XI
2 anos depois...
2 de Novembro.
Me olhei no espelho uma última vez, checando minha aparência e sentindo o desgosto por estar tão arrumada. O vestido longo negro cobria meus pés descalços, meu cabelo estava amarrado em um coque formal, deixando meu rosto completamente a mostra. Havia uma maquiagem leve cobrindo meu rosto, mas o que chamava atenção nele era a longa cicatriz que começava no canto exterior de minha sobrancelha esquerda, descendo até o canto direito de meus lábios, cruzando toda minha face.
Não havia deixado Winnie curar a ferida completamente, pedindo que deixasse a cicatriz em meu rosto. Era uma lembrança de minha falha e eu me castigava ao olhar para aquela cicatriz todos os dias. Era um aviso para que eu não falhasse novamente.
Soltei o ar lentamente, fechando os olhos. Precisava me acalmar para o que viria a fazer. Precisava convencer Kanope de que a colônia Egípcia deveria tomar um lado e entrar na guerra. Estávamos perdendo, precisávamos de aliados.
Saí do quarto, calçando sapatilhas antes de fazê-lo, desejando poder ficar descalça, e desci as escadas do pequeno hotel, encontrando Ezekiel completamente arrumado na frente de um carro. Ele me olhou rapidamente, sorrindo para mim, mas eu não sorri de volta. Pude vê-lo olhar para o chão, parecendo tristonho, mas logo abriu a porta do carro para que eu entrasse.
༶
Olhei em volta, vendo não só vampiros, mas também lobisomens, alguns Ninphs e animorfos - todos bebendo e conversando, alguns até dançando com seus pares alguma música orquestral no meio do salão. Assim que perceberam minha presença, pude ouvir os murmúrios começarem e olhares curiosos eram dirigidos a mim. Mas eu não podia ligar menos.
"Olivia..." ouvi uma voz feminina vinda de algum lugar ao meu lado e virei o rosto, vendo uma vampira próxima a mim "A rainha dos vampiros. Não a esperávamos aqui hoje."
"Preciso falar com seu líder." fui direto ao ponto, vendo a vampira arregalar os olhos "Se pudesse comunicar a ele que estou aqui ficaria agradecida."
A garota pareceu soltar uma leve risada, me fazendo franzir o cenho. "Você não tem poder aqui, rainha."
Cerrei os olhos, usando meu poder e controlando o corpo da vampira, a fazendo cair de joelhos. As pessoas que olhavam curiosas para mim observaram a cena e eu pude ouvir os murmúrios aumentarem.
"Mas tenho poder sobre você." respondi, deixando minha expressão imparcial "Avise Kanope que estou aqui. Diga a ele que eu não aceito um não como resposta."
Deixei que a garota ficasse livre, vendo-a assentir rapidamente e se perder no meio da multidão. Senti Ezekiel segurar meu braço com o dele, me conduzindo para o meio da multidão. O olhei de relance, vendo-o sacudir a cabeça.
"Tenha paciência, Olivia... Estamos aqui à negócios."
"Nós dois sabemos como negociações entre nossa raça termina, Ezekiel." rolei os olhos, finalmente virando o rosto para ele "Só quero deixar claro que não serei eu a cair."
Ezekiel respirou fundo, virando seus olhos azuis para mim. Eles pareciam preocupados, estavam assim há dois anos sempre que olhavam para mim. Desviei o olhar rapidamente, mantendo a seriedade e ignorando a preocupação dele. Eu não merecia aquela preocupação.
"Deviamos ter vindo outro dia. Hoje é seu aniversário, deveria estar comemorando..."
"Não comemoro meu aniversário há dois anos, Ezekiel. Não vou começar agora."
O velho balançou a cabeça, desapontado, e me soltou, segurando minha mão para chamar minha atenção. "Vou pôr o plano em ação. Tome cuidado, volto já."
Assenti, vendo-o se afastar, e olhei em volta, vendo que todos ainda me olhavam discretamente. Caminhei entre as pessoas ali, vendo todos abrindo caminho para mim enquanto eu andava.
Ao lado do salão haviam aluns pequenos cubículos com cortinas que os escondiam das pessoas que se encontravam no salão, e, ao entrar num deles, segurei as cortinas com força, vendo que os olhares de todos ainda estavam em mim. Principalmente em meu rosto, observando a longa cicatriz.
Observando minha vergonha.
Grunhi antes de fechar as cortinas com força, dando um passo para trás e baixando a cabeça enquanto olhava para minhas próprias mãos. Fechei os olhos e balancei a cabeça numa tentativa de me acalmar e deixar aqueles olhares de lado. Assim que me virei para me sentar no assento de couro vermelho, vi ele sentado ali, me encarando.
Arin olhava para mim com seus olhos escuros tristes, e as chamas deles apagadas. Engoli em seco, pensando em desistir do plano e correr para não ter que lidar com mais uma alucinação. Parecia ser um meio de minha mente de me mostrar minhas culpas, para que eu as perdoassem, mas como poderia me perdoar?
Lembrava da primeira vez que Arin apareceu em meio às minhas alucinações. Ele estava parado do lado de fora da casa de Andrei na Rússia, olhando diretamente para a janela que eu olhava. Lembrava da esperança de que fosse ele e de correr para fora da casa, vendo Ezekiel me acompanhar, preocupado. Lembrava de pular em cima de Arin. Lembrava de cair no chão.
Lembrava da dor.
E ele nunca deixou de me aparecer, e ele também nunca falou. Talvez a pior parte fosse o silêncio, fosse a falta de respostas aos meus gritos de raiva e dor. Arin responderia. Ele apenas me olhava, parecendo sentir pena.
Me sentei longe dele, apoiando meus braços na mesa redonda que ficava no centro do cubículo, olhando para um canto qualquer que não fosse ele e sua pena. Eu não precisava de pena. Eu não merecia pena.
O barulho das cortinas se abrindo me assustou e Ezekiel franziu o cenho antes de fechar as cortinas novamente e se sentar onde a alucinação antes estava sentada.
"Está tudo bem?" ergui as sobrancelhas para ele, vendo ele menear a cabeça "Claro. Pergunta idiota."
"Conseguiu?" perguntei, me referindo ao plano que ele se encarregou de concretizar
"Consegui. No entanto, tive que paquerar uma vampira que estava na cozinha para que ela não desconfiasse." ele fez uma careta, balançando a cabeça logo em seguida e eu me permiti dar um sorriso, coisa que era rara
"Te devo uma então."
"Uma?" ele levantou as sobrancelhas, brincando com a quantidade de vezes em que ele havia me ajudado
"Uma vida." murmurei, vendo-o me olhar com carinho e colocar a mão em cima da mesa para que eu a segurasse e eu o fiz
"Vai dar tudo certo." ele sussurrou, acariciando as costas de minha mão com seu polegar "Vai dar tudo certo, criança."
"Na última vez que pensei isso, perdemos Lorell e quase a guerra toda." desviei meu olhar para a madeira escura da mesa, trincando o maxilar
Antes que Ezekiel pudesse falar algo mais, as cortinas se abriram novamente e um homem entrou no cubículo, nos olhando com um sorriso esperto no rosto. Rolei os olhos para as vestimentas extravagantes de Kanope - um terno completamente violeta com sapatos sociais brilhantes, e seus cabelos completamente trançados com contas de cores diferentes. Sua pele morena estava coberta de tatuagens coloridas que eram escondidas em sua maioria pelo terno, mas eu podia ver um símbolo tatuado em vermelho bem abaixo de seu olho direito que me fez o olhar com as sobrancelhas erguidas.
Era o símbolo dos vampiros que Azriel usava nos tempos antigos - o qual apenas ouvi histórias já que, quando fui criada, ele já não mais era usado - de cabeça para baixo. O símbolo de Azriel era um 'A' que lembrava o desenho de uma estrela incompleta, já o símbolo abaixo do olho de Kenope parecia um 'V'. Lembrava de ouvir falar sobre o novo símbolo da colônia independente e que Kanope o descrevia como o V que representava os vampiros como uma raça e não como uma propriedade de Azriel.
Aquilo era uma das únicas coisas que eu ainda admirava em Kanope. Outra coisa que eu admirava era o fato dele ter se levantado contra Azriel e o domínio irrevogável que ele parecia ter.
"Minha senhora," Kanope falou, se curvando levemente para mim enquanto me arrumava em meu lugar "é uma honra tê-la aqui em minha... humilde colônia."
Ele se sentou de frente a mim, Ezekiel vindo para o meio para que ele pudesse fazer aquilo, e me lançou um sorriso parecendo se divertir com minha presença.
"Você já esteve na colônia egípcia, Olivia?" ele perguntou, parecendo genuinamente curioso
"Não. Meus afazeres eram estritamente nos Estados Unidos." respondi, decidindo deixar que ele mantivesse a conversa casual "Além do mais, a colônia egípcia era território proibido para mim sendo quem eu era."
"Ah, sim. Entendo." ele sorriu mais uma vez, mas, dessa vez, pude ver um pouco de um alerta silêncioso de perigo em seus olhos "O que não entendo é o que faz aqui esta noite, em minha colônia. Adoraria acreditar que veio apenas para festejar e decidiu me conhecer."
Antes que eu respondesse, um garçom entrou pelas cortinas, segurando uma bandeja com três taças que, pelo cheiro, continham sangue. Kanope gesticulou para que ele nos servisse e logo tinhamos taças em nossas frentes. Kanope tomou um gole de sua taça e eu sorri levemente, movendo meu dedo pelas bordas da minha.
"Estou aqui porque tenho uma proposta para você, Kanope." levantei meus olhos para encarar os dele, vendo que ele já sabia o que eu tinha a falar "Traga as forças egípcias para a guerra. Vocês são alguns dos vampiros mais fortes, e sua ajuda seria crucial."
Kanope não pareceu surpreso, apenas balançou a cabeça, dando de ombros. "Achei que as vezes em que recusei as ofertas dos vampiros que você mandava até aqui já deveriam a ter feito perceber que não irei colocar meus vampiros em sua guerra."
"Minha guerra?" cerrei os olhos "O que pensa que vai acontecer com você se perdermos? Que sua colônia será uma utopia em meio à destruição dos Ghouls?"
Ele deu de ombros, dando mais um gole em sua taça. "Lutarei para que seja."
"Não seja estúpido, Kanope."
"Estúpido seria eu me juntar ao lado que está perdendo." sua voz soou dura, assim como seu olhar "Desculpe se não confio muito em suas forças, minha senhora, mas vocês já perderam Lorell, o ser mais poderoso do universo, e ouvi da extinção dos Daemones. Por quê, em meio a todas essas perdas, me juntaria justamente a você?"
"Porque, se não o fizer, eu assumirei o controle da colônia e a colocarei da mesma maneira." deixei que a ameaça se fizesse clara em meu olhar, vendo-o inclinar levemente a cabeça
Kanope então riu, riu como se eu tivesse lhe contado a melhor piada que ele já havia ouvido, balançando a cabeça ao parar de rir e tomando o resto do conteúdo de sua taça antes que voltasse a falar.
"Ora, Olivia... Acha mesmo que seria capaz de me derrotar?" ele falava, mas dei um sorriso vitorioso ao notar o suor que começava a se formar em sua testa e o movimento de sua mão movendo o colarinho do terno para longe de seu pescoço, como se sentisse desconforto "Soube que era uma boa lutadora, mas tenha em mente que seria você e seu amiguinho contra eu, um vampiro séculos mais velho que você, e uma colônia inteira. Venci Azriel uma vez, vencer você seria fácil."
"Não preciso lutar para derrotá-lo, Kanope. Já venci." estendi minha mão para Ezekiel, vendo-o jogar um pequeno frasco com um líquido azul para mim
"O que-"
"Creio que esteja desconfortável. Posso ver o suor em sua testa..." dei de ombros, o olhando intensamente e chamando sua atenção "É o que acontece quando se está intoxicado por sangue de lobisomem."
Kanope não reagiu por alguns segundos, logo depois olhando para sua taça com olhos arregalados, encostando sua mão em sua garganta, como se o incomodo houvesse aumentado agora que sabia o que havia ingerido.
"Você tem sorte, Kanope, o fato do sangue estar misturado com sangue humano torna seus efeitos mais lentos. O que o dá a chance de fazer uma decisão." movi o pequeno frasco em meus dedos "Anuncie para todos agora mesmo que a colônia egípcia entrará na guerra e ganhe esse antídoto para a intoxicação, ou morra e me dê o poder."
"Você não pode fazer isso."
"Estou desesperada, Kanope. Ajude a pobre donzela em perigo." falei com um tom dramático falso, logo depois o olhando com dureza "Ou morra e dê a ela o poder."
Kanope tentou sair do cubículo, sendo segurado por Ezekiel. Ele me olhou com raiva, parecendo ficar pior a cada segundo. Ele grunhiu, estendendo a mão para que eu o desse o antídoto, e eu sorri, balançando a cabeça.
"Quero o ouvir falando."
Pude ouvi-lo grunhir mais uma vez antes que ele assentisse, começando a se levantar e gesticulando para que nós o acompanhassemos. Ele caminhou até o pequeno palco onde uma mulher cantava algo, mandando que a mulher saísse para que ele pudesse usar o microfone. Me mantive ao seu lado durante aquilo, vendo-o sorrir para as pessoas ali, parecendo fingir que estava tudo bem.
"Boa noite à todos. Eu preciso interromper a festa para um anunciado importante." ele me olhou de relance e eu sorri, fingindo estar contente em estar ali "Tive uma reunião com Olivia, a atual líder dos vampiros a fora, e ela me convenceu com alguns argumentos bem convincentes de que precisávamos ajudar nossos irmãos na guerra. Então, declaro que, a partir de hoje, a colônia egípcia estará na guerra contra os Ghouls em um esforço para que possamos proteger nossa casa."
Algumas pessoas aplaudiram enquanto outras não pareciam felizes com a notícia. Kanope logo se virou para mim, ficando sério instantaneamente, estendendo a mão para mim.
"Você é bom com as palavras, Kanope." falei, vendo-o reclamar enquanto pegava o frasco de minha mão
"E você é uma filha da mãe, Olivia Wright."
"Lembre-se que agora responde a mim até que esta guerra termine. E não se preocupe, se vencermos não pretendo ficar com sua colônia. Vocês poderão voltar ao seu status de independência." voltei a ficar séria, vendo-o recuar levemente com o fogo que brilhava por trás de meus olhos "Quando for preciso darei um jeito de que seja notificado."
Comecei a andar para longe dele, indo em direção até Ezekiel, que já me esperava às portas do salão. Parei ao ouvir a voz de Kenope me chamando e me virei para olhá-lo.
"Acredita que pode vencer essa guerra?"
Trinquei o maxilar, sabendo que minha resposta para aquela pergunta era 'não'. Eu já não tinha mais esperança.
"Acredito que posso lutar, e é isso que farei." dei a resposta mais sincera que poderia dar para aquilo e me virei novamente, voltando a caminhar na direção de Ezekiel, pronta para deixar aquele lugar.
༶
Ezekiel parou o carro na frente de um pequeno bar que estava cheio àquela hora da noite. Com a proteção da colônia independente egípcia, os humanos e outras criaturas que viviam naquela área tinham mais liberdade para viverem.
Olhei para Ezekiel, franzindo o cenho, o questionando silenciosamente o que fazíamos ali, vendo-o desligar o carro e se preparar para sair.
"Vamos comemorar seu aniversário." ele disse, abrindo a porta do carro para sair e eu balancei a cabeça
"Ezekiel-"
"Não. Sem objeções." ele se virou para mim, me olhando seriamente "Não quero ouvir uma palavra de objeção enquanto estivermos aqui. Sei que é um dom seu, reclamar de tudo, mas peço que deixe esse seu talento nato para outro dia."
Virei o rosto, franzindo os lábios e soltei o ar com força. "Eu preciso descansar, Ezekiel."
"Você precisa descansar sua mente, Olivia, e indo para o hotel não irá a permitir isso porque, no momento em que você ficar sozinha, você vai começar a se castigar mentalmente." ele falou num tom sério "Apenas beba um pouco comigo. Vamos fingir que é apenas um bom encontro entre amigos."
Ele saiu do carro, rapidamente correndo até minha porta e a abrindo para mim. Cruzei os braços, ainda relutante a sair e Ezekiel grunhiu, batendo os dedos na porta do carro, impaciente, esperando que eu finalmente saísse.
Quando não dei sinal de que iria me mexer, Ezekiel pareceu desistir de mim e balançou a cabeça. "Tudo bem. Se não quiser sair, fique aí e lamente sua existência. Estarei no bar se mudar de ideia."
Ele fechou a porta do quarto, me deixando sozinha ali, e pude vê-lo entrar no bar apressadamente. Fechei os olhos, encostando a cabeça no encosto do banco, sentindo o vazio me tomar. Eu sabia que Ezekiel queria me fazer me sentir melhor, queria me tirar daquele estado de estupor que em que eu me encontrava.
Mas a verdade era que eu não queria sair dele. Eu merecia me sentir daquela maneira. Eu merecia sofrer por tudo aquilo. A guerra estava tomando um rumo que levaria ao fim do mundo como eu o conhecia, tudo porque não consegui fazer o que tinha de fazer naquele maldito dia em que perdemos Lorell.
Lembrava de Winnie, Alya e Hymn tentando me acalmar para que eu não me sentisse tão mal, dizendo que Lorell não estava verdadeiramente morta.
"Lorell, assim como Khoz, não pode morrer. Um não existe sem o outro. Ela só está debilitada, assim como Khoz esteve um dia." Winnie falou, sorrindo gentilmente para mim
Mas, mesmo não estando morta, estava debilitada. Sem Lorell, os Ninphs enfraqueciam aos poucos. Alguns deles já estavam fracos, outros lutavam para se manterem de pé e lutar. Seus olhos estavam se apagando aos poucos. Eles estavam se tornando cinzas e sem vida.
E, em minha cabeça, era tudo minha culpa.
Passei a mão pela cicatriz, podendo sentir o fantasma da dor do dia em que Khoz me machucou daquele jeito. Se não fosse por Winnie, eu provavelmente estaria cega do olho esquerdo.
Olhei mais uma vez para o bar, vendo algumas pessoas rindo, embriagadas, percebendo que Ezekiel não voltaria para me buscar. Rolei os olhos, descendo do carro e indo atrás dele, recebendo olhares curiosos e espantados de todos que estavam ali.
Uma música alta tocava no bar, incomodando um pouco meus ouvidos, mas me mantive olhando para tudo ali, encontrando Ezekiel sentado numa das mesas mais afastadas. Caminhei calmamente até ele, me sentando à sua frente, vendo-o me olhar com as sobrancelhas erguidas.
"Não pense que quero estar aqui..." murmurei, vendo-o sacudir a cabeça com um sorriso no rosto
"Eu disse que não queria ouvir suas reclamações, não disse?" ele deu de ombros "Não é dia de reclamações, Olivia. É seu aniversário. Aproveite."
"Por que toda essa insistência em me fazer comemorar meu aniversário, Ezekiel?"
"Porque estou preocupado com você, Olivia." ele engoliu em seco "Essa não é você. Você está agindo como Azriel, e isso é mais que preocupante."
Em outros tempos eu teria me irritado, teria o repreendido por me comparar a Azriel, mas eu já não ligava mais. Baixei meus olhos para a mesa, dando um sorriso sem humor algum.
"Talvez isso que eu tivesse que ser desde o começo." levantei os olhos, vendo-o arregalar os dele "Talvez seja esse meu propósito."
Ezekiel me examinou por mais alguns segundos, parecendo se entristecer. "Quando foi que a mulher mais forte que eu já conheci desistiu de tudo?"
"Quando ela perdeu." respondi seriamente "Quando o mundo mostrou a ela que não valia a pena."
Ele balançou a cabeça, frustrado, e eu apenas afundei mais em minha cadeira, o vazio continuando a me incomodar. O olhei com atenção quando ouvi uma leve risada sair de seus lábios, e logo notei algumas lágrimas caindo de seus olhos, me deixando tensa.
"Não diga isso, por favor..." ele balançou a cabeça, me olhando com intensidade "Não me deixe acreditar que perdi você também."
Não o respondi, apenas me levantei de minha cadeira e me aproximei dele, o abraçando enquanto ele ainda estava sentado, sentindo seus braços me apertarem com força enquanto ele soluçava com a cabeça encostada em meu estômago.
Engoli em seco, sentindo meu coração doer, sabendo que eu havia causado aquelas lágrimas a ele e me senti ainda pior. O soltei, vendo-o me olhar confuso, e não controlei as lágrimas que se formaram em meus olhos.
Antes que ele pudesse falar alguma coisa, saí do bar a passos largos, sabendo que Ezekiel agora me seguia. Eu não aguentava mais todo aquele peso. Eu não aguentava mais ser a razão das pessoas se machucarem. E mesmo assim eu ainda estava ali.
Entrei no carro fechando a porta com rapidez e as trancando por dentro, percebendo Ezekiel tentar abrir a porta, sem êxito. Ele bateu no vidro algumas vezes, mas eu apenas coloquei os pés para cima do banco do carro e abraçei minhas pernas, escondendo meu rosto e ignorando todo o mundo a minha volta.
_____________________
NOTAS DA AUTORA:
Próximo capítulo: 25/06!
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro