II
Não dormi aquela noite, por medo do que poderia sonhar se o fizesse. Ao invés disso, mantive deitada em minha cama, olhando para o teto turquesa do quarto, vendo algumas bolas de luz flutuarem por ali, pedindo a qualquer entidade que pudesse me ouvir para que eu não tivesse nenhuma outra alucinação como a que eu tinha tido no jardim mais cedo. Mas não pareceu funcionar, e logo ouvi uma leve risada ao meu lado. Virei o rosto para ver ele deitado ao meu lado, relaxado, olhando para o teto como eu mesma fazia.
"Nos deitamos calmos assim apenas uma vez na vida, na noite em que nos casamos." seus olhos escuros pareciam vazios agora, mas o leve sorriso em seus lábios continuava a me deixar nervosa "Nunca mais nos tocamos depois disso."
Ele virou o rosto para mim, parecendo esperar que eu dissesse algo. Engoli em seco, sentando na cama e enfiando minhas mãos em meus cabelos, fechando os olhos com força, desejando que ele sumisse dali e finalmente me deixasse em paz, mas não funcionou.
Assim que abri os olhos, ele estava na minha frente, me olhando com raiva, o que me fez me arrastar para trás até que minhas costas estivessem encostando na cabeceira da cama. Ele se moveu levemente, indo um pouco para trás, e sorriu antes de se levantar, começando a andar pelo quarto. Eu apenas o observei, sabendo que, se eu fosse humana, meu coração estaria batendo a toda velocidade.
"Mente agitada, Olivia..." ele falou, virando o rosto para mim, como se me repreendesse "Sua mente agitada é o maior de seus problemas."
"Cale a boca, você não sabe de nada." minha voz soou cansada e derrotada, e logo me repreendi por aquilo, vendo-o sorrir e balançar a cabeça
"Eu sou você, Olivia. Sou sua mente. Eu sei mais sobre você do que você mesma."
"Você é uma alucinação."
"Uma que você não pode controlar. O que eu acharia se soubesse que você enfraqueceu ao ponto de falar consigo mesma num quarto vazio?"
"Me deixe em paz..."
Seu sorriso se abriu mais com minhas palavras e ele deu alguns passos a frente, se aproximando. "Aprenda a controlar a si mesma, e saberá me controlar. Aprenda a voltar a existir, e minha imagem em você irá embora."
Joguei um travesseiro em sua direção, logo notando que o travesseiro havia atingido a parede do quarto e ele já não estava mais lá. Engoli em seco, soltando o ar que estava em meus pulmões com força, desejando por um momento de descanso.
༶
As batidas na porta me assustaram para fora de meus pensamentos, me fazendo voltar à realidade. Olhei para o relógio ao meu lado, notando que eram sete da manhã e eu havia passado a noite em claro.
Ouvi a voz abafada de Ezekiel do outro lado da porta, chamando meu nome, e permiti sua entrada, vendo que ele estava vestido em roupas formais. Seus cabelos claros estavam arrumados e suas roupas pareciam impecáveis, o que me fez grunhir ao saber que eu provavelmente teria de fazer o mesmo. Seus olhos me estudaram por alguns segundos, antes que ele se aproximasse, sentando na beirada da cama, puxando minha mão para que eu a segurasse.
"Eu sei que você não quer fazer isso," sua voz soava calma, me passando todo o conforto que eu precisava naquele momento "mas sei que você vai se sair bem. Estarei lá o tempo todo para lhe ajudar, eu prometo."
"Eu não quero tomar o lugar dele, Ezekiel..." sussurrei "O peso da coroa é mais do que eu posso aguentar."
"Você não vai estar carregando ele sozinha. Você tem pessoas que se importam com você e estão dispostas a ajudar com o fardo." ele respirou fundo, olhando para o chão "Quando você vai perceber que não está sozinha, criança?"
"Quando eu não me sentir sozinha." respondi, sorrindo tristemente
Ele apertou um pouco mais minha mão, engolindo em seco e se levantando. "Vamos, o Conselho e os vampiros presentes estão se reunindo para discutir o novo líder. Você tem que estar lá quando eu mostrar a carta."
"Tenho?" perguntei, preguiçosa
"Sim, mocinha, e bem vestida. A nova líder dos vampiros tem que estar apresentável em sua primeira aparição."
"Não posso colocar um moletom e um jeans?"
"Não."
Grunhi, vendo-o rir, e começar a me guiar até os banheiros. Tomei um banho rápido, notando que havia um vestido preto pendurado perto dos armários, juntamente com um par de saltos. Rolei os olhos e o vesti, notando que era o número certo para mim. As alças do vestido ficavam caídas em meus braços, me incomodando um pouco mas nada que eu não pudesse aguentar. Deixei os saltos de lado, decidindo me manter descalça, e arrumei meu cabelo antes de finalmente sair do local.
Ezekiel olhou para mim, sorrindo, e me ofereceu seu braço para que eu o segurasse. Ele me guiou até um largo corretor, cheio de colunas de mármore, que levava até uma grande porta negra de madeira com pelo menos três metros de altura. Os Ninphs que estavam as mantendo fechadas se curvaram levemente, abrindo as portas para revelar a sala do trono de Lorell.
Meus olhos se arregalaram no mesmo momento em que vi a sala, observando a beleza do local. Um grande lustre flutuava próximo ao teto, que era decorado com vinhas e flores de todos os tipos. As paredes eram brancas e o chão completamente negro e polido, se tornando um grande espelho negro. O trono ficava numa pequena área elevada do salão e parecia ser feito de cristal, com as costas e o assento estofados em branco. Algumas vinhas se enroscavam nos braços e pernas da cadeira, cheias de flores azuis e brancas.
Enquanto o trono dos vampiros parecia escuro e sombrio, o dos Ninphs parecia iluminado e convidativo. Logo notei Lorell em um de seus vestidos elegantes se sentando com delicadeza em seu trono, com uma coroa prateada enfeitando sua cabeça. Seus olhos logo se voltaram para mim, e a intensidade deles me fez acreditar que ela já sabia de tudo.
Ezekiel me soltou, me dando um beijo no topo da cabeça antes de ir até os outros membros do Conselho, sentando-se na cadeira do centro - a maior - e esperando para que tudo começasse. Olhei em volta, procurando algum lugar para ficar, e notei que Arin, Riley e Molly estavam lá, de pé em meio a alguns vampiros.
Caminhei até eles, confusa, e Molly foi a primeira a me ver, acenando. "O que fazem aqui?"
"Somos os líderes das outras raças, merecemos saber quem será o novo líder dos vampiros." Arin comentou, dando de ombros, e eu vi Riley concordar
"E você?" levantei as sobrancelhas para Molly
"Curiosidade." ela sorriu como uma criança e eu balancei a cabeça, me deixando sorrir de volta
Fiquei ao lado deles, entre Molly e Arin, e comecei a ficar nervosa com o passar do tempo, enquanto esperávamos todas as pessoas importantes para aquela reunião chegarem. Arin pareceu perceber meu nervosismo, me empurrando levemente para chamar minha atenção, e perguntando silenciosamente o que havia de errado. Balancei a cabeça, não querendo falar em voz alta o que iria acontecer em alguns minutos, e nossa atenção foi tomada pela voz de Lorell.
"Bem, acho que todos estão aqui. O Conselho deve falar o que foi decidido."
Notei Jane, uma das únicas mulheres do Conselho, se levantar de sua cadeira com autoridade. Voltei minha atenção para Ezekiel, que a olhava com um olhar nada amigável, provavelmente sabendo que a vampira tentaria dar um jeito de ficar com o poder para ela.
"Com todo respeito, majestade, mas nós não decidimos muito. A perda de nosso líder foi impactante, ainda estamos surpresos com a notícia." ela mentiu, fingindo uma inocência que eu sabia ser falsa "Então, acho que um dos vampiros mais velhos terá que assumir o fardo, e eu gostaria de me candidatar para assumir o trono."
"Não, será preciso, senhorita Jones." Ezekiel se levantou de sua cadeira com uma leveza impressionante, começando a dar passos lentos em direção ao centro da sala
Era raro ver Ezekiel ter uma pose tão autoritária e intimidadora, mas eu adorava ver as reações de todos os que estavam ao redor quando acontecia. Todos pareciam o olhar com um certo cuidado, como se ele estivesse prestes a atacar a qualquer momento e, a julgar pela intensidade em seus olhos, não parecia difícil que fosse o caso.
"Suponho que você gostaria do poder, Ezekiel?" ela entrou na defensiva, parecendo preparada para atacá-lo "Talvez tenhamos que resolver isso num duelo-"
"Não, isso realmente não é necessário. Eu ganharia de você de qualquer jeito." ele sorriu convencido e eu sorri junto, balançando a cabeça do quanto Ezekiel podia ser confiante quando queria "Além do mais, Azriel deixou ordens claras de quem seria o próximo líder."
Todos que estavam na sala começaram a murmurar e eu apenas arrumei minha postura, engolindo em seco, esperando pelo momento em que eu seria jogada nos holofotes.
"Não me lembro de quando Azriel falou algo assim?" Jane parecia realmente confusa, e Ezekiel apenas sorriu levemente
Ele retirou o envelope de seu paletó, deixando a mostra o selo de Azriel para que todos vissem, e prosseguiu para tirar a carta do envelope com cuidado, tomando uma postura mais formal para ler as palavras escritas no papel.
"Se esta carta foi aberta, meu tempo finalmente chegou ao fim. Milênios se passaram, mas a morte finalmente me alcançou, como já esperava acontecer. Não sei como aconteceu, ou quando aconteceu, mas, de qualquer maneira, precauções deverão ser tomadas com minha morte. A liderança estará livre e sei que haverá controvérsias sobre quem assumirá o trono, então, deixarei bem claro minha vontade nestas palavras." Ezekiel parou por um momento, para mudar o peso de um pé para o outro "O trono dos vampiros deverá ser seu, afinal, quem melhor para governar do que a mulher que amo e que treinei para que liderasse como eu. Seu é o trono e o poder que um dia foram meus, cuide bem de nossa raça, seja tão forte quanto eu fui e quanto eu sei que pode ser. Azriel."
Assim que Ezekiel terminou de ler a carta e todos ficaram em silêncio. Jane parecia incrédula e o resto do Conselho tão surpreso quanto ela. A única pessoa que não parecia surpresa era Lorell.
"Suas palavras são claras, o trono agora pertence a Olivia." Ezekiel completou, dobrando a carta e a guardando de volta, enquanto todos os olhos se voltavam para mim
Me mantive imparcial, sem demonstrar o nervosismo que corria por meu corpo, tentando passar uma imagem de superioridade naquele momento, quando na verdade eu sentia que estava no fundo. Ezekiel estendeu a mão para mim e eu caminhei até ele calmamente, segurando sua mão, fazendo-o me olhar preocupado. Eu estava tremendo.
"Isso é errado, ela nem sequer é a mais velha entre nós!" Jane tentou contestar aquilo, e, por um momento, quis que ela ganhasse
"Não, mas era a mais próxima de Azriel. É quem ele treinou para liderar, provavelmente esperando que esse dia chegasse." os olhos de Ezekiel se tornaram duros ao olhar para Jane "Não existem mais Puros, a única exceção sendo, talvez, Adam, que se recusa a sair do castelo de Windsor, sendo assombrado por seus fantasmas pessoais, então não acho que o trono deva ser passado para ele. As palavras de Azriel devem ser levadas em conta, então o poder deve ser passado para Olivia."
Jane se calou, provavelmente não sabendo como responder àquilo, dando alguns passos para trás. Lorell então se levantou de seu trono, sorrindo gentilmente para mim.
"Então está feito. Olivia agora assume o poder. Que você governe seu povo com sabedoria."
Os vampiros presentes começaram a se curvar, ainda meio confusos, e logo Ezekiel fez o mesmo, me fazendo me esforçar ainda mais para conter o nervosismo.
Eu agora era a líder de toda uma raça, e eu não podia estar mais desconfortável com aquilo.
༶
Assim que todos se levantaram, e Lorell avisou que estavam todos dispensados, Riley, Molly e Arin vieram em minha direção rapidamente, mas eu havia sido mais rápida e corri da sala do trono, começando a vagar pelos corredores do castelo enquanto ainda tentava escapar deles.
Eu não queria falar com ninguém sobre aquilo naquele momento, não queria fazer minha posição mais real do que já era, então, quando achei um salão repleto de instrumentos musicais, não pude ficar mais feliz. Caminhei calmamente até um piano de cauda branco que estava num dos cantos do salão, tocando em suas teclas para confirmar que ele funcionava, dando um leve sorriso ao notar que estava em perfeito estado.
Sentei no banco do piano, começando a tocar algumas notas perdidas, procurando em minha mente algo para tocar, até que me vi tocando a melodia de Knocking On Heaven's Door. Era irônico como minha mente havia ido direto para àquela música, mas me mantive tocando, me concentrando nas notas, começando a cantar a música, deixando minha voz quase inaudível.
Minha mente começou a vagar por pensamentos, me fazendo me concentrar duas vezes mais na música para que eu não me perdesse em meio a tudo que se passava por minha cabeça. Mais do que nunca, meus pensamentos pareciam gritar, inquietos, sempre mantendo minha cabeça ocupada e me tirando a pouca sanidade que ainda restava, e tive medo de que iria ter mais uma alucinação.
Não ouvi quando Ezekiel apareceu na porta do salão, se encostando na parede ao lado das portas e me olhando tocar, e, quando percebi, fingi não ligar para sua presença, apenas continuando a música, fingindo que não estava tremendo enquanto pressionava as teclas do piano, me fazendo quase errar a música múltiplas vezes. Assim que a música acabou, ouvi seus passos se aproximando, e finalmente virei meu rosto para ele.
Ele parou de caminhar quando chegou até o piano, encostando a lombar levemente nele e passando a mão em seus cabelos, os bagunçando e bufando, parecendo cansado. No entanto, seus olhos azuis ainda brilhavam cheios de vida, passando o conforto sobrenatural que parecia ser sua maior característica.
"Como foi que tudo virou essa bagunça?" ele soltou uma risada leve, balançando a cabeça e virando o rosto para me olhar
Mordi o interior do meu lábio inferior, dando de ombros, vendo-o bufar mais uma vez e virar de frente para o piano, se apoiando nele com os cotovelos, parecendo inquieto.
"Você sabe que eu confio em você, não sabe?" ele perguntou, levantando as sobrancelhas em minha direção
"Péssima ideia." murmurei
"Mas eu preciso que me prometa que vai dar seu melhor agora. Sei que você não deve estar muito feliz com o que está acontecendo e que você provavelmente iria preferir fugir." ele sentou ao meu lado no banco, me olhando com atenção "Mas agora vamos precisar de você mais do que nunca. Você sabe como Azriel agia em batalha, e nós vamos precisar que você nos guie."
"Todos esses séculos tentando escapar de mim, agora precisa agir como eu. Você não tem sorte mesmo, esposa minha..."
Virei meu rosto rapidamente, vendo Azriel deitado de barriga para baixo em cima do piano, com o queixo encostado em suas mãos, sorrindo friamente para mim. Aquela não era hora para uma alucinação.
Ezekiel percebeu meu movimento, olhando para o piano e franzindo o cenho, já que eu provavelmente estava encarando o nada com uma expressão nervosa. Balancei a cabeça, resolvendo ignorar o Azriel que parecia se divertir com minha situação, e voltei a olhar para Ezekiel.
"Eu não sou ele, eu não posso fazer o mesmo que ele."
"Sei que não, criança. Mas você sabe tão bem quanto eu que Azriel podia ser um idiota, mas também era um bom estrategista."
"Ouça ele, ele está certo." Azriel apontou para Ezekiel, mordendo o dedo logo em seguida, parecendo querer rir da expressão de raiva que eu havia tomado ao ouvi-lo falar
Ezekiel franziu o cenho. "Você está bem?"
"Estou." falei rapidamente, fazendo-o me olhar desconfiado "E eu entendo o que você me pede, mas, novamente, não sou Azriel. Não posso prometer que tudo sairá perfeito."
"E é por isso que quero que prometa dar seu melhor. Se perdermos essa guerra, os vampiros não serão poupados... Cada um de nós será morto sem piedade."
"Eu entendo." assenti, sentindo que, novamente, o peso do mundo estava em minhas costas "Eu prometo que vou tentar, não se preocupe."
Ezekiel sorriu, me abraçando pela cintura, me fazendo esconder meu rosto em seu pescoço, buscando conforto nele.
"Me desculpe, Olivia. Não queria lhe dar esse fardo, mas sei que você sabe que é a melhor opção que temos."
"Tudo bem, não se desculpe... A culpa nunca foi sua para se desculpar."
Ele me soltou, sorrindo para mim mais uma vez antes de se levantar e começar a caminhar para longe. Antes que ele chegasse até as portas, ele parou, virando para mim novamente.
"Fale com Molly, ela está preocupada."
Trinquei o maxilar, querendo não ter que explicar a Molly a bagunça na qual havia me metido, mas assenti mesmo assim, vendo Ezekiel sair do salão, me deixando sozinha novamente.
"É impressionante como a única pessoa que você ouve é ele." a voz de Azriel me fez lembrar que ele ainda estava ali, e eu grunhi "Bem, quase sempre ouve. Você é teimosa como uma adolescente."
"Faça-me um favor e desapareça."
"Ora, não aprecia a companhia de seu marido, Olivia?" por um momento suas roupas pareceram mudar, se tornando as roupas que ele usava no século quinze quando o conheci, mas logo elas voltaram ao seu aspecto moderno
Engoli em seco, me levantando e começando a caminhar para fora da sala. Olhei para trás, checando para ver se ele me seguia, notando que ele havia desaparecido, me fazendo franzir o cenho, e, assim que virei o rosto para frente, ele estava lá.
"NÃO VIRE AS COSTAS PARA MIM!" sua voz soou alta e raivosa, lembrando o barulho de um trovão, e me fez cair para trás de susto
Enquanto caía, por um milésimo de segundo, o mundo a minha volta mudou e eu pude ver o campo de flores que costumava ser meu lugar tranquilo, e eu caía diretamente em cima das flores. Mas, assim que atingi o chão, voltei a realidade, vendo o salão dos instrumentos ao meu redor. Azriel havia sumido.
Deitei no chão, colocando as mãos em minha cabeça, desejando poder arrancar minha mente de lá. Aquilo era perigoso, o que aconteceria se eu passasse por aquilo em meio a batalha?
Esmurrei o chão, irritada, notando a pedra lisa que o formava havia quebrado embaixo de meu punho. Eu estava perdendo o controle de mim mesma cada vez mais.
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NOTAS DA AUTORA:
Queria deixar claro que nem sempre o Azriel vai se comportar como o Azriel dos outros livros. Esse não é o Azriel de verdade, é uma versão distorcida dela da mente da Olivia. Não foi erro de coerência, ele não ser "ele" é parte da história.
Próximo capítulo: 25/06!
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