruza os braços de onde está sentado. – Sabiam que vocês ficam muito fofos fazendo isso?
– Olha o respeito, pirralho! – Eu falo brincando, enquanto o Max dá um tapinha na cabeça dele.
– E então, podemos contar com você? – Ele pergunta mais uma vez.
– Por acaso eu recusaria o pedido de uma vingadora?
– Engraçadinho – resmungo, enquanto os meninos trocam um high-five.
– Vamos. – Max se levanta, pegando a mochila e colocando nas costas. – Tchau, soldado, se cuida, hein!
– Vocês também. Tentem não se matar no meio do caminho, você ainda me deve dez biscoitos, Max. – Eu olho para ele, que dá de ombros e responde ao garoto:
– Tudo bem, não ousaria morrer antes de pagar minha dívida.
Estamos na porta, saindo da casa dele, quando o Johnny me abraça. Eu não estava esperando por isso e fico meio emocionada, com dó de deixá-lo sozinho ali. Abraço-o firme e sussurro no ouvido dele:
– Fique perto da Summer. – Confio nela e sei que cuidará dele. – Eu te amo.
Nos afastamos e, ao observar aquela criança parada na porta, acenando para nós sorrindo, eu de repente me dou conta no que estou me metendo. Numa jornada insana onde atravessaremos uma terra desconhecida, uma missão de vida ou morte!
São cinco e meia e nós corremos para o estábulo, onde os cavalos nos aguardam. Ainda bem que os deixamos selados, agora fica mais fácil de sair depressa. Subo na Meia-Noite e o Max num cavalo branco, que ele chama de Trovão.
– Sabe que esse não é um nome muito original, não é? – comento, enquanto espiamos a vila pela porta do estábulo.
– Ele é um cavalo, não precisa ser original. – Não tem ninguém e Max vai na frente, trotando devagarzinho.
Estou supernervosa, com medo de nos verem e toda a adrenalina dessa noite está me fazendo mal, de verdade. Passamos por um Mínimos que está dormindo em pé, apoiado em uma lança e não ouve o trotar abafado dos cavalos. Finalmente essa neve serviu para alguma coisa!
Assim que passamos pelos portões de ferro, que o Max abriu rodando uma espécie de alavanca, saímos em disparada o mais rápido possível... O que não é tanto assim, já que a neve alta atrapalha os cavalos.
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