Capítulo 12
JÁ ERA a terceira noite que não dormia direito.
Viktor vinha conseguindo me desestabilizar de tal maneira que cada vez que pensava nele minha pele fervia em um desejo irritante por beijá-lo, ao mesmo tempo em que queria enfiar a mão na sua cara e arrancar aquela sua arrogância na base do tapa.
E eu tinha medo de começar a ficar evidente demais, transparente demais.
Será que ele tinha percebido como eu me sentia e começado a agir assim para que eu parasse de querer ter seu corpo sobre o meu ou suas mãos deslizando pela minha pele, desvendando cada pedacinho de mim?
Era uma possibilidade.
No entanto, mesmo tendo consciência de tudo, ele não tinha o direito de me tratar daquela maneira, porque no final das contas eu estava ali por causa dele, mas isso não significava que ele poderia me subjugar como se eu não valesse nada.
E eu faria questão de que ele compreendesse de uma vez por todas que não deveria brincar com fogo ou acabaria se queimando.
Acordei com o sol cintilando nas minhas pálpebras pela fresta da janela e fiz um carinho em Chess, que insistia em dormir ao meu lado mesmo tendo uma caminha só para ela, antes de me levantar para ir ao banheiro me aliviar.
Apesar dela ser uma gata tranquila e acostumada a morar em apartamento, eu procurava não tirá-la de dentro do quarto mesmo me sentindo culpada por obrigá-la a passar todos os dias trancada ali.
Era só que eu não queria correr o risco dela acabar sumindo.
A propriedade de Viktor era enorme e Chess facilmente se perderia ou viraria comida para qualquer animal silvestre que rondasse as redondezas.
E eu não estava preparada para ficar sem a minha única companheira.
Isso, e também o fato de que Viktor simplesmente a odiava.
Sempre que ele chegava, eu fazia questão de fechar a porta para que a minha gata não fosse ao seu encontro, já que aparentemente ela estava empenhada em fazer amizade com ele.
Assim como a dona, Chess amava buscar proximidade com pessoas que não estavam nem aí para ela.
— Pelo visto era um mal dos Medinas. -Pensei comigo mesma.
Aproveitei que já estava no banheiro para tomar um banho demorado, deixando que o jato de água quente relaxasse meus músculos cansados por toda essa tensão que vinha sentindo desde que havia chegado naquela casa.
Morar ali era como uma montanha russa de emoções e se não fosse por Bertha e Ty, eu já teria ficado maluca.
Liguei o chuveiro e lavei meu corpo com cuidado, esfregando a minha pele com a esponja embebida em sabão enquanto pensava em como Viktor estava bonito com aquelas tatuagens nos braços.
Será que ele tinha mais alguma no abdômen ou pernas?
E por que as escondia debaixo daqueles ternos caros?
Era uma pena que eu não tivesse conseguido vê-las por inteiro.
Os desenhos eram todos em preto e branco e não se tratavam de rostos como a maioria das pessoas tinha o costume de fazer, na verdade, pareciam lugares que ele havia visitado.
Tinham algumas árvores e pude até mesmo identificar montanhas cobertas do que parecia ser neve.
Tudo isso o deixava ainda mais misterioso e me dava vontade de observar cada uma de perto.
Mas eu não faria isso.
Meu ego não me permitia entregar minhas intenções de bandeja.
Então o que me restava era apenas lembrar daquelas poucas imagens que consegui capturar e pensar em como elas ficavam malditamente sexys adornando a sua pele em um tom amendoado.
Continuei reproduzindo cada desenho na minha mente, pensando em como seria interessante que esses braços me apertassem contra si, cobrindo meu corpo com o seu e fazendo meu mundo girar.
De repente, o clima no banheiro pareceu esquentar ainda mais e me peguei deslizando os dedos pelo meu pescoço, descendo até os seios e apertando um mamilo ereto pela excitação crescente.
Apertei o pequeno botão sentindo aquela ferroada no meio das minhas pernas me arrancando um ofego baixinho.
Caramba eu estava tão quente, tão faminta por algum contato, que no momento em que introduzi meus dedos em mim mesma, tive que me apoiar na parede para não acabar derrapando e indo parar direto no chão.
Enfiei primeiro um, depois outro e comecei a cavalgar em cima da minha mão fazendo de conta que ela pertencia ao cara que eu odiava e que dormia a apenas alguns metros de distância.
Podia sentir a aspereza dos seus dedos, a sua respiração no meu pescoço e seus lábios deixando marcas invisíveis por toda a minha pele que estava a ponto de entrar em combustão.
Com a mão livre, continuei apertando meus mamilos, os olhos fechados e a respiração acelerada em busca da liberação.
Eu precisava disso.
Precisava me entregar pelo menos uma vez, nem que fosse graças ao fruto da minha imaginação para ver se conseguia tirá-lo do meu sistema.
Desde que Viktor me beijou naquela tarde fúnebre depois do enterro dos seus pais, foi como se ele tivesse injetado um veneno na minha corrente sanguínea que me impedia desenvolver qualquer tipo de sentimento por mais ninguém.
Era como um entorpecente que me deixava anestesiada.
Uma droga que me tornava indiferente a qualquer outro cara que não fosse ele e eu precisava desesperadamente do antídoto ou não conseguiria viver em paz.
Essa sensação de que pertencia a ele me destruía dia após dia e eu estava cansada de me sentir assim.
Estava cansada de lutar.
Só queria alguém que me compreendesse e me levasse do céu ao inferno em segundos, no entanto, ninguém tinha conseguido essa proeza em todos esses anos, nem mesmo Josh, e eu suspeitava que só havia uma pessoa capaz de juntar cada pedaço de mim, na mesma medida em que poderia me destruir por completo.
E isso me excitava ainda mais.
Me deixava com vontade de querer pressioná-lo, de ver até onde ele poderia chegar para me dar prazer.
Porque se tinha uma coisa que eu poderia afirmar com toda a certeza do mundo, era que Viktor sabia transar.
Estava escancarado em cada poro, em cada movimento seu, até mesmo no olhar incandescente que na maioria das vezes envolvia apenas fúria contida.
E era inevitável pensar nele gemendo rouco no meu ouvido enquanto me penetrava com força.
Continuei bombeando para dentro de mim, o frio da parede fazendo meu corpo inteiro se arrepiar conforme massageava meu clitóris sem parar de gemer.
Não sei a partir de que momento seu nome escorregou para fora dos meus lábios, no entanto, eu não me sentia envergonhada.
Tomaria o que ele estivesse me oferecendo, mesmo que de maneira inconsciente.
Viktor me devia, no final das contas.
Todas aquelas noites desperdiçadas reflexionando se ele voltaria para o meu lado.
Todas as relações que rejeitei sem querer, na esperança de que um dia ele seria meu assim como eu era dele.
Tudo isso pesava dentro do mais profundo do meu ser e de uma forma ou de outra, esse orgasmo era uma vingança.
Uma prova de que eu poderia existir sem ele, mesmo que meu subconsciente gritasse o contrário.
Eu simplesmente não podia esperar que esse sentimento me destruísse, que acabasse com qualquer rastro de sanidade que me restava.
Não era justo.
Aumentei a velocidade das investidas, os dedos dos meus pés se contorcendo conforme os primeiros espasmos do orgasmo se aproximavam.
Esmaguei o ponto mais sensível, apertando as pernas uma contra a outra e deixando que a onda de prazer finalmente me atingisse como uma avalanche pronta para me levar com ela.
— Oh Deus... isso...-Murmurei para o silêncio preenchido apenas pelo barulho do chuveiro enquanto terminava de trabalhar em mim mesma.
Engoli em seco várias vezes para tentar normalizar a minha respiração esperando que as últimas contrações fossem desaparecendo para então retirar o resto de sabonete do meu corpo, me enxugar e vestir o roupão antes de sair.
Voltei para o quarto distraída e franzi o cenho ao notar uma sacola de papel marrom em cima da minha cama.
Chess descansava tranquilamente ao seu lado, como se estivesse cuidando dela e levantei uma sobrancelha para a cena no mínimo curiosa.
Me aproximei cautelosamente e inclinei a cabeça ao notar o que parecia ser um bilhete grampeado na parte de cima.
Estendi a mão e o puxei para poder ver o que estava escrito, reconhecendo a letra de imediato.
"A atendente disse que esse remédio é
melhor que o ibuprofeno para as cólicas.
Se precisar de mais alguma coisa peça diretamente a mim,
meus funcionários já sabem que estão proibidos de fazer
diligências para você a não ser que
seja extremamente necessário.
V."
Eu não podia acreditar no que estava lendo.
Viktor estava passando dos limites e minha paciência também.
Quem ele pensava que era?
Só porque eram seus funcionários, não lhe dava o direito de me menosprezar daquela maneira.
Mas mesmo com a fúria me dominando, acabei cedendo para a curiosidade e abri a sacola esvaziando-a em cima da cama para ver o que diabos ele tinha comprado.
Meus lábios se curvaram em um sorriso involuntário conforme pegava vários pacotes de absorventes idênticos ao que Ty tinha me trazido no dia anterior, uma cartela com os comprimidos que supostamente eram melhores que ibuprofeno, pelo menos três barras de chocolate meio amargo, os que eu mais gostava, e uma bolsa de água quente novinha.
Como ele sabia todas essas coisas?
E o mais importante, por que ele tinha feito isso?
Será que realmente não queria ter seus funcionários se distraindo comigo? Quero dizer, eles tinham um trabalho a fazer no final das contas, não é mesmo?
Guardei tudo dentro da escrivaninha junto com os outros produtos de higiene, me vesti rapidamente e passei um perfume e desodorante para então descer até o primeiro andar.
Minha cabeça dava voltas enquanto eu caminhava e não sabia se era pelo pequeno gesto de Viktor ou pela fome que sentia, já que ainda não havia tomado café da manhã.
O cheiro de café fez meu estômago roncar e inalei profundamente, deixando que meu corpo fosse preenchido por aquela sensação de calmaria que só uma xícara fumegante do líquido escuro podia te proporcionar.
Sim, eu era do tipo de pessoas que não acordava completamente se não tivesse uma boa quantidade de cafeína correndo pelas minhas veias.
Era isso ou passar o dia inteiro de mau humor.
Cruzei a porta da cozinha pensando no que faria para comer, quando dei de cara com três pares de olhos me encarando como se eu fosse uma alienígena invadindo sua granja no meio do nada para roubar algumas galinhas.
— Bom dia, Bertha. Bom dia, Ty. -Beijei o rosto de cada um antes de ir até a máquina e programar um expresso duplo para mim.
"Bendita seja a tecnologia." -Pensei colocando duas fatias de pão na torradeira.
Ninguém dizia nada enquanto eu preparava meu desjejum e eu podia sentir seus olhares queimando minhas costas, mas não estava nem aí.
Não iria começar a tratar Viktor como se nada tivesse acontecido apenas porque ele havia me comprado alguns remédios e chocolate.
Isso não mudava o fato de que ele ainda era um carrasco comigo e eu queria que ele soubesse que não moveria minha mente com esses gestos.
— Como amanheceu hoje? Está melhor, querida? -Foi Bertha quem quebrou o silêncio e me virei para respondê-la.
— Sim, estou melhor embora não tenha vontade de fazer nada e passar o dia inteiro deitada... mas obrigada por perguntar. -Levei a xícara até a boca e bebi um longo gole gemendo baixinho ao sentir o sabor maravilhoso do café de ótima qualidade, não como aquela água de esgoto que serviam na delegacia. — E vocês, quais são os planos para hoje? -Aguentei ao máximo a vontade de olhar para Viktor para ver qual estava sendo a sua reação ao ser completamente ignorado.
— Na verdade, eu preciso arrumar algumas coisas no jardim. -Bertha dirigiu o olhar para Ty. — E vou precisar da sua ajuda, se não se importar, é claro.
O moreno assentiu rapidamente antes de olhar para Viktor em busca de aprovação recebendo apenas um leve balançar de cabeça do chefe como resposta, como pude notar de soslaio.
Eu não sabia onde aqueles dois queriam chegar e por alguns minutos tentei entender o que eles estavam tramando, no entanto, antes mesmo que pudesse obter uma conclusão, Bertha continuou falando.
— Não sei quanto tempo vamos demorar e há um pequeno problema: Felícia não estava muito bem hoje e pediu o dia livre, e o outro cozinheiro foi para a cidade fazer compras para o mês. -Ela parecia verdadeiramente preocupada e fiquei com pena da mulher ao ter que levar tanta responsabilidade nos ombros.
— Olha, eu não sou uma chef profissional, mas sei fazer algumas coisas. -Caminhei até parar do seu lado. — Se quiser posso preparar uma lasanha ou uma carne de panela...
Eu soube que tinha falado a coisa certa quando seu semblante se iluminou e ela segurou minhas mãos entre as suas.
— Você não se importaria?
Balancei a cabeça para os lados.
— É o mínimo que posso fazer já que passo o dia inteiro aqui sendo atendida. -Brinquei sorrindo com suavidade.
— Então está decidido. Viktor, querido, mostre para Alícia onde ficam os ingredientes. Eu até faria isso, mas preciso mesmo ir resolver o problema do jardim. -Rodei os olhos finalmente entendendo tudo.
Eu sabia que ela acharia uma maneira de nos colocarmos juntos.
— Não precisa, Bertha. Eu posso encontrar as coisas sozinha.
Viktor bufou próximo a nós três me fazendo soltar uma risadinha divertida.
Isso mesmo, babaca.
— Precisa sim, a despensa é enorme e vai acabar demorando mais do que o necessário sem ajuda. Agora se nos derem licença, temos que ir. -Bertha saiu da cozinha puxando o moreno de quase dois metros pelo braço e caminhei até a mesa me sentando para poder comer tranquilamente.
Por mais que não tivesse lhe dirigido a palavra e sequer olhado para ele, eu podia sentir a sua presença perto de mim.
Podia sentir o seu cheiro e até mesmo o calor que emanava do seu corpo.
Mas eu não iria ceder.
Se fosse necessário, esperaria que ele saísse para o trabalho para poder cozinhar sem ter que olhar para a sua cara arrogante.
No entanto, ele parecia ter outros planos quando se aproximou até parar do meu lado e puxou uma cadeira deixando seu corpo cair sobre ela de uma maneira elegante.
— Recebeu o meu pacote? -A voz rouca seguida de uma risadinha suspeita entrou pelos meus ouvidos fazendo minha pele se arrepiar.
Me limitei a apenas balançar a cabeça.
Ele não merecia mais do que isso.
— Por que não disse nada? -Dei de ombros ainda em silêncio e senti os cabelinhos do meu pescoço se movendo com o seu suspiro aborrecido. — Vai me tratar assim até quando, Alícia?
O ressentimento em cada palavra era tão evidente, que sem nem perceber, virei o rosto encarando seus olhos azuis que me encaravam de volta tão tempestuosos que tremi por inteiro.
— Até você entender que eu não sou sua. Não sou um objeto que pode mandar e desmandar e muito menos alguém que você vá comprar com qualquer bugiganga. -Rosnei antes de voltar a comer minha comida.
Viktor não respondeu.
Na verdade, ele parecia nem mesmo respirar por alguns minutos como se estivesse absorvendo tudo o que tinha acabado de escutar.
E quando eu pensava que ele pediria desculpas ou diria que eu tinha entendido mal as coisas, ele se levantou arrastando a cadeira para trás provocando um ruído irritante e andou até uma porta que eu sabia que era a da dispensa.
— Que seja... Me diga o que precisa para fazer a lasanha e deixarei tudo em cima da mesa. -Balancei a cabeça para os lados.
Era claro como a água que Viktor não se desculparia.
Por que faria isso no final das contas? Ele não estava nem aí para os outros.
Sem dizer nada, levei a xícara até a máquina de lavar louças e joguei fora o que tinha sobrado da minha torrada.
— Eu consigo me virar. Pode ir ao trabalho ou fazer o que quer que faça quando não está aqui.
Viktor voltou para a cozinha parando bem na minha frente e levantei uma sobrancelha em desdém.
— Acontece que eu também resolvi tirar o dia de folga e decidi que vou te ajudar a cozinhar.
— Desde quando? -Franzi o cenho desconfiada.
— Desde agora.
Seu sorriso convencido me fez querer estapear o rosto angulado.
Mas tudo bem.
Se ele queria me ajudar, eu o faria suar.
— Ótimo. Preciso de ovos, farinha, sal e azeite de oliva. -Lavei as mãos na pia. — Para o molho, estava pensando em fazer uma bolonhesa, então preciso de carne moída, cebola, tomate e alguns temperos e não se esqueça do queijo.
— Só isso? -Senti seus lábios tão perto do meu pescoço que precisei apertar a barra da pia para não me virar e beijá-lo ali mesmo.
— S-sim. E por favor, mantenha distância. -Resmunguei me afastando até a geladeira procurando por algo sem ter ideia especificamente do quê..
A risadinha de Viktor me tirou do sério pela milésima vez, no entanto, eu tinha prometido a mim mesma que não iria reagir.
Não iria lhe dar essa vitória.
Enquanto ele se perdeu na dispensa, limpei o balcão de granito para poder fazer a massa e separei todos os utensílios que usaria para cozinhar.
Viktor voltou minutos depois com tudo o que eu tinha pedido nos braços musculosos depositando as coisas com cuidado em cima da mesa.
Ainda era algo cedo para o almoço, mas como o prato escolhido levava algum tempo para ficar pronto, era bom começar logo para não acabar atrasando.
Odiava trabalhar sob pressão e mais com um companheiro quente como o inferno e irritante como o diabo.
Imediatamente comecei a colocar os ingredientes em uma vasilha de aço inoxidável e a mexer a massa até que ficasse na textura correta.
Pedi a Viktor para cortar a cebola e colocar os tomates para cozinhar e ele obedeceu sem dizer uma só palavra.
Tinha que admitir que ela ficava ainda mais sexy cortando os legumes, as mangas da camisa enroladas até o cotovelo revelando algumas das suas tatuagens e o terno descansando em uma cadeira afastada para não correr o risco de ser sujado.
O cara tinha uma habilidade impressionante com a faca e me peguei observando-o tentando entender de onde vinha tudo isso.
— Se continuar me secando dessa maneira, vou começar a achar que não me odeia realmente. -Rodei os olhos e voltei a abrir a massa em cima do balcão com um rolo elétrico.
Será que ele tinha todas as maquinarias necessárias para abrir um restaurante em casa?
De todas maneiras, estava me divertindo ao usar o aparelho.
Me distraía ver a massa entrando grossa e saindo fininha pelo outro lado sem fazer nenhum esforço.
Era como uma criança em um parque de diversões.
Depois de terminar de abrir tudo, cortei em quadrados do mesmo tamanho e deixei descansando enquanto preparava o molho.
Retirei o tomate da panela e bati juntamente com a cebola e o alho no processador para então jogar tudo na frigideira juntamente com a carne que já estava fritando.
Viktor observava tudo em um silêncio inusual, analisando cada movimento e eu me sentia como uma participante em um concurso de culinária.
— Hum... isso está cheirando muito bem... -Ele soltou depois de alguns minutos e só consegui balançar a cabeça para cima e para baixo sem parar de mover a colher para não queimar e estragar tudo.
Quando já estava pronto, desliguei o fogo e levei a panela até o balcão para começar a montar a lasanha.
Coloquei uma boa quantidade de molho na forma, cobri com queijo, logo uma camada de massa e repeti o processo até completar.
Uma vez que a primeira forma estava concluída, montei mais duas e coloquei tudo no forno com uma boa quantidade de queijo ralado por cima para dar aquela crocância.
A propriedade tinha uma quantidade insana de funcionários e eu não pretendia deixar nenhum com fome.
Como era de costume, sempre que terminava de cozinhar eu imediatamente limpava tudo, aproveitando que o sangue ainda estava quente, como dizia minha mãe.
Eu odiava comer com a cozinha suja e comecei a juntar todos os utensílios e a colocá-los na máquina para lavar.
Peguei um pano úmido e limpei o balcão retirando os restos de farinha e sujeira, bem como guardei os ingredientes restantes dentro da geladeira.
Viktor desapareceu sem dizer nada depois de alguns minutos e dei de ombros pensando que talvez ele tivesse se cansado de fingir que me aturava.
E quando ele voltou para a cozinha com uma garrafa de vinho nas mãos, confesso que fui pega de surpresa.
Ele depositou a garrafa no balcão limpo e começou a abrir as gavetas em busca de um saca-rolha.
Me aproximei com cuidado e franzi o cenho ao ler as palavras Sauvignon Blanc em letras pomposas na etiqueta.
— Acho que um Merlot combinaria mais com o molho bolonhesa. -Pensei alto e me arrependi no mesmo instante ao receber seu olhar irritado.
— Pois achou errado. -Ele resmungou me dando as costas novamente para continuar procurando o utensílio.
— E desde quando você virou um sommelier? -Provoquei cruzando os braços me divertindo com a sua mudança de postura.
Era tão fácil tirar Viktor do sério...
— Não está obrigada a beber a porra do vinho se não quiser, Alícia. -Arregalei os olhos, boquiaberta com a sua resposta. — Onde colocaram aquela porcaria? -Ele continuou baixinho e abri uma das gavetas no balcão ao meu lado encontrando em segundos o saca-rolha.
Sim, eu tinha fuçado em tudo e sabia onde tinham guardado cada coisa, mas era hilário ver como ele ficava irritado quando algo não saía como ele queria.
— Você está atrás disso? -Levantei o objeto no ar e ele se virou me encarando com fogo no olhar.
Suas pernas se moveram rapidamente e em questão de segundos, Viktor estava parado bem na minha frente com as sobrancelhas unidas em uma expressão que indicava que ele estava no limite.
— Por que não me falou antes? -Ele indagou puxando o saca-rolhas da minha mão bruscamente.
— Porque você não me perguntou. -Sorri debochada.
Viktor balançou a cabeça para os lados e continuou sua tarefa de abrir a garrafa, servindo uma boa quantidade de vinho em uma taça tão elegante quanto o resto da casa.
Observei atentamente conforme ele a levava até os lábios e bebia o líquido translúcido apertando as pálpebras como se aquilo fosse um elixir.
Droga, a cena era tão quente que de repente minha boca ficou seca e fui obrigada a pegar uma taça vazia para me servir, mesmo sabendo que o álcool só acenderia ainda mais o fogo dentro de mim, mas eu não ligava.
Precisava daquele combustível para matar a minha sede.
No entanto, quando me aproximei da garrafa, Viktor a segurou com força, afastando-a do meu alcance e negando com a cabeça ao mesmo tempo em que estalou a língua repetidamente.
— O que é agora? -Indaguei com a voz baixa.
— Disse que esse vinho não combinava com a lasanha, então não vai beber dele. -Seus lábios se curvaram em um sorrisinho desafiador.
Eu não estava acreditando no que estava acontecendo.
Viktor querendo me provocar?
Isso era novo.
O que ele não sabia, era que eu adorava um desafio.
Caminhei até parar na sua frente e cobri a sua mão com a minha, fazendo-o apertar o gargalo da garrafa fria.
Seu olhar estava preso no meu e quase cedi à tentação quando o maldito deslizou a língua devagar pelo lábio inferior puxando uma longa e pesada respiração.
Aquela fisgada no meio das minhas pernas quase me fez sair dali correndo, mas o jogo não terminava enquanto não houvesse um ganhador.
Inclinei meu corpo para a frente, inspirando o seu perfume amadeirado.
— E se eu tiver mudado de opinião? -Ofeguei bem perto do seu pescoço e sorri internamente ao vê-lo engolir em seco.
Viktor parecia tão afetado quanto eu com a proximidade, no entanto, ele se afastou devagar ficando de costas para mim outra vez.
— Nesse caso, vai ter que lidar com as consequências das suas escolhas. -Soltei um arquejo de incredulidade.
Qual era o seu problema? Por que diabos ele não reagia nunca?
— Babaca. -Murmurei dando a volta pelo seu corpo e puxando a garrafa de vinho das suas mãos com mais força do que o necessário.
Fiz questão de encher a taça sob o seu olhar atento e bebi e metade sem nem mesmo piscar, deixando que o álcool escorregasse pela minha garganta queimando tudo por onde passava, mas mesmo assim dissimulei um gemidinho de satisfação.
Tinha que admitir que o vinho estava delicioso, porém ele jamais ficaria sabendo disso.
Eu era bastante orgulhosa para reconhecer um erro e sabia que ele também, então ficaríamos nesse impasse pelo resto das nossas vidas se fosse o caso.
— Você sabe que eu tinha razão, não é mesmo? -Viktor disse depois de alguns minutos de silêncio e rodei os olhos perdendo a conta de quantas vezes tinha feito esse gesto desde que apareci na cozinha.
— E você está bem convencido para o meu gosto. -Bebi mais um pouco para não acabar falando alguma besteira. — Além do mais, que o vinho esteja bom, não quer dizer que vá combinar com a comida. -Continuei, repreendendo a mim mesma por colocar mais lenha na fogueira.
Viktor pareceu se ofender com a minha falta de confiança no seu taco e soltei uma gargalhada com a sua cara emburrada.
Terminei a taça e servi outra sentindo minha cabeça começando a dar algumas voltas e as palavras borbulhando na minha boca, pedindo para sair sem reservas.
— Não estou acreditando que o grande Viktor Schultz ficou putinho porque uma garota não caiu na sua lábia de quinta categoria. -Debochei com a língua enrolada.
Oh não.
Desde quando eu tinha me tornado tão fraca para a bebida?
Apenas uma taça e meia de vinho e minha língua já estava mais solta que calça de palhaço.
Ri sozinha com a comparação.
Deus, eu precisava sair dali.
— A-acho melhor eu ir para o quarto... -Me virei com a intenção de escapar da cozinha, no entanto, os braços de Viktor foram mais rápidos e me prenderam contra o balcão de granito atrás de mim.
— O que pensa que está fazendo? -Minha voz saiu tão baixa que foi um milagre ele ter escutado.
Com uma mão, ele enlaçou a minha cintura apertando seu corpo contra o meu e com a outra, colocou uma porção de cabelo atrás da minha orelha fazendo minha pele inteira se arrepiar.
Todo o meu orgulho e ego se desintegraram em pedacinhos quando ofeguei ao sentir o seu toque cálido sobre mim.
Ele tinha uma presença tão imponente, tão carnal, que era praticamente impossível passar despercebido.
— Viktor... -Sussurrei presa nas suas íris azuis e de repente o tempo pareceu parar, até mesmo minha respiração se deteve em expectativa, no entanto, ele não fez absolutamente nada.
Só ficou ali me medindo de cima a baixo, um braço apertando a minha pele por cima da blusa e a outra mão agora descia para o meu pescoço, pressionando-o com cuidado e me fazendo desejar mais disso.
Eu queria mais do seu toque, mais da sua pele contra a minha... eu queria mais de Viktor.
Aceitaria qualquer migalha vinda dele e isso me dava medo, pois sabia que por mais que negasse, eu estava rendida.
Meu ódio por ele ia de mãos dadas com o desejo e era questão de tempo para que ambos se fundissem em um só e o sentimento virasse uma enorme bola de confusão dentro da minha cabeça.
E como se não bastasse, Viktor não estava ajudando ao apertar meu queixo entre seus dedos, me encarando tão profundamente como se ele pudesse desvendar cada um dos meus segredos mais sombrios.
— O que quer que esteja planejando, só acabe logo com isso. -Implorei quando cheguei à conclusão de que ele não se moveria, de que estava apenas me levando até a beira do abismo só para me ver pulando.
Porque Viktor não me empurraria.
Ele não sujava as suas mãos.
Esse era o seu tipo de diversão: ele te provocava, te fazia desejar tudo o que você não poderia ter até que a tentação fosse tão insuportável que você seria capaz de fazer qualquer coisa só para se aliviar.
— É isso mesmo que você quer? -A pergunta veio em um tom rouco e sensual e balancei a cabeça para cima e para baixo, hipnotizada pelo seu rosto tão próximo ao meu.
Então sem nem me dar tempo para pensar, Viktor tomou meus lábios para si em um beijo tão quente que se ele não estivesse me segurando, eu provavelmente teria virado uma poça bem ali aos seus pés.
Nossas línguas dançavam uma valsa sensual em busca do controle e até mesmo respirar tinha se transformado em uma tortura deliciosa.
Sua mão livre ainda cobria o meu pescoço e me mantinha no lugar sem deixar de pressionar me fazendo ver um lado seu que não fazia ideia de que existia.
Apertei minhas pernas quando Viktor prendeu meu lábio inferior nos seus e puxou levemente a pele inchada, saboreando-a, tomando-a outra vez para si sem nem perceber.
Eu estava tão impactada que demorei alguns segundos para reagir e espalmar seu peitoral descendo até a cintura fina, enroscando os dedos no cós da sua calça para atraí-lo para mais perto, se é que isso era fisicamente possível.
Eu queria me fundir no seu corpo e continuar beijando-o até o cansaço, no entanto, sabia bem que aquilo era um erro, afinal de contas, da última vez que nos encontramos na mesma situação, as coisas não saíram muito bem.
O nervosismo de repente começou a me dominar, a preencher cada lacuna que ainda restava de sanidade dentro de mim e tentei me afastar para não acabar sofrendo outra vez.
Viktor pareceu notar minha intenção e levou os lábios até minha bochecha, depois o nariz e por último a testa antes de empurrar levemente meu corpo para trás em uma atitude estranhamente familiar.
Aquilo não estava certo.
Não deveria ter acontecido.
Aquilo não... não deveria acabar.
Enrosquei os dedos na gola da sua camisa e o puxei novamente para continuar de onde paramos.
Sua risadinha presunçosa não me passou despercebida, porém eu não estava nem aí.
Depois de anos de abstinência, tinha sido exposta outra vez ao seu veneno e queria mais.
Ela já estava de volta no meu sistema e não fazia a menor ideia de como faria para não me render aos seus enganos.
Precisaria de muita força de vontade para não invadir o seu quarto de noite e implorar para que ele me fizesse sua.
E eu sabia que de uma forma ou de outra conseguiria me manter livre da prisão dos seus braços, mas por enquanto, eu aproveitaria por mais alguns minutos a sensação de ter seus lábios acariciando os meus.
Ele me devia isso.
E eu cobraria com juros.
Levei as mãos até as suas costas para poder tocá-lo de uma maneira mais íntima, contudo, sequer cheguei a abraçá-lo quando ele segurou meus punhos, levando-os para trás em uma espécie de algema e franzi o cenho sem entender a sua reação, mas ao mesmo tempo sem vontade de me aprofundar na sua complexidade.
Não por enquanto, pelo menos.
— Caramba, é incrível como você tem exatamente o mesmo sabor que quinze anos atrás. -Viktor soltou arregalado os olhos como se não estivesse acreditando no que acabava de falar.
E isso foi suficiente para me trazer de volta para a realidade.
— E-eu... -Balbuciei com medo de estar sofrendo algum tipo de dano cerebral e quando estava quase conseguindo formar uma resposta coerente, o forno apitou interrompendo meus pensamentos e me fazendo dar um pulinho de susto.
Quanto tempo tínhamos ficado nos beijando?
E será que alguém havia visto algo?
Porra!
— P-preciso colocar comida para a Chess. -Sussurrei me afastando e fugi como um pecador foge dos seus pecados.
Corri pela casa até chegar no meu quarto e fui direto para o banheiro, trancando a porta e encostando na madeira fria com a respiração acelerada.
Que diabos tinha acabado de acontecer?
E por que eu estava tocando meus lábios desejando não ter parado?
NOTA DO AUTOR
SEXTOUUUUUUUUUUUU com tudoooo até bitoca hahahah
Espero que tenham gostado do cap,
não esqueçam de votar e comentar!
Um ótimo final de semana a todos,
Amo vcs, 🥰
Bjinhossss BF 🖤🖤🖤
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