IV. Emaranhado de histórias
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A tarde de Tiffany não estava sendo da forma como ela havia imaginado, Kevin Smith estava mais que determinado a ter a atenção da garota mas ele nunca poderia competir com o pastor da igreja que acabou por espantá-lo assim que se aproximou da garota que estava sentada em uma das mesas de jardim postas no gramado da igreja. O clima estava bom o suficiente para o homem estar usando um terno de cor bege e que fazia ele parecer ser mais pálido do que realmente era, o pastor Byrne era filho de um casal de irlandeses que vieram para a américa em busca de uma vida melhor, Byrne cresceu junto com os pais de Tiffany, por ser uma cidade pequena era inevitável que eles não se conhecessem e como eram amigos próximos ele acabou por se sentir um pouco infeliz com o que acontecera com aquela familia, a tia da garota sempre lhe contava como estavam as coisas em casa e em como Tiffany lidava com tudo e isso o deixava bastante preocupado.
Ele se sentou ao lado da garota no banco de madeira enquanto que ela olhava para as próprias mãos sobre a mesa de madeira que ao contrário de outras seis espalhadas pelo gramado do jardim da igreja estava vazia, seus tios estavam conversando com os Parker perto da mesa de comidas, enquanto que o primo da garota havia se enturmado com os garotos do clube de xadrez do colégio.
- Como tem estado? - O homem possuía um semblante sério e um olhar instigante dirigido a garota que apenas deu de ombros, ela sabia que sua tia havia dito algo a ele para que ele fosse conversar com ela, Neil Byrnes era bastante insistente e caso ele decidisse que ela não estava bem, ele iria interferir pois sua tia teria pedido misericordiosamente a ele. - Sabe que pode conversar sobre qualquer coisa comigo. - Não, ela não podia e sabia disso melhor que qualquer outra pessoa, embora o pastor fosse amigo próximo de seus pais, contar-lhe tudo o que pensava e sentia a respeito, não era algo ao qual ela quisesse realmente fazer e ele seria a última pessoa com a qual ela falaria sobre.
- Muito obrigada pela solidariedade pastor Byrnes, mas não há nada que você possa fazer por mim. - Tiffany sorriu minimamente e esperava que alguém aparecesse e tirasse a atenção do pastor dela.
- Se isso te fizer se sentir melhor, falei com sua mãe, ela está bem. - Ele mencionou e ponderou um pouco sobre o que deveria dizer em seguida, mas notou que a garota permaneceu em silêncio por um tempo, ele entendeu que ela esperava que ele disse-lhe que sua mãe perguntou por ela.
- Sim, ela deve estar realmente bem. - Tiffany não escondeu sua decepção, ela ao menos tentou, havia se cansado de tentar transparecer estar bem e era apenas o pastor Byrnes, a pessoa que a conhecia desde o seu nascimento, o que ela poderia esconder dele?
- Ela não perguntou por você, me desculpe mas não posso mentir sobre isso apenas para te fazer se sentir melhor.
- Está tudo bem, eu já esperava por algo assim. - Tiffany respondeu percebendo que a senhora Constance se aproximava e então ficou em silêncio observando as outras pessoas que passavam pela mesa onde ela e o pastor estavam.
- Pastor Byrnes, podemos conversar? - A senhora de idade perguntou ao homem com um pequeno sorriso.
- Oh, claro. - O homem respondeu sorrindo educadamente para a senhora de quase setenta anos de idade que vestia um vestido branco com detalhes bordados em flores. Antes de se levantar, o pastor se virou para a Tiffany e disse: - Não importa o que aconteça, saiba que você não estará sozinha.
Tiffany não disse nada, apenas assentiu com um leve aceno de cabeça vendo o homem se levantar e se afastar juntamente com a senhora enquanto conversavam sobre algo ao qual ela nem teve curiosidade de descobrir sobre. Ela sabia que embora ele quisesse ajudá-la, isso era algo quase que impossível, se tratava de sua família e era algo que apenas eles poderiam resolver.
Os tios de Tiffany se aproximaram então da mesa onde ela estava sentada a um bom tempo já, ambos tinham a cara fechada e pareciam estar emburrados com algo ao qual ela não soube de início. Não se lembrava de ter feito algo errado mas sabia que estavam bravos com ela pois a expressão de sua tia era a de mais puro desagrado.
- Você não está vindo as reuniões da igreja? - Tiffany apenas enrijeceu-se em seu lugar pois não estava à espera disso, ela até mesmo havia se esquecido das benditas reuniões de apoio e embora dissesse isso a seus tios eles não iriam acreditar nela pois desde o início ela foi contra frequentá-las.
- Andei muito ocupada com a escola. - Respondeu desviando o olhar e seus tios apenas se entreolharam sabendo que precisavam impor limites a ela, aquilo não podia continuar daquela forma.
- Greene para que isso funcione você também precisa se esforçar. - O tio dela não era de lhe dar broncas ou ultimatos, isso acontecia apenas quando era necessário e ela gostaria que isso não o fosse agora. Seu tio estava dizendo aquilo pois achava que a convivência deles os quatro não estava dando certo e caso isso ocorresse, Greene teria de arrumar outro lugar para ir morar e não era como se ela tivesse para onde ir. - O pastor nos disse que você frequentou apenas os primeiros três dias e após isso não apareceu mais.
- Não vai nos dizer nada? - A tia da garota já possuía uma postura irritadiça tendo os braços cruzados sobre o peito e olhando para a sobrinha impaciente.
- E isso resolveria algo? - Tiffany murmurou antes de se levantar de seu lugar e olhar para os seus tios. - Ir às reuniões fazia com que eu me sentisse pior do que realmente estava, então apenas desisti de ir e passei a me ocupar mais com os meus deveres dentro da escola, satisfeitos? - Ela então se levantou e sua tia ainda tentou dizer algo.
- Greene... - A mais velha começou, mas o marido apenas colocou uma de suas mãos sobre o ombro esquerdo da esposa a fazendo se calar enquanto que observavam Tiffany se afastar saindo do gramado do jardim da igreja.
Os tios da garota sempre tentaram fazer o melhor por ela, sabiam o quão difícil deveria ser para ela passar por tudo aquilo pois tudo aconteceu de maneira bastante inesperada e agora ela tinha outra família, um pai biológico desconhecido e uma mãe desaparecida e que não se importava com a existência dela. Mas nem todo mundo tinha a vida perfeita e Tiffany não seria a única pessoa no mundo a não ter a família dos sonhos.
Doyoung era o filho mais novo de seis irmãos, ou melhor, ele era o único filho homem da família Kim sendo todas as suas irmãs mais velhas. Seus pais eram farmacêuticos e possuíam uma farmácia no centro da cidade e por terem muitos filhos acabavam por não empregar outras pessoas que não fizessem parte da família. Doyoung quase nunca tomava conta da farmácia, ele estava ocupado demais com os clubes e com o Grêmio estudantil e isso era motivo para que suas irmãs dissessem aos seus pais que ele não merecia ficar responsável pelos negócios da família apenas por que era o único filho homem, mas nem era como se ele realmente quisesse ficar com a farmácia, Doyoung tinha outras metas a serem alcançadas.
Ele planejava ir para a universidade que ficava no estado vizinho apenas para ficar longe de sua família, seus pais quase nunca estavam em casa e quando estavam apenas davam atenção às suas irmãs e todas sempre pareciam estar contra ele. Os fins de semana eram sempre os piores dias da semana pois significava que ele não poderia ir para a escola e logo teria que conviver com sua família, o que o levava a se trancar em seu quarto pelo resto do dia e foi exatamente isso o que ele fez naquele sábado.
O garoto estava terminando o planejamento do jornal do colégio anotando em seu caderno de anotações tudo o que achava que seria possível fazer no curto prazo dado pelo diretor, havia muitos papéis sobre a sua escrivaninha, diferente de muitos jovens, Doyoung não era assim tão apegado a bandas e cantores da atualidade, não havia um poster de artistas da época nas paredes de seu quarto, na verdade o Kim tinha muitos livros, uma estante de livros ocupava toda uma parede de seu quarto e na falta de espaço, prateleiras de livros foram postas na parede oposta em que ficava a cama do rapaz. A escrivaninha ficava quase que na direção da janela e ele até mesmo tinha um telescópio para observar as estrelas e o papel de parede do quarto era azul e havia estrelas fosforescentes no teto, estas estavam ali desde que ele tinha nove anos de idade e assim como o papel de parede nunca foram retiradas. Ele olhou pela janela e notou que suas três irmãs e seu pai estavam saindo quando os viu ir até o carro que estava na calçada da garagem de sua casa e momentos após ouviu toques na porta do quarto.
- Doyoung, iremos à igreja caso queira comer algo, tem lasanha no microondas. - A mãe do garoto falou após dar dois toques contra a madeira da porta do quarto. - Voltaremos mais tarde! - Ela não esperou uma resposta vinda dele.
Passos andando pelo corredor e nas escadas foram ouvidos por Doyoung que segundos depois viu pela janela de seu quarto sua mãe indo até o carro de seu pai e entrando no veículo. Suas outras duas irmãs provavelmente já estavam na igreja ou deveriam ter ido a outro lugar. Era sempre assim, eles saiam e ao menos o chamavam para ir junto e nem era como se ele quisesse ir, mas nunca ser convidado era o mesmo que dizer que ele não fazia parte daquela família e que seus pais não se importavam com ele.
Doyoung então se recordou de como eram as coisas durante a sua infância e em como ele se tornou competitivo com o passar dos anos por ver isso frequentemente dentro de sua casa. Suas irmãs sempre tentavam ser melhores que as outras em tudo, o que fez com que o Kim fizesse o mesmo, tudo começou com os debates estudantis da sétima série, ele não tinha interesse em participar de nenhum deles antes de um fato acontecer durante o baile de primavera.
Doyoung e Tiffany - anteriormente Greene - estudaram juntos desde o jardim de infância, naquela altura eles eram o que poderia se considerar melhores amigos do tipo que iam um a casa do outro nos fins de semana e seus pais até mesmo se conheciam. Tiffany não tinha outras amizades que não fosse o Kim, isso fez com que seus colegas de classe os provocassem dizendo que eles eram "namorados" e bem, Doyoung era bastante tímido na época e Tiffany bastante bruta, ela enfrentava qualquer um que tentasse intimidá-los.
A amizade deles permaneceu intacta até a sétima série e nesta altura Johnny já fazia companhia a eles durante o horário de almoço no colégio e até mesmo era o responsável por defendê-los durante as aulas de educação física em que todos jogavam bolas de queimada uns nos outros e bem, Doyoung era quase como um coelho assustado. Ele sempre jurou que ele e Tiffany estariam juntos sendo melhores amigos por toda a eternidade, era como se ela fizesse parte dele mas então chegou um garoto desconhecido por eles que disse ter sido transferido de outro colégio e só haviam duas escolas em toda cidade, então a primeira conclusão que chegaram foi: rico.
Doyoung soube que Jaehyun seria uma ameaça desde o primeiro momento, até porque desde que ele chegou e a professora pediu para que Tiffany o ajudasse a se adaptar no colégio, o Jung pareceu tomar toda a atenção de sua até então melhor amiga e o ápice foi Jaehyun ter chamado Tiffany para ser seu par no baile de primavera, o Kim se sentiu traído de início e jurou a si mesmo que iria se vingar de alguma forma. Ele e Tiffany haviam jurado um ao outro que iriam ao baile juntos e do nada ela aceitou ir com Jaehyun? O rapaz nem se julgava ser tão rancoroso assim, e tudo acabou durante o debate em que ele venceu Tiffany e tem sido assim até os dias atuais, os dois competindo por tudo dentro daquele colégio.
O rapaz decidiu ir comer a lasanha que sua mãe havia deixado no microondas e aproveitar o resto de tempo que teria sozinho em casa, suas irmãs costumavam fazer bastante bagunça, até mesmo sua irmã mais velha que já tinha quase trinta anos de idade, ela era professora de aeróbica e ainda morava com seus pais que vem tentando convencê-la a se casar com o namorado que é dono da loja de bebidas que ficava a algumas quadras de distância da farmácia da família Kim. Já a segunda irmã mais velha do Kim trabalhava na farmácia dos pais e alugava uma kitnet do outro lado da cidade, o lugar era considerado ruim por ser barra pesada mas ela dizia não ter medo e que os caras eram gente boa, aos fins de semana ela costumava ficar na casa dos pais e por mais diferente que fosse, Doyoung se simpatizava mais com ela do que com as outras pois ela parecia ser alguém totalmente liberal e do tipo que não se importava muito com o tradicionalismo da época, foram várias as vezes em que Doyoung a viu andar com caras usando jaquetas de couro e motos monstruosamente maneiras, ele não sabia de onde sua irmã conhecia aqueles caras.
Alguns meses atrás ela perguntou pela garota que frequentava a casa deles quando o irmão ainda estava no ginásio e ele sabia que ela estava se referindo a Greene. A verdade é que ele nunca contou aos pais que Greene e ele não eram mais amigos e seus pais também não se importaram em perguntar sobre, até porque todo mundo sabia o que havia acontecido com a família Tipton, até mesmo quem não os conhecia tão bem pois a cidade é bastante pequena. E ele se sentiu mal por saber que não poderia fazer nada para ajudá-la, eles não eram mais amigos e tão pouco eram próximos, ela deveria odiar ele e vice versa, mas na prática é muito difícil odiar alguém.
Todas as vezes que vê Tiffany tenta dar o seu melhor para ser alguém detestável ao qual ela não gostaria de estar perto e aparentemente ele é bom em fazer algo assim pois ela nunca pensou o contrário, após a grande discussão que tiveram quando ele venceu o debate na sétima série, os dois nunca mais foram os mesmos e Tiffany não tinha muitos amigos e na época ele estava muito bravo por ela parecer estar colocando Jaehyun no lugar dele e quando ele se arrependeu parecia ser tarde demais para tentar consertar as coisas.
Doyoung não tinha muito o que fazer o dia todo se pudesse ficaria mofando em seu quarto mas ele já estava com fome e por isso foi até a cozinha e ligou o microondas para que a lasanha ficasse quente o suficiente, era um milagre a sua mãe não ter oferecido kimchi a ele, pois segundo a mais velha: comidas americanas e industrializadas faziam mal. Alimentos industrializados raramente eram comprados por seus pais, mas isso não impedia suas irmãs de comer fast food aos sábados e domingos quando seus pais estavam trabalhando na farmácia, ele não dizia nada aos seus pais mas se fosse ao contrário, as gêmeas já teria dedurado ele a muito tempo.
O som do beep do microondas foi ouvido pelo Kim juntamente com o som do telefone que ficava pendurado ao lado da porta de entrada da cozinha. Doyoung tirou a lasanha do microondas e a colocou sobre a bancada da cozinha, indo atender o telefone em seguida.
- Residência dos Kim, quem fala? - Doyoung estranhou alguém estar ligando, até porque eles quase não recebiam ligações e se recebiam elas eram direcionadas aos seus pais por conta da farmácia.
- Oi, Doyoung! Lembra de mim? Sou a Karen! - A voz feminina saudou do outro lado da linha e o Kim então se pôs a pensar.
Karen? A mesma Karen que era vizinha de Nathan Smith? A Karen Wilson que ele beijou durante o bendito jogo da garrafa no porão da casa de Nathan quando ainda estava na Sétima série?
- Ah, olá. - Ele de repente se sentiu tímido por lembrar daquilo pois julgou que nunca mais iria ver ela em algum momento de sua vida, sabia que ela iria se mudar e apenas por isso aceitou o desafio da garrafa, mesmo que ela não fosse a pessoa ao qual ele gostaria ter dado seu primeiro beijo.
- Acredita que ainda tinha o número da sua casa mesmo após tantos anos? - Karen pareceu não ter mudado, ela sempre foi eufórica demais, tanto que chegava a passar dos limites às vezes. Ele não sabia o que pensar a respeito dela na verdade, ela ainda ter o número dele era uma coisa boa ou ruim e bem, ele esperava que fosse por algo bom.
- Ah meio louco não? - Ele coçou a parte traseira da nuca levemente envergonhado mesmo que ela não fosse ver.
- Pois é... você ainda estuda no mesmo lugar? Quer dizer, só há duas escolas de ensino médio nessa droga de cidade... - Ela riu levemente tentando quebrar o gelo pois Doyoung parecia estar um pouco desconfortável e até mesmo surpreso com sua ligação.
- Sim, as coisas não mudaram muito por aqui. - Doyoung respondeu rindo nasalado e se sentindo estranhamente ansioso de repente.
- Sério? Eu voltei para a cidade a cerca de três dias atrás, estou tentando reunir todo o pessoal no pops, ainda tem o número da Greene? Eu liguei para o antigo mas ninguém nunca atendeu, eles se mudaram? - Como ele explicaria para ela que não era mais amigo de Greene e que também não tinha o número da casa dos tios dela?
- Acho que você deveria pedir ao Johnny ou Jaehyun. - Ele murmurou transparecendo em seu tom de voz para a garota que algo havia mudado entre ele e sua antiga melhor amiga.
- Ah... entendi. Mas você pode vir ao Pop 's hoje a noite? O Nathan já confirmou presença, assim como a Chloé Spark que era do clube de Xadrez. - Ela comentou e parecia estar torcendo internamente para que o Kim dissesse que sim.
- Acho que sim. - Ele respondeu não dando uma certeza mas a garota entendeu que ele ainda estava indeciso então não insistiu.
- Então até às 19:30. - Após isso, a garota encerrou a chamada e ele ainda ficou com o telefone sobre o ouvido ouvindo o som do bip antes de colocar o telefone de volta no gancho.
Doyoung não acreditava que Karen Wilson estava tentando reunir todos que estavam na festa de aniversário do Nathan a anos atrás. Ele ainda falava com Jaehyun mas não soube nada a respeito de Johnny desde que ele foi transferido para a escola dos ricos da cidade, o Kim não entendeu muito bem o porquê dos pais do Suh terem o mudado de escola de repente.
A aquela altura a lasanha de Doyoung já havia esfriado novamente enquanto que Tiffany apenas tentava esfriar sua cabeça sentada no meio fio da calçada do outro lado da rua da Igreja, ela se sentia culpada por fazer seus tios se preocuparem com ela, se nada daquilo tivesse acontecido com sua família, provavelmente não vai teria de lidar com nada que vinha acontecendo. Ela olhou para seus pés juntos e diferente de sua sandália radiante e chamativa, ela não tinha nada de brilhante em si, era totalmente fosca por sua própria alma problemática e acabava por levar sua família para a sua escuridão.
- Está tudo bem? - Ela ouviu uma voz já conhecida por si e então levantou a cabeça vendo Johnny parado em pé perto do meio fio da calçada, ele usava uma calça jeans escura e uma camisa na cor preta. Era até cômico pois todos ali usavam roupas claras ou coloridas e parecia estar indo para uma parada gótica. - Vi você sozinha e pensei que algo poderia estar errado.
- Pensou certo então. - A garota suspirou pesarosamente e ele então se sentou ao lado dela no meio fio da calçada, não era perigoso pois a rua não estava assim tão movimentada, não passavam tantos carros por ali naquele horário.
- O que há de errado com minha irmã postiça? - Johnny costumava chamar Greene assim quando eles ainda eram vizinhos e se viam com frequência mas tudo mudou após ela ter ido morar com seus tios e por algum acaso ele passou a ser amigo de Andrew, primo da garota.
- Ninguém mais se lembra disso John. - Ela riu um pouco surpresa por ele ainda se lembrar das piadas internas que os dois tinham e que quando outras pessoas do colégio ouviram achavam totalmente estranho.
- Mas eu me lembro, é estranho o fato de que éramos vizinhos e que nascemos no mesmo dia e ano. - Completou ele sentindo a nostalgia de um tempo que não voltará mais, o ensino médio estava chegando ao fim e Tiffany provavelmente iria para uma boa universidade em outro estado e então tudo o que restaria seriam lembranças de muitos aniversários, eram como se fossem irmãos gêmeos pois tinham os mesmos amigos na escola e logo as festas de aniversário eram sempre em conjunto, havia até se tornado um hábito entre eles e ambos sentiram falta disso de repente pois tudo começou a ficar difícil, ser adolescente era difícil e o ensino médio não era nada mágico. Eles permaneceram em silêncio por dois ou três minutos e então Johnny decidiu dizer algo. - Meus pais decidiram que eu deveria voltar para a antiga escola.
- Porque? Você não era bom o bastante para a elite da cidade? - Tiffany perguntou um pouco confusa pois os pais do Suh simplesmente o mudaram de escola do nada, eles tinha um bom emprego e logo tinham condições de bancar uma escola para o filho, mas agora Johnny voltaria para a antiga escola do nada?
- Sinto falta dos antigos amigos que fiz lá e também é bem mais próximo da minha casa. - Johnny não diria a verdade a Greene, muitas coisas haviam acontecido durante aquele período de tempo e embora conhecesse ela desde sempre, não queria jogar seus problemas para cima dela, ela já tinha coisas demais para se preocupar.
- Então, seja bem vindo novamente. - Ela sorriu minimamente e Johnny apenas agradeceu com um meio sorriso, ela não parecia ter mudado nada e na noite em que saíram percebeu o quão pensativa ela costumava ficar, ela era a mesma e ao mesmo tempo não era.
- Ainda não se dá bem com Doyoung? - Johnny suspeitava que não, visto que assim que perguntou sobre o Kim, Tiffany enrugou o nariz e riu em descrença.
- Kim Doyoung e eu nos darmos bem novamente é algo impossível. - Ela não tinha nenhum tipo de expressão de desgosto ou coisa parecida em seu tom de voz, apenas um súbito vazio se fez presente de repente, ela e Doyoung discutiram por algo bobo e se magoaram, no entanto ele pareceu não querê-la mais por perto e ela entendeu o lado dele.
- Nunca entendi o que aconteceu com vocês dois. - Johnny sempre pensou que Tiffany e Doyoung estariam sempre juntos, eles pareciam ser inseparáveis, haviam até burburinhos de que os dois provavelmente seriam o tipo de amigos que se tornariam namorados durante o ensino médio mas então tudo desandou na sétima série.
Talvez a amizade deles tenha se desgastado ou Doyoung apenas teve outro motivo maior pois ele parecia gostar muito de Tiffany, mas ninguém nunca saberia o que se passava na cabeça do Kim a não ser ele mesmo.
Yuta veio andando da casa de Jaehyun até a Igreja e como ele estava determinado a encontrar Tiffany foi direto para o jardim da igreja não percebendo que ela estava sentada junto com Johnny na calçada do outro lado da rua no meio fio. Haviam muitas pessoas no jardim da igreja, ele avistou Andrew perto de um garoto estranho que parecia ser um gótico pois ele estava todo de preto e sua expressão era de puro mau-humor, sem pensar muito o Nakamoto apenas se aproximou da árvore que fazia uma grande sombra e também era onde os dois estavam parados.
- Ei, você sabe onde está a sua prima? - Yuta foi direto ao assunto e Andrew apenas se aproximou do Nakamoto colocando um de seus braços sobre o ombro do outro.
- Na verdade não, mas que tal a gente conversar sobre a próxima temporada. - O rapaz perguntou como se os dois fossem melhores amigos desde sempre e super próximos e Yuta apenas o olhou sem graça.
- Andrew, você sabe que não vai rolar. - Stanley riu nasalado ao ouvir a resposta de Yuta e Andrew apenas suspirou decepcionado.
- Se você me der uma força e conversar com o treinador talvez eu saia do banco. - Andrew se afastou do Nakamoto e passou as mãos pelo cabelo em um sinal de desespero, ele não queria se sentir inútil mas era o que ele parecia ser.
- Ele não irá substituir o Nathan por você e sabe bem disso. - Yuta comentou como se aquilo fosse óbvio até porque Nathan Smith era o filho do treinador do time de beisebol.
- Então não vou te dizer onde está minha prima. - Andrew cruzou os braços na altura do peito e Yuta apenas suspirou sabendo que ele estava fazendo uma chantagem barata ou uma troca de favores mas ele não esperava que seu amigo fosse tão intolerante a coisas idiotas ou talvez eles esperassem.
- Ela está sentada no meio fio do outro lado da rua junto com Johnny, se fosse menos cego teria visto eles. - Stanley falou pegando um cigarro e isqueiro de um dos bolsos de sua calça e acendendo-o em seguida e a expressão de Andrew em direção ao amigo era de incredulidade.
- Stanley, você é mesmo meu amigo?
- Ah, obrigado pela informação. - Yuta falou antes de se afastar dos dois que começaram a discutir sobre o ocorrido.
Yuta estava determinado a saber algo sobre a tal garota da rádio e Tiffany parecia estar escondendo algo dele, mas o que esperar de uma garota que mudou de nome de repente? Se ela sabia de algo porque não queria dizer a ele? Não era como se isso fosse sobre. E então tudo o que Jaehyun disse anteriormente veio a sua mente e ele de repente sentiu como se seus neurônios finalmente tivessem voltado a funcionar.
"Greene está te fazendo de bobo."
"Está tudo por debaixo do seu nariz"
E então ele vê Tiffany sentada no meio fio da calçada do outro lado da rua juntamente com Johnny e uma voz no interior de sua mente diz que ela poderia ser sim a pessoa que ele procurava e ao mesmo tempo outra dizia que não, que ele estava equivocado e que deveria continuar procurando. Mas além da dúvida, a pior sensação era a de decepção.
➖NOTA➖
Eu relutei muito em voltar a atualizar essa fanfic, pois por mais que ame ela, sei o quão difícil pode ser compreendê-la, ainda mais por se passar nos anos 80, mas eu amo tanto ela que não consigo ignorar a existência dela assim ♥️🤧
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