VIII
A madrugada estava linda. As estrelas brilhavam no céu escuro, silenciosas, e único barulho ao meu redor eram as folhas de arbustos do jardim do palácio, balançando ao vento.
Sabia que não conseguiria dormir sem que tivesse pesadelos, então, assim que Molly dormiu, saí do quarto em meus pijamas e fui até o jardim. Apesar de cheio de lembranças de tempos que não iriam voltar mais - a maioria delas com Renée - o jardim me acalmava. Talvez por ser o mesmo jardim, com poucas mudanças feitas desde as primeiras vezes que estive ali. Por mais que eu odiasse monotonia, as vezes era bom ver que algumas coisas eram as mesmas e que, ao olha-las, eu poderia recordar algumas lembranças.
Era o mesmo jardim. Não as mesmas folhas nos arbustos, não as mesmas lâminas de grama, mas o mesmo formato e o mesmo céu acima dele. Me deitei na grama e fechei os olhos, deixando uma memória em especial percorrer minha mente.
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O jardim estava calmo naquela noite. O rei da França dormia em segurança dentro das paredes de mais novo palácio de caça, alheio ao fato de que eu caminhava em meio ao seu grandioso jardim. Era um lugar maravilhoso, de fato. Entendia o porquê de Renée querer me mostrar aquele lugar.
Quase duzentos anos já haviam se passado desde que eu havia estado na França pela primeira vez, e muita coisa já havia mudado. Era assustador.
Fui retirada de meus pensamentos quando ouvi passos leves vindo em minha direção e me virei, encontrando Renée me olhando com um leve sorriso no rosto. Sorri de volta, sentindo meu corpo inteiro ficar mais leve em sua presença.
"Renée."
"Olivia."
Caminhei até ele, o abraçando e sentindo seus braços me envolverem. A calma que sentia ao lado dele era absurda, e me fazia esquecer dos meus problemas. O fato de ter ele como amigo em meio a tudo o que passei era motivo de felicidade para mim. Além de Ezekiel, ele era o único em quem eu sabia que eu poderia contar.
Nos separamos do abraço e ele estendeu seu braço para que eu o segurasse e começamos a caminhar em meio ao jardim bem cuidado.
"É bom tê-la aqui novamente." ele falou, seu sotaque francês ainda pesado em sua fala "Já fazem alguns anos que não recebo uma visita sua..."
"Peço desculpas. A colônia está um caos. Os ingleses ainda não se assentaram propriamente em todo o território, e é comum ver outros reinos entrando na colônia. Os últimos foram os holandeses, tomaram algumas terras para eles há alguns anos atrás. Até agora só temos duas colônias inglesas realmente funcionando, Virgínia e Plymouth... Tenho que ficar me deslocando constantemente."
"Parece cansativo."
"E é." bufei "Tenho que ir de um lado para o outro quase todo dia, monitorando as atividades de vampiros no território. Se ao menos Nicolas ajudasse..."
"Talvez você devesse falar com Azriel sobre Nicolas. Tenho certeza de que ele lhe arrumaria outro companheiro em questão de segundos."
Soltei uma risada debochada e balancei a cabeça, sentindo meu corpo arder de raiva ao ouvir o nome de Azriel. "Não. Ele irá achar que eu estou contrariando sua autoridade e seu método de escolha."
"Bem, ele tem, sim, um bom método de escolha. Ele escolheu você, não foi?"
Olhei para Renée, vendo-o sorrir gentil, e sorri de volta. Senti uma pontada de dor ao lembrar que em alguns dias eu teria que voltar para a minha colônia novamente, desejando poder ficar ali com Renée.
"Eu sei o que está pensando, Olivia." ele disse, parando de caminhar "Mas você tem deveres com sua colônia."
"Azriel não iria saber aonde eu estou. Eu poderia simplesmente me manter aqui."
Vi ele balançar a cabeça, como se eu fosse ingênua, antes de seus olhos me encararem com uma certa pena escondida atrás deles. "Não daria certo, mon petit ouragan... Acabariamos eu e você mortos. Não vale a pena."
Ignorei seus olhos, sentindo algumas lágrimas ameaçarem a surgir nos meus, e fechei o rosto numa expressão descontente. Ele fez uma careta e baixou a cabeça, provavelmente não sabendo o que dizer depois disso.
"Eu nunca vou achar isso justo." falei de repente, quebrando o silêncio e fazendo-o me olhar "Azriel, ele... Ele me tira tudo."
Pude ver sua expressão se tornar confusa e eu comecei a me irritar com minha situação, movendo meus braços exageradamente enquanto falava. "Ele me tirou minha casa, minha família, meus amigos... Ele me tirou e ainda me tira de onde eu posso sentir algo bom, e me joga no escuro para apodrecer sozinha."
"Olivia-"
"Não! Não é justo!" minha voz havia subido um tom, mas tinha que tomar cuidado com o volume se não quisesse acordar ninguém, então voltei a falar normalmente "Cada dia que passa eu fico mais amargurada porque só o que eu sinto é ódio."
Renée me encarou por alguns segundos, antes de dar um sorriso gentil e acariciar minha bochecha levemente, me fazendo derramar uma lágrima.
"Então talvez esteja na hora de você ver através do ódio e sentir algo além."
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E com o passar dos anos, eu senti além do ódio. Coisas que não havia sentido desde que tinha sido transformada. Amor foi uma dessas coisas. Não pensei que fosse amar algo ou alguém depois que me tornei vampira, mas podia dizer que amei Renée como um amigo. E, depois de quinhentos anos, eu finalmente senti um amor forte o suficiente para poder identificá-lo sem dúvidas do que era aquele sentimento. Molly me trouxe de volta o sentimento de família, um amor que eu havia perdido há séculos.
O que eu faria se eu perdesse aquela garota?
Abri os olhos rapidamente quando ouvi passos e me levantei da grama, olhando na direção do barulho. Assim que meus olhos se adaptaram à escuridão, pude ver Arin com as mãos levantadas e me encarando como se pedisse que eu não brigasse. Relaxei um pouco os músculos de meu corpo e o olhei desgostosa antes de me sentar na grama novamente, dando as costas para ele.
Os passos de Arin se aproximaram e pude ver quando ele sentou do meu lado, me fazendo bufar, já sentindo a irritação de sua presença ali. "O que você quer?"
Ele se manteve calado por alguns momentos apenas olhando para frente, pensativo. "Uma trégua."
Olhei para o seu rosto e ele não se incomodou em me olhar de volta. Cerrei os olhos, tentando entender qual era o plano dele com aquilo e ele simplesmente soltou o ar com força.
"Sei que me odeia e eu não sou muito seu fã também." ele começou "Mas há algo grande acontecendo, e uma briga entre nossas raças não ajuda em nada. Eu proponho uma trégua até resolvermos o problema. Um ajuda o outro. Depois podemos voltar a nos matar."
Me mantive olhando para ele, tentando ver se ele não estava brincando, mas parecia falar a verdade. Mas não podia ser só por causa das mortes, tinha algo mais para que ele pedisse uma trégua. Soltei uma risada baixa e balancei a cabeça, olhando para frente antes de falar algo.
"Quem você perdeu, Lacamoire?"
Ele pareceu me olhar surpreso e pude sentir seu coração batendo mais rápido. Eu estava certa, havia outra coisa além da situação atual que nos encontrávamos. Havia pena e empatia. Ele havia perdido alguém assim como eu perdi Renée. Arin engoliu em seco e baixou a cabeça.
"Minha esposa." ele murmurou
Olhei para as estrelas por um segundo e, por um momento, tive pena dele. Me perguntei por que tínhamos que perder tanto por nada, simplesmente por perder. Voltei a olhar pro seu rosto e estendi minha mão, vendo-o me olhar um pouco confuso.
"Uma trégua. Até resolvermos o problema." falei, soturna
Ele apertou minha mão e logo depois se deitou na grama, como eu havia feito antes, olhando para as estrelas com um olhar perdido. Me mantive sentada, olhando para minha frente, meus pensamentos tão dispersos quanto os de Arin naquela hora.
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Minhas coisas já estavam arrumadas perto da porta e eu esperava Molly fechar sua mala para podermos encontrar Macy para que ela nos levasse até o aeroporto. Molly havia insistido que eu fosse até o túmulo de Renée antes de irmos, mas recusei a ideia todas as vezes que ela a mencionava. Eu estava começando a me livrar da névoa de tristeza que a morte do meu amigo havia me trazido, não pretendia trazê-la de volta agora.
Assim que Molly confirmou que estava pronta, peguei suas malas e as minhas e começamos a andar pelos corredores do palácio uma última vez, indo em direção à saída. Todos os outros convidados estavam lá, esperando para ir embora. Notei o sol brilhando e o céu azul sobre nossas cabeças, fazendo parecer que aquela chuva forte nunca houvesse caído. Todos pareceram um pouco assustados quando eu caminhei em direção aos raios de sol mas logo relaxaram quando notaram que eu não estava me queimando lentamente até a morte.
Riley se aproximou, sorrindo, indo conversar com Molly, que, por sua vez, tinha as bochechas coradas ao olhar para o garoto. Não contive um sorriso e saí de perto deles, me encostando na parede do o palácio, olhando para o céu azul por trás dos meus óculos de sol. Renée adorava ver o céu daquele jeito, ele provavelmente estaria olhando para ele com um grande sorriso no rosto se estivesse aqui.
"Acho que terei que olhar para o céu por você agora, meu amigo..." murmurei, sentindo algumas lágrimas encherem meus olhos enquanto sorria
Ouvi passos leves se aproximando e vi Lorell vindo em minha direção. Assim que ela estava perto o suficiente, me curvei em respeito e encarei seus olhos. Sua expressão estava séria e ela tinha um pedaço de papel em mãos.
"Olivia, você irá se encontrar com Azriel ainda hoje, certo?" ela perguntou e eu confirmei "Preciso que entregue isto a ele."
Ela me deu o pedaço de papel - uma carta, pelo que podia ver - e eu a peguei, colocando no bolso do casaco.
"É um alerta. Azriel precisa preparar seus vampiros para uma nova guerra contra os Ghouls se for preciso." ela explicou e logo depois suavizou sua expressão "Espero que tenha uma boa viagem, criança."
"Obrigada, majestade." lhe lancei um pequeno sorriso antes de fazer mais uma revência e vê-la se afastar
Olhei para Molly, vendo que ela ainda conversava animadamente com Riley, e até que Arin havia se juntado na conversa. Respirei fundo, olhando a hora em meu celular, vendo que tínhamos tempo a perder antes de chegarmos ao aeroporto e resolvi fazer uma ligação. O número chamou poucas vezes antes que Nicolas atendesse.
"Nicolas, algum novo caso estranho?" perguntei
Ele ficou em silêncio por alguns segundos. "São uma da manhã..."
Rolei os olhos e passei os dedos em minhas pálpebras, me perguntando como Azriel podia ter escolhido aquele homem para ser transformado em um "líder".
"Não foi isso que perguntei." falei, já sem paciência
"Uma morte foi reportada anteontem." ele finalmente respondeu "Mas apenas ela. Se bem que não posso dizer o mesmo dos humanos..."
Franzi o cenho e desencostei da parede. "Desculpe, como?"
"Foram reportados cinco desaparecimentos na noite de ontem aqui nos Estados Unidos. Todos humanos, civis, e de estados diferentes, mas foram por volta da mesma hora." ele disse eu senti meu corpo entrar em alerta "Pode ser coincidência apenas, mas, não sei. Ainda sim é estranho."
Engoli em seco, sentindo um calafrio percorrer minha espinha. "Tem alguma informação sobre os outros países?"
"Ahn, me dê um segundo..." pude ouvir o barulho dele levantando apressado e abrindo algo, mexendo em alguns papeis rapidamente. "Ah, achei! Houveram alguns desaparecimentos em alguns outros países também, mais ou menos na mesma hora. Dois no Brasil, três no Canadá, um na Austrália... Contando com os Estados Unidos, doze países."
Tirei o celular de meu ouvido por alguns segundos, me sentindo inquieta. Desaparecimentos. Não mortes, desaparecimentos. Na mesma hora em lugares diferentes. O que diabos estava acontecendo?
"Nicolas, alerte os vampiros da colônia para ficarem atentos." falei, voltando a colocar o aparelho em meu ouvido. "Eu não sei mais o que está acontecendo, mas não é bom."
"Certo, como quiser." ele disse antes de ficar em silêncio novamente "Olivia, eu soube de Renée..."
Fechei os olhos na hora em que ele falou sobre Renée e minha cabeça pareceu ficar ainda mais confusa, uma leve dor de cabeça começando a se formar.
"Eu sinto muito-"
"Tudo bem, Nicolas. Apenas..." mordi o lábio "Apenas fique atento e cuide da colônia enquanto estou fora."
"Sim, senhora." ele parou por mais um momento "Se não se importa, vou dormir um pouco."
"Sim, tudo bem."
"Ahn... Tenha uma boa viagem."
"Obrigada. Boa noite, Nicolas."
Desliguei o aparelho e passei a mão na testa, sentindo minha cabeça doer. Balancei a cabeça e caminhei rapidamente para o grupo que ainda conversava animadamente, fazendo todos olharem para mim.
"Onde está Lorell?" perguntei
"Já foi..." Arin falou, me olhando confuso
Grunhi com raiva. Precisava informá-la dos desaparecimentos urgentemente. Talvez se eu comentasse aquilo com Azriel ele avisasse a Lorell.
"Olivia, o que houve?" Riley perguntou
"Falei com Nicolas, meu segundo em comando na colônia... Ele disse que ontem a noite alguns humanos desapareceram. Mas não só na colônia, em outros onze países diferentes também."
Todos me olharam apreensivos e eu vi Molly se encolher um pouco.
"Você acha que isso pode ter relação com os Ghouls ou seja lá o que estivesse causando as mortes?" Riley perguntou, dando um passo a frente
"Acho. Seria muita coincidência se não fosse."
No momento em que disse isso, o carro de Macy parou em frente a nós. Olhei para Molly, sinalizando que precisavamos ir. Ela se despediu de Riley e entrou no carro enquanto Macy arrumava a bagagem no porta-malas.
Olhei para as pessoas ao meu redor. Eles pareciam atordoados com a nova notícia e eu não podia culpa-los.
"Fiquem atentos. Talvez seja a hora de por as diferenças de lado..." disse e involuntariamente olhei para Arin, vendo-o me olhar de volta "E trabalharmos juntos."
"Ela está certa." Riley se pronunciou e olhou para mim "Seja lá o que está acontecendo é maior que qualquer rivalidade. Os animorfos estarão a disposição."
"Assim como os lobisomens." Arin falou "Mandarei uma nota para que fiquem a postos."
"Iremos conversar com o nosso Senhor." Jack, o Daemon, adicionou "Mas sei que, nessas circunstâncias, ele está disposto a servir a essa causa."
"Irei me encontrar com Azriel e tenho comigo uma carta de Lorell o aconselhando a ficar atento para uma luta. Os vampiros estarão a postos."
Todos nos olhamos com cumplicidade e selamos um pacto silencioso de união naquela hora. Me despedi vagamente de todos e fui até o carro, sentando ao lado de Molly e vendo-a me olhar, curiosa.
"O que houve?"
"Uma aliança foi formada." comentei, vendo Macy começar a dirigir "As raças estão juntas afinal."
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O vôo até a Inglaterra havia sido tranquilo e, em menos de uma hora, já estavamos debaixo do céu nublado de Londres, onde esperavamos por um vampiro de Azriel para nos pegar no aeroporto.
Molly parecia contente em viajar para tantos lugares em tão pouco tempo, mesmo que eu pudesse sentir a preocupação que ela sentia pela situação tensa em que nos encontravamos. Já eu não estava tão contente assim.
Pisar em Londres parecia doloroso. A cidade estava notavelmente moderna, mas eu poderia dizer com clareza aonde ficava cada comércio, cada lugar no qual brincava quando era criança, cada casa que um dia pertenceu a algum amigo meu.
Eu estava em casa, e nada parecia ser mais aterrorizante que aquilo.
Percebi que Molly ainda estava olhando para as coisas, maravilhada, e resolvi falar a ela algo sobre meu passado. Afinal, aquele havia sido o motivo daquela viagem, não é mesmo?
"Está vendo aquela casa azul lá longe?" perguntei, apontando para a pequena casa azul, vendo Molly assentir "Ali era um grande espaço vazio quando eu era criança. Lembro de vir com minha mãe comprar comida e aproveitar para brincar com meus amigos por ali."
Molly pareceu surpresa e olhou para o local com uma admiração latente. "Você morou aqui!"
"Sim." sorri "Sou uma moça londrina."
Molly riu quando deixei que meu sotaque londrino voltasse para falar aquela frase e senti o terror de estar de volta em casa se dissipar levemente.
"Eu esqueço que você é britânica... Você não tem mais o sotaque..."
"Quinhentos anos tiram o sotaque de qualquer um." falei
Assim que terminei a frase, um carro preto parou a nossa frente e um vampiro saiu dele, me encarando com um pouco de terror em seus olhos. Franzi o cenho, tentando entender o porquê do medo.
"Me desculpe, minha senhora. Eu peguei um trânsito, não quis me atrasar!" ele veio a minha frente e fez uma reverência desengonçada devido ao pânico
Respirei fundo e fechei os olhos, entendendo o motivo do pânico na mesma hora. Estava ali outro motivo por eu odiar ir até a Inglaterra.
"Não precisa se preocupar. Está tudo bem." falei e vi ele relaxar instantaneamente "Apenas nos leve até Windsor. Tenho assuntos sérios a tratar com Azriel."
"Sim, minha senhora."
Molly olhou a cena confusa e eu percebi que não havia escapatória. Ela saberia o motivo de meu ódio por Azriel de um jeito ou de outro. O que eu não daria para que eu pudesse manter aquilo escondido dela...
Quando o vampiro se afastou eu olhei para Molly com uma expressão cansada e ela franziu o cenho. "Olly, por que aquele cara, que eu vou assumir ser um vampiro, parecia com tanto medo de você? Achei que Azriel era o todo poderoso aqui."
Respirei fundo e soltei uma risada debochada, sentindo todo meu corpo reclamar por dizer aquelas palavras que eu estava prestes a falar em voz alta. "Porque, Molly, eles sabem quem eu sou."
Ela parecia receosa e sua voz soou baixa quando finalmente falou. "E quem você é, Olivia?"
Olhei para o chão, sorrindo desgostosa, sentindo o nojo das palavras em minha língua quando as falei. "Eu, Molly, sou Olivia Wright. Líder da maior colônia de vampiros do mundo, e esposa de Azriel."
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NOTAS DA AUTORA:
Obrigada por lerem!
Próximo capítulo: 09/10!
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