XVI
O Ninph já havia sido curado; Não haviam sinais de que ele tinha sequer se machucado. Pedi a um dos vampiros que estavam na sala para que trouxesse água e puxei uma das cadeiras do cômodo para sentar de frente a ele.
"Obrigada pela ajuda, senhorita. Talvez estivesse morto se seus vampiros não tivessem me salvado." ele disse e sorriu para mim com gratidão em seus olhos antes de tomar um gole d'água
"Não me agradeça, foi pura sorte meus vampiros terem o encontrado enquanto estava sendo atacado. E mais sorte ainda eu ter entendido seu desespero quando aquele Ninph, Kearn, apareceu."
"Sim, foi muita sorte a minha." ele colocou o copo vazio de lado e deu um sorriso "Mas também parece ser muita sorte que a vampira que me salvou é uma ótima lutadora."
Balancei a cabeça e sorri de volta com educação. "Creio que não nos apresentamos corretamente... Sou Olivia, líder dessa colônia."
"Treyd." ele estendeu a mão e eu a apertei
"Se não se incomoda, eu gostaria de fazer algumas perguntas."
"Perguntas?"
"Você foi atacado porque sabia de algo que os Ghouls e aquele Ninph não queriam que você espalhasse, estou certa?"
"De fato, está sim. Eu estava prestes a ir para a Irlanda entregar essas informações para a rainha quando fui atacado." ele disse "Acho que agora você pode querer saber quais são, mas creio que não posso compartilha-las, senhorita... Por mais que tenha me salvado, não sei mais em quem confiar."
Franzi o cenho e estava prestes a perguntar o que ele queria dizer com aquilo quando o Ninph que havia cuidado de seus ferimentos entrou novamente na sala.
"Senhorita Olivia, desculpe a interrupção, só vim checar se Treyd está bem. Estou meio enferrujado em minha magia medicinal, espero ter feito tudo certo."
"Sim, eu estou bem. Muito obrigada." Treyd sorriu e voltou a olhar para mim logo em seguida, dispensando o Ninph, que saiu tão rapidamente quanto entrou
"Eu sou confiável, estou do lado de vocês-"
"Sim, mas não sabemos quem pode estar ouvindo..." ele falou e olhou para os vampiros no cômodo
"Meus vampiros são confiáveis, Treyd."
"Ficaria mais confortável falando com Lorell antes de espalhar as notícias. Ela, mais que todos, precisa saber."
Me aprumei na cadeira e tentei pensar em alguma maneira de fazê-lo falar, mas ele não parecia que iria compartilhar a informação assim tão facilmente.
"Talvez eu possa arranjar um jeito de você falar com ela agora mesmo..." disse
"Isso seria ótimo."
"Mas eu quero ouvir tudo."
Ele respirou fundo e me olhou como se eu fosse uma criança teimosa. "Você parece decidida a arrancar essa informação de mim."
"Não me leve a mal mas qualquer pista sobre o que está realmente acontecendo é bem vinda para mim. Alguém importante para mim foi levada pelos Ghouls, pretendo achá-la. Mas acho que para isso preciso achar os Ghouls primeiro." movi meu corpo para frente, apoiando os cotovelos em minhas coxas e juntando minhas mãos em frente de meu rosto, o olhando com frieza nos olhos "O que tiver que ser feito para que eu consiga essa informação, eu farei."
O Ninph permaneceu parado por alguns segundos antes de sorrir para mim. "É, você tem mesmo os olhos de uma assassina como as histórias falam..."
Dei um sorriso sem humor algum e balancei a cabeça. "Não, esses são os olhos de alguém determinada a salvar quem ama."
"Sinceramente, senhorita? Não vejo muita diferença."
༶
A TV da sala de visitas estava ligada em uma ligação do Skype e eu me sentia ridícula por estar usando o Skype com um dos seres mais poderosos do mundo. Mas não seria apenas Lorell com quem eu estaria falando.
Depois de uma conversa com Treyd, concordamos que os líderes das raças deveriam ser comunicados das novas informações. Então, assim que todos atenderam, a TV mostrava os rostos dos cinco líderes; Riley - o mais novo do grupo - parecia ser o mais cansado. Seus cabelos ruivos estavam bagunçados e haviam olheiras fortes debaixo de seus olhos, mas mesmo assim ele sorria simpaticamente para todos.
Riley estava ajudando na busca de Molly desde que ele soube que ela havia desaparecido. Pela sua aparência, ele estava tendo que coordenar suas buscas com seu papel de líder, o que parecia o estar drenando. Eu havia o avisado para que não se cansasse com aquilo, levando em conta que ele tinha coisas mais importantes a fazer, mas ele havia insistido em procurar Molly pessoalmente em seu tempo livre.
Ele era um bom garoto.
Mas Riley não era o único naquela ligação. O rei dos Daemones estava nos olhando com aquele sorriso medonho e irritante no rosto, mas seus olhos mostravam curiosidade. Arin parecia impaciente com algo, o que não me surpreendeu. Lorell estava me olhando com seus olhos cheios de estrelas, e eu podia jurar que as galáxias em seus olhos estavam se movendo naquele exato momento. E havia também Azriel, sentado em seu trono com um olhar duro e com uma mão cobrindo seus lábios. Eu tentava ao máximo ignora-lo.
"É bom que isso seja por uma boa causa. Eu estava indo jantar agora mesmo." Arin se pronunciou e eu revirei os olhos
"Sim, cachorro, é do interesse de todos."
"Fui alertada que um de meus Ninphs foi atacado," Lorell falou antes que eu e Arin começassemos uma briga "e logo em seguida um pedido urgente para que eu entrasse em contato com você, Olivia. O que está acontecendo?"
"Senhora, se me permite..." Treyd se pronunciou, chamando a atenção de todos "Eu fui o Ninph que fui atacado. Me pegaram antes que eu pudesse me transportar de volta para sua presença. O motivo do ataque é que tenho informações sobre os Ghouls."
Todos ficaram parados repentinamente e eu podia perceber que Treyd havia conquistado a curiosidade de todos.
"Vossa majestade, creio que se lembra que questionou o motivo dos Ghouls estarem tão poderosos ao ponto de nos machucar e não podermos nos curar-"
"Isso é impossível." Azriel interrompeu "Ghouls não tem esse poder, eles são seres desprovidos de qualquer matéria e não podem causar danos permanentes em seres com poderes de cura como nós, sejam vampiros ou Ninphs."
"Isso é verdade, mas agora eles podem." Treyd continuou, visivelmente irritado com a interrupção "Eu vim procurando motivos para isso estar acontecendo: poderia ser uma evolução deles, um retrocesso nosso, ou algo mais. Mas falhamos de ver que a resposta estava bem debaixo de nossos narizes."
"O que quer dizer com isso?" Lorell perguntou, visivelmente confusa
"Minha senhora, o feitiço jogado nos Ghouls não enfraqueceu. Por milênios, em cada checagem, era comprovado que o feitiço estava sob controle. E pra falar a verdade, o feitiço ainda está funcionando."
"Mas há Ghouls a solta..." comentei, vendo que assim como eu, todos naquela ligação estavam confusos
"Sim, alguns Ghouls estão a solta, mas não porque o feitiço está se desfazendo. Estão criando 'buracos' no feitiço e liberando alguns poucos Ghouls de seu sono."
"Mas como? Pensei que só os Ninphs podiam lidar com esse tipo de coisa."
Foi então que algo clicou em minha mente. Os olhos do Ninph que tentou matar Treyd eram azuis - a cor dos olhos de quem trabalha nos laboratórios dos Ninphs. Treyd havia, em seu desespero, o chamado de traidor. Fechei os olhos e passei meus dedos pelas minhas têmporas, sentindo que aquilo se tornava cada vez mais claro.
"Exatamente. Quem está fazendo os buracos são os próprios Ninphs." olhei para a TV e vi Lorell arregalar os olhos, como se não acreditasse no que ouvia "Majestade, há traidores em meio ao seu povo. Um Ninph tentou matar Treyd, e ele era um de seus pesquisadores a julgar pela cor dos olhos."
"Isso... Isso é alarmante! Por que eles fariam isso?" Lorell parecia estar em um estado de choque, provavelmente se sentindo tola por ter deixado aquilo passar
"Não faço ideia, majestade, mas infelizmente é a verdade. Essa também é a razão deles conseguirem nos machucar daquele jeito." Treyd virou seu rosto para mim e estendeu a mão "Se não se importa, senhorita, poderia me dar a lâmina que você tirou de Kearn?"
Franzi o cenho antes de me lembrar da lâmina curta que estava em meu sobretudo. A peguei, entregando-a para Treyd que voltou a virar para a TV para olhar para todos os líderes curiosos.
"Creio que conhecem esta lâmina. Foi feita no intuito de conter as outras raças caso elas se opossem aos Ninphs. Felizmente, nunca precisamos usá-las em uma batalha real e descartamos boa parte delas, mas algumas ainda se mantinham guardadas nos laboratórios. Ela foi feita para ferir qualquer raça, menos os Ninphs, mas acho que deveriam ver isso..."
Treyd levantou a lâmina como se quisesse a apresentar para todos ali e logo depois a levou para seu braço, abrindo um corte fino mas que foi capaz de tirar sangue dele. Ele colocou a lâmina de lado e levantou seu braço cortado, mostrando que sua pele se mantinha ferida, sua cura natural não sendo eficaz contra aquilo.
Lorell balançou a cabeça em descrença e Azriel pareceu finalmente perceber a seriedade da situação, se sentando mais ereto em seu trono. Arin parecia admirado mas eu podia ver com clareza a tensão em seus ombros ao ver aquilo. Riley respirou fundo e fechou os olhos, como se a situação fosse demais para ele, e o rei dos Daemones apenas manteve seu sorriso, mas seus olhos pareciam ter perdido um pouco o brilho.
"Isso é o resultado de magia. A lâmina está emanando poder dela, como se houvesse algo mais encrustado ao seu metal. Sua fórmula foi alterada para machucar qualquer e cada uma das raças existentes." Treyd me jogou a lâmina de volta e eu a olhei com cautela, sentindo que carregava algo mais poderoso do que eu podia imaginar "Termos traidores também explica o porquê dos Ninphs, depois de serem atacados, ficam naquele estado vegetativo. Houve uma pesquisa alguns séculos atrás sobre uma droga que poderia debilitar Ninphs. Foi completa quando comprovaram os efeitos dela e ela foi deixada de lado, apenas como mais uma descoberta. Tomei a liberdade de checar os arquivos e algumas amostras da droga haviam sido retiradas do cofre."
"Mas não faz sentido." me pronunciei "Eu fui atacada por um Ghoul e o que me cortou foram suas garras, não uma lâmina."
"Eles provavelmente descobriram como colocar a mesma magia que está nessa lâmina nas garras dos Ghouls." Treyd explicou "Não é impossível se colocar um feitiço num Ghoul. O fato deles estarem presos por um feitiço já é uma prova disso."
"Isso é terrível. Traidores entre os Ninphs? Pensei que vocês nos protegessem!" o rei dos Daemones se pronunciou e Lorell pareceu envergonhada
"Peço desculpas, mandarei que meus soldados achem os traidores e tomem conta deles-"
"Não, isso é arriscado." Azriel falou com urgência "Se essa lâmina pode mesmo machucar os Ninphs dessa maneira, eles tem a vantagem. Manter nossas cabeças baixas até sabermos ao certo quem são os traidores é importante. Não vamos nos precipitar."
"E deixá-los soltos? Você é louco?" Arin gesticulava exageradamente a cada palavra
"Lacamoire, isso é uma guerra. Não se vence atacando no escuro, é preciso planejamento." Azriel o repreendeu "Não sabemos em quem confiar."
"Talvez atacar fosse uma boa ideia..." o rei dos Daemones murmurou para si mesmo e logo uma briga começou a se formar
Mas eu não estava ouvindo a briga. Eu estava muito ocupada em meus próprios pensamentos para ligar. Algo havia aparecido em minha mente e eu senti meu corpo tensionar quase que imediatamente. Lembrei do dia em que Enoch havia ameaçado em levar Molly, em como ele havia dito que foram ordens de Azriel. Lembrei de como Azriel negou seu envolvimento com aquilo e de como Enoch pareceu sumir do mapa logo depois da luta.
Eu estava respirando rapidamente sem me importar que aquele ar era inútil para mim. Me sentia a beira de um ataque de pânico, e agora talvez houvesse uma explicação para o sumisso de Molly.
"Não podemos atacar." eu falei decidida em voz alta, fazendo todos me olharem "Não podemos fazer nada agora, já que não há traidores apenas em meio aos Ninphs."
Todos ficaram confusos por um segundo mas Azriel pareceu entender rapidamente o que eu queria dizer e pude ver sua expressão se tornar dura, raiva brilhando em seus olhos.
"Enoch..." ele murmurou "Ainda não há notícias do paradeiro dele. Ele simplesmente sumiu."
"Espera, vampiros também estão envolvidos?" Arin perguntou
"Provavelmente. Mas não acho que só vampiros. Há uma chance de eles estarem atraindo outras raças para junto deles." Azriel falou em um tom soturno
"Mas por que mataram tantos membros das raças? Por que estão levando humanos agora?"
Treyd pareceu afundar na cadeira ao meu lado. "Não faço ideia, mas seja lá o motivo, não é bom."
"E o que podemos fazer?" a voz de Riley saiu fraca e eu podia ver o desapontamento por não poder fazer nada em seus olhos
"Juntamos pessoas de confiança e lutamos." respondi "Não podemos juntar exércitos pois não sabemos quem pode nos trair, mas existem pessoas confiáveis a nossa volta. Não são grandes números mas talvez o suficiente para impedirmos os Ninphs, levando em conta que eles são nossa prioridade."
"Acha que pode dar certo?" Lorell perguntou
"Se tivermos um bom plano e mantermos a informação do ataque em sigilo, sim. Se conseguíssemos pôr as mãos em lâminas como estas, teriamos uma luta justa contra eles. Consegue nos providenciar algumas, majestade?" perguntei
"Talvez seja melhor que eu faça isso." olhei para Treyd, vendo uma expressão decidida em seu rosto enquanto falava "Não sabemos quem aí pode ser um traidor. Posso conseguir algumas lâminas destas com a ajuda de alguns amigos que também estavam atrás de respostas."
"Então a melhor opção é juntar um grupo e ir até aí tomar o laboratório a força." coloquei a lâmina de lado e cruzei os braços, olhando para cada um dos rostos na TV "É nossa única chance de impedir seja lá qual for o plano deles."
"Juntarei alguns lobisomens em quem sei que posso confiar. Chegarei na Irlanda em alguns dias." Arin disse, entrelaçando seus dedos e olhando para nós com determinação
"Pode contar com os animorfos." Riley sorriu, cansado
"Os Daemones também irão."
"Meus vampiros estarão a disposição." Azriel disse, parecendo pensativo
"Os meus também."
Um acordo mútuo foi formado naquele momento, mas eu podia notar a incerteza nos olhos de cada um. Era um tiro no escuro, mas era o melhor que podiamos fazer.
"Tentarei descobrir quem está por trás disso. Me dêem cinco dias e poderei dar uma lista dos Ninphs que estão envolvidos. Farei questão de chamá-los para o laboratório quando todos vocês já estiverem aqui." Lorell disse, parecendo se sentir impotente diante àquela situação "Estejam aqui no dia 30 de Setembro. É tudo o que posso fazer por vocês."
"Já é bom o suficiente, majestade. Obrigada." curvei minha cabeça levemente e ela sorriu para mim
Mais algumas palavras foram trocadas antes da ligação terminar. Me levantei de minha cadeira e caminhei em direção à porta.
"Onde vai?" Treyd perguntou
"Achar pessoas de confiança."
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Terminei a ligação e guardei o telefone em meu bolso com um sorriso em meus lábios. A vampira que trabalhava com Renée, Macy, havia aceitado me ajudar assim que comentei que as pessoas que iriamos atacar tinham sido responsáveis pela morte de Renée. Acho que, assim como eu, ela ainda estava de luto pela morte do vampiro.
Eu estava de pé em meio a minha sala do trono, contando quantos vampiros eu tinha juntado. Havia Macy, o grupo de Ezekiel, o próprio Ezekiel e contava com a participação de Nicolas. Ao todo quinze vampiros, contando comigo. Não eram muitos, mas era o melhor que eu havia conseguido sem deixar que a notícia de um ataque se espalhasse.
As portas da sala do trono se abriram e eu me virei, vendo Nicolas com uma expressão confusa. Ele pareceu olhar para toda a sala antes de finalmente me ver e se curvar desajeitadamente.
"Por que a sala está toda escura?"
Franzi o cenho, só percebendo naquele momento o fato de eu não ter acendido nenhuma luz. Abri a boca para responder mas a voz de Ezekiel ecoou por trás de Nicolas.
"Porque ela é a rainha do drama." ele parou ao lado de Nicolas enquanto eu o encarava com raiva "Não me olhe assim, você sabe que é verdade."
"De qualquer maneira," mudei de assunto, gesticulando exageradamente com a mão "Nicolas, vou precisar de sua ajuda."
Ele mudou o peso de um pé para o outro e sua expressão parecia nervosa e confusa. Levantei as sobrancelhas e o encarei, o repreendendo pela reação, e ele pareceu entender, tomando uma postura mais firme e deixando seu rosto livre de maiores emoções. Pude ver Ezekiel segurando uma risada.
"Meus vampiros me disseram o que aconteceu aqui depois que aquele Ninph foi trazido..." Ezekiel falou, seu rosto agora se tornando sério "Você precisa de ajuda para lutar."
"Será perigoso. É possível que hajam algumas baixas."
"Mas se vencermos teremos um problema a menos para resolver. É tentador." ele se moveu levemente, como se o pensamento daquela luta o animasse "E tem uma chance de acharmos Molly."
"São poucas, mas, sim. É uma possibilidade."
"Me desculpem mas... Do que estão falando?"
Olhamos para Nicolas e ele parecia ainda mais confuso do que antes. Me aproximei dele lentamente e mantive meus olhos nos dele, vendo-o se encolher um pouco. Ele ainda tinha muito o que aprender...
"Por enquanto, só responda: vai lutar?"
Ele hesitou por alguns segundos, analisando meu rosto e o de Ezekiel, provavelmente tentando ver se era uma boa ideia.
"Vou." sua resposta saiu fraca mas decidida e eu sorri
"Bem, então creio que tenho seis dias para deixá-lo o mais bem preparado possível."
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NOTAS DA AUTORA:
Faltam 2 capítulos para o fim do livro! O segundo já está sendo escrito então ano que vem, até Setembro, já vai ter mais! (Eu estava escrevendo o 5° capítulo do livro 2 quando esse capítulo foi postado.)
De qualquer maneira, obrigada por lerem.
Próximo capítulo: 06/11!
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