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Capítulo 16

ABRI apenas um olho quando a luz do sol quase me cegou ao passar pela fresta da cortina verde escura e praguejei baixinho sentindo o cheiro de café fresco praticamente banhando o quarto como se fosse uma nuvem densa fazendo meu estômago roncar imediatamente.

Demorei alguns minutos para entender onde estava e porquê Chess não havia miado em reclamação, quando os acontecimentos do dia anterior fizeram questão de refrescar a minha memória e me sentei na beirada da cama esfregando o rosto de costas para o outro lado vazio.

Desbloqueei meu celular soltando um suspiro surpreendido ao ver as horas.

Sete e meia, um novo recorde para alguém que odiava levantar cedo.

Fiz xixi rapidamente e escovei os dentes com os dedos antes de vestir minha calça por cima da cueca emprestada e fazer um pequeno nó na blusa para não parecer uma criança vestindo as roupas do irmão.

Caminhei descalça até a cozinha e precisei me beliscar para confirmar se o que estava acontecendo bem diante dos meus olhos era real ou se tratava de uma miragem ou um sonho.

Na frente do fogão, vestido apenas com uma blusa similar à minha e uma cueca boxer preta que se ajustava perfeitamente nas suas coxas grossas cobertas por tatuagens, Viktor cozinhava algo enquanto cantarolava distraído uma música qualquer.

Me aproximei em silêncio para ver o que ele fazia e meu estômago roncou outra vez ao avistar os ovos mexidos na frigideira rústica me fazendo salivar.

Um bule com café fumegante descansava em cima da bancada ao lado de uma bandeja com dois pratos, duas xícaras e talheres.

— Não me diga que você pretendia me levar café na cama! -Bocejei atraindo a sua atenção e recebi um olhar atravessado.

— Ia apenas deixar em cima da mesa de cabeceira para quando acordasse... -Viktor despejou os ovos nos dois pratos enquanto eu observava tudo em silêncio. — Como não sabia que iríamos vir para cá, só tinha ovos e pão, espero que não se importe. -Ele completou, servindo as xícaras com o café fresquinho.

Eu não sabia se prestava atenção nas suas mãos, pernas, na comida ou no seu rosto angulado coberto por uma barba aparada.

Era muita informação e eu tinha acabado de levantar, meu cérebro ainda não estava cem por cento acordado e a única reação que tive foi balançar a cabeça balbuciando sons confusos como um zumbi olhando para um enorme e suculento pedaço de carne.

Só faltava deslizar a língua pelos lábios e sussurrar cérebro várias vezes.

— Dormiu bem? -Viktor indagou depois de alguns minutos e ergui a vista encontrando seus olhos me encarando com divertimento.

— Hã... sim? -Respondi inclinando a cabeça para o lado e seus lábios formaram uma risadinha leve que me fez tremer por inteiro.

Fazia tempo que não via esse gesto e pelo visto ele também tinha percebido a mesma coisa, pois o sorriso foi embora tão rápido quanto chegou.

— Esqueci que você nunca foi uma pessoa matutina. Aqui, isso vai te despertar.

Recebi a xícara das suas mãos e bebi pelo menos uns três goles do café reforçado antes de me atrever a formular qualquer outra frase que fizesse sentido.

Enquanto isso, comemos tudo em silêncio estranho e era incrível como o maldito conseguia fazer com que até mesmo ovos mexidos parecessem uma refeição digna de cinco estrelas Michelin.

Podia apostar que ele tinha aprendido a cozinhar com Bertha. -Pensei mastigando outra porção da iguaria.

Praticamente limpei o meu prato duas vezes sob o seu olhar atento, mas não ligava para parecer uma esfomeada, porque porra, aquilo estava muito bom mesmo.

E o pão, puta merda.

Parecia ter saído do forno naquela mesma manhã.

Estava tão fofinho e fresco.

Será que ele tinha...

Não, para isso, Viktor precisaria ter se levantado pelo menos às quatro da manhã e o chalé nem mesmo tinha um forno para assar pão.

Ou será que havia mais algum cômodo que eu não conhecia? Talvez ficasse na parte de trás, já que a cabana era um lugar minúsculo, totalmente diferente do resto das suas propriedades e não combinava em nada com o grande Viktor Schultz.

Será que ele usava o chalé para outras coisas como, sei lá, cometer crimes?

Ficava no sentido oposto à sua mansão e ele mesmo tinha dito que ninguém sabia da sua existência.

E o rio seria um lugar perfeito para desovar um cadáver, por exemplo.

Porque é claro que alguém iria deixar um corpo no seu próprio quintal, não é mesmo, idiota?

Me repreendi virando a cabeça para trás, envergonhada por parecer tão tonta mesmo que ele não fizesse ideia disso.

— Consigo ver as engrenagens rodando dentro da sua cabeça daqui, Alicia. -Desviei o olhar da porta de entrada sabendo que tinha sido pega em flagrante.

— Por que você comprou esse lugar tão pequeno? -Soltei claramente ainda sob o efeito do torpor causado pelo sono e esbocei uma careta ao perceber que havia feito uma pergunta totalmente sem sentido.

Por isso não esperei por uma resposta e muito menos ficaria brava caso ele resolvesse mudar de assunto ou simplesmente permanecer em silêncio, no entanto, para a minha surpresa, Viktor se sentou na cadeira do outro lado do balcão e bebeu um longo gole do seu café antes de começar a falar.

— Esse chalé é como um lugar de descanso da loucura que é a cidade, o cassino, a mansão... é algo só para mim, então não precisava de muito. -Ele deu de ombros e uni as sobrancelhas ficando ainda mais curiosa do que cinco minutos atrás.

— Quer dizer que só vem aqui quando realmente quer fugir da realidade?

Seus olhos se estreitaram perspicazes e sorri sem graça.

— Achei que já tinha te dito isso, mas sim. Venho aqui quando quero escapar de tudo e de todos.

Engoli em seco lembrando de que ele veio pelo menos umas cinco vezes desde que fui passar uns dias na sua casa.

— Hum, isso é... estranho. -As palavras saíram pelos meus lábios com sinceridade ao mesmo tempo em que tentava não deixar transparecer que estava levemente magoada por ele querer fugir de mim.

— Todos nós temos um chalé onde escapamos por algumas horas ou minutos, Alícia, só que nem sempre é algo tangível como essa casa. -A resposta veio em seguida e me endireitei no assento. — Há pessoas que se refugiam fazendo caminhadas, comendo, bebendo... até mesmo você deve ter alguma maneira de se desconectar do mundo exterior por um tempo. -Porra. De onde esse cara tinha saído?

Tudo o que ele tinha acabado de falar era tão profundo, tão sentimental e confesso que ele estava certo.

Todos temos um ponto de fuga.

Um lugar ou conduta que nos traz refúgio e tranquilidade quando estamos no nosso momento de vulnerabilidade ou vicissitude.

Todos tínhamos um chalé e pensei comigo mesma tentando descobrir qual era o meu.

Eu não tinha nenhum lugar específico que gostava de ir quando estava estressada, não consumia bebidas para afogar as mágoas e muito menos drogas. A única coisa que eu fazia depois de um expediente horrível ou de uma prisão complicada era...

Oh não.

— Então, qual é o seu lugar secreto, Medina? -Viktor indagou e engoli em seco sentindo minhas bochechas queimando sem saber o que responder.

— Hum, acho que devíamos ir para a mansão, Bertha pode estar preocupada e...

— Responda logo, Alícia. O que você faz para descarregar suas energias e reabastecer para seguir adiante?

Respirei fundo.

Era óbvio que ele não deixaria a conversa para trás.

Se havia alguém ainda mais obstinado do que eu, esse era Viktor.

— Eu vou te dizer, mas não quero que me julgue.

— E por que eu faria isso? -Ele indagou parecendo realmente ofendido.

— Certo...hã, meu chalé é o sexo. -Sua boca se apertou em uma linha fina e o observei relutante.

— Ok.

A palavra flutuou entre nós dois em um sussurro grave seguido de um silêncio desconfortável.

Droga, eu sabia que ele iria pensar que sou uma viciada em sexo, uma ninfomaníaca que se esconde em um apartamento no meio da metróple, que atacava meu pobre parceiro cada vez que uma oportunidade surgia.

Sorri comigo mesma refletindo como aquilo soava ridículo.

Viktor ao ver meu sorriso começou a juntar tudo com uma rispidez estranha até mesmo para ele.

— Nesse caso deve sentir saudades do seu namoradinho. -Ele murmurou com o queixo apertado, continuando a limpar o balcão praticamente jogando as louças sujas dentro da pia.

— Na verdade, sinto saudades do sexo em si. Josh não era meu namorado, apenas a pessoa disponível quando eu precisava dele. -Disse observando como suas costas se enrijeceram subitamente.

— Vocês se encontravam com bastante frequência para duas pessoas que não namoram. -Pisquei lentamente.

O que tinha dado nele?

E como caralhos ele sabia de cada passo meu?

— Ele era minha válvula de escape. Alguém em quem eu confiava e podia contar para me desestressar sem medo das complicações que uma relação representa. -Me levantei para ajudá-lo com as coisas sujas. — E antes que pense que sou uma vadia, meu parceiro sabia muito bem que nosso trato não passaria disso. Nós apenas fazíamos sexo e nada mais, assim como você e Helena. -Espetei e ele rodou os olhos de maneira exagerada puxando a xícara dos meus dedos sem nenhuma delicadeza.

Observei como Viktor esfregava as vasilhas apertando a esponja, provavelmente imaginando que ela se tratava de um pescoço humano.

Como sabia que ele não iria dizer mais nada, decidi insistir para ver se conseguia obter alguma informação sobre o fato de Ty e seus outros capangas estarem me seguindo.

— Você falou bem sério quando disse que me vigiava. Posso saber por que decidiu simplesmente invadir minha privacidade sem nem me consultar primeiro? -Fechei a pia para que ele parasse de enxaguar os pratos e recebi aquele seu olhar de censura que já começava a me acostumar.

— Primeiramente, não invadi a sua privacidade. -Soltei uma gargalhada em deboche. — Só coloquei Ty atrás de você porque sabia que estava correndo perigo com o idiota metido a rico que prendeu.

— Steven?

Viktor confirmou com um aceno.

— Aquele nojento não seria capaz nem mesmo de matar uma mosca, Vik. Precisava ver como o imobilizei. -Sorri orgulhosa e ele repetiu o gesto por um milésimo de segundo antes de voltar a falar.

— Pode até ser, no entanto, não era ele quem me preocupava e sim os Red Demons.

Ok. Agora sim a conversa tinha ganhado um rumo interessante.

— Então você sabe sobre os RDs. -Sussurrei rezando para todas as divindades para que Viktor não fizesse parte deles.

Porque se isso acontecesse, nossa amizade terminava ali mesmo.

Seu olhar escureceu como se ele tivesse percebido que acabava de falar demais, contudo, eu sabia que ele não era alguém que voltava atrás na sua palavra.

— Há muitas coisas sobre mim que você não conhece, Coelhinha. -Um frio subiu pela minha espinha e encostei na pia cruzando os braços para parar de tremer.

— Só por favor me diga que não está com eles.

Minha voz saiu em um sussurro acompanhado pela sua careta engraçada que quase me fez rir.

— Claro que não, Alícia. -Suspirei aliviada. — No entanto, -oh não — digamos que recebo alguns deles no cassino.

— Não fazia ideia de que eles gostassem de apostar e jogar dinheiro fora. -Debochei ficando séria de repente ao notar sua reação desconfortável.

— Hum... eles não vão especificamente no cassino.

— Então fazem o quê lá? E não ouse mentir para mim.

Seu desconforto era ainda mais visível, o que me deixava mais curiosa.

— Ok, vou te contar, mas você precisa me prometer que não vai surtar e muito menos tentar me ferrar.

— Sabe que no final das contas, ainda sou uma policial, não é mesmo?

— Uma policial fugitiva, mas sim, entendo perfeitamente o que você é e o que pode fazer. -Arregalei os olhos sendo pega de surpresa pela sua audácia. — O cassino - ele continuou — é apenas uma das atividades que acontecem no andar superior. No subsolo funciona um clube privado para cavalheiros, se é que me entende.

Puta que pariu.

Não precisava ser uma gênia para compreender o que ele estava querendo me dizer.

Não queria acreditar naquilo.

Viktor era dono de uma casa de prostituição?

Meu sangue ferveu em questão de segundos e só de pensar em que talvez a maioria das meninas que eram sequestradas pela Red Demons poderia ter saído daquele lugar, eu fiquei ainda mais furiosa.

— Cara, você tem noção de que essa merda é proibida? -Gritei movendo meus braços para todos os lados. — Porra, Viktor! De todas as pessoas nessa maldita cidade, você tinha que fazer isso? Pensei que pelo menos esses anos fora tinham servido para colocar algo de juízo na sua cabeça! -Meu tom de voz aumentou conforme eu praguejava, no entanto, não podia controlar o fato de que estava bastante chateada.

— Antes de mais nada, nem você nem ninguém tem o direito de me julgar. -Seus dedos apertaram meus punhos para que eu parasse de gesticular como uma maluca. — E segundo, todas as meninas que trabalham para mim estão lá por livre e espontânea vontade e saem quando bem entenderem. Elas até mesmo tem plano de saúde e todos os benefícios de um trabalho normal.

— Normal? -Gritei novamente contra o seu peitoral. — Elas estão diariamente em contato com caras perigosos, pelo amor de Deus! Você não faz a menor ideia de quantas garotas eu salvei das mãos daqueles babacas! Algumas não passavam de adolescentes que deveriam estar no colégio ou faculdade e não servindo de fetiche para homens nojentos!

— Eu não seria tão idiota de contratar menores de idade, porra! -Viktor vociferou contra o meu rosto.

— E que diferença isso faz?

— Muita! Nenhuma delas está lá à força! A maioria me procura porque não conseguem emprego em lugar nenhum, elas têm filhos para manter, irmãos, pais... e antes de serem contratadas, cada uma recebe informações suficientes sobre o que farão e decidem se vão continuar ou não. Posso te garantir que elas ganham muito mais do que em qualquer outro trabalho.

Minha respiração se acelerava e o coração só faltava pedir arrego de tanto se esforçar para bombear o sangue para o resto do meu corpo.

Viktor era basicamente um maldito cafetão.

Eu piscava rápido para afastar as lágrimas que ameaçavam desbordar pelas minhas bochechas.

Saber daquilo era como um balde de água fria sendo jogado em cima de mim, só que em vez de água, era uma enorme pedra de gelo que caía na minha cabeça fazendo com que meu coração se quebrasse em vários pedaços.

— Escuta, Coelhinha...

Não me chame mais por esse apelido. -Rosnei empurrando seu corpo com ambas mãos, me afastando até a sala.

— Alícia...

— É melhor voltarmos para a sua mansão, preciso ver aquela gravação e acabar logo com essa palhaçada. -Caminhei até o quarto, calçando meu sapato na velocidade da luz.

Viktor me seguiu com um semblante dividido entre preocupação, medo e raiva e minha vontade era dar o fora dali o mais rápido possível.

No entanto, ao parecer ele não pensava igual ao segurar meus ombros me imobilizando contra a parede.

— Se não tirar as mãos de cima de mim em cinco segundos, juro que vou chutar as suas bolas e não vou me arrepender nem um pouco disso. -Ameacei tentando empurrá-lo, dessa vez sem sucesso.

— Quer fazer o favor de me escutar? -Neguei com convicção apertando as pálpebras com força.

Não conseguia sequer olhar para ele. Só de imaginar o que Viktor era capaz de fazer, meu estômago embrulhava e a bile subia pela minha garganta queimando tudo por onde passava.

— Me solta, Viktor. -Pedi novamente, mas ele não moveu um músculo sequer.

— Todas as garotas que contrato são conscientes do que estão fazendo, elas escolheram estar ali, entendeu?

— Isso é o que sempre dizem, aí depois quando resolvem sair, elas aparecem mortas nos becos como se não passassem de um objeto insignificante e nada do que me disser vai me fazer mudar de ideia. -Declarei sem perceber que uma lágrima havia escapado da prisão que eu tinha criado nos meus olhos me fazendo parecer uma garotinha sentimental.

— Eu jamais faria algo assim, caralho! -Podia ver o desespero no seu rosto.

Viktor queria que eu acreditasse nele, que fizesse de conta que ele não havia se tornado alguém igual ou talvez pior que os Red Demons.

Deus, e se ele não estivesse na gangue, mas trabalhasse com eles?

— Eu nunca machucaria uma pessoa inocente... nunca. -Ele asseverou com a voz embargada em um sussurro doloroso que me fez sentir o mesmo sabor amargo que experimentei quando o encontrei depois do enterro dos seus pais juntamente com aquela vontade inexplicável de consolá-lo.

Chacoalhei a cabeça mandando aquela sensação para longe.

— Mas você as coloca em risco todos os dias ao permitir que elas tenham relações sexuais com homens asquerosos. Me diz, como você consegue dormir com a sua consciência tranquila sabendo que a qualquer momento elas podem acabar em uma vala, hum?

Seus braços caíram pesados ao lado do seu corpo que quase tampava o meu por completo e ele deu alguns passos para trás.

— Isso não é da sua conta. -A resposta veio em um tom tão obscuro que por um instante eu não reconheci a pessoa que estava bem ali na minha frente. — Pense o que quiser de mim, Alícia, mas saiba que isso só te torna uma hipócrita. Tenho certeza de que já deve ter cometido erros na sua vida ou feito algo que julgava ser o correto para ajudar alguém, então não ande por aí levantando o nariz como se fosse a perfeição em pessoa.

Me encostei na parede como se tivesse levado um golpe certeiro direto no meu coração.

— Pegue suas coisas, voltaremos para a mansão agora.

Assenti no automático.

Estava anestesiada pelo que acabava de acontecer, sedada pela grande carga de informação recebida e como todas elas davam voltas na minha cabeça em busca de atenção.

Viktor nunca tinha falado comigo daquela maneira e por mais que fosse difícil admitir, suas palavras me feriram de um jeito que não pensei que fosse possível.

— Tudo bem... -Guardei tudo nos bolsos da minha jaqueta antes de rumar para fora do chalé com o homem de quase dois metros no meu encalço.

Só esperava que pelo menos fosse seguro voltar para a sua mansão, porque se me levassem para a prisão naquele dia, eu tinha certeza de que me quebraria de um jeito que seria impossível juntar todos os pedaços.

Minha mente era um caos puro e meu coração pesava tanto dentro do peito que foi um milagre eu conseguir subir na moto atrás de Viktor que estava duro como pedra.

Ele nem mesmo insistiu para que eu me segurasse na sua cintura e fiz questão de viajar o caminho inteiro com os braços cruzados para não ter que tocá-lo.

Inclusive quando o maldito freava subitamente de propósito.

Nem mesmo prestei atenção no caminho.

Minha mente estava tão concentrada em não cair da moto, que quase beijei o chão depois que estacionamos na sua garagem e caminhei sem olhar para trás, entrando na sua mansão de encontro a Ty que conversava animadamente com Bertha.

Seus olhares me seguiram com uma expressão similar ao notar a minha presença e parei a apenas centímetros dos dois.

— Bom dia Bertha, bom dia Ty. -Murmurei tentando não descontar neles o meu ressentimento com Viktor.

— Olá querida, como está? -Um sorriso se formou nos seus lábios quando Viktor parou ao meu lado. — Espero que tenham dormido bem...

Balancei a cabeça para os lados.

— Na verdade não. -Quase sorri ao escutar o arquejo bem perto dos meus ouvidos. — Ty, será que podemos ver a gravação? Quero saber se aquele idiota pelo menos nos entregou o que pedimos. -O segurança olhou para Viktor em busca de aprovação e revirei os olhos com impaciência.

Caramba, aquele vídeo era sobre mim.

Por que ele teria que pedir permissão para o chefe?

— Vamos logo, te espero no quarto. Não demore, por favor. -Caminhei para o segundo andar com o coração galopando dentro do peito, ansiosa para ver como Chess estava.

Minha gata era bastante independente, mas ao mesmo tempo era esfomeada e podia ficar bem enjoada quando não comia nada.

Abri a porta com os dedos trêmulos já me preparando para os seus miados de reclamação, no entanto, ela veio ao meu encontro esticando o corpo roliço como se nada tivesse acontecido.

Acariciei suas orelhinhas chegando à conclusão de que talvez eu tenha me preocupado à toa.

Enquanto Ty não aparecia, aproveitei para trocar de roupa e tentar esquecer do cheiro masculino que já estava impregnado em todo o meu corpo.

Droga.

Seria difícil parar de pensar em Viktor, quando tudo na sua casa me lembrava a ele.

Terminei de abotoar a bermuda jeans bem a tempo de ouvir batidinhas na porta chamando a minha atenção.

— Pode entrar... -Gritei calçando a pantufa.

Odiava ficar descalça no chão frio e ainda bem que Bertha me conseguiu um par de chinelos, outro de pantufas e outro de sandálias para que eu usasse quando fosse necessário.

A governanta era um amor e eu tinha aprendido a gostar dela como se pertencesse à minha própria família.

A porta se abriu lentamente e fiz uma careta ao notar que Ty entrou acompanhado de Viktor que ainda mantinha a mesma carranca de mais cedo.

O segurança me entregou o CD com relutância e fui até a televisão para colocá-lo para reproduzir.

Não queria parecer afetada pela presença de Viktor ali dentro, mas porra, era difícil me manter indiferente depois de ficar sabendo que as suas atividades iam mais além de alimentar o vício de pessoas que amavam perder dinheiro.

Eu era uma policial no final das contas.

Por mais que estivesse fugindo, meu coração ainda era controlado pelo senso de justiça e não podia ir contra os meus princípios apenas porque sentia uma atração ridícula por ele.

Bertha nos acompanhou minutos depois com uma bandeja com quatro xícaras de café e alguns dos seus biscoitinhos de maisena, se sentando em uma das poltronas vazias enquanto as primeiras imagens ganhavam vida na tela plana pendurada na parede.

Me sentei na cama o mais longe possível de Viktor e Chess desfilou elegantemente até parar do seu lado na cadeira se deitando aos seus pés como se os dois fossem melhores amigos.

Traidora.

Um leve ciúme fez minha garganta apertar e foquei a vista na televisão prestando o máximo de atenção que fosse possível para não perder nenhum detalhe.

No momento em que apertei o play, as pessoas ganharam vida pela lente da câmera de segurança, os carros chegavam e partiam deixando passageiros ou recolhendo-os, garotas apareciam em grupos ou acompanhadas de caras que as olhavam como se fossem pedaços de carne sem nem mesmo disfarçar.

As horas passaram rapidamente graças à opção de adiantar o vídeo e quando o meu rosto surgiu, foi como se todos ali prendessem a respiração em expectativa.

O clima que já estava tenso ficou ainda mais pesado no momento em que caminhei para a porta ao lado de Josh que segurava meu braço com cuidado para que não caísse de tão bêbada que me encontrava.

Nem mesmo lembrava que ele tinha feito isso.

Conversamos por alguns segundos até que vomitei em cima dele e minhas bochechas queimaram de vergonha.

Um sorrisinho estampava o rosto de Viktor e meus dedos coçaram com vontade de lhe dar uns tapas.

Idiota.

Flashbacks daquela noite começaram a me atingir como fogos de artifício e então as coisas começaram a fazer sentido dentro da minha cabeça.

Primeiro: Josh tinha me dito que iria pedir um táxi, contudo, ele nem chegou a fazer isso já que foi se limpar no banheiro depois de ter ganhado um banho de vômito.

E segundo: eu estava tão bêbada, que entrei no primeiro carro que parou na minha frente pensando que era o "Uber" que Josh havia chamado na minha imaginação.

Como eu pude ser tão imprudente?

O que diabos aconteceu naquela noite e por que ainda estava viva quando poderia facilmente ter sido assassinada e deixada na beira de um rio qualquer?

Harvey apareceu minutos depois no campo de visão da câmera e Viktor se endireitou no assento parecendo incomodado.

Inclinei minha cabeça para o lado passando a observar também as suas reações que à essa altura tinham se tornado bastante suspeitas.

Josh voltou do banheiro limpando os vestígios do que eu havia comido naquele dia e no momento em que percebeu que eu não me encontrava mais lá, suas sobrancelhas se uniram em preocupação.

Ele então se aproximou do nosso chefe provavelmente para perguntar se ele sabia do meu paradeiro e Harvey disse algo que fez com que ele se tranquilizasse um pouco, mas ainda era possível ver que ele sentia um peso na consciência.

Minha cabeça dava voltas tentando entender como passei de estar em um bar a ir parar na casa de Steven.

Não era possível que eu lembrasse do seu endereço naquele estado e muito menos que fosse capaz de atirar naquele idiota sendo que minha arma estava em casa.

Nunca a levava comigo quando sabia que ia ingerir álcool.

Definitivamente tinham armado para mim.

Toda aquela cena parecia tão estranha, tão forjada.

Minhas unhas já eram praticamente inexistentes quando a gravação finalmente terminou e um silêncio inquietante dominou o quarto ocupado por quatro pessoas cujas expressões concentradas eram praticamente idênticas.

Meu estômago se apertava como se eu estivesse em queda livre e sem paraquedas ao notar o quão ferrada era a minha situação.

Aquela filmagem não provava nada.

Só me mostrava entrando em um maldito táxi e desaparecendo noite adentro aparentemente determinada a matar alguém.

Eu não tinha um álibi, uma testemunha que me visse chegando em casa, caralho, não havia nem mesmo uma forma de comprovar que não eram meus dedos apertando o maldito gatilho da minha prórpia arma.

Meu DNA estava por todos os lados, as balas tinham sido compradas no meu nome e até a roupa da garota que aparecia nas filmagens da casa de Steven eram as minhas.

Como caralhos conseguiram fazer isso?

Eu não lembrava de ter entrado na casa de Steven e com certeza saberia se havia matado alguém.

E o pior de tudo, é que meu apartamento também não contava com câmeras de vigilância.

Eu estava literalmente ferrada.

— Porra. -Murmurei com os dentes cerrados e as mãos em punhos ao lado das minhas pernas que não paravam de tremer.

Três pares de olhos me encararam sendo pegos de surpresa e esfreguei meu rosto cansada de toda aquela merda.

— Nós vamos achar uma resposta para isso, está bem? -Ty disse se sentando ao meu lado, percebendo que eu estava a ponto de surtar.

— Passei quase duas semanas brincando de casinha como se não estivesse sendo procurada por um assassinato e não fiz absolutamente nada para provar a minha inocência, Ty. Estava apostando todas as minhas fichas nessa gravação, pensei que... -respirei fundo sentindo minha garganta apertando com as lágrimas não derramadas — pensei que veria algo ali. Droga...

— Eu sei que está preocupada, meu bem, mas nós vamos dar um jeito, te prometo. -Seus dedos seguraram os meus e balancei a cabeça querendo acreditar com todas as minhas forças nas suas palavras.

Viktor que até o momento permanecia em um silêncio sepulcral, se levantou da cadeira e saiu do quarto batendo a porta atrás de si.

Qual era o seu maldito problema?

Bertha o perseguiu rapidamente, me deixando sozinha com o segurança e balancei a cabeça para os lados.

— O que aconteceu entre vocês dois, heim? -Ty me perguntou minutos depois e dei de ombros sem ânimos para falar sobre o assunto.

— É algo complicado. -Suspirei recebendo um olhar curioso e desconfiado ao mesmo tempo.

— O que pode ser tão complicado que impeça duas pessoas que claramente sentem tesão uma pela outra de se pegarem de uma bendita vez?

Arregalei os olhos com a sua sinceridade.

Tyron nunca tinha falado comigo com tanta franqueza e confesso que gostava mais quando ele não tocava nesse tópico e fazia de conta que não enxergava o que existia entre eu e Viktor.

— Só te digo uma coisa, Alícia, a tensão entre vocês dois é quase palpável, então tenha cuidado quando ela finalmente explodir. Apesar de que nos conhecemos há pouco tempo, eu gosto muito de você e não quero que seu coração acabe se estilhaçando no momento em que for atingida.

Caralho.

— Pode ficar tranquilo, Ty. Depois do que eu soube hoje, o conceito que eu tinha sobre o seu chefe mudou drasticamente. Eu... -A porta se abriu novamente e Bertha a atravessou com os braços cruzados e o rosto enrugado como se estivesse chateada com algo... ou alguém.

Provavelmente comigo a julgar pelo jeito que ela estava me fuzilando com o olhar.

— Tyron, querido, será que pode fazer o favor de nos deixar sozinhas um momento? -Ela pediu e engoli em seco sentindo um medo me golpeando de supetão.

Ty obedeceu rapidamente a sua ordem e saiu do quarto quase correndo.

Bertha esperou que ele desaparecesse completamente antes de ocupar o seu lugar ao meu lado e senti minha respiração se acelerando cada vez mais conforme ela não dizia nada.

— Viktor me contou que você ficou sabendo de um dos seus... negócios. -Respirei fundo apertando as pálpebras com força.

Mas que idiota fofoqueiro.

— Sim, foi exatamente o que aconteceu e antes que venha dizer algo, tenho todo o direito de ficar brava com ele por isso. -Murmurei me sentindo péssima, como se estivesse faltando o respeito com a minha própria mãe.

Bertha segurou meus dedos apertando-os de leve e suspirei envergonhada.

A sensação era idêntica a anos atrás quando meus pais me pegavam fazendo alguma travessura e se sentavam comigo na sala para me repreender.

— Acontece que ele está chateado com você e para ser sincera, não lhe tiro a razão.

É claro que não... -Debochei sem querer e ela sorriu divertida.

Pelo menos não tinha ficado brava.

— Alícia, você mais do que qualquer um sabe que julgar uma pessoa sem conhecer o contexto da situação não é nada legal, não é mesmo? -Balancei a cabeça para cima e para baixo entendendo o seu ponto.

— É só que... caramba, Bertha, prostituição? Isso é demais para mim. Conheço Viktor desde que éramos apenas crianças e jamais pensei que ele fosse capaz de algo assim, eu...

— Você nem mesmo deixou que ele se explicasse, meu amor. Como espera julgar uma ação sem escutar os seus motivos? É como se eu imediatamente te acusasse de ter matado aquele homem sem te dar uma chance de contar a sua versão. -Meus olhos se inundaram de lágrimas e ela limpou uma delas com o dedo de uma maneira tão sutil que fiquei ainda mais emocionada. — Eu sei que está brava porque gosta dele e quer manter essa imagem de quando as coisas não eram tão complexas, não adianta esconder de mim. -Sorri envergonhada. — Mas ao mesmo tempo você tem que entender que as coisas já não são como antes. Todos nós temos fantasmas que enfrentar e esqueletos no nosso armário, até mesmo você.

— É que é muita coisa para lidar, Bertha. Essa acusação, a reaproximação de Viktor... e-eu não sei se vou conseguir... ainda mais depois de ter visto essa porcaria de gravação. Não tenho nada com o que me defender. -Confessei me sentindo tão pequena e indefesa e não gostava disso.

Minha vida inteira era equilibrada.

Na verdade, eu odiava não ter controle sobre as coisas.

— Você tem a nós, querida. Não vamos permitir que nada de mal te aconteça, mas para isso, precisa confiar em mim, no Ty e principalmente em Viktor. Eu não deveria estar te dizendo essas coisas, só que eu vejo como ele te olha, como fica quando você e Ty estão muito próximos ou conversando. Sei que ele quer fazer o mesmo, que quer poder falar com você sem medo de ser julgado ou sem correr o risco de desatar a terceira guerra mundial. -Soltei uma risadinha nasalada. — Converse com ele, permita que ele te conte os seus motivos para fazer o que faz e se mesmo assim você não se convencer, pelo menos poderá ficar com a consciência tranquila sabendo que lhe deu uma chance de se explicar.

— É difícil admitir, mas você tem razão. Me deixei levar pelos meus ideais e fui bem hipócrita julgando-o sem saber o seu lado da moeda.

— Não há nenhum problema em cometer erros, querida, afinal de contas somos humanos. O problema está em insistir neles. -Recebi um beijo na testa que me lembrou a minha mãe e quase chorei novamente.

Deus, como eu sentia saudades dos meus pais, por mais que soubesse que no momento era mais seguro ficar longe dos dois.

Expulsei a tristeza da minha mente para não acabar me perdendo nela e me levantei da cama disposta a acabar com aquela confusão de uma vez.

— Onde ele está? -Indaguei baixinho.

— No quarto. -Bertha sorriu me encorajando silenciosamente e caminhei para fora cruzando o corredor com as mãos tremendo igual um filhotinho medroso.

Ao chegar na sua porta, bati os dedos na madeira rezando para que ele não me atendesse.

Não queria enfrentá-lo.

Não queria me encontrar outra vez com a decepção nos olhos azuis.

— Quem é? -A voz rouca soou do outro lado e puxei uma longa respiração.

— Sou eu. -Respondi simplista e obtive apenas o silêncio como resposta por um bom tempo.

Estava quase desistindo da ideia e voltando para o meu quarto quando a maçaneta girou e ele apareceu na minha frente com os braços cruzados e fogo puro no olhar.

— Podemos conversar?

Viktor me mediu com o olhar por alguns segundos antes de se virar e voltar para o quarto deixando a porta aberta em um sinal claro para que o seguisse.

— Ok... -murmurei completamente nervosa. — Bertha meio que falou comigo e... hã... eu gostaria de saber os seus motivos, quero dizer, porquê você faz o que faz.

Viktor acenou levemente com o queixo antes de apontar para a poltrona e me sentei em seguida.

Seus olhos não se afastaram de mim por um segundo sequer e no momento em que ele abriu a boca para falar, eu estava hipnotizada pela sua pupila que quase tampava as íris azuis.

— Kelly, vinte e três anos, mãe solteira de duas garotinhas. -Fechei os olhos sentindo o impacto daquelas palavras. — Tracey, vinte e nove, a mãe tem câncer e ela não tinha como pagar o tratamento. Sabrina, quarenta e dois, fugiu do marido abusivo que batia nela sempre que chegava bêbado depois do trabalho, ela foi dona de casa a vida inteira e não fez faculdade, ninguém queria contratá-la pois não confiavam nela. Jessica, vinte e quatro, quer cumprir seu sonho de acabar a faculdade de medicina, mas seus pais adoeceram e tempos depois ela perdeu a bolsa de estudos.

— Muito bem, já entendi. -Sussurrei com os olhos encharcados.

— Não, Alícia, você não entendeu. Eu não saio pelas ruas procurando possíveis vítimas. Todas essas mulheres vêm até o meu escritório em busca de uma segunda chance, de independência, elas podem sair quando bem entenderem. -Engoli o enorme caroço que tinha se formado na minha garganta. — Não obrigo ninguém a ficar.

— Eu entendo realmente a sua intenção, Viktor, mas mesmo assim, isso não deixa de ser uma ação ilegal. Já parou para pensar se alguma delas te denuncia ou se a polícia resolve te investigar?

Uma risada arrogante banhou seu rosto e revirei os olhos.

— A maioria dos meus clientes são policiais, inclusive alguns da sua divisão.

Respirei fundo.

Droga.

— Josh? -Indaguei em um fio de voz temendo a sua resposta.

Seu olhar se endureceu e vi o exato momento em que ele voltou a ser o Viktor Schultz de antes.

— Não. Eu o mataria com as minhas próprias se ele fizesse isso com você. -Engasguei com a minha própria saliva.

— Nós nem mesmo tínhamos algo exclusivo... eu só não gostaria que ele se envolvesse com esse tipo de atividade. Joshua é... era meu parceiro no final das contas. Ambos estamos do lado da lei. -Declarei rapidamente.

— No dia em que você finalmente entender que a lei não é justa para todos e muito menos imaculada, vai perceber que tudo o que acreditou durante todos esses anos foi uma enorme mentira. Só espero que esteja preparada para o momento em que a venda for tirada dos seus olhos, porque por mais que tenha me esforçado até agora, não vou mais estar ali para te segurar. Não quando você me julgou sem nem pensar duas vezes, mesmo eu te protegendo sem me importar se você fosse ou não uma assassina.

NOTA DO AUTOR
Sextouuuuu galerinhaaaaa!! 
Como prometido, aqui está o cap fresquinho pra vcs!
Espero que tenham gostado,
Não se esqueçam de votar e comentat! 

Amo vcs, 🥰
Bjinhossss BF🖤🖤🖤

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