III. 1984
➖ 03 ➖
A família Tipton sempre comparecia às reuniões da igreja, os pais de Tiffany — anteriormente batizada como Greene — eram muito presentes na vida escolar da filha e sempre se mostraram ser bastante dedicados, atenciosos com o bem estar da mesma e a garota se julgava ser muito sortuda pelos pais que tinha, mas tudo começou a desandar depois que o pai da garota sofreu um surto de estresse em seu local de trabalho, o mesmo havia acabado de ser promovido a diretor executivo do setor de finanças da empresa em que trabalhava na época.
Era fato que Jeremy Tipton era um funcionário exemplar, ele se cobrava muito no escritório em que trabalhava e apenas queria que sua família tivesse tudo do bom e do melhor, mas nos últimos meses estava se sentindo exausto, insuficiente, como se toda aquela carga de responsabilidade fosse demais para ele suportar e isso foi o bastante para o mesmo sofrer um ataque de estresse, ele realmente sentia que sua vida se baseava apenas em uma coisa: trabalho.
E após aquilo nada mais seria o mesmo para aquela família, Norma Tipton — mãe de Greene — se sentia exatamente da mesma forma mas julgava que seu marido estava apenas vendo o lado dele, era como se todas as terapias de casal não estivessem surtindo efeito, ela havia pedido demissão do Jornal em que trabalhava como colunista apenas para se tornar uma mãe de família, a mulher queria poder se dedicar ao máximo a algo que ela havia construído ao longo dos anos, Greene já era uma adolescente e ela sabia o quão importante era sua presença para a filha, mas ela ao menos se lembrava de como era viver por si própria, e então com a demissão do Sr. Tipton a família começou a sentir o peso das contas da casa e também a falta de dinheiro sendo a principal causa das discussões dos dois fez com que o ambiente familiar perfeito e harmonioso se tornasse tóxico e insuportável. A garota viu o casamento de seus pais ruir pouco a pouco enquanto tentava não levar esses problemas para outros lugares como o colégio, por exemplo.
Eles discutiam o tempo todo e a todo momento e nada melhorou até que Norma resolveu pedir o divórcio ao marido, ela já não sentia que aquilo iria passar e também já tinha conhecido outro cara, foi exatamente isso que disse ao marido na tarde mais desastrosa que ficou marcada na memória de Tiffany, a memória que a deixaria presa no tempo e diante a uma desilusão, sua família nunca fora perfeita da forma ao qual imaginou, seus pais nunca foram realmente perfeitos e tão pouco se importaram em como ela ficaria após aquilo.
Ela sempre voltava da escola a pé ao lado de Johnny, eles eram vizinhos e estudavam juntos, talvez Johnny fosse um dos únicos garotos da escola que ela conversasse naturalmente e não se sentisse desconfortável pois todos pareciam ser idiotas e talvez ele participar dos clubes da escola tenha feito com que eles estabelecessem um certo coleguismo, embora eles tenham meio que "crescido juntos".
Ao chegarem em frente a casa de cor marrom escura a garota já podia ouvir os gritos de seus pais e se aquilo não fosse constrangedor o suficiente poderia ficar ainda mais, a mesma apenas suspirou cansada e Johnny não disse nada, na verdade ele já havia ouvido uma conversa dos seus pais de que os Tipton estavam em uma crise e que tinham pena de Greene por estar no meio disso tudo, não que ele tivesse pena da garota, pois talvez ela fosse mais forte do que parecesse e era bastante óbvio para ele que ela não iria se deixar ser atingida pela situação atual de seus pais, Greene nunca foi o tipo de garota que se deu por vencida e também não é do tipo que apenas abaixa a cabeça e se encolhe em um canto apenas para chorar como se não houvesse amanhã e caso ela fizesse algo assim, seria totalmente compreensível dado tais circunstâncias.
— Tem certeza que quer entrar? — A pergunta de Johnny a fez sair de seu transe momentâneo e a mesma apenas sorriu sem graça, não importava o momento que ela escolhesse entrar em casa ou não, seria exatamente a mesma coisa, sua família estava desmoronando aos poucos e ela sentia que o único pilar que sustentava tudo era ela, se seus pais não se separam antes era por causa dela. Pelo menos, era isso o que ela pensava.
— Está tudo bem, John. Nos vemos na escola. — Ela falou com um meio sorriso e o rapaz apenas assentiu antes de caminhar em direção a sua casa que era mesmo ao lado da casa da garota.
Quando a mesma foi adentrar sua casa, a porta da frente de abriu de maneira brusca e sua mãe saiu segurando duas malas em suas mãos, a garota sentia seu coração bater em um ritmo descompassado, toda a adrenalina havia tomado conta de sua corrente sanguínea e ela não sabia o que pensar. A mulher olhou-a com certa tristeza e soube que a partir dali sua filha poderia odiá-la pelo resto de sua vida. Norma não sabia muito bem o que dizer, ela apenas sentia vergonha.
— Greene...— A mulher murmurou baixo e a garota apenas olhou para as ambas malas amarelas, aquelas em que sua mãe havia comprado a alguns meses atrás com a desculpa de que seriam para uma possível viagem em família, mas a situação financeira deles não era favorável para fazer uma viagem em família, logo Greene percebeu que sua mãe estava mentindo e agora ela sabia qual a real finalidade daquelas malas.
— O que significa isto? — A garota perguntou sem uma expressão em seu rosto, ela não conseguia acreditar e por mais que quisesse tirar uma conclusão nunca conseguiria pois os gritos do seu pai se fizeram presentes.
— Isto é o que sua mãe fará com você, Greene!
— CALA A BOCA JEREMY! — A mulher gritou para o até então marido e Greene apenas se manteve paralisada entre ambos, era como se o peso existente em sua mochila não existisse mais pois o peso maior havia ficado em sua mente em meio aos gritos de seus pais.
— VOCÊ VAI MESMO DEIXAR A SUA FILHA? — O Sr. Tipton estava irado, era como se fosse outro homem ali e não o pai amoroso da família, Greene ficou assustada com aquela face de seu pai, era como ver um monstro raivoso bem em sua frente sob a luz da noite.
— Não acredite no que ele diz. — Norma suplicou olhando para a filha que apenas a olhou confusa, ela em momento algum disse a Greene que a levaria consigo e nem mesmo disse que voltaria e a garota não era burra, ela sabia que sua mãe não a queria a partir do momento que ela começou a se desculpar.
— GREENE, VOCÊ NÃO É MINHA FILHA, SUA MÃE É UMA MENTIROSA, UMA FARSA, ELA MENTIU POR 16 ANOS! ELA NOS ENGANOU E AGORA VAI FUGIR COM OUTRO CARA! — Ele gritou em plenos pulmões com toda a raiva e desilusão sendo colocados para fora, e a mulher apenas chorava como se não houvesse amanhã, ela não disse nada, ao menos olhou para a filha que sentia o chão abaixo dos seus pés sumir.
Aquilo não podia ser verdade não é mesmo? Sua mãe era sua mãe e seu pai era o seu pai, ela sentia um bolo se formar em sua garganta e um sentimento de tristeza sem fim tomar conta de si, aquilo doía como o inferno. Ela não ouvia mais nada, não conseguia ouvir o seu pai dizendo um milhão de barbaridades e chamando a atenção dos vizinhos que os observavam das janelas de suas casas, sua mãe apenas passou por si e entrou no seu carro estacionado na garagem depois de colocar suas malas dentro do porta malas do mesmo e quando Greene percebeu que a mesma estava indo embora de verdade, ela entrou em pânico.
— Mãe! — A garota chamou mas a mulher apenas ligou o carro dando partida e por mais que ela tenha chamado por sua mãe demasiadas vezes, a mesma não parou.
Greene não acreditava que aquilo estava acontecendo, sua mãe ignorou todos os seus chamados mesmo após ela sair correndo atrás do carro no meio da rua como se aquilo fosse fazê-la parar, a garota não entendia o que estava acontecendo e em como a sua mãe a estava deixando para trás, ela só sentia que estava sendo abandonada do nada, Greene achou que era a prioridade de seus pais mas após saber daquilo, notou que era apenas um meio de sua mãe manter seu casamento usando sua filha, a garota nem mesmo sabe como ela conseguiu mentir por tanto tempo.
Naquela mesma noite, os seus tios apareceram, Jeremy ligou para a irmã de Norma dizendo para a mesma ir buscar Greene, que ela não era sua responsabilidade e que ele não conseguia olhar para a filha de outro homem, ouvir aquilo fez com que a garota se sentisse ainda pior e Greene começou a se culpar por coisas que ela nem ao menos tinha culpa. Jeremy Tipton não era seu pai biológico e sua mãe sabia disso e mentiu sobre durante anos e após ser descoberta ainda teve a audácia de fugir deixando a filha para trás.
— Greene, eu sinto muito por isto. — Foi o que sua tia disse assim que chegou a sua casa, a mesma já havia arrumado seus pertences, ela sequer conseguiu chorar.
— Tudo bem. — Essa foi a resposta da garota, ela não sabia o que dizer, ela apenas sentia que estava tendo um pesadelo muito ruim e tudo o que ela mais desejava era acordar daquele pesadelo.
Após aquela noite tudo mudou, Greene resolveu que deveria mudar seu nome, não fazia sentido ela ter o nome da mãe de Jeremy se ela nem mesmo era filha dele e ela realmente só gostava de seu nome por ser o mesmo de sua avó que nunca realmente foi de fato sua parente.
A separação dos pais de Greene rapidamente chegaram aos ouvidos dos seus colegas da escola, a garota ficou boas duas semanas sem frequentar as aulas, não queria que os outros a olhassem com pena ou desdém, era tudo o que ela menos precisava no momento. Seus tios tentavam fazê-la esquecer daquele episódio mas seria realmente difícil se esquecer de algo que mudou a vida dela drasticamente.
E mesmo passado quase um ano após aquele fatídico dia, Tiffany não gosta que seus tios toquem nesse assunto, ela não sabe nada sobre Jeremy Tipton, e muito menos sua mãe que nunca fez questão de fazer uma única ligação a sua irmã para saber algo a respeito da filha.
➖ NOTA ➖
O capítulo que eu mais gosto é um dos mais tristes porém mais relevantes para explicar futuros acontecimentos da história.
Espero que tenham gostado!
Kisses, Elly!
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