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Capítulo 06

— PORRA... -Levantei da cama com a cabeça dando tantas voltas como uma roda gigante em dia de visita escolar.

O sabor a cerveja velha dentro da minha boca fez meu estômago embrulhar e corri para o banheiro praticamente abraçando o vaso sanitário por pelo menos uns dez minutos.

— Não deveria beber tanto - Constatei depois de vomitar pela quinta vez ou sexta vez.

Eu sempre me dizia o mesmo, mas quando estava em um bar, parecia que uma amnésia temporária me atingia e eu simplesmente engolia tanta bebida quanto fosse possível sem chegar a ter um coma alcoólico.

Mas nem sempre foi assim.

Depois de que Viktor desapareceu, eu me fechei para tudo e para todos. Me tranquei em mim mesma e fiz de conta que não estava sendo dilacerada por dentro dia após dia.

Eu virei mestre em fingir que estava tudo bem ao ponto de eu mesma passar a acreditar nisso.

E anos depois, enquanto eu estudava para ser policial, fiz amizades e conheci pessoas que me apresentaram esse mundo que até então não me chamava a atenção.

Nas primeiras semanas eu resisti, tive esperança de que ele voltaria e diria que ficaríamos bem, que tudo não passava de uma brincadeira idiota.

Mas então, conforme o tempo foi passando e ele não apareceu, eu percebi que estava sendo apenas uma adolescente iludida.

E não poderia continuar assim, tão logo terminei o colégio e fui direto estudar para passar no concurso público e uma vez que consegui, comecei a fazer o curso preparatório para ser uma policial civil e poder realizar as investigações das quais era apaixonada.

Parecia até irônico o fato de que eu poderia muito bem ter encontrado Viktor se eu quisesse, afinal de contas, tinha acesso ao sistema policial com os dados dele, no entanto, eu me proibi de fazer isso.

Não seria eu quem o buscaria.

Se ele quisesse me ver, ele sabia onde me encontrar, afinal quem fugiu foi ele e não vou atrás de quem aparentemente não quer ser encontrado.

Quero dizer, saberia onde encontrar meus pais, já que apenas eles tinham conhecimento de para onde eu tinha me mudado.

E mesmo assim, se eu chegasse a vê-lo, o que provavelmente era impossível à essa altura, seria capaz de lhe dar um soco de tanto ódio que sentia pelo idiota, apesar de saber que não valia a pena sujar minhas mãos com alguém que claramente não se importava comigo.

Caralho eu era tão dramática as vezes que me irritava.

Quando os espasmos no meu estômago finalmente pararam, me levantei e escovei os dentes sem coragem de olhar o meu reflexo deplorável no espelho. Eu estava péssima e não tinha a menor intenção de ter essa imagem gravada na minha memória, então terminei de lavar o rosto ainda de olhos fechados e voltei para a cama com Chess no meu encalço.

Seus miados eram tão altos que pareciam que adagas estavam sendo enfiadas dentro do meu cérebro e me arrastei pela sala para colocar comida na sua vasilha antes que ela explodisse meus tímpanos.

Uma vez que a gata estava devidamente alimentada, me joguei no colchão sem nem me preocupar em trocar de roupa.

Sabia que ainda estava fedendo, mas não me importava. A única coisa que queria era descansar o sábado inteiro, já que aos domingos eu sempre visitava meus pais.

Deus, eu estava tão ferrada...

Por mais que fosse uma adulta, morasse no meu próprio apartamento, pagasse minhas contas e toda essa merda, eu ainda tinha respeito pelos dois.

Ainda sentia que não deveria chegar em casa exalando álcool por cada poro do corpo e muito menos com essa maldita ressaca.

— Sou tão estúpida... -Tampei os olhos com o braço, a luz da janela queimando minhas pupilas.

Talvez eu devesse fechar a cortina, mas me levantar outra vez era uma tarefa que demandava muita energia e eu definitivamente estava esgotada.

A noite anterior tinha se transformado em uma enorme mancha deformada por trás dos meus olhos. As lembranças estavam tão embaralhadas quanto as cartas de um cassino e por mais que tentasse colocá-las em ordem, simplesmente não fui capaz.

A única coisa da qual estava certa, era que Josh tinha se declarado para mim e que eu quebrei seu coração em pedacinhos.

E jamais me perdoaria por isso, mas ao mesmo tempo não o iludiria fazendo-o pensar que poderia existir algo entre nós dois.

Não era justo.

O resto dos acontecimentos virou uma bola de vozes, rostos e risadas unidas umas nas outras como um Frankenstein na minha consciência mais do que pesada e acabei adormecendo outra vez sem perceber.

O caminho até a casa dos meus pais era sempre uma aventura.

Eles moravam em um bairro localizado nos arredores da cidade em um condomínio de luxo, o que significava que eu demoraria pelo menos quarenta minutos para chegar, mesmo pilotando a Regina.

Apesar de ter literalmente uma moto que poderia chegar a cem quilômetros por hora em segundos, eu não gostava de correr. Fazer isso ia contra todos os meus princípios, afinal de contas eu era uma representante da lei, contudo, minha vontade de chegar logo foi maior que meu senso comum e abusei do acelerador quando faltavam apenas algumas quadras, diminuindo a velocidade somente quando entrei nas ruas quase desertas do Golden Dreams.

Conforme me aproximava da casa dos meus pais, meu estômago se contorcia em antecipação pelo simples fato de que eles ainda moravam onde passei quase toda a minha infância e adolescência, ao lado da casa do idiota que destruiu meu coração.

Era quase como uma brincadeira de mal gosto que todas as vezes que eu vinha visitá-los, era obrigada a ver como aquela maldita mansão ainda permanecia vazia, como ela zombava de mim e daquela criança ingênua de quinze anos atrás.

Eu sabia que isso não fazia o menor sentido, mas porra, eu tinha esse direito de enlouquecer nem que fosse um pouquinho sem ter que carregar toda a culpa nas minhas costas, afinal de contas quem tinha desaparecido era ele e não eu.

Uma Mercedes preta passou do meu lado quando reduzi a velocidade na entrada da minha casa e observei como ele parava bem na frente da casa vizinha com mais interesse do que deveria.

Será que Viktor tinha voltado?

E se fosse o caso, por que ele não tinha entrado em contato comigo?

Foda-se, eu não queria que ele fizesse isso de todas formas.

Cruzei rapidamente o enorme jardim de entrada, indo até a garagem e estacionando a moto de qualquer jeito.

As mansões do condomínio tinham uma particularidade que pessoalmente me encantava.

Os jardins eram gigantes e muito bem cuidados.

Cada propriedade devia ter pelo menos uns mil metros quadrados e as partes dos fundos geralmente tinham piscinas, pequenos chalés e no nosso caso, uma árvore frondosa que ficava exatamente entre a minha casa e a de Viktor.

E pendurado nela, um balanço grande o suficiente para que nós dois ficássemos sentados por horas lendo e falando sobre qualquer coisa de adolescentes.

Esse era o meu lugar preferido.

Até que um dia não foi mais.

— Mamãe, já cheguei! -Gritei engolindo a bola que se formava na minha garganta cada vez que cruzava a porta da sala.

— Na cozinha, meu amor. -A voz suave de Hellen Medina preencheu o lugar e não consegui evitar o sorrisinho animado.

Ela e meu pai eram as únicas pessoas que conseguiam fazer isso comigo. As únicas pessoas que realmente me traziam paz.

Fui até o seu encontro e abracei seu corpo curvilíneo coberto por um avental florido.

— Hum, está cozinhando o quê de bom? O cheiro está maravilhoso. -Espiei por cima da sua cabeça e ela se virou para poder devolver o abraço.

— Seu pai amanheceu com vontade de comer raviolis al pesto...-Sorri abertamente dessa vez.

Era engraçado como ela sempre fazia os gostos dele, e ao mesmo tempo, ele daria a sua vida por ela se fosse necessário.

Meus pais eram, sem dúvida, o melhor exemplo de que o amor verdadeiro pode sim existir.

Toda a minha infância e adolescência foi baseada nesse amor e carinho que eu recebia dos dois e isso só aumentou minhas expectativas quando comecei a sentir na própria pele os sintomas daquela doença da qual ninguém estava imune.

Graças a eles eu aprendi a me valorizar e entender que mereço alguém que me trate como uma maldita rainha.

Porque isso é o mínimo que devemos esperar de alguém, não é mesmo?

— Vou lavar minhas mãos para te ajudar. -Beijei sua bochecha coberta por uma fina camada de farinha.

— Se quiser pode deixar suas coisas no seu quarto, mandei limpar ontem mesmo. -Mamãe suspirou baixinho.

Cada vez que eu vinha era assim. Eles sentiam minha falta, era um fato, mas eu simplesmente não conseguia mais viver com eles.

No meu apartamento, eu tinha a minha rotina, minhas próprias coisas e principalmente minha liberdade. E por mais que ficasse com peso na consciência sempre que via como os dois ficavam tristes quando eu ia embora, não abriria mão da minha independência.

— Obrigada. -Sussurrei antes de me afastar.

Subi a escada de dois em dois degraus, como era acostumada, e ao chegar no meu quarto, deixei o capacete, a jaqueta de couro e a mochila em cima da escrivaninha branca onde fazia minhas tarefas escolares.

Lavei as mãos no meu banheiro e aproveitei para jogar uma água no rosto.

Me sequei com uma das toalhas felpudas e como se não tivesse controle sobre os meus próprios pés, caminhei até parar na frente da minha janela.

Meu olhar foi rapidamente para o lugar onde se encontrava o seu quarto e puxei uma longa respiração.

Nossas casas não ficavam tão próximas, mas mesmo assim era possível identificar se tinha alguém na janela oposta, por exemplo.

E sempre que era ele, Viktor levava os dedos até a testa como se estivesse fazendo uma continência e eu respondia do mesmo jeito.

Era meio que o nosso sinal secreto.

Uma forma de nos certificar de que não era outra pessoa que estivesse nos vigiando.

Me debrucei no peitoril e levei os dedos até minhas sobrancelhas sentindo um gosto amargo na boca ao perceber que não teria nenhuma resposta.

Não dessa vez.

Da mesma maneira que não obtive nada nos últimos anos.

Sorri para mim mesma.

Eu quase conseguia ver sua silhueta na janela como se tivesse voltado no tempo... ainda tinha esperanças de encontrá-lo ali e isso era a coisa mais patética.

Quero dizer, caramba, já deveria virar a página, seguir adiante e esquecer esse idiota.

Droga, eu merecia isso.

Eu faria isso.

Estava decidido.

Sem parar para pensar muito, entrei no closet vazio e abri a última porta enfiando a mão até o fundo da última gaveta onde só eu sabia da existência de um compartimento secreto.

Quando toquei na pequena trava, meu coração bateu tão acelerado como se estivesse me dizendo para não cometer essa loucura.

Mas agora era tarde demais.

Eu precisava fechar esse maldito ciclo de uma vez por todas.

Com cuidado, retirei a caixinha de madeira envernizada do fundo falso e me segurei para não desviar do meu objetivo.

Os desenhos na tampa desgastada me lembravam vários momentos que deveriam ficar escondidos no mais profundo do meu subconsciente, mas afastei cada um deles com a boca seca e o peito doendo.

Eu tinha que encontrar a chave e nada mais.

Não olhei as fotos, as cartinhas que trocamos em várias ocasiões, não olhei sequer para o meu diário onde escrevia meus segredos mais íntimos.

Nada daquilo importava naquele momento. Só precisava daquela bendita chave e quando meus dedos tocaram o metal frio, foi como se uma corrente cortasse meu corpo fazendo minha respiração parar por alguns segundos.

Isso seria mais difícil do que eu pensava, mas era necessário e teria que ser rápido, como tirar um band-aid de uma ferida.

Sem demora, me levantei em um pulo e voltei para o andar de baixo com passos decididos.

— Mãe, sabe se tem alguém morando na casa dos Schultz? -Sussurrei rezando para que ela não me dissesse que uma família ocupava a casa ou que ele tinha voltado.

— Acho que não, meu amor. Por quê?

Apertei as pálpebras, aliviada.

— Por nada, é que quando cheguei tinha um carro estacionado na frente da mansão... -Levei o dedão até os lábios e mordi minha pele arrancando pequenos pedacinhos de cutícula.

Deus, eu era tão tonta.

Por um lado, realmente não queria saber nada da sua vida, mas ao mesmo tempo, meu corpo inteiro tremia com a possibilidade de que ele poderia simplesmente ter esquecido de mim e seguido adiante.

— Oh, claro. -seus olhos se fecharam por um breve instante. — Pelo que fiquei sabendo, a casa está à venda. -Praguejei baixinho — Todos os dias o agente imobiliário vem mostrá-la para um possível comprador. Provavelmente a pessoa que você viu ali, era ele. Acho que está sendo difícil vendê-la, essa mansão é realmente cara e carrega uma história muito triste.

Por mais que ela tenha tentado disfarçar, consegui pegar um vislumbre da tristeza provavelmente ao lembrar da sua vizinha e amiga e também de outro sentimento que não consegui identificar.

— Hum... então quer dizer que ela ainda está vazia. -Disse para mim mesma.

De certa forma, isso era algo bom, assim eu não correria o risco de encontrar algum velho pelado quando entrasse.

— O que quer que esteja planejando nessa sua cabecinha maluca de detetive, quero que pare imediatamente. -Mamãe censurou segurando minhas mãos e franzi o cenho como se não soubesse exatamente do que ela está falando.

— E-eu não estava planejando nada, mãe.

— Alicia, não se faça de inocente. Sei que você ainda o...que sente falta daquele garoto, mas é hora de deixar tudo isso para trás.

— Eu não sinto nada por Viktor. Só fiquei curiosa, além do mais, não quero que um desconhecido venha morar do lado de vocês. -Murmurei antes de caminhar até o armário.

Em silêncio, peguei três pratos e três conjuntos de talheres e os ordenei nos lugares correspondentes na enorme mesa da sala de jantar.

Mamãe não disse mais nada sobre os Schultz e foi melhor assim.

Ela sabia que esse era um tema de conversa proibido há muito tempo e que não serviria de nada continuar insistindo nesse tópico.

Meu pai chegou quando já estávamos quase terminando o almoço e me recebeu com aquele sorriso de sempre.

Eu amava visitá-los porque os dois me faziam esquecer, nem que fosse por algumas horas, da bagunça que era a minha vida, mas também me sentia culpada algumas vezes por ter ido morar longe como se de certa forma, tivesse abandonado os dois.

— Como foi o caminho até aqui, meu amor? O trânsito estava bom? -A voz rouca do meu pai me trouxe de volta e balancei a cabeça em concordância.

Ele odiava engarrafamentos tanto quanto odiava perder dinheiro e quando uma coisa provocava a outra, era ainda pior.

— Apesar de ser um caminho longo, eu sempre me distraio ao andar com a Regina, amo sentir o vento batendo no meu corpo, a velocidade... dirigir motos tem essa vantagem. -Dei de ombros levando um pequeno quadradinho de massa até a boca saboreando o tempero maravilhoso do molho de manjericão.

Embora meus pais tivessem funcionários para fazer o que eles quisessem, mamãe amava cozinhar. Era sua forma de dizer que nos amava e sua comida era ridiculamente boa. Essa era uma das coisas que eu mais sentia falta.

Da comida de mãe.

Infelizmente, eu sabia que esse era o preço a pagar quando eu decidi que queria morar sozinha.

O resto do almoço passou rapidamente e esperei que os dois fossem tirar a sua soneca da tarde para correr até o jardim em direção à mansão dos Schultz.

Meu coração pulava dentro do peito e a chave de metal parecia queimar minha pele conforme me aproximava da entrada dos fundos.

Refazer esse caminho depois de tanto tempo acabou trazendo lembranças das quais eu nem fazia ideia que existiam.

Como por exemplo uma vez quando Viktor disse que queria me mostrar um lugar secreto que ele tinha descoberto e passamos a tarde inteira no porão da sua casa, abraçados ao lado de uma janela minúscula que nos provia de uma iluminação escassa enquanto ele contava histórias de navios e piratas sem parar de acariciar meus cabelos longos por um segundo sequer.

Naquele momento eu não tinha percebido ou talvez não entendia a magnitude do que aquilo significava, no entanto, agora que parava para pensar, Viktor parecia tão perdido, tão... só.

— Foco, Alicia. -Balancei a cabeça e subi os degraus da varanda parando diante da porta que ainda mantinha sua pintura branca, porém bastante deteriorada com o tempo.

Com os dedos trêmulos, enfiei a chave na fechadura e só nesse instante parei para pensar que talvez ele tivesse trocado-a durante todos esses anos.

Porra.

Um suspiro escapou dos meus lábios ao descobrir que para a minha sorte, a fechadura ainda era a mesma e sorri para mim mesma ao escutar o click.

A madeira velha rangeu quando empurrei a porta e meus olhos demoraram alguns segundos para se adaptar à escuridão do lugar.

Eu não acenderia nenhuma luz, já que isso poderia chamar a atenção de alguém, no entanto, do pouco que estava conseguindo enxergar com a luz tênue do meu celular, pude perceber que a casa estava exatamente da mesma forma que me lembrava quando a visitei quinze anos atrás.

Viktor não tinha movido nenhum móvel, ele sequer desfez a mesa de jantar ou cobriu os sofás com um plástico.

Era como se ele fosse chegar a qualquer momento reclamando de como sua escola era entediante ou com aquele livro que eu tinha lhe dado de presente nas mãos.

Isso era tão estranho...

Por que será que ele não tinha se preocupado em deixar sua casa limpa?

Ninguém a compraria nesse estado.

De todas maneiras, isso não era problema meu.

Sem perder mais tempo, subi até o seu quarto fazendo uma careta cada vez que um degrau da escada rangia.

Eu sabia que ninguém escutaria nada, mas não queria correr o risco.

Ainda tinha aquela sensação de que estava fazendo algo ilegal.

Benditos princípios de policial.

— Que se foda. -Rosnei parando na frente da porta marrom que conhecia muito bem.

Ali ficava o quarto dos seus pais, um lugar que era extremamente proibido para nós dois.

Eles sempre diziam que não podíamos entrar ali e eu jamais entendi os motivos, afinal de contas, era apenas um quarto, não é mesmo?

Em um ato de rebeldia como se ainda tivesse quatorze anos, levei a mão até a maçaneta e tentei girá-la, me decepcionando ao constatar que como de costume, ela estava trancada.

— Droga.

A curiosidade me corroeu por alguns minutos, no entanto, eu não tinha ido até ali para isso.

Meu objetivo era outro: o quarto de Viktor que ficava no final do corredor.

Eu tinha visitado essa casa tantas vezes, que conhecia cada parte dela como a palma da minha mão.

E na medida que andava até sua porta, a sensação de que meu peito se esmagava ficava cada vez mais intensa.

Voltar aqui era como abrir uma velha ferida que eu pensava que já estava cicatrizada.

Viktor tinha sido parte de uma época importante da minha vida e por isso fiquei tão furiosa pela forma em que ele agiu.

Porra, eu preferia que ele tivesse jogado na minha cara que iria embora, que eu não significava nada para ele e que poderia seguir adiante. Isso era muito melhor do que viver na incerteza, sem saber o que aconteceu, seus motivos para desaparecer e toda essa merda. Como se todos os nossos anos de amizade não tivessem servido de nada.

Mas se ele era covarde o suficiente para não ser sincero comigo, então eu faria as coisas do meu jeito.

Arrancaria de uma vez por todas qualquer sentimento que ainda restava por ele.

Só não pensei que seria tão difícil quando entrei no seu quarto e dei de cara com uma verdadeira confusão.

Sua cama estava de cabeça para baixo, as portas do seu closet abertas, as gavetas para fora jogadas de qualquer maneira como se um furacão tivesse passado ali dentro.

No chão, algumas roupas esquecidas e vários papéis rasgados que tarde demais, percebi se tratarem de fotos...nossas.

Sem me preocupar com a sujeira, me sentei no chão e comecei a juntar os pedacinhos como se estivesse armando um quebra cabeças.

Era incrível como eu lembrava dos momentos onde a maioria foi tirada.

Dias de passeio pelos jardins da minha casa, as tardes de leitura no seu sótão, mas o que mais fez meu coração doer, foram aquelas onde eu aparecia sozinha.

Essas eram novidades para mim.

Nunca tinha visto nenhuma delas e, ao que tudo indicava, não fazia ideia de que elas existiam.

De repente olhei para todos os lados procurando algo sem nem saber exatamente o quê, arrastei as mãos no chão sujo sentindo cada terminação nervosa se eriçando com a certeza de que eu era uma completa idiota.

E tudo piorou quando avistei debaixo de uma das escrivaninhas, um pequeno livro com a capa amarela e o desenho de uma menininha de vestido azul e cabelos amarelos olhando para um gato sorridente.

Peguei o livro com nada mais do que ódio correndo pelas minhas veias e soltei uma risada furiosa ao ler a dedicatória que já sabia de cor.

"Guarde esse livro com você, é uma lembrança de que não importa o que aconteça, sempre estarei do seu lado.

E lembre-se: Não é um sonho, é uma memória. Esse mundo é real."

Da sua melhor amiga: Alícia M.

Tinha comprado aquele livro em uma das viagens escolares da minha turma.

Era uma versão muito antiga e no momento em que a vi, imediatamente lembrei do meu amigo e o comprei para presenteá-lo.

E agora aqui estava o livro esquecido como se nunca tivesse existido.

Como eu pude ser tão burra?

Lágrimas começaram a escorrer pelas minhas bochechas ao finalmente entender tudo.

As fotos rasgadas, o livro abandonado de qualquer jeito...

Deus, durante quinze anos eu sofri sozinha.

E sempre foi um sentimento unilateral.

Meu peito subia e descia com os soluços dolorosos e já não me importava com o barulho.

Aquilo era demais até para mim.

Em um rompante de loucura juntei todos fragmentos das fotos espalhados pelo chão, o exemplar de Alice no país das maravilhas e até mesmo a câmera instantânea que usávamos em algumas ocasiões e enfiei dentro da caixinha de madeira escapando dali o mais rápido que consegui.

Eu jogaria tudo aquilo no lixo, que era onde pertenciam.

Não deixaria que elas continuassem no chão dessa mansão, abandonadas como ele me abandonou.

Acabaria de uma vez com toda essa merda e obrigaria minha mente e meu coração a esquecerem que algum dia Viktor Schultz foi dono deles.

Com as mãos cheias de tralhas antigas voltei para casa correndo e taquei tudo de qualquer jeito dentro da mochila ao lado do meu capacete.

A fúria me dominou tão rapidamente que nem mesmo percebi a aproximação da minha mãe.

Seus dedos finos seguraram meu pulso e soltei um gritinho quase derrubando tudo no chão.

— Já está indo embora, querida? -Seu olhar astuto me analisou por alguns segundos e temi que ela descobrisse tudo o que acabava de acontecer.

— Sim, mãe. Amanhã tenho muito trabalho e preciso descansar.

— Tem certeza que é só isso? -Seus braços se cruzaram na frente do abdômen plano de alguém que fazia yoga pelo menos cinco vezes por semana.

— É só isso mesmo. Sabe como meu chefe é um pé no saco. -Dei de ombros. — Hã...acho melhor eu ir nessa logo antes que fique escuro. -Beijei sua bochecha antes de abraçar seu corpo esguio. — Papai ainda está dormindo?

— Sim, ele voltou bem cansado do jogo.

— Tudo bem, diga a ele que eu o amo. Boa viagem, mãe. Não se esqueça de me mandar notícias, ok?

Não esperei por uma resposta.

Me sentia tão mal que a única coisa que queria era me afastar daquele lugar o mais rápido possível, então corri até a minha moto e em questão de segundos me encontrava no meio da avenida correndo como louca até meu apartamento.

Meus pais tinham uma viagem de negócios no mediterrâneo e por mais que tenha parecido fria ao me despedir, de certa forma eu já estava acostumada com isso.

Mamãe ficava comigo na maioria das vezes, mas havia certas ocasiões, como essa, por exemplo, que papai ficaria fora do normal e não aceitava ficar muito tempo longe da esposa.

A mochila pesava nas minhas costas como se tivesse vários tijolos lá dentro e tive que me esforçar para enxergar por trás de todas as lágrimas que escorriam dos meus olhos.

Ao chegar em casa fui direto para o meu quarto sendo acompanhada por Chess que se esfregou nas minhas pernas em silêncio como se soubesse que não estou bem.

Esvaziei a mochila ali mesmo no chão e de repente me vi envolta em um ciclo de autocompaixão e um misto de raiva e saudade de uma época onde eu era feliz e não fazia a menor ideia.

Sem perceber, as horas foram passando e acabei pegando no sono depois de lutar contra a vontade que tinha de jogar tudo fora e ao mesmo tempo, a de guardar aquelas coisas com medo de que se eu de fato me desfizesse das fotos e do livro, tudo o que vivi com Viktor deixaria de existir.

NOTA DO AUTOR
Hellooooo amores! 
A semana começou daquele jeito né não? 
kkkkkkkk
Agora sim, não precisam ficar impacientes que 

prometo pra vcs que no próx cap já vamos conhecer certa

pessoa que eu sei que vcs estão ansiosas hahhaa
Não se esqueçam de votar e comentar.
Uma ótima semana a todos

Amo vcs 🥰
Bjinhossss BF 🖤🖤🖤

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