Capítulo 34
— Ou vai fazer o quê? -Harvey rosnou em um tom de voz bizarro e tentei abrir os meus olhos inchados para enxergar o que ocorria.
Eu conseguia sentir a tensão no ambiente, mas não podia fazer nada.
Não enquanto estivesse amarrada como um maldito animal.
A arma ainda permanecia apontada para a minha cabeça e eu engoli em seco, temendo o pior.
Ter Viktor ali comigo, tinha me despertado daquela aceitação da morte e agora eu só queria que tudo acabasse para que pudéssemos ir para casa e recuperar o tempo perdido por minha culpa.
Tentei falar alguma coisa, impedir que um dos dois cometesse uma loucura, mas nenhum som saiu pela minha garganta machucada.
— O que deveria ter feito há muito tempo. -Viktor devolveu furioso e antes mesmo que eu pudesse entender o diabos que aconteceu, o barulho do disparo me deixou surda por alguns segundos.
Virei a cabeça para o lado e vi Harvey segurando o braço, gemendo de dor.
Viktor caminhou devagar até parar na sua frente, chutou a sua arma para longe e segurou o pescoço do cara que tinha literalmente arrancado a merda para fora de mim minutos atrás com tanta fúria no olhar que eu o desconheci naquele instante.
Em um milésimo de segundos, o punho de Viktor acertou o rosto de Harvey derrubando-o como se ele não passasse de um saco de batatas e ele aproveitou a queda para se ajoelhar em cima do meu chefe como um animal selvagem.
De repente uma chuva de socos e pontapés caiu sobre Harvey e eu gritei várias vezes para que ele parasse enquanto observava a cena com uma sensação dúbia dentro de mim, temendo que Viktor acabasse matando-o e também desejando que ele fizesse exatamente isso.
Fiz uma careta quando ele finalmente se levantou afundando o sapato sobre a camisa ensanguentada do homem ofegante que tentava se livrar do aperto, mas que não tinha mais forças suficientes depois da surra bem merecida.
— Não é legal quando é com você, não é mesmo, filho da puta? -O rosnado fez meu corpo estremecer. Eu não estava acostumada com aquela voz rouca e hostil, mas ao mesmo tempo, ela me trazia paz.
Me dava uma segurança que eu demorei anos para reconhecer que sentia.
Porque por mais que as ações de Viktor fossem contra todos os meus princípios como agente da lei, por mais que ele tivesse cometido o erro de matar os pais, ainda assim eu confiaria a minha vida nas suas mãos.
É o que uma pessoa loucamente apaixonada por outra faz, no final das contas.
— Você vai se arrepender por isso, imbecil. -Harvey continuou com o rosto desfigurado e sorri ao escutar mais um gemido de dor.
Deus que me perdoasse, mas eu desfrutei daquilo mais do que queria admitir.
— Pode até ser, mas vai demorar algum tempo até que nos encontremos no inferno, então estou pouco me fodendo. -Ouvi outro disparo e de repente tudo ficou em silêncio.
Lágrimas escorriam pelas minhas bochechas e eu não fazia ideia de como reagir.
Por um lado estava preocupada por como as coisas ficariam para Viktor por ter matado um policial e por outro lado eu só queria sair dali.
A adrenalina começava a nublar a minha mente e o ar parecia não querer entrar nos meus pulmões.
Mãos frias tocaram meu rosto e abri meus olhos mais uma vez sem nem ao menos perceber que eles tinham se fechado.
Talvez fosse o cansaço físico ou talvez o mental.
Ou quem sabe as duas coisas juntas, mas o que quer que fosse, eu não aguentaria mais tempo sem desabar.
— Coelhinha, me perdoa por favor, eu não queria que visse isso... -A voz agora era do meu Viktor e sorri. — Eu sinto tanto... -Ele tentou me livrar das amarras de plástico, praguejando algumas vezes ao não conseguir.
Ele procurou alguma coisa para cortá-las e em um último momento de lucidez, me lembrei de um detalhe muito importante que tinha passado por alto por conta de todo o alvoroço.
— Vik... -Sussurrei me engasgando com meu próprio sangue misturado com saliva que ainda escorria do nariz e garganta graças aos golpes.
Sua testa encostou na minha e mais lágrimas escorreram entre nós dois.
— Não diga nada, ok? Vou pedir uma ambulância assim que eu conseguir te soltar.
— Viktor, me escuta... Harvey, ele... -Tossi amaldiçoando o idiota por me machucar daquela maneira e impedir que eu falasse com firmeza.
— Ele está morto, amor. Você está a salvo agora.
— Não, espera, você precisa me ouvir... havia... -respirei fundo, meu peito doendo como se milhares de agulhas estivessem sendo enfiadas na minha pele — havia outra pessoa aqui...
Pelo pouco que eu conseguia enxergar, Viktor arregalou os olhos se levantando rapidamente e olhando para os lados para se certificar do que eu acabava de falar.
Ele escaneou a sala com o cenho franzido, deu algumas voltas pelo lugar pegando algo de cima de uma das mesas e voltou a se abaixar para me ajudar com uma faca nas mãos.
— Quem quer que estivesse aqui deve ter ficado com medo e ido embora... -Ele começou, no entanto, eu sabia que não era assim.
Penélope era uma cadela vingativa e muito louca.
Além de ser bastante orgulhosa como para aceitar que tinha perdido.
— Por favor... -ofeguei — não abaixe a guarda... ela é...
— Eu sou a mulher que vai tirar o seu homem de você, assim como você fez comigo, puta! -O grito pareceu reverberar dentro do meu cérebro e de repente outro disparo foi ouvido e o corpo de Viktor desabou em cima do meu, o seu peso fazendo cada terminação nervosa estremecer e minha pele se arrepiar.
— NÃO! -Gritei experimentando uma dor que nunca havia sentido.
A dor da perda, do desespero e da sensação de ter uma parte de mim sendo arrancada sem piedade.
Penélope se aproximou com aquele sorriso no rosto.
Ela sabia muito bem o que estava fazendo, afinal já tinha disparado antes.
— Agora é a sua vez, Alícia. Não se esqueça de mandar meus cumprimentos a Satã. -A morena rugiu, porém eu não liguei para mais uma arma apontada para a minha cabeça.
A única coisa que me importava era o sangue de Viktor escorrendo gota por gota, encharcando minha calça jeans.
Tentei desesperadamente terminar de me soltar, mas ele só tinha conseguido cortar os lacres que prendiam meus pés antes de ser atingido.
Meu corpo se sacudia na cadeira, a angústia apagando qualquer medo de morrer.
De todas maneiras, eu já estava morrendo pouco a pouco, junto com ele.
Sem Viktor eu não seria nada.
Não conseguiria viver sabendo que ele tinha se sacrificado por mim, então preferia me juntar a ele no paraíso ou no inferno se fosse o caso.
Qualquer lugar seria o ideal, desde que eu estivesse ao seu lado.
Outro disparo foi ouvido e respirei fundo, apertando as pálpebras na espera do meu destino, mas nada aconteceu.
Eu não senti nenhuma dor, queimação ou cócegas que fosse.
Pelo contrário, eu continuava com vida e Viktor ainda jazia sobre o meu colo, sua respiração ficando cada vez mais debilitada.
— Por Deus, o que diabos aconteceu aqui! -A voz de Ty me arrancou mais lágrimas e quando ele finalmente terminou de me liberar, abracei o corpo inerte de Viktor virando-o com cuidado para ver qual era a gravidade da situação antes de escorregar junto com ele até o chão.
Procurei a ferida da bala e percebi que o tiro tinha entrado pelas suas costas saindo pelo outro lado bem próximo do seu coração.
— Oh caralho... -Sussurrei tentando não transparecer a minha preocupação.
Viktor abriu os olhos devagar e seus lábios se curvaram em um sorriso triste.
— Eu disse que mataria por você e que morreria por você, Coelhinha. Só não pensei que a segunda parte da promessa fosse se cumprir tão cedo. - Ele brincou apertando os olhos sem deixar de sorrir.
— Não. Não. Não. -Acariciei seu rosto suado. — Não faça nenhum esforço, amor. Eu estou aqui... eu estou aqui...
Aquilo não podia estar acontecendo. Era tudo um pesadelo.
Um terrível pesadelo e eu acordaria em breve.
Envolvi seu corpo com meus braços cobertos por marcas roxas, escoriações e vários cortes.
— Eu te amo, Alícia, jamais se esqueça disso. -Viktor tossiu e gotas de sangue foram parar na minha blusa, manchando-a para me mostrar que aquilo era bem real.
— Porra! -Gritei novamente. — Ty faça algo, chame uma maldita ambulância! -Pedi completamente desesperada segurando sua cabeça que agora parecia pesar duas toneladas. — Viktor, não me deixe! Você prometeu que não iria me abandonar de novo, caramba! Você me prometeu! -Eu chorava tanto que minhas lágrimas me impediam vê-lo com clareza e me odiei por não conseguir manter a calma, como tinha treinado tantas vezes.
Ty falava com alguém pelo telefone, provavelmente com a polícia, mas minha atenção estava toda com o homem desfalecendo nos meus braços.
Retirei os fios de cabelo que caíram na sua testa, meu peito subindo e descendo tão rápido que eu rezei para que isso não interferisse no seu estado.
— Você precisa ficar comigo, Vik... nós temos toda uma vida pela frente, e-eu te amo, eu já sei toda a verdade e te entendo, só por favor, fique comigo...
As palavras saíam pela minha boca em uma enxurrada desesperada e sua mão se levantou, os dedos sujos e machucados segurando meu queixo como ele tinha feito um milhão de vezes.
— Me perdoa, liebe... -Viktor repetiu com o que lhe restava de forças antes de desmaiar de vez, o braço caindo em cima da minha perna e naquele momento foi como se o tempo tivesse parado.
Eu não escutei mais nada.
Até mesmo os pássaros pareciam ter parado de cantar, como se o vento tivesse se detido, porra, como se o mundo tivesse ficado imóvel.
Meu coração parecia ter parado de bater.
— Por favor, amor... por favor, não faça isso comigo... -Implorei encostando minha testa na sua como ele gostava de fazer comigo, mas não obtive nenhuma resposta. — Eu não posso te perder, Vik... não outra vez. Eu preciso de você, está me ouvindo? Eu preciso de você! -Gritei do mais profundo do meu ser, embalando seu corpo para frente e para trás por vários minutos, repetindo a frase como um mantra sagrado.
Um arrepio percorreu meus ossos e tremi ao ver como seu rosto ficava cada vez mais pálido, como se a sua luz estivesse se apagando lentamente.
Eu implorei para todas as divindades que permitissem que ele sobrevivesse, que me deixassem ter a chance de me desculpar de fazer as coisas do jeito certo, por mais que eu não acreditasse na existência concreta de apenas um deus.
Mas eu faria qualquer coisa para tê-lo de volta.
Eu só queria mais uma chance com ele.
Só mais uma.
— Ele vai ficar bem, querida. -Ty murmurou segurando a minha mão. — A ambulância deve estar chegando... Viktor vai ficar bem. -Acenei querendo acreditar que ele estava certo.
Eu tinha que acreditar nisso.
Por mim e por ele.
Não demorou muito para que as luzes azul e vermelha piscassem do lado de fora da casa e o barulho das sirenes pudesse ser ouvido.
Segundos depois os paramédicos entraram correndo e fizeram todo o procedimento para tentar salvar as três pessoas feridas, contudo eu só me interessava por uma.
Quando eles verificaram que Harvey tinha morrido, passaram a dar mais atenção para Viktor e Penélope que parecia ainda estar com vida, colocando-os na maca e levando-os às pressas para as ambulâncias estacionadas do lado de fora.
Isso era um bom sinal, não é mesmo?
— Ele é o cara mais forte que eu conheço. -Ty continuou tentando me tranquilizar.
Eu estava em um estado de esgotamento tão grande, que só consegui acenar enquanto os outros paramédicos me examinavam.
— Nós vamos te levar para fazer exames também, ok? Você parece estar com o nariz quebrado e pelos hematomas na barriga, pode ser que tenha alguma fratura na costela. -Um deles, uma mulher loira com olhos castanhos sussurrou e concordei sem ter outra saída.
— Tudo bem... -Ela me ajudou a me levantar e caminhar até o lado de fora da casa onde alguns curiosos observavam a cena de longe.
Entrei na mesma ambulância que Viktor depois de deixar bem claro que eu não iria para o hospital se não fosse com ele e segurei sua mão durante todo o caminho.
Eu precisava sentir que seu coração ainda batia, mesmo que as pulsações fossem tão fracas que assustavam a merda dentro de mim.
Eles tiraram a sua camisa para poder parar o sangramento e manter a ferida fechada até que algum cirurgião pudesse costurá-la.
Os paramédicos agiam daquela forma tão robótica, acostumados com toda aquela tensão, feridas e sangue que pareciam não perceber que havia uma vida em risco ali.
E por mais que eu soubesse que esse era o seu treinamento, que eles deviam ser o mais protocolares possível, eu queria gritar com os caras, exigir que tivessem cuidado, que não o tratassem como se ele não passasse de um trabalho do dia.
O tempo inteiro eu rezei.
Pedi para que ele ficasse bem.
Que ele resistisse.
Que ficasse comigo.
O tempo inteiro eu tive medo.
Medo de perder o homem que eu amava, medo de ficar sozinha, de ter que enfrentar toda aquela bomba.
Mas o meu maior medo foi de não poder sentir o seu amor novamente.
De acordar e não tê-lo do meu lado, acariciando minha pele e me dizendo o quanto eu o deixava louco.
Chegamos no hospital em questão de minutos e tentei ir com ele até a emergência, mas fui obrigada a ir até um consultório para que um médico me examinasse.
Eu não queria nada disso.
Poderia aguentar aquela dor de merda por mais algumas horas.
Eu só queria ver como ele estava.
No entanto, Ty me disse que Viktor tinha sido enviado direto para a sala de cirurgia e precisaria fazer uma transfusão porque tinha perdido bastante sangue e não tive outra alternativa senão acabar com aquela porcaria de exames de uma vez.
Fui levada até uma sala de raio-x, depois uma enfermeira limpou todas as minhas feridas, um médico costurou cada uma delas, colocaram meu nariz no lugar e administraram alguns remédios na minha veia para que eu não sentisse dor.
Quando o resultado do raio-x saiu, praguejei ao ser avisada de que aquele maldito quebrou duas costelas minhas e trincou outras duas.
Como não se pode enfaixar o torso, apenas uma bolsa de gelo foi colocada em cima do local e a enfermeira me aconselhou a não fazer movimentos muito bruscos por algum tempo, além de me indicar outra bateria de remédios de venda livre para a dor.
Era o máximo que eu poderia fazer.
Aguentar tudo em silêncio e rezar para que a morte não viesse buscar o meu homem.
As horas se passaram como em um piscar de olhos e eu ainda não tinha nenhuma informação do estado de Viktor.
Ninguém queria me dizer nada, Ty estava mais sério do que de costume e eu não sabia se era por conta das fraturas, mas a cada minuto ficava mais difícil respirar.
Como se algo fosse acontecer.
Como eu estivesse perdendo-o.
— Por favor, amor, você precisa ficar comigo... por favor, por favor, por favor. -Meus dedos estavam pressionados um contra o outro no sinal de oração.
A mesma enfermeira de antes trouxe uma bandeja com um prato de sopa e praticamente me obrigou a comer para não desmaiar de inanição.
O problema era que eu não estava com fome.
Eu só conseguia pensar nele.
Só conseguia lembrar dos momentos que passamos juntos, das palavras não ditas e de todo o tempo perdido por culpa do meu orgulho.
— Eu sou tão idiota... -Uma lágrima escorreu pela minha bochecha e a mulher de meia idade levou o polegar até o meu rosto para secá-la.
— Tenho certeza de que não é assim. Aquele rapaz que entrou é seu namorado? -Balancei a cabeça e ela imitou meu gesto com seriedade. — Posso perguntar o que houve entre vocês dois?
Sorri, negando tristemente.
— Não é uma boa ideia eu te contar nada. Sou policial e quando há balas e mortes envolvidas, é melhor você saber o menos possível se não quiser virar testemunha. -Expliquei e ela entendeu o recado.
Eu, mais que qualquer um ali, sabia como funcionava o protocolo.
Em minutos alguém entraria no quarto para me encher de perguntas e tentar chegar a uma conclusão do que porra tinha acontecido.
E mesmo que Harvey estivesse morto, eu faria questão de jogar toda a sua merda no ventilador.
Todos ficariam sabendo do que ele fazia e eu assistiria a sua reputação indo pelo ralo sem nenhuma gota de arrependimento.
Ele não merecia nada de sigilo vindo de mim.
Aquele cara era um nojento e pela primeira vez na minha vida eu fiquei feliz pela morte de alguém.
Eu queria que ele ardesse nas labaredas do inferno e que esperasse pelos seus colegas, porque eu iria mandá-los para lá.
Um por um.
— Se tiver alguma novidade sobre ele, será que pode me avisar? -Pedi recostando minha cabeça na almofada macia, os remédios parecendo finalmente fazer efeito.
Meu corpo inteiro doía, as roupas estavam sujas e meu coração despedaçado.
Ty se ofereceu para ir até a mansão para buscar roupas limpas e quase o obriguei a não me deixar sozinha como uma garotinha assustada.
Precisava ter alguém conhecido comigo.
Meus pais estavam de viagem e provavelmente ficariam sabendo da tragédia por algum vizinho, só esperava que eles não ficassem tão assustados, embora isso fosse praticamente impossível.
Qualquer pessoa que soubesse que a filha quase morreu nas mãos do chefe de uma máfia de tráfico de mulheres, mas que foi salva por outro criminoso, entraria no mínimo em um estado de choque.
Mais algumas horas se foram e meus olhos pesaram me impedindo de continuar acordada por mais que eu lutasse contra o sono.
Acordei depois de um tempo por culpa de um pesadelo e Ty apertou minha mão em uma respiração cansada.
Havia uma garota junto com ele e seu olhar recaiu sobre o meu corpo estilhaçado.
Ela era tão linda que parecia um anjo e sorri balançando a cabeça para o lado.
— De todas as formas que pensei que a gente se conheceria, nunca imaginei que seria em um hospital. -Minha voz soou rouca e esfreguei o pescoço ficando desconfortável imediatamente.
Mag se apressou em encher um copo com água e deu a volta na cama, levando-o até os meus lábios cuidadosamente.
— A enfermeira disse que você deve beber devagar para não machucar ainda mais a sua garganta, ok? -Sua voz doce e gentil fez meus olhos se encherem de lágrimas.
A noiva de Ty era realmente um amor e eu entendia porque ele tinha se apaixonado por ela.
— Você é tão linda... -Sussurrei acariciando seu braço.
— Ela é, não é mesmo? -Ty sorriu olhando para a sua garota.
Magnolia tinha um rosto delicado, os lábios carnudos e olhos amendoados.
Sua pele era tão lisa como a de uma boneca de porcelana em um tom maravilhosamente escuro que combinava com a de Ty.
Seus cabelos estavam trançados e chegavam até a cintura curvilínea.
— Ty não para de falar de você e agora compreendo-o perfeitamente. -Continuei com a sobrancelha levantada.
Ela soltou uma risadinha tímida.
— Me desculpe por te submeter a toda essa confusão, eu sei que não está de acordo e...
— Tudo bem, Alícia. Eu trabalho aqui, não imagina o susto que levei quando vi Tyron entrando todo ensanguentado. -Foi apenas nesse momento que notei que Mag estava vestida com o uniforme do hospital e franzi o cenho.
— Você nunca me disse que ela era médica. -Encarei meu amigo levemente chateada.
— Sou interna ainda, na verdade, e pedi que ele não dissesse nada. -Mag respondeu rapidamente. — Mas não é nada com você.
— Certo. -Aquiesci lentamente. — Hum... você teve alguma notícia? -Murmurei com medo do pior.
Ty e Mag trocaram um olhar estranho e meus olhos se encheram de lágrimas imediatamente.
Oh não.
— Viktor ainda está na sala de cirurgia, Ali, mas prometo que assim que ele sair eu vou te avisar. Agora você precisa descansar.
Me sentei na cama, me preparando para calçar os sapatos e procurar alguém que me dissesse a verdade.
Porque era óbvio que eles estavam mentindo.
— Pensei que fosse meu amigo, porra. -Grunhi de dor física e emocional.
— Alícia, espera! Você não pode sair desse jeito.
Ty tentou me impedir com cuidado para não me machucar.
— Eu posso e eu vou. Devo ver como ele está...Viktor precisa de mim, caramba! Ele precisa saber que eu estou bem. -Minha voz era apenas um sussurro rouco e quebrado, mas mesmo assim eu continuaria falando.
Retirei a sonda que administrava soro no meu braço, jogando a agulha no chão sem me importar com o sangue jorrando em pequenas gotas.
Ty e Mag tentavam me convencer de não sair e voltar para a cama, porém eu sabia que eles só queriam atrasar o inevitável.
No momento em que consegui alcançar a porta, nem cheguei a tocar na maçaneta quando ela girou e a enfermeira que tinha cuidado de mim horas atrás apareceu na minha frente com um semblante assustado no rosto.
— O que acha que está fazendo, mocinha? -Ela tentou colocar um sorriso nos lábios, mas era tarde demais.
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